Os Sofrimentos de Tanaka Ryuunosuke escrita por Vulpe


Capítulo 7
UkaTake? Pode Ser. Claro. Por Que Não.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi um parto de revisar e eu nem sei porquê. Malditos adultos! *sacode os punhos*
Boa leitura!



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KiyoYachi fora equivalente a um tiro nas costas dado por alguém a quem você achava que podia confiar sua vida. Um daqueles acontecimentos que fazem o mundo girar 360°, o que te deixa no mesmo lugar e com perspectivas radicalmente diferentes.

Tanaka estava tão amortecido que, quando viu o treinador Ukai arrumando a gravata de Takeda-sensei perto da porta da quadra, nem arquejou, nem se desesperou porque até os adultos, nem tentou arrancar os olhos para não ver mais figuras paternas sendo pessoas. Observou sem piscar, sem mudar de expressão, com o ar resignado de um veterano de guerra que perdera a capacidade de se surpreender.

Não havia motivo para surpresa. Ukai era de uma geração anterior do Karasuno, o fantasma da homossexualidade não devia ser novo e o interesse de Takeda pelo clube decadente podia vir da influência do espírito. Mais velhos e com mais prática, os dois deviam ser ainda mais gays que seus pequenos aprendizes.

Tanaka sentia indiferença honesta dessa vez. Nada de eu-me-esforço-tanto-para-não-pensar-a-respeito-que-é-só-no-que-eu-penso; não se importava em pensar e não negava. Estava lá, era um fato. Não podia lutar contra os fatos, só podia acompanhá-los com o mesmo ar distraído que reservava para animes de trama gasta e previsível.

Era assim:

—Ei, sensei, espera um pouco.

—O que foi, Ukai-san? Ah. – dizia Takeda quando Ukai, que parecia nunca ter tocado em um terno na vida, adiantava-se para arrumar a gravata que ele de alguma forma conseguia desfazer durante o treino. -Obrigado.

Ukai soltava um grunhido que podia significar tanto “de nada” quanto “você dá muito trabalho”. Quando ele terminava, Takeda sorria. Ukai analisava-o com olhar crítico e endireitava seus óculos tortos. Eles se encaravam por um longo segundo antes da bolha de realidade ser quebrada por um barulho qualquer -um grito de Hinata, uma bola quicando no chão-, e Takeda corava e murmurava uma despedida e corria para a aula que precisava dar. Ukai ficava parado enquanto registrava o que acontecera, e o grunhido que seguia era um pouco mais alto e claramente frustrado.

—Aaaargh.

Eles gostavam um do outro, ou qualquer que fosse o equivalente crescido de gostar. Interesse recíproco? Atração mútua? Não, soava muito técnico e muito hormonal e muito superficial para o que Tanaka via. Eles gostavam um do outro. Fim.

Mas eram adultos. Adultos eram mais complicados e talvez mais idiotas do que os adolescentes – que, afinal, copiavam modelos. A evolução em relação aos adolescentes era que tinham plena consciência de que eram correspondidos. Takeda prendia a respiração quando os dedos de Ukai estavam perto do seu pescoço. Ukai olhava fundo nos olhos de Takeda quando empurrava os óculos na ponte do seu nariz. Eles deixavam claro com pequenos gestos de reconhecimento.

Tanaka não era adulto, mas achava que entendia. Eram mensagens. Diziam, eu estou fazendo isso por um motivo. Eu quero uma desculpa para te tocar. Sabe, eu não me importo que você me toque. Sabe. Você sabe. O que vai fazer a respeito?

Considerando que a cena encerrava quase todos os treinos matutinos, Tanaka deduzia que o convite à ação permanecia sem resposta.

Adultos acumulavam medos e restrições e preocupações em uma pilha entre si mesmos e as coisas que queriam, algo que Tanaka não conseguia compreender. Era triste que mesmo Ukai, um adulto legal com senso de estilo, tivesse esse hábito. Tanaka teria se dado bem com o jovem Ukai, na época em que ele pensava menos. Agora pensava o suficiente para não fazer nada. Pensava o suficiente para não fazer nenhum movimento antes de Takeda, para ter medo de estragar tudo e para esperar até que os dois estivessem dispostos a ser ousados. Como se ser feliz fosse uma jogada arriscada de pôquer.

Takeda, apesar da aparência de criança e da falta de jeito geral, era um professor nato. Ensinar era sua vocação, que exercia com amor. Implorar por jogos de treino e submeter o candidato a treinador pelo cansaço eram atitudes justificadas pelo desejo de não decepcionar seus alunos. Seus métodos pouco ortodoxos produziam resultados, e Takeda se orgulhava do seu trabalho. Tentava ser apropriado e correto, mas se outra estratégia parecesse mais proveitosa que o procedimento tradicional, ele a agarraria até atingir seu objetivo ou até outra ideia aparecer. Namorar um colega de trabalho não era muito profissional, mas se Ukai mostrasse o caminho e o caminho fosse melhor, Takeda não hesitaria em seguir. Essa era sua condição. Porque algumas pessoas seguiam estranhos códigos de conduta que atrapalhavam suas vidas.

Daltônicos, interpretavam o sinal verde como amarelo e ficavam parados como se fosse vermelho. Esperavam que o outro andasse, mas mantinham o próprio carro em espera.

Tanaka não sabia porque fizera uma metáfora de trânsito. Nem sabia se os dois tinham carros. EI, talvez esse fosse o problema! Como iam pegar a estrada sem um veículo?! Os professores precisavam de bicicletas emprestadas, rápido, e – Tanaka precisava dormir e parar de analisar a vida amorosa alheia ao invés de tentar criar uma para si mesmo. Sem contar que ver pessoas capazes de resolver seus problemas escolhendo não fazê-lo deixava-o deprimido e mais receoso do que animado para a idade adulta.

Foi em um jogo. Um jogo de treino, não menos importante por não ser oficial. Todo jogo é importante quando se quer ganhar o Nacional, porque toda falha identificada e corrigida é um buraco a menos para os outros times explorarem e um passo mais seguro dentro da competição. Por outro lado, todo ponto perdido e toda bola não defendida indica algo a arrumar. Em jogos, Ukai quase não piscava, os braços cruzados e a boca esmagada em uma careta concentrada, e Takeda inclinava-se para frente com as mãos cerradas apoiadas nos joelhos e os olhos arregalados.

Bem, Ukai não estava com os braços cruzados naquele dia. Suas mãos estavam apoiadas sobre as coxas, os pontos pendendo com facilidade para Karasuno apesar da rotação experimental com Kinoshita no lugar de Tanaka. Os reservas participavam de mais jogos desde o acidente de Daichi e da pressão adicional do acontecido ao líbero da Nekoma na partida contra Nohebi, para garantir que estariam acostumados com a dinâmica do time e com o clima da quadra caso uma substituição emergencial fosse necessária. Tanaka, inquieto, balançava a perna, descobrindo que assistir sem poder interferir era uma mistura de tedioso e agonizante. Não tinha temperamento para ficar no banco.

E então uma jogada se estendeu de forma ridícula, os dois lados defendendo e devolvendo e defendendo de novo sem pausa e sem sinais de cansaço. Tanaka parou de tremer a perna, tenso de expectativa. A troca terminou, por fim, com um bloqueio destruidor de Tsukishima, e Tanaka deu uma risadinha ao perceber que prendera a respiração.

O som sobressaltou Ukai e Takeda. O braço de Takeda fez um movimento rápido que não impediu Tanaka de ver pelo canto dos olhos que a mão dele estivera (provavelmente durante toda a jogada) crispada sobre a de Ukai.

—Isso foi emocionante. – Takeda comentou, com uma risada nervosa. Tanaka fingiu que tirava a atenção da quadra só naquele momento.

—Eu não sabia que era tão intenso visto de fora! Meu coração está acelerado! – e Takeda pareceu aliviado e as pontas das orelhas de Ukai estavam vermelhas e ele olhava para frente sem ver nada. Seu coração devia estar acelerado também.

—Sabe, sensei, nós podíamos tomar uma cerveja depois. – ele falou minutos mais tarde, casual, ainda sem se virar. Takeda olhou-o com interesse.

—Em comemoração do quê?

—Bem, vamos, ora, disso, é claro! Disso. Do que mais. – resmungou Ukai, nem um pouco casual, apoiando o queixo na palma de uma mão e gesticulando para o jogo com a outra.

Takeda abriu um sorriso, e Tanaka sentiu uma mistura da resignação do velho não-impressionável e de animação juvenil por ainda haver esperança para os adultos. Preferiria não ter ouvido nada e assim não imaginar nada, mas já que era tarde demais, sorriu também.


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Notas finais do capítulo

eu nem usei imagens de inspiração, só cenários mesmo. ERAM MUITO TENTADORES PARA RESISTIR
http://imaginethehaikyuukids.tumblr.com/post/84505731034/imagine-ukai-stopping-takeda-to-fix-up-his-tie-and
http://imaginethehaikyuukids.tumblr.com/post/88641507964/imagine-takeda-unconsciously-grabbing-ukais-hand
e semana que vem... scrr, o Kinoshita e o Narita são tão excluídos que não encontrei nem nome de ship. NariKino? KinoNari? NariShita? Vocês sabem de quem eu estou falando? Por favor, digam que sim.
até domingo que vem o/