Festividades escrita por Lenora Roth


Capítulo 2
Festa de casamento


Notas iniciais do capítulo

Sinopse:

Após dois anos de noivado, finalmente chega o dia do casamento do advogado Robb Stark com o escultor Theon Greyjoy. A data traz consigo inúmeras memórias, algumas nostálgicas e outras que estariam melhor esquecidas.

(Throbb)



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Robb ainda conseguia se lembrar do dia em que pedira a mão de Theon em noivado, dois anos atrás. Havia sido um momento doméstico e suave, os dois cansados após um dia de trabalho. O pedido havia sido sussurrado e inseguro, acompanhado por um "O que você acha?", e a recompensa havia sido um dos raros sorrisos brilhantes de Theon, e o doce sussurro de um “Sim”.

O tempo passara rápido, Robb concluiu enquanto terminava de arrumar a gravata, contando os minutos para dar a hora de ir para o altar.

Sua sorte era a de ter uma família tão enxerida, que fizera questão de cuidar de todo o casamento e deixá-los descansar. Dividiram as tarefas entre si e só os contatavam para as dúvidas mais insignificantes, como sempre animados pela perspectiva de organizar uma festa.

A decoração, todos decidiram, estaria mais segura sob os cuidados de Sansa, a única Stark que herdara da mãe o bom gosto e do pai a modéstia. Arya ficara responsável pela escolha do cardápio, algo sobre seu paladar ser mais afiado devido à falta da visão, mas que na verdade era uma grande desculpa para o seu amor por comida, algo que ninguém a negaria. Jon cuidaria das bebidas, Ygritte interferindo para que o pudor do namorado não prejudicasse a adega do casamento. Bran cuidaria dos convites e Rickon do vídeo com as fotos do casal, algo assumidamente cafona, mas com uma doçura inegável.

Por fim, Cat escolhera o salão e Ned fizera a lista de convidados. Era para o melhor; o pai, apesar de ter muitos conhecidos graças à profissão, era um homem de poucos amigos, e não cairia no erro de chamar mais gente que o necessário.

Esta havia sido a maior preocupação de Robb. Desde os acontecimentos que traumatizaram seu noivo, Theon havia se tornado recluso e ansioso, não sabendo lidar com multidões e com ser o centro das atenções. O advogado queria, acima de tudo, que seu futuro esposo aproveitasse a festa de casamento. Se a celebração fosse mais motivo de stress do que de alegria para o Greyjoy, Robb não seria capaz de se perdoar.

Estava terminando de abotoar o paletó quando entraram Arya, Bran e Jon no quarto, todos os três em ternos escuros com gravata cinza, dando risada e parecendo relaxados demais para quem passara as últimas semanas organizando um casamento. Se acomodaram pelo quarto como se fossem adolescentes de novo, passando uma tarde relaxante antes do jogo decisivo de basquete do colégio.

Não resistiu e sentou-se com eles, abrindo o frigobar do quarto de hotel e passando uma cerveja para cada um. Por alguns minutos, os quatro apenas beberam em um silêncio agradável, desfrutando da companhia uns dos outros. Arya, obviamente, foi a primeira a falar.

— Sabe o que eu estava lembrando? - perguntou, a fala intercalada com goles da bebida - De quando você e Jon tentaram ensinar Bran a jogar basquete.

O comentário foi seguido de risadas de todas as partes, mas deixaram a irmã continuar.

— Vocês dois eram as estrelas do time do colégio, mesmo só tendo 15 anos, e Bran, sendo aquela criança magrela e ossuda, queria mais do que qualquer coisa seguir os passos de vocês. Então vocês o levaram para a quadra um dia, só os três, para ensiná-lo, mas eu fui escondida atrás.

Foi a vez de Brandon rir fraco e continuar a história.

— Você era tão melhor que eu. Ainda lembro como eu fiquei furioso quando, depois de vinte minutos tentando aprender a jogar, você entrou na quadra, pegou minha bola e fez uma cesta de três pontos. Você era minúscula e mesmo assim jogou a bola alto o suficiente, na direção certa. Foi ridículo de tão impressionante.

Robb, assim como os outros, conseguia sentir o sabor agridoce das memórias. Aquele era outro tempo, uma época em que Bran andava e Arya enxergava. Uma época em que Sansa não conhecia a maldade do mundo, que Jon e Robb não conheciam ainda as dores de crescer.

— Vocês sentem falta dessa época? - Jon perguntou, e o mais velho sabia que a questão não estava sendo direcionada para si.

O silêncio foi longo antes de Arya falar.

— Sim e não - deu de ombros, terminando a cerveja - Quer dizer, era uma época boa. Nós éramos um bando de crianças imbecis que não conheciam nada além de segurança e conforto. Minha maior preocupação naquela época era a de pregar uma peça em Sansa sem que os nossos pais desconfiassem que tinha sido eu.

Mais uma sequência de risadas, desta vez mais baixa.

— Mas por outro lado... aquela Arya não sabia o que é viajar o mundo todo. Aquele Bran não era o autor de um best-seller. Aquele Jon não sabia que a maior paixão da vida dele seria uma policial ruiva e assinar atestados de óbito.

— E aquele Robb - Bran completou, na voz calma de sempre - Não conhecia a emoção de estar a algumas horas de se casar com o homem que ele ama.

Essas crianças. Essas loucas, imprudentes, maravilhosas crianças de quase 30 anos.

— Vou tentar não ficar ofendida por estarem bebendo sem mim - veio a voz da porta do quarto, e Robb se virou para observar Sansa, angélica em seu vestido azul escuro - Posso falar com você por um momento, Robb?

Ele assentiu e se levantou, indo para perto da ruiva.

— Acho que seria bom se você fosse ver Theon - ela disse em um tom baixo, direcionado apenas para ele - Ele começou a ter... lembranças, e entrou em pânico. Eu consegui acalmá-lo, mas ele quer ver você.

E não precisou dizer duas vezes, pois o mais velho atravessou imediatamente o corredor na direção do quarto do outro. O encontrou encolhidinho em uma poltrona, olhando para a janela, silencioso, sério e tão frágil.

Sentou-se ao lado dele e segurou sua mão.

— Theon... - sussurrou, com cuidado.

— Eu estou melhor agora - o rapaz garantiu - Foi só... algo que veio do nada. Eu estava terminando de me arrumar, e de repente eu vi o rosto dele, e tudo voltou com força. Eu não conseguia respirar, achei que fosse morrer, que ele fosse voltar para terminar o que começou...

— Ele não vai - Robb interrompeu, a aflição em ver seu noivo daquele jeito o impedindo de manter a calma - Ele está preso agora, e você está aqui comigo. Ele não pode mais te machucar.

— Eu sei - o outro garantiu, assentindo enfaticamente - Eu sei, mas às vezes é fácil esquecer. Sansa me acalmou, ela... ela entende.

Nem Theon nem Sansa falaram uma palavra sobre o que aconteceu quando foram reféns de Ramsay Bolton, mas existiam as marcas. Os quatro dedos e meio restantes da mão direita de Theon, a imensa cicatriz na coxa de Sansa. O olhar vazio que ambos vestiram por meses após o ocorrido. O silêncio ensurdecedor de ambos toda vez que Bolton era mencionado. Robb não se sentiu ofendido com a implicação de que apenas Sansa era capaz de entender Theon, porque apenas Sansa e ele sabiam o que era estar na palma da mão de um psicótico como Ramsay.

— Você está bem para hoje? - perguntou por fim - Nós podemos adiar, se for demais para você.

— De jeito nenhum - a resposta de Theon foi enfática - Eu... eu quero isso. Mais do que qualquer coisa na minha vida. E eu não vou deixar aquele homem tirar isso de mim.

Robb assentiu, e uma onda de orgulho invadiu seu corpo. De todas as pessoas no mundo, aquela fantástica criatura, capaz de superar a si mesma dia após dia, o havia escolhido para passar o resto de seus dias. Como ele podia ser tão privilegiado? Como ele podia ser tão sortudo?

— Eu amo você - sussurrou antes de beijá-lo com calma, apenas um selar de lábios - Eu amo você, e quando estivermos naquele altar, eu vou ser o homem mais feliz do mundo.

Theon sorriu, aquele sorriso imenso e grato o qual, nos últimos anos, Robb era a única testemunha.

— Não mais feliz que eu - garantiu.

E a festa foi linda. Sansa decorara tudo em azul e verde, as cores favoritas de Theon, e não havia mais de 50 convidados no salão, apenas os amigos próximos e familiares. A comida estava deliciosa, o discurso de padrinho de Jon foi emocionante, e Rickon fez um vídeo com as fotos do casal desde quando eram crianças e melhores amigos, e colocou Wild do Troye Sivan para tocar no fundo, o que era absurdamente clichê e adocicado, e se trouxe lágrimas para os olhos de Robb, não era da conta de ninguém.

Robb tinha a melhor família do mundo, concluiu. Uma família que conseguiu ficar ainda mais completa, agora que Theon estava oficialmente nela.


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