A Herdeira de Zaatros escrita por GuiHeitor


Capítulo 3
Capítulo 2




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Trigésimo quinto dia do primeiro mês, ano 7302.

 

Cena I – O Retorno do Elfo.

12 horas e 07 minutos, Reino Kvarbrakoj – Kaotheu. Q.G. dos Guardiões das Chamas. Próximo à fronteira com Ruthure.

 

Desde que se tem lembrança, Harkuos diz ser filha de Fênix e Dragão. A maior parte das pessoas crê nisso e, para elas, Harkuos é a Herdeira de Zaatros, a nascida para imperar após os Deuses Ancestrais. Os que questionam a veracidade das histórias contadas nas capelas e catedrais pelos clérigos vêm aumentando, especialmente nos últimos dois séculos. Os que confiam na palavra da Deusa se referem aos descrentes por “infiéis”.

No ano de 7300 um grupo de infiéis fundou o clã chamado Guardiões das Chamas no intuito de consolidar o grupo descrente; tendo por objetivo principal ressuscitar a Fênix e o Dragão e destituir a mulher que se diz deusa do posto divino que ocupa sem o digno merecimento.

Dentro de uma grande caverna, acontecia uma reunião entre um anão, duas elfas e um kvarbrakoj. Discutiam sobre a segurança da vigente localização do clã que, atualmente, possui o anonimato comprometido e que deve estar sendo rastreada neste momento sob acusação de heresia.

 

—A estratégia que elaboramos consiste em jamais nos instalarmos em um só lugar. -Duas vozes falavam simultaneamente as mesmas palavras. As donas das vozes são Razatte e Luzabell Korian, conhecidas pela alcunha de “Bruxas Siamesas”. As elfas gêmeas estão ligadas pelo fim da coluna, uma de costas para a outra. -As autoridades locais suspeitam que estamos em Kaotheu e o Rei Néfor não pode mais comprometer seu governo para nos proteger da lei… logo a União Real suspeitará, se é que ainda não suspeita e, depois disso, mais investigações acontecerão.

—Compreendo. -O anão falava em tom grave e arrastado, seu nome é Ezerk Nuturo e ele é quem comanda os Guardiões das Chamas. -O que vocês sugerem, então?

—Manter esta base como refúgio em casos de emergência, e mover as operações principais de planejamento para Ruthure e, como já disse, sem nos fixarmos em um único ponto. De preferência, o mais próximo da fronteira com Ramavel possível.

—Quer dizer que vamos nos deslocar para perto do covil da deusa farsante? Enlouqueceram?! -Indagou o general das tropas de invasão, Urak Zeto, o kvarbrakoj. -Querem que ela fulmine a todos com um raio, bruxas!? Ainda que seja só uma feiticeira e não uma deusa como todos pensam, Harkuos é muito poderosa, do contrário não teria sobrevivido por mais de sete milênios e alienado a todos. -Ao som da represália, as Bruxas Siamesas titubearam, mas logo recuperaram a pose.

—General Zeto, permanecer aqui, em sua terra natal, porá seu Rei em situação delicada. -As duas sempre falavam juntas. Luzabell de frente para Urak e Razatte voltada para Ezerk, no outro extremo. -A melhor opção, tanto tática, quanto militar, é montar fortaleza próximo ao Monte Nublado. Será mais fácil deslocar tropas no momento da invasão, além do que, o Rei de Ruthure também é nosso aliado e…

O discurso fora interrompido por pancadas na porta improvisada da caverna. -Identifique-se. -Ordenou Urak, levantando-se e olhando através da fresta da porta de lata. Era ainda mais intimidador de pé, com dois metros e dez de altura.

—Sou eu, Darius. Você me conhece, estúpido. -O homem do lado de fora parecia não ter medo do general. Vestia-se todo de branco. Usava um capuz na cabeça e um lenço cobrindo-lhe a boca e o nariz para suportar melhor a luz avermelhada da Estrela Astral que no deserto queimava com ainda mais violência. No fim das contas, a única parte exposta de seu corpo eram os olhos, verdes como jades.

—Então vai ficar de fora. Soube que vem aí uma tempestade de areia. -General Zeto fechou a brecha e se virou para voltar ao círculo da reunião.

—Elfo, Darius Quendra. Recrutado no centésimo quarto dia do segundo mês do ano 7300. -Recitou o jovem elfo removendo o capuz e o lenço. Aparentava estar na casa dos 20 anos. -As Chamas me deram a vida e em breve eu as darei vida. -O juramento faz referência aos poderes dos Deuses Ancestrais e ao propósito do clã: Foram criados pelas Chamas e um dia recriarão os Deuses donos de tal poder.

—Doeu, elfo? -A porta foi aberta para que Darius entrasse.

—Vou te mostrar o que é dor quando partir a sua cara ao meio! -Gritou o elfo, com a cabeça muito inclinada para encarar o kvarbrakoj.

As bruxas prenderam a respiração, esperando pelo momento em que o elfo fosse morto pelas quatro mãos imensas de Urak, porém o que aconteceu em seguida as deixou confusas. O kvarbraoj e o elfo apertaram as mãos e desabaram em gargalhada.

—O que é isto?! -De novo as vozes duplas indicando a pergunta fora feita por Luzabell e Razatte.

—O reencontro de velhos amigos, senhoras. General Urak e Darius são amigos de longa data, desde antes da fundação dos Guardiões das Chamas dois anos atrás. Urak deixou seu reino natal, Kaotheu, para morar em Eyrell, e lá conheceu o amigo e sua irmã, Tamires, com quem se casou. -Obviamente as Bruxas Siamesas não teriam como saber uma vez que tenham entrado para o clã há tão pouco tempo. -Seja bem-vindo de volta, Darius. -Saudou-o Ezerk. -Acreditávamos que estivesse morto ou preso após tantos meses sem notícias.

—Obrigado, Ezerk. Eu tive alguns problemas, quase fui morto e agora Eyrell inteiro sabe o que planejamos… -A situação era crítica. Todo um reino tinha consciência de que havia um grupo conspirando contra a “Deusa”, e era só uma questão de tempo até que o Reino dos Elfos contatasse os cinco reinos restantes. -Mas eu cumpri a missão.

Todos os olharam surpresos.

—Do que vocês estão falando? -Quiseram saber as elfas gêmeas.

—Quem é ou o que são as feiosas? -Darius se sentia em casa. Terminou de despir o traje mantendo apenas as calças e atirou–se em uma poltrona velha e poeirenta. Havia uma cicatriz suave e vertical no meio de seu peito.

—Estas são as elfas feiticeiras Luzabell e Razatte Korian, pode dirigir-se a elas como Bruxas Siamesas. -Ezerk indicou cada uma das mulheres ao dizer o respectivo nome, porém, sendo elas exatamente iguais, não faria diferença nenhuma saber ou não seus nomes. -Siamesas, este é o nosso elfo encrenqueiro,Darius Quendra, eleatua como ladino e arqueiro. Eu o enviei em uma missão logo após fundar este clã.

—Senhoras. -Darius se levantou e se inclinou em uma reverência debochada. -Eu parti para Eyrell com o objetivo de trazer um dos itens que precisaremos para facilitar nossas vidas miseráveis! O problema começou assim que entrei no reino. Descobri que a pedra que eu fui incumbido de roubar havia sido retirada do Museu da Magia para ser cravada na nova coroa do Rei Zadell poucos dias antes da minha chegada.

—Já entendi, você teve que roubar a coroa.

—Isso seria suicídio, Urak. -Darius passou o polegar pela garganta simulando uma faca degolando-o. -Eu sou um elfo, então usei meus Charmes e seduzi a Princesa Kayena para que ela roubasse a coroa por mim…

—Por desencargo de consciência, quais são os seus Charmes Élficos? -A narração de Darius fora interrompida pelas bruxas.

—São Beleza, Voz Sedutora e Carisma. E os seus, bruxas? Não me digam que ter o traseiro colado ao da irmã concede Charmes extras! Isso seria muito desonesto!

—Inteligência, Força e Persuasão; e nós compartilhamos os dons, insolente!

—Entendi… bom, continuando: eu enviei presentes para a princesa assim que entrei no reino durante duas semanas; na terceira, ela foi até minha estalagem. Eu havia enviado os mimos junto a um cartão com meu endereço propositalmente. -Darius contava tudo, passeando de um lado para o outro, como se fosse comum, como se fosse acostumado a enganar moças. -Ela não levou nenhum guarda, simplesmente apareceu por lá. Então nós noivamos no mesmo dia, vejam só que imprudência a dela, e no dia seguinte eu estava morando no Castelo de Eyrell. A família real me adorava… diziam que para alguém que veio da plebe eu havia recebido muita instrução e tinha ótimas maneiras... tudo parte do Carisma que lhes apliquei.

—Mas… como? -Ezerk perguntou.

—Permita que eu responda nosso líder, senhor Quendra. -Intrometeram-se novamente as bruxas com vozes pareadas. -O Charme Élfico é algo irresistível quando bem aplicado, e o senhor Quendra domina três pontos do Charme ligados à sedução. -Darius, que era puro ego, achou a explicação perfeita. -E, ao que nos parece, é um elfo muito habilidoso no uso deles. Não é fácil manipular outro elfo através dos Charmes. Seria o mesmo que um telepata tentar invadir a mente de outro.

—Vocês me dão licença para continuar ou vão me cortar outra vez? -Ralhou Darius. -Obrigado. Eu, em todo esse tempo que passei sem entrar em contato, estava amarrando Kayena a mim através dos Charmes e foi semana passada eu dei a cartada final: disse a ela que queria a joia da coroa do Rei Zadell e ameacei largá-la quando ela apareceu com uma réplica da pedra no dia seguinte ao pedido.

—Sujo. -General Zeto, que se manteve calado durante toda a conversa, abriu a boca apenas para dizer uma palavra. No fundo sentia orgulho do amigo.

—A princesa chorou tanto, que tive medo de ser morto pelos guardas do palácio ali mesmo. Então disse a ela que eu não partiria e que não conseguiria mais viver longe dela, enfim, todas essas coisas que homens canalhas dizem e mulheres apaixonadas acreditam… depois, consegui convencê-la a me trazer a joia verdadeira. -Uma longa pausa, como se houvesse certo remorso. -Ao receber a pedra, eu abandonei o palácio e fugi em direção a esta base, não tinha certeza de que ainda estariam aqui. Alguns dias depois, soube por meio de informantes que a Princesa Kayena Jardais estava morta, que a guarda do reino havia revirado minha antiga casa e encontrado evidências suficientes para provar que estamos em Kaotheu. Não tive tempo de limpar o lugar, só de correr. -Todos os presentes se chocaram com as informações, dadas de maneira tão repentina. -Ela se jogou da torre mais alta do Castelo de Eyrell, algumas horas depois de eu tê-la deixado. Na tarde do dia que parti…

—Darius! A princesa de Eyrell está morta? Por sua causa?! -Se até Ezerk, que está habituado com mortes em seu caminho, preocupou-se com a notícia, isso queria dizer que a situação estava realmente complicada para eles, sobretudo para Darius Quendra.

—Não era minha intenção, não queria que isso acontecesse. Hélio deve estar sofrendo tanto… tornamo-nos bons amigos, o príncipe e eu… já era. Bom, eis aqui a pedra. -Darius atirou-a para as Bruxas Siamesas. -Espero que tenha valido a pena, porque agora estão oferecendo pela minha cabeça ouro suficiente para encher uma carruagem grande.

—Valerá, elfo… valerá. Agora, bruxas, poderiam dizer-me que gema é essa em suas mãos? -A voz do líder anão estava de volta ao clássico tom grave.

—Senhor, eu não posso acreditar nisso… -As bruxas passavam a gema uma para a outra várias vezes para se certificarem de que aquela pedra gelada e transparente era de fato o que procuravam. -Creio que seja um gelo perene.

—Correto, ele será a chave para nossos próximos saques. -Ezerk Nuturo não era um anão comum, a maioria dos de sua espécie são pouco escolarizados e brutos, ele não, Ezerk é calculista e sábio.

—E onde o tal gelo perene vai atuar? -General Urak Zeto supunha que a pedra seria uma nova arma para seu arsenal.

—Nós vamos duplicá-lo várias vezes e criar uma mágica conhecida por “Inferno Congelado”. -O anão tinha um brilho vitorioso no olhar.

—Senhor, então precisaremos de mais feiticeiros e magos. -Luzabell e Razatte ainda passavam a pedra entre si para que ambas a olhassem. -Sozinhas não daremos conta de produzir mágica tão complexa em tamanha quantidade para suprir nossos soldados.

—General Zeto, sua filha vai mesmo se juntar a nós? -Ezerk se pôs de pé e tomou a joia das mãos das bruxas.

—Certamente. Kira está agora em um ritual solitário, ela decidiu se especializar nas mágicas relacionadas ao som.

—Ótimo, então temos mais quatro mãos para o trabalho pesado.

—Em que consiste, exatamente, o tal Inferno Congelado? -Darius quis saber.

—Se parecem com bombas incendiárias. -A explicação tinha duas vozes. -Primeiramente, serão feitas cópias do gelo perene, já que um único não serviria bem ao propósito, e depois eles serão lapidados em forma esférica… uma das propriedades desta gema é a alta resistência ao fogo e a capacidade de absorver energia.

—Espera aí um minutinho. -Darius cortou a explicação. -Vocês estão me dizendo que isso é um tipo de gelo resistente ao fogo? -Um riso. -Que piada!

—De gelo, senhor Quendra, só tem o nome. Na verdade o gelo perene é um mineral encontrado apenas em Eyrell, muito similar ao diamante, ainda mais raro e detentor de efeitos mágicos únicos. Porém não dispõem da mesma resistência do diamante, que é praticamente indestrutível… neste aspecto, mais se assemelha ao vidro. -As bruxas estavam gostando de se mostrarem mais sábias que o ladino. -A confecção da bomba consiste em três pontos: lapidar o gelo perene, forçar o máximo possível de fogo para dentro da esfera e selar a abertura para mantê-lo preso dentro da pedra. É extremamente volátil e a qualquer pancada pode rachar e liberar todo o fogo armazenado de uma única vez, gerando uma grande explosão seguida de incêndio instantâneo.

—Entendo… e é com isso que pretendem subir o Monte Nublado em busca da cabeça de Harkuos?

—Exatamente, mas não só com isso… -Ezerk foi interrompido por um estrondo. A porta do fundo da caverna fora derrubada, a mesma que levava à sala onde Kira fazia o ritual. Havia poeira suspensa e a porta de latão jazia retorcida no chão. Conforme o pó se dissipava, Kira Zeto se tornava visível. A filha do general não era uma kvarbrakoj pura, tinha também sangue humano, herdado da mãe, Tamires; e, mesmo tendo os quatro braços, eles não eram musculosos como os do pai. A híbrida kvarbrakoj-humana possuía somente dez anos. Tinha cabelos louros iguais aos do pai, caídos em franja na testa e amarrados em dois rabos de cavalo na nuca e um olhar assassino de íris verdes; estava vestida com um manto roxo e preto, com várias tiras de pano pendendo e carregava um lenço amarrado no pescoço nas mesmas cores.

Kira caminhou lentamente provocando um efeito de suspense no ambiente, parou no meio do salão e removeu a echarpe. Gravada em tinta preta no pescoço havia uma runa.

—Parabéns, minha criança! Você desempenhará um papel muito importante neste clã. -Urak era puro orgulho.

—Por não ter nascido feiticeira, Kira viola o Tratado de Número Cinco. -Ezerk explicou ao General. -O Tratado de Controle da Magia diz que as mulheres só podem usar magia se nascerem sabendo, ou seja, se nascerem feiticeiras. Só homens podem estudar magia legalmente. Então temos uma criminosa e um foragido aqui presentes. Kira por não ser feiticeira e ainda assim estudar magia e Darius por ser responsável pelo suicídio da Princesa de Eyrell. O elfo se arrepiou com a lembrança de Kayena.

—Como se sente, Kira? -A menina não respondeu a pergunta do pai. Tocou runa tatuada em seu pescoço e depois cobriu a boca com a mão.

—O que?

—É parte do ritual, ela está acumulando o poder da voz. -As Bruxas Siamesas se aproximaram da menina. Razatte olhou primeiro e depois se virou para que Luzabell examinasse a runa. -Conhecemos pouco sobre runas, nós feiticeiros nunca nos damos ao trabalho de estudá-las, mas cremos que esta seja a Runa Grito. Estamos certas?

A resposta veio na forma de aceno positivo com a cabeça.

—Então você não vai mais falar? -Perguntou o pai, sem levar a sério a palavra das bruxas.

E Kira confirmou novamente.

—Parabéns pela determinação, Kira. -O elogio partiu de Darius, tio e padrinho da menina. Sua mãe não a repreendeu?

Sinal negativo

—Bom! Sei que Tamires é contra, mas, pelo menos, deixou você caminhar com as próprias pernas.

—Voltando ao assunto inicial, iremos para Ruthure. -Estava decidido. -As táticas expostas pelas Bruxas Siamesas me parecem sensatas, ainda mais agora que corremos perigo confirmado. -Ezerk julgava mais prudente resguardar o que restou do anonimato do clã. -Partiremos o quanto antes para as terras vulcânicas. Sei que seremos bem recebidos por Rei Rujavo. E, Darius, quais informações exatamente havia em sua casa sobre nós e sobre esta organização?

—O nome Guardiões das Chamas, nossa localização aproximada, talvez nossos planos e, espero eu, nada além disso. -O elfo estava apreensivo, suava frio e coçava a parte de trás do cabelo preto e espetado.

—Pelos Deuses Ancestrais eu também espero que sim… esta assembleia está encerrada.

 

***

 

Cena II – A Notícia de Morte.

15 horas e 12 minutos, Reino Anão – Ruthure. Praça da Capital.

 

O mensageiro enviado de Eyrell chegou ao Reino Anão após cinco dias de viagem com más notícias. Em todos os reinos de Zaatros a presença de um mensageiro externo é sempre tida como mau presságio. As notícias mais comuns que esses trabalhadores entregam falam sobre guerra, traição ou morte. A deste dia é sobre morte.

O elfo de meia idade e cabelos ralos e ruivos se dirigiu ao centro da praça, pegou em sua bolsa um pergaminho, removeu o lacre e iniciou a leitura.

 

—“É com imenso pesar que venho a Ruthure, Reino Anão governado por Rujavo Grutto, trazer notícias de Eyrell. No trigésimo dia do primeiro mês deste ano, a Princesa Kayena Jardais cometeu suicídio logo após ser forçada a furtar o próprio pai, Rei Zadell, e ser abandonada pelo então noivo.

O elfo Darius Quendra, ex-noivo da princesa, foi condenado à tortura por afogamento, castigo por fogo e morte na guilhotina. O réu está foragido e é perigoso. O Reino Eyrell oferece recompensa de vinte e cinco mil moedas de ouro pelo foragido, esteja ele vivo, mutilado ou morto, além do título de Herói de Eyrell, o qual concede alguns benefícios dentro do reino.

Ao investigar os pertences abandonados pelo fugitivo, foi descoberta a existência de uma facção criminosa que se autointitula “Os Guardiões das Chamas”. Não se sabe ao certo qual o objetivo da organização, porém supõe-se que estejam arquitetando um plano para atacar a Deusa Harkuos.

Todo aquele que proteger ou de alguma maneira ajudar Darius Quendra ou quaisquer pessoas envolvidas com a facção anteriormente citada também será perseguido pela Guarda Real de Eyrell, inicialmente sob acusações de cumplicidade, proteção de condenado, heresia e atentado contra a realeza.

Assinado: Zadell Jardais e Maya Jardais. Rei e Rainha de Eyrell, Reino Elfo.”

 

As pessoas ao redor do mensageiro foram dispersando aos poucos enquanto comentavam sobre a tragédia e especulavam sobre os porquês de alguém ir contra Harkuos.

 

***

Cena III – Apoio aos Aliados.

22 horas e 50 minutos, Reino Anão – Ruthure. Palácio Real.

 

—Meu rei, o que dizem pelas ruas é verdade? -A pergunta partiu de Conaro Grutto. A rainha estava alarmada com o acontecido e temia por seu reinado e pelos Guardiões das Chamas.

—Sim, é verdade. -Rei Rujavo tinha muito a perder com o fracasso dos Guardiões, contudo mantinha-se calmo, ao menos externamente.

—E qual será o próximo passo, meu rei?

—Ao amanhecer, o clã chegará ao quartel-general improvisado aqui, nas terras vulcânicas, e eu os receberei de braços abertos, minha rainha.

—E como planeja convencer o reino de que Harkuos é mesmo uma fraude? Implantaríamos a teoria gradativamente e a morte da princesa nos tomou este trunfo.

—Não duvide de mim, Conaro! -Rujavo estava sob estresse. A todo momento coçava a barba espessa e escura, como se isso fosse um tique nervoso. -Não somos os únicos que desconfiam de Harkuos. Há quase dois séculos, grande parte dos professores e estudiosos de Ruthure vêm pensando da mesma forma, de forma camuflada, é verdade. Isto significa que os alunos estão aprendendo a questionar, a pensar se a Harkuos é realmente o que contam os clérigos com seus pesados clericatos…

—Quer dizer então que o questionamento existe a todo esse tempo!? -A rainha não estava conseguindo acompanhar o raciocínio do marido, provavelmente Conaro não se dedicou aos estudos, assim como a maioria dos anões.

—Exato. E nosso pobre mensageiro deu mais força a tal questionamento quando disse que existe um grupo consolidado se preparando para confrontar o que chamam por aí de deusa. -O rei sorria. -E, se existe uma aliança, outras se formarão, pois todo o Reino Ruthure e boa parte do Reino Kaotheu já veem a Mulher do Monte Nublado de outra forma… como a farsa que é.

—Compreendo. E já que Darius está foragido, então deve ter conseguido roubar o gelo perene.

—Certamente. Soube de fonte segura que encontraram a coroa que ostentava a gema à deriva em um dos rios de Eyrell, sem a pedra. O maldito ladino levou dois anos, mas conseguiu!


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