Cada vez mais que as folhas das árvores iam se perdendo pelos jardins de Hogwarts, Harry possuía mais convicção que estava disposto a desistir. Não via o professor Lupin há um tempo. Por dentro, ainda não entendia quais eram os motivos dele de não conseguir se entregar por completo. Ele tentara, sabia disso, mas não podia mudar o pensamento da pessoa que ama.

— Não é, Harry?

— O quê? - disse, tentando concentrar em seus amigos Rony e Hermione, sentados a beira da lareira da sala Comunal.

— Que você está avoado assim, Harry, por causa da audiência do Bicuço. - Hermione sabia que algo estava estranho em Harry e achava que esse era o motivo.

— Sim, claro! É uma pena, mesmo.

Harry continuara com o seu olhar distante, lembrando dos toques daquela última noite com Lupin. Não é que não se importava com Bicuço, se importava e muito! Mas não conseguia evitar aqueles pensamentos. Seus amigos entreolharam-se e sentiram a incerteza nele. Harry resolvera colocar a sua intuição mais uma vez a prova.

— Eu… preciso dar uma volta. - foi o que conseguira dizer para seus amigos antes de sair rapidamente.

Cruzara os corredores de uma maneira firme, decidido. Devia colocar a prova mais uma vez. Não estava se importando com os resultados. Aquelas escadas movediças pareciam nunca acabar. O terceiro andar nunca chegava. Ninguém cruzou o seu caminho, pois já era hora de todos estarem em suas camas. Seguiu até a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas. Quando chegou lá, não poderia mais voltar atrás. Ele não podia mudar o pensamento da pessoa que ama, mas podia tentar instigar à verdade.

Harry sentou-se ao chão, na parede inversa à porta, apenas esperando. A sala estava toda escura e antes do que imaginava, um vulto cruzou apressadamente a porta. Quando ela finalmente se fechou, ele começou a ir em direção ao Harry.

— O que está fazendo aqui no terceiro andar, Harry? E se Filch... ou pior! Snape te pegasse aqui? Eles ficariam loucos para te expulsarem da escola. - Professor Lupin estava irritado, mas estava cauteloso em sua voz.

— Eu sei e não me importo. - Harry levantou-se e olhava fixamente para Lupin - Estava me cuidando no Mapa do Maroto, não é verdade, professor?

Lupin paralisou no meio da sala: percebera que aquilo tinha sido uma armadilha. Ele riu por ter caído em uma armação tão barata como essa.

— Pelas barbas de Merlin, Harry! Você é como seu pai: sempre com um truque na manga. Agora, vamos… logo o Filch…

— Não! - Harry se aproximou de Lupin - Não vou sair daqui até que me diga o motivo de que não podemos ficar juntos, professor! Não pode me dizer que foi um erro, que foi um mal entendido. Sabemos que não foi. Eu quero o motivo… para entender...

Lupin respirou fundo, passou as mãos pelo seu rosto e seguiu com elas para puxar todo os seus cabelos para trás. Ele caminhou até a janela e passou a observar o céu. Harry o observou ir e logo o seguira se prontificou em suas costas, observando o mesmo também.

— Harry, eu…

Lupin tentou, mas as palavras estavam presas em sua garganta. Harry queria poder fazer mais pela verdade, por eles. Então se enfiou entre seu professor e a janela na expectativa de tentar tirar as palavras presas daquela garganta. Os dois trocavam um olhar carinhoso, como se esperassem pela esperança. Lupin tocou o rosto de Harry com a ponta dos dedos, deslizou-os da bochecha até o pescoço. A luz da noite deixa Harry ainda mais branco e ingênuo, o que fazia o coração de Lupin palpitar ainda mais. Estava pronto para uma verdade.

— Eu… sempre amei James, Harry. Desde o momento que entrei nessa escola, mas eu não podia. Não podia ficar com ele e nem dizer como me sentia. Ele tinha a sua mãe. Ele amava a sua mãe. Eu não podia atrapalhar o que existia entre eles. Meu lugar não era ao lado dele. - Lupin estava angustiado e cada vez mais que as palavras eram proferidas, ele achava mais inapropriado manter tudo isso dentro de si - E assim que te conheci, Harry… senti aquela mesma sensação de ter o James de volta, só que agora era mais forte, mais intimidador. O maior problema não era a hierarquia da escola, nem a idade entre nós…: é que você é filho do James Potter.

Harry em nenhum momento parou de escutar ou se questionou com nada. Ele queria ouvir tudo o que tinha para ouvir. Ele sentia nas falas de Lupin uma mistura de medo e desejo de falar a verdade. Agora que eles se olhavam sem nenhuma palavra correndo pelo ar,  na sua cabeça, estava colocando cada informação em suas caixinhas.

O aluno rira para o seu professor de um jeito delicado e balançando afirmativamente a cabeça. Ele entendia tudo agora. Todas as tentativas de se afastar, todas as vezes que disse que era parecido com seu pai, todos os brilhos nos olhares que notara. Tudo girava em torno das memórias de seu pai. O que foi dito, não tinha nada haver com o que estava pensando.

— Não imaginava que era isso, professor.

Harry olhava para o chão, perdido em seus pensamentos. Quando tentou sair do lugar, Lupin o trouxe para seu corpo, o envolvendo em seus braços. Levou um tempo até Harry ser recíproco e lhe abraçar de volta.

Eles ficaram assim, por um bom tempo. Lupin imaginara que talvez este fosse o primeiro abraço de muitos outros que viriam pela frente. Já Harry, pensara que esse era o último abraço de todos. Quando se afastaram, Harry começou a seguir seu caminho. Antes de sair da sala, disse com uma voz perdida em lágrimas.

— Você nunca vai ter meu pai em mim.