Guerra Nas Sombras escrita por Wanderer


Capítulo 2
Guerra Nas Sombras - capítulo 2




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— E como é que surgiram aqueles cães horríveis? – perguntou Tobey.
— Após o sacrifício ter ocorrido, o povo de Xi Xia inicia orgias massivas que se prolongam até que todas as fêmeas humanas e animais estejam gravidas. Mas onde Shub-Niggurath surge, a vida é irremediavelmente corrompida e maculada. Os mastins e humanos mutantes são o resultado dessas uniões profanas, sendo que os humanos de aspecto caprino tem poderes exóticos, sendo capazes de perceber com um simples olhar coisas que passam despercebidas pelas pessoas comuns.
— Que tipo de coisas? – perguntou Scarlett.
— Se alguém tem alguma doença e qual é se possui poderes psíquicos ou mágicos em estado latente e se é adequada ou não para ser usada nas experiências dos Mi-Go.
— E o que nós temos de especial? – perguntou Conrad.
— Gostaria de poder esclarecer suas dúvidas, mas não podemos porque os sensores da nossa nave que poderiam ser usados para isso foram destruídos. – responde Antigo Dois. Chegamos a Terra á 1200 anos atrás, após uma batalha contra os Mi-Go em outro mundo e para nossa surpresa, descobrimos que por aqui também os Grandes Antigos haviam começado a espalhar a sua influência nefasta, conquistando adoradores.
 Discretamente, para não causar pânico entre sua espécie, passamos a lutar contra essas pessoas que seduzidas por sonhos de poder, colocavam em risco toda a humanidade. Mas há 800 anos a nossa nave foi gravemente avariada em um combate onde metade da nossa tripulação morreu. Os sistemas estavam um caos e quando tentamos ir para o espaço, ao invés disso acabamos presos numa fenda subterrânea sob o local onde mais tardei Xia foi construída.
— E os Mi-Go não sabem que vocês estão aqui? – perguntou Tobey.
— Felizmente não. – responde Antigo Quatro - Quando detectamos a presença deles, começamos a nos infiltrar em seus sistemas de modo gradativo, para que não desconfiassem de nada. Foi assim que soubemos da chegada do veículo onde vocês estavam, e qual o melhor momento para resgatá-los.
— E o que desejam de nós, Antigo Um? – perguntei eu.
— Que resgatem a menina escolhida para o sacrifício e fujam o mais rápido possível. Isso vai gerar uma grave crise em Xi Xia. Shub-Niggurath vai ficar furiosa e talvez destrua esse lugar. Ou então pode causar um distúrbio forte o bastante para expor a existência dessa cidade perante o mundo, neutralizando a ameaça que ela é.
— E como nós vamos fazer isso? – perguntou Tobey. Tem um exército guerreiros com espadas afiadas e insetos com armas de raios lá em cima esperando por nós, e somos apenas quatro estudantes!
— Ainda temos algumas armas que poderão usar, assim como veículos robôs com armamento pesado, que obedecerão a todos os seus comandos, após a fusão mental. – responde Antigo Dois.
— Que coisa é essa de fusão mental? – perguntou Scarlett, preocupada a Antigo Três.
— Fazer com que nossas mentes seja mesclada a de vocês, se tornando uma só.
— Ficamos gravemente feridos na queda, e mal tivemos tempo de nos trancar dentro desses cilindros que veem diante de vocês. Sistemas de suporte vital foram conectados e nos mantém vivos desde então.  –responde Antigo Três – A fusão mental é essencial para que controlem os veículos robôs.
— É um procedimento que acarreta riscos sérios, mas infelizmente, não há outra opção. - responde Antigo Dois.
— Que tipo de risco? – perguntei eu.
— Chances de morte de 42 por cento, para ambas as partes envolvidas.  – responde ele.
— Morte? – exclama Tobey, assustado – Bem então, é melhor deixarmos isso pra lá!
— Antes de negar com tanta rapidez, tem outro detalhe muito importante que também deve ser levado em conta. – fala Antigo Quatro.
— E qual é? – perguntou Conrad a Antigo Dois, que respondeu.
— O ritual de sacrifício vai começar em breve e um avatar de Shub-Niggurath vai aparecer, ou talvez ela mesma. Se encararem a monstruosidade da qual estamos falando sem a fusão, suas chances de enlouquecer completamente e acabarem mortos irão aumentar de 58 para 120 por cento!
Durante quase um minuto, o silêncio foi tanto que só ouvíamos as nossas próprias respirações. Olhamos uns para os outros, e vimos que estávamos num beco sem saída. Conrad então disse:
— Vocês falaram no resgate da menina.  – perguntou Conrad - Mas quanto aos nossos colegas, o motorista e as outras pessoas do ônibus?
— Lamento informar que todos já foram executados. – responde Antigo Dois – O líder de Xi Xia os considerou fracos demais para serem bons escravos, e inadequados para as experiências dos Mi-go.
Os neozelandeses se abraçaram, chorando por seus amigos e colegas mortos. Eu me uni a eles naquele momento de dor, diante de tantas vidas ceifadas em nome do fanatismo e da adoração a uma divindade sombria de outro mundo. Após enxugarmos as lágrimas, nos preparamos para a fusão. Instruções foram dadas.
  Um dos painéis se moveu para o lado, e fomos para outra sala onde quatro cilindros dourados se ergueram do chão. No topo deles havia hastes curvas em forma de C, que tinham superfícies cristalinas em foram de estrela. Assim que nossas costas tocaram os cilindros, as hastes deslizaram para ficar na mesma altura de nossas cabeças e se fecharam suavemente.
  Impossível descrever com palavras o que aconteceu em seguida. Apenas que foi algo indolor. Não voltamos á sala anterior porque sabíamos que os Antigos haviam morrido com a transferência. Mas de certo modo, continuavam vivos em nós. Eu disse aos neozelandeses para fazermos uma sondagem na região acima de nós para encontrar um bom local para irmos após termos feito o resgate, além de colocar na minha mochila equipamentos que poderiam nos ser úteis depois, e eles concordaram.
O passo seguinte foi utilizar o teletransporte da nave para subir a cidade aonde chegamos acompanhados pro drones de combate, que levitavam a três metros do chão. Eles tinham o formato de alcachofras e eram do tamanho de Fuscas. Havia dois para cada um de nós. Estávamos ao lado do edifício Mi-Go, mas graças às informações dos Antigos sabíamos que não havia ninguém nele. Todos os Mi-Go, assim como os tangut haviam ido para um vasto terreno vazio, onde haviam sido espalhadas as sementes que brotariam após a conclusão do ritual.
Os tangut ajoelhados no chão e os Mi-Go pairando no ar olhavam para dois postes de madeira onde estava a menina chinesa. Ninguém percebeu a nossa aproximação. Mas isso logo mudaria. Antes da subida, havíamos combinado que Conrad e Tobey teriam os Mi-Go como alvos, enquanto Scarlett e eu cuidaríamos dos cultistas humanos.
Em resposta a um comando mental, surgiram cinco hastes curvas grandes como lanças na superfície dos drones, que começaram a disparar uma chuva de raios alaranjados. O resultado foi surpreendente.
Homens, mulheres e crianças tangut caíram às centenas, mas estavam só atordoados. Acordariam dali a algumas horas, apenas com dor de cabeça e enjoos. Mas com os Mi-Go, Conrad e Tobey pegaram pesado e os insetos alienígenas eram reduzidos a cinzas. Mesmo assim os que não tombaram começaram a revidar o nosso ataque, enquanto o xamã da comunidade prosseguia com o ritual de invocação.
Um dos drones de Scarlett o derrubou, mas não antes que um imenso portal surgisse no ar e dele saiu Shub-Niggurath. Parecia uma imensa enguia púrpura cujo corpo devia ter uns trinta metros de diâmetro. Sua era cabeça bulbosa, com bocas em várias partes em seu corpo cilíndrico. A maior delas era grande o bastante para engolir um elefante inteiro e nas outras caberiam presas do tamanho de hipopótamos... Ou de seres humanos. Cada uma das bocas tinha uma língua em forma de tentáculo. Também era possível ver olhos surgindo e desaparecendo a todo o momento em seu corpo.
A presença daquela aberração era avassaladora. Senti tanto medo, que quase mijei nas roupas, e tive a certeza de que se não fosse à fusão mental, eu e os neozelandeses, já estaríamos completamente loucos. Mas sem ter a mesma proteção que nós, a menina chinesa começou a gritar de terror. De um modo que não posso explicar, percebi que a mente dela estava desmoronando.
 Numa avaliação fria, o ritual parecia sem sentido. Para um monstro imenso como aquele, um ser humano seria uma refeição tão irrelevante como uma almôndega para um T-Rex. Mas o ritual seguia outra lógica: a fim de presentar seus adoradores com vida, Shub-Niggurath exigia o sacrifício de uma vida.
Claro que fomos percebidos por ela. E aí, tudo começou a dar errado. Estávamos protegidos por campos de força pessoais, e assim os disparos das lanças de energia dos Mi-Go não nos atingiam. Mas a garota chinesa estava desprotegida. Um dos nossos disparos se chocou no ar com a rajada de um dos Mi-Go, e o ricochete matou aquela que pretendíamos salvar. Mas não houve tempo para lamentar isso.
Shub-Niggurath percebeu que o sacrifício daquele ano lhe fora negado, e ficou furiosa. De uma das bocas saiu um raio esmeralda que desintegrou Conrad. Isso abalou Scarlett e ele se descuidou por um momento. No instante seguinte, ela estava morta. Uma coluna de fogo irrompeu do chão, e ela se transformou em cinzas, sem nem ter tempo de gritar. Ao ver aquilo, Tobey entrou em pânico e sair correndo. Um círculo com símbolos estranhos surgiu em torno dele, que caiu morto logo em seguida. Só havia restado eu, mas ainda me restavam algumas cartas na manga.
O primeiro eram os drones. Com um comando mental, eu ordenei que se agrupassem diante de mim. Quando Shub-Niggurath disparou um relâmpago por um de suas bocas, os drones ergueram um campo de força convexo, onde o ataque bateu e voltou, atingindo duramente aquela divindade monstruosa, atordoando-a. Os drones entraram em curto-circuito lançando fagulhas para todos os lados, porque a sobrecarga foi mais do que eles podiam aguentar. Pude ouvir os tangut exultando com aquilo. Uma comemoração precoce e equivocada.
Isso porque alguns momentos antes do raio atingir os drones, eu havia usado um dos dispositivos da nave para me transportar até uma duna a 22 quilômetros de distância. Era noite ,quando Gobi se torna tão frio quanto às regiões polares, e as minhas roupas não eram apropriadas. Mas aquilo não me incomodou, porque só tinha um pensamento na minha mente: vingança!
  Vingança contra Shub-Niggurath. Contra seus adoradores humanos e vassalos Mi-Go.Pelos neozelandeses e os passageiros chineses, inclusive aquela garota cujo nome eu nunca soube. E usei o meu trunfo final, acionando a autodestruição da nave dos Antigos, que estava a centenas de metros sob Xi Xia.
A duna onde eu estava era enorme, com pelo menos 300 metros de altura e do topo dela, sob a luz da lua cheia eu vi um ponto do deserto ondular como a superfície de um lago quando é atingido por uma pedra. E apesar da distância, eu pude sentir a onda de choque da explosão passando sob meus pés. Em seguida, surgiu um buraco que aumentou rapidamente de tamanho, enquanto a areia das dunas próximas era sugada para dentro dele e um som trovejante se espalhava pelo deserto. Dois minutos depois, tudo acabou restando apenas um desenho espiralado semelhante a uma flor com dezenas de pétalas.
Xi Xia e seus habitantes não existiam mais. Shub-Niggurath havia sido derrotada. E eu estava sozinha, em meio à vastidão de Gobi. Mas sabia que um evento daquela magnitude não passaria despercebido das autoridades chinesas e permaneci no lugar. Quarenta minutos depois eu ouvi o som de trovões, e acionei outro dispositivo, ficando invisível. Dois caças a jato chineses chegaram e diminuíram a velocidade, sobrevoando várias vezes o local. Depois, foram embora.
 Mas era óbvio que os pilotos haviam entrado em contato com a sua base, e quando soldados chegassem ali, fosse ao dia seguinte ou ainda de noite, eu não queria estar perto para dar explicações. Da mochila retirei uma bola do tamanho de maçãs. Sua cor era de chocolate com leite, mas o gosto era de casca de banana.
 Comi uma delas, acionei outro dispositivo que me protegeria do frio do polar, inerente ao deserto à noite e comecei a correr como uma gazela. Quando digo isso, não é no sentido figurado porque os sensores da espaçonave haviam detectado uma cidade a 440 quilômetros de distância. Eu cheguei lá em apenas seis horas. Comia uma esfera nutriente cada vez que sentia a minha velocidade diminuindo. De um cilindro que parecia uma garrafa térmica, mas que atraia a umidade do ar transformando-a em água, eu bebia para saciar a sede sempre que necessário.
  Ao chegar aos arredores da cidade, eu vi um ônibus parado na estação rodoviária local. Corri mais um pouco até lá, mas de modo não chamar atenção. Conversando com o funcionário que estava próximo, soube que aquele era o ônibus semanal para Lanzhou. Comprei uma passagem e parti. A meu lado se sentou uma mulher gorda, que fedia como se não tomasse banho há semanas. Ela não tentou iniciar uma conversa o que foi ótimo, porque eu não estava com vontade de falar com ninguém. Afinal de contas, eu era a única sobrevivente sobrevivente de um grupo de 23 pessoas!
 Após voltar a cidade de onde eu havia saído, telefonei para o aeroporto e perguntei sobre voos para o nosso país e fiz uma reserva. Enquanto esperava, observei os jornais e a TV. Havia só discretas menções a um terremoto de magnitude 3.6 no deserto de Gobi, que não havia causado danos ou vítimas. Nenhuma menção aos neozelandeses.
Aquilo não me surpreendeu. Apesar de fazer negócios bilionários com vários países do mundo, o fato é que a China continua tendo um governo autoritário, do tipo que não gosta de admitir perante o mundo que ocorreram fatos inexplicados em seu território. E um país pequeno como a Nova Zelândia não tinha meios de pressionar a China para dar maiores esclarecimentos sobre o sumiço de estudantes que não eram importantes ou famosos. Quanto aos chineses que também estavam no ônibus conosco, suas famílias devem ter engolido qualquer desculpa esfarrapada que lhes foi dada, porque sabem que afrontar a cúpula do PC chinês não é recomendável para quem almeja vida longa.
  Dois dias depois, peguei as minhas bagagens no hotel, e embarquei em um voo para retornar ao nosso país. Eu havia tomado à precaução de disfarçar os equipamentos que havia retirado da nave dos Antigos como bugigangas típicas que são compradas pelos turistas, e tudo passou sem problemas pela alfândega chinesa e depois, também pela americana.
 Só depois já em casa é que descobri que dentro de um deles havia algo. Um livro que os Antigos haviam confiscado no final do século IX de um adorador de outra divindade sombria, chamado Cthulhu. Sinto que eu poderia lê-lo, mas sei que o melhor modo de tentar esquecer tudo que ocorreu em Xi Xia é me livrando dele.
Carimer e Bavana ouvem o barulho de algo sendo posto sobre uma mesa e ouvem:
— Nesse momento, estou doando a Biblioteca Orne um exemplar do Kitab Al-Azif, que mais tarde se tornou conhecido pelo nome que recebeu no século X do bizantino Theodorus Philetes: Necronomicon. Este exemplar está quase todo escrito em árabe exceto a última página, que foi acrescentada mais tarde pelos Antigos e está em outro idioma. Grego, eu suponho. Espero que vocês e os estudantes da Miskatônica tirem bom proveito dele.


 Os dois bibliotecários ouvem uma risadinha baixa e depois, silêncio. Algum tempo depois, o efeito da magia paralisante acaba e eles olham a sala ao seu redor. Não encontram ninguém. Mas o livro doado pela mulher misteriosa estava sobre a mesa, provando que tudo havia sido real.
Eles o folheiam rapidamente. De fato estava escrito em árabe, com a última página em grego. E para um livro supostamente feito no século IX, o seu estado de conservação era fantástico! Estava novo em folha, como se tivesse acabado se sair das mãos dos autores. Claro que teriam de submetê-lo a exames mais detalhados para constatar se era autêntico, ou produto de uma farsa elaborada. Mas havia outra questão mais urgente que ambos queriam esclarecer.
Percorrem os corredores vazios até o andar térreo, onde encontram dois guardas com seus uniformes verde-oliva e gravata marrom da segurança do campus, sentados lado a lado em duas cadeiras e olhando para a tela de um laptop, com um cão Rottweiller deitado próximo a eles. Um dos homens tinha cabelos louro cinza e olhos azuis. O outro, cabelos cinza prateado e olhos verdes. Ao verem os dois bibliotecário chegarem correndo, eles desviam os olhos da tela, enquanto o cão ergue a cabeça.


— Vocês viram para onde ela foi? – pergunta Bavana.
— De quem estão falando? – pergunta o louro, chamado Darien.
— A mulher que estava no terceiro andar, e que conversou longamente conosco. – acrescenta Carimer.
Darien responde:
— Eu voltei do almoço a 1 hora e 30 minutos da tarde e me sentei aqui na mesa como sempre, com Patton ao meu lado. – diz, fazendo um movimento de cabeça para o Rottweiller, que havia se sentado e estava arfando.
— Eu cheguei dez minutos depois com meu laptop para assistirmos junto alguns jogos de tênis do US Open. – diz o outro guarda, chamado Stanton - Estamos aqui faz duas horas e durante todo esse tempo professor Gornicky, ninguém passou por nós!
O diretor da biblioteca e a bibliotecária geral ficam perplexos ao ouvir aquilo. A sala onde eles estavam ficava no terceiro andar, e não era possível chegar lá sem passar pela portaria e os guardas, ambos os homens grandes e robustos. Então como a mulher misteriosa havia conseguido? E de que modo explicar a estranha paralisia?
— Está tudo bem, professor Gornicky? – pergunta Darien.
— Sim, é claro. Desculpem o incômodo. – responde ele, enquanto volta para terminar o trabalho junto com Bavana, sem entender o que de fato havia acontecido. Os guardas olham um para o outro e dão de ombros.
 Os professores da Miskatônica eram boas pessoas, mas alguns eram meio esquisitos. Sobretudo os encarregados da biblioteca, em cujo último andar ficavam livros sinistros que segundo os boatos, falavam de demônios pagãos e coisas ainda piores...

 A 36 quilômetros de distância, Velma Dinkey reaparece na base de uma colina. Ela estava com um vestido chemise vermelho como o interior de uma melancia e um grande decote em V que chamava a atenção para seus lindos peitões. Usava um colar de cristal rosa, meias bege e botas marrons de cano curto.Na cintura algo que parecia um cinto com uma fivela retangular do tamanho de um maço de cigarros mas na verdade era um dispositivo dos Antigos que ela havia usado para se transportar até a biblioteca e voltar.


Então a mente dela volta no tempo, para relembrar onde realmente havia ocorrido a aventura que havia feito com que ela,Salsicha e Scooby se envolvessem com o mundo sinistro, perigoso e mortífero dos Grandes Antigos.


 De certo modo, tudo tinha começado algum tempo após o casamento de Daphne e Fred, quando chegou um e-mail do seu tio Cosmo, convidando-a e aos amigos para visitar uma escavação arqueológica que ele estava fazendo na taiga siberiana. Mas aí Daphne veio contar-lhe que estava grávida! Quando ela falou ao convite Daphne, com seus instintos maternais aflorando, achou melhor perguntar a uma amiga da família dela que era médica se ela e Fred deveriam ir naquela viagem.
A resposta foi não, porque Daphne sairia o verão californiano de até 38º Celsius para o de um lugar onde a temperatura era a metade disso, e que ficava ainda mais frio á noite! Fred e os pais de Daphne também se opuseram a ideia e o jovem casal (ele com 20 anos, e ela com 19) optou por ficar para trás. Ela, Salsicha e Scooby partiram.
 Não houve problemas no aeroporto Koltsovo em Ekaterimburgo, onde ela e os amigos partiram em um carro Lada Niva 4x4 guiado por um russo de olhos azuis e cabelos castanho claro, barbudo e grandalhão chamado Dimitri, que falava um inglês fluente e fácil de entender, apesar do sotaque. Salsicha se sentou ao lado de Dimitri, enquanto ela e Scooby iam no banco de trás. A viagem foi tranquila até quando se aproximarem do seu destino, quando depararam com uma barreira do exército. Havia centenas de soldados, muitos carros blindados, tanques de guerra e helicópteros de ataque no chão ou sobrevoando o local.
 A conversa entre Dimitri e os soldados era acalorada, mas como ela e Salsicha não entendiam o idioma tiveram apenas de ficar olhando. Quando um soldado com fuzil automático apontou para um desvio na estrada, foi fácil perceber o pânico no rosto do chofer. Dimitri tentou argumentar, mas o fuzil apontado para eles mostrou que a conversa estava encerrada.
 Enquanto seguiam pelo desvio Salsicha, impressionado com a expressão de terror no rosto do chofer perguntou:
— Algum problema, senhor?
— Aqueles soldados são de um batalhão que está fazendo manobras. Por causa disso, nos ordenaram seguir por esse desvio.
— Essa estrada está em mau estado, é perigosa ou algo assim? – perguntei.
— Mal cuidada não. Muito perigosa, sim! Em algumas horas vamos passar por Miakshev, a cidade maldita!
— Cidade maldita? – perguntou Salsicha, assustado.
— Maldita? – repetiu Scooby, mais assustado ainda.
— E o que tem de tão sinistro por lá? – perguntei.
— Tudo começou na grande fome de 1921, quando Lenin decidiu implantar a força o sistema de fazendas coletivas. Muitos camponeses deixaram de plantar, porque a decisão a respeito do que deveria ser semeado e os preços de venda da produção seriam decididos pelos burocratas do Partido Comunista. Também houve casos em que os cavalos usados para arar a terra foram confiscados dos seus donos.
Em Miakshev, várias pessoas foram fuziladas pelos bolcheviques, que também confiscaram a maior parte dos estoques e disseram aos demais habitantes que tinham de aceitar o novo regime porque no ano seguinte, eles voltariam para cobrar impostos.


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