Laços escrita por Dreamy Boy


Capítulo 1
Dupla Face


Notas iniciais do capítulo

Esse é o primeiro capítulo de uma história que (pretendo, hahaha) será curta, mas com bastante ensinamento pra trazer. Acredito que o título vai ser uma coisa que vocês vão entender aos poucos, talvez na metade do texto.
Espero que gostem :)



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Agora 

De frente para um espelho situado em meu quarto, observo o meu próprio reflexo. O objeto é largo e possui formato oval, preso a um suporte de madeira extremamente firme. A imagem exibida no vidro me agrada por inteiro. Sorrio de leve, ajeitando a gola de meu sobretudo e me preparando para a noite especial que estava para se iniciar. Meus cabelos negros estão cortados de forma baixinha, com as laterais raspadas e o topo diminuído à tesoura. Os meus olhos, no momento não acompanhados de meu par de óculos, eram castanhos escuros.

— Você tá maravilhoso! — diz Agatha, uma de minhas duas melhores amigas. É engraçada toda essa questão de amigos, pois você sempre tem vários ao longo da sua vida, mas essa foi uma que durou por muitos anos. Ainda bem. Agatha me acompanhou em muitos momentos difíceis, fazendo questão de estar presente em todos. — Na verdade, sempre foi, mas precisava enxergar isso.

— Exatamente. — Lúcia, a outra melhor amiga, também está presente. Nós não formamos aquele trio clássico que pode ser encontrado em histórias como Harry Potter, Três Espiãs Demais, As Meninas Superpoderosas ou algo do gênero, mas ambas sempre se unem quando o assunto é cuidar de mim e me lembrar de quem eu sou. Da pessoa especial que existe dentro de mim. Hoje, tenho certeza disso, mesmo ainda sendo um pouco inseguro. Lúcia também teve um passado difícil, por causa de atos machistas e racistas que sofreu. Aprendi (e ainda aprendo) muito com ela. — Mas hoje não é dia para a gente falar disso. As coisas mudaram, Gui! A gente tá vivendo uma nova fase e ela é linda!

Balanço a cabeça positivamente, concordando. Olho para minha própria mão, acariciando o dedo em que se encontra a aliança de noivado recentemente colocada. Sempre que a olho, penso em tudo o que vivi e em minha trajetória. Nunca achei que chegaria a esse momento. A ficha ainda não caiu. — Ainda é difícil ver isso tudo como real, como verdadeiro... Parece que vai desmoronar a qualquer momento.

— Não seja pessimista, amigo. — Quando me sento, Agatha coloca as duas mãos sobre meus ombros. Deito em uma destas, permitindo que ela faça carinho em minha cabeça. Agatha tem o seu próprio estilo e a sua própria paixão por cores. Considero isso incrível demais! Os seus cabelos, no momento, estão tingidos de roxo, mas já percorreram todas as cores que fazem parte do arco-íris. — Foi o que Lúcia disse. As coisas estão diferentes agora e nada vai mais ser como antes.

Não tive tempo de responder, pois o meu celular tocou. Quando vi a chamada, soube que era quem estava esperando. Apanhei o objeto e o atendi rapidamente.

— Oi! Você já tá pronto? — pergunta gentilmente a pessoa na linha, que se trata de meu noivo. — Tô esperando vocês aqui em baixo já. Se já tiverem preparados, podem descer.

— Ok! — respondo, apressado, enquanto apanho a minha carteira e os documentos necessários. Estou com medo de chegarmos atrasados. — Daqui a pouco te encontramos. Beijo, querido. Te amo!

Faço um gesto para que as meninas me acompanhem até a saída do apartamento. Em seguida, aperto o botão do elevador, implorando para que o mesmo chegue rápido. Um dos meus piores defeitos é a impaciência e o fato de odiar esperar muito tempo para conseguir as coisas. O conceito de muito tempo pode variar entre segundos ou minutos, dependendo de meu humor ou de minha ansiedade.  

Estamos para ser levados a um grande evento na cidade. Talvez o mais importante de minha vida. Ou não. Mas é algo que vai ser incrível e, com certeza, mudará as coisas para mim.

 

Antes

Ao sair de meu estágio, pego três conduções. Sempre que chego em casa, fico exausto e me jogo no chão da própria sala, deitado sobre uma almofada, criando coragem até que consiga levantar e realizar as tarefas necessárias. É uma rotina difícil.

Mas, ainda assim, não é a pior parte.

Os olhares tortos lançados a mim nas ruas me fazem me sentir uma espécie de monstro. Não consigo compreender como existe tanto ódio, tanta intolerância, por uma simples vestimenta, um acessório ou um modo de andar. As pessoas deveriam respeitar e aceitar mais a si mesmas, entendendo que o mundo é cheio de diferenças. Mas não. O ódio e o seu discurso sempre falam mais alto.

A energia negativa que sinto dentro de mim é horrível. É algo que não consigo controlar e que me sufoca a cada dia. O meu maior desejo era de chegar às pessoas que conheço e falar a verdade sobre mim, sobre o que sou, sobre o que gosto. Fazer isso para que simplesmente parem de fazer comentários idiotas ou propor situações de namoro que não vão acontecer. No fundo, sei que fazer isso será inútil. E isso me faz me esconder mais ainda.

Já fui uma criança acima do peso. Era chamado de bola pelos coleguinhas de escola que, na época, todos chamavam de amiguinhos. Me faziam ficar no gol, como se isso fosse me fazer ser um jogador melhor, e o time sempre perdia. No final, até mesmo o treinador me culpava pela minha falta de prática com o esporte. Costumam dizer que o que fazem é apenas brincadeira, que você não deve levar a sério. Só que você leva. E carrega isso para o resto da sua vida.

Porque não é uma coisa que pode ser simplesmente apagada.

Estou pensando em todas essas lembranças e esses traumas enquanto deito sobre meu próprio ombro e encaro a paisagem mórbida das estações de trem. O trajeto é longo e demorado, o que me obriga a simplesmente esperar até que consiga descer dele e pegar a última condução. Deveria estar lendo um livro, ouvindo uma música, mas preferi tentar dormir para fazer o tempo passar mais rápido. O que, claramente, não deu muito certo.

Só quero que, um dia, consiga me libertar disso. E ser quem sou, sem sentir medo. É uma realidade que, para mim, é distante e inalcançável. Vejo outros que chegaram ao ponto de se assumirem e admiro tanto a coragem deles. Contudo, não sei se em algum momento serei capaz disso.

Espero ser.


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Notas finais do capítulo

Agatha e Lucia foram inspiradas em várias amigas cada uma. Seriam muitas personagens para montar, então coloquei vários momentos, várias lembranças, em poucas personagens. É uma mescla das várias pessoas que quero, de certa forma, homenagear. E Gui, é claro, na minha própria história de vida. O antes é uma coisa mais real, que todo mundo tem. O agora é algo que nem todo mundo tem acesso, mas é algo que desejamos, que ambiciamos, que sonhamos.
O que acharam do capítulo introdutório?
Eu tô MUITO ansioso para ouvir as respostas. Porque é uma coisa que tá sendo criada bem no fundo da alma. É uma história que é feita pra ajudar as pessoas, pra fazer elas verem que tem solução, que é possível!
Obrigado pela leitura, gente ♥



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