A Herdeira de Zaatros escrita por GuiHeitor


Capítulo 2
Capítulo 1




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Trigésimo quinto dia do primeiro mês, ano 7302.

 

Cena I – Reunião Familiar.

11 horas e 45 minutos. Reino Humano – Feltares. Casa dos Goatath.

 

“No princípio de tudo, existia apenas a Fênix e o Dragão. Dois seres deíficos que compartilhavam o mesmo espaço e a mesma consciência, porém em corpos distintos. Os dois Deuses voavam no vazio, sempre juntos, em uma dança eterna.

Em algum instante o baile terminou, e, tomados por um pensamento repentino, um novo propósito, eles se miraram. No momento no qual o olhar do Dragão e o da Fênix se cruzaram, ambos tiveram a certeza do que deveria ser feito e, ali, no vazio, o mundo começara a nascer. Zaatros fora o nome escolhido por seus criadores.

A chama sagrada de cada deidade possuía propriedades únicas. A Fênix, mortal e imortal ao mesmo tempo, criou os alicerces da existência: vida e morte. E foi muito além disso, abriu mão de sua imortalidade para doá-la a um ser divino que conceberia junto a seu companheiro. O Dragão, por sua vez, deixou ao novo mundo sua sabedoria, e sua magia… Ambas as dádivas são restritas apenas a algumas espécies. Desse modo, Ele tornou toda criatura viva e inteligente capaz também de criar, transformar ou destruir outra vida.

Ao fim da criação de Zaatros, a energia se esgotou. A Fênix transferiu todo o poder que possuía para sua criação e para a filha que representaria tanto Ela quanto Dragão no novo mundo. E assim a chama da Fênix se apagou…

Por outro lado, o Dragão, que não cedeu completamente sua essência, poderia ter continuado sua existência e recuperado as forças com o passar dos milênios. Contudo existir sem sua metade complementar seria doloroso e melancólico. Então ele abriu mão do que restou de seu poder gerando mais quatro filhos. Filhos estes concebidos apenas por ele. E assim, o fogo do Dragão também se apagou.

Desta vez, tratavam-se de dragões animais, ainda deuses, porém irracionais. Duas fêmeas e dois machos. Um casal alado e sem patas dianteiras, e outro com as quatro patas, porém sem asas. Todos os quatro dragões tinham nas escamas a cor azul, como o pai, entretanto, seus descendentes, os netos do Dragão Primordial, nasceriam vermelhos…

A divindade surgida dos dois Deuses Ancestrais se chama Harkuos, e foi criada no mesmo instante que o mundo. A Deusa vive em Zaatros, no plano material, o mesmo onde os mortais residem, contudo, isolada de todas as criações de seus progenitores. Ela é responsável pela justiça divina, que por várias vezes é diferente da justiça mortal. Sendo assim, fornece provações, dádivas e castigos aos humanoides sem grandes interferências pessoais. A força que rege o carma cuida disso.

Harkuos habita o Palácio do Monte Nublado desde a aurora dos tempos, localizado em Ramavel, o Reino Gigante. Mesmo isolada na imensa montanha, a Deusa tem conhecimento de tudo que se passa em cada canto do mundo e espera o momento certo para se manifestar no mundo mortal que transborda injustiça, desigualdade e desrespeito.

Ninguém conhece o paradeiro dos demais deuses. Os Dragões, meio-irmãos de Harkuos, certamente estão indetectáveis pois, sendo também deuses, ainda que animais, continuam eternos.

A Deusa nomeou cada um de seus irmãos: o dragão alado fêmea se chama Aurora e seu par, o macho alado, Entardecer. A fêmea dragão terrestre foi batizada como Noite e seu macho recebeu o nome de Manhã.

Os lendários Dragões Azuis permanecem na mesma formação de pares desde quando foram criados e seus filhotes Vermelhos se cruzaram e deram continuidade às raças, não obrigatoriamente alados com alados ou terrestres com terrestres.

Existem outros “imortais” e alguns deles se dizem deuses, mas não são nem um nem outro. Trata-se de uma imortalidade condicional, ou seja, são feiticeiros, bruxos e magos usando runas, rituais ou criando amuletos e talismãs que conferem a eles tal poder. Muitas das técnicas são divinas ou proibidas. Sendo assim, caso o círculo do ritual ou o amuleto seja destruído, destrói-se também a pseudo-imortalidade de tais mestres em magia.”

 

O texto foi lido do Clericato dos Deuses Ancestrais por Layla Goatath, professora que leciona para crianças cujos pais não podem arcar com os custos da escola da nobreza.

 

—Que incrível, professora! -O autor do elogio é Isaac Sereel, o aluno mais inteligente e mais curioso da turma de dez anos da professora Goatath. -E por que, em sete milênios, nunca procuraram pelos Dragões Azuis? Falta de tempo não foi. -Toda a turma riu, inclusive a professora.

—Estamos no ano 7302, datado pela própria Deusa Harkuos após o nascimento de Zaatros e acontece que durante muito tempo os lendários Dragões Azuis foram procurados sim, porém nunca os encontraram. -Uma pausa para fechar o pesado livro e devolvê-lo ao seu lugar na estante. -Tudo que se tem como prova da existência de tais criaturas são as palavras de Harkuos, presentes no clericato que acabei de ler. E Ela também ordenou que eles fossem deixados em paz. -A classe era puro silêncio e atenção, dentre todas as disciplinas, História da Origem era a favorita dos estudantes.

—E, além do pedido de Harkuos, há também uma lei assinada pelos seis reinos e promulgada pela União Real proibindo o contato humanoide com os dragões independente da cor que eles tenham.

—E também tem a Maldição do Dragão! -Falou uma menina da turma. Ela parecia humana, mas tinha também feições de gigante, certamente uma híbrida.

—Não se sabe se a maldição é real ou apenas contos de bardo. -Dizia a professora quando o relógio cuco apitou marcando meio-dia e fim da aula.

—Crianças, antes de irem, por favor, ouçam-me. -Layla limpou a garganta, ajeitou os óculos e o coque feito em seu cabelo grisalho enquanto esperava atenção. -Ótimo. Para próxima aula de Estudo da Fauna quero que cada um traga um animalzinho. Quem não tiver nenhum, tente providenciar uma galinha ou algo que seja fácil de se conseguir. E eu vou precisar resolver uns assuntos amanhã, então não haverá aula. Estão dispensados. -Os alunos correram e se acotovelavam para sair primeiro da casa da professora.

 

As escolas financiadas com o dinheiro da coroa são de uso restrito dos nobres e ricos. O único reino onde são realmente públicas é Oroada; logo, as opções de estudo que os filhos de comerciantes, camponeses e babás tinham, era estudar com pessoas bondosas como a duende Layla Goatath. Ela, assim como vários outros oroanos, deixou seu reino natal para fazer atos de caridade mundo afora. Possui muitos recursos para pesquisar, estudar e viajar para depois passar aos pequenos o conhecimento adquirido.

A senhora Goatath é uma duende de origem nobre, viúva e dona de uma grande fortuna. Conheceu o marido, o humano Robert Goatath, assim que chegou a Feltares. Casaram-se no ano seguinte e viveram juntos até o falecimento de Robert, causado por uma doença contraída em Ruthure durante uma de suas expedições a procura de perdidos históricos do período de supremacia dos anões e, desde então, Layla, que é professora aposentada, vive só pois nunca teve filhos.

A solução para essa questão veio logo após alguns meses de luto. A velha senhora resolveu voltar à ativa de forma voluntária e, a partir disto, ministra aulas em sua própria casa para filhos de pobres que não podem bancar as despesas de uma escola. Ela ensina meninos e meninas a partir dos oito anos, quatro dias por semana.

É comum um único professor dominar todas as matérias, pois a maioria deles coleciona enciclopédias escritas pelos colegas de trabalho e por outros estudiosos e com elas aprendem sobre outros assuntos. Na escola da nobreza cada professor ensina apenas sua especialidade.

 

Depois de caminhar pelo grande jardim que levava à saída da mansão Goatath, Isaac avistou no portão sua tia preferida e correu em seu encontro:

—Tia Meline, há quanto tempo não vem me ver! -Disse a criança agarrada à tia em um abraço apertado. -Eu estava com saudades!

—Sim, meu querido, faz muito tempo mesmo. -Meline sorria em rever seu sobrinho e retribuir o abraço. Isaac tinha quase a altura da tia e era só três anos mais novo que ela. -Ando ocupada e Hector ainda não está falando comigo…

De fato. Desde que Meline se juntou às Dragonesas, um grupo de mulheres que atuam como justiceiras não só em Feltares, mas também em alguns outros reinos; seu irmão mais velho e pai de Isaac a tem tratado de forma grosseira.

—Eu pedi pra ele parar, e a mãe também, mas… -Meline calou o sobrinho erguendo a mão.

—Sei que conversaram, só que seu pai tem a cabeça mais dura que um golem de pedra. -Um riso curto do menino. -Mas não quero que você se chateie com ele. Algum dia ele entenderá o que eu e as Dragonesas fazemos. Agora vamos andando, eu tenho uma novidade para contar no almoço de hoje!

—Qual?

—No almoço, pequeno… -Os dois deram as mãos e iniciaram a caminhada.

 

Durante o trajeto, Meline contou a Isaac as histórias das aventuras mais recentes que viveu junto com as companheiras de clã em Ruthure, o Reino Anão, e o sobrinho quanto mais ouvia mais queria saber.

 

—Bom dia, família! -A alegria da jovem maga era algo invejável. Um simples “bom dia” dito por ela com real intenção era capaz de animar até mesmo o dia do homem mais miserável de Zaatros.

—Bom dia, Meline! -O cumprimento partiu de Mary, mãe de Isaac e esposa de Hector. Ela que largou as panelas no forno de lenha para abraçar a cunhada. -Como está?

—Como se não bastasse a Rita metida com essas, essa… gangue de criminosas! -Esse é Hector Sereel, o pai de família rancoroso e amargo.

—Não somos uma gangue, somos um clã. -Meline havia perdido completamente a pose após o comentário maldoso do irmão. -Nós cuidamos de quem não tem forças para cuidar de si mesmo.

—Lindos ideais. -Aplausos lentos e irônicos. -Conte-me, qual seria exatamente a força de uma CRIANÇA DE TREZE ANOS!? Conte-me, também, por que escolheram o nome de uma criatura amaldiçoada pela Deusa e por sabe-se lá mais quantos demônios para batizar o tal clã. E qual o problema que vocês têm? Por que se vestem feito homens? -Hector estava bastante alterado e Isaac havia deixado a cozinha ao primeiro sinal de bate-boca.

Meline cruzou os braços e caminhou em direção ao irmão, bem mais alto que ela, e olhou-o nos olhos, como quem tem coragem ou loucura suficiente para fitar um leão e encará-lo a centímetros de distância sem ceder, e disse:

—Não nos vestimos como homens, apenas substituímos as saias por calças, que são bem mais práticas para as missões.Outra coisa, as dragonesas não são mulheres devassas amaldiçoadas por deuses e demônios. São animais que, por acaso, se parecem com mulheres e o nome do clã é uma homenagem as centenas dessesanimais que foram mortos e torturados por gente que pensa como você! Mas é claro que não sabe disso... Nunca foi um estudioso. -A voz, que no início da fala era forte e decidida, foi morrendo aos poucos. Meline jamais teve dom para brigas e, no mesmo momento que humilhou o irmão, arrependeu-se de tê-lo feito.

—Basta. Somos uma família, carregamos o mesmo sangue ou sobrenome, ou ambos… -Foi a vez de Mary intervir. Ela tocou o ombro do marido com carinho e olhou a cunhada com ternura. -Temos que permanecer unidos.

—Você tem razão, Mary. -Meline tentava se recompor. -Hector, por favor, me desculpe por ofendê-lo.

—Tanto sofrimento dos nossos pais para nos darem uma vida boa e você, uma criança, se arriscando por desconhecidos e se envolvendo com magia. Meline, você tem consciência de que viola, no mínimo, uma lei aprovada em todos os seis reinos de Zaatros? A magia é proibida para mulheres, criança. -A voz de Hector estava embargada, a cabeça baixa, os braços cruzados e o corpo encolhido junto à parede. A lembrança dos falecidos pais sempre fazia os Sereel sofrerem. -E eles se foram por causa de mágica…

—É por eles que sou parte das Dragonesas, irmão. -A frase foi pronunciada com tanto carinho que, caso alguém entrasse na casa naquele instante, jamais suspeitaria que no minuto anterior houvera uma troca de gritos e ofensas. -Mamãe foi morta por bandidos que roubavam mágica. O anel de casamento dela foi confundido com algum maldito amuleto de magia. -Um riso nervoso escapou junto com uma lágrima da jovem. -Não passava de bijuteria. Irmão, ela não podia se defender, assim como as pessoas que as Dragonesas protegem. Se eu cometo crimes é para que mais ninguém sofra o mesmo que nós.

—Criança, não fale da minha mãe. -Hector ergueu a cabeça e havia dor em seus olhos azuis. Olhos azuis herdados da falecida mãe, Helena, o único dos três filhos do finado casal Sereel que teve a honra de nascer com olhos iguais aos da mãe que tanto amaram.

—Nossa mãe, Hector, e de Rita também. Como Mary disse, somos uma família… Rita e eu sentimos sua falta.

—Já deixei bem claro que não são bem-vindas nesta casa enquanto não largarem o “clã”. -A última palavra fora dita em tom de deboche, enquanto ele puxava uma cadeira para se sentar.

—Então, adeus. -Meline se virou e, no instante em que tocou a maçaneta, foi puxada por Mary de volta ao centro da cozinha.

—Fique, querida. Espere pelo almoço. E você, Hector, tenha modos.

—Só espero que ainda se lembre do porquê da morte do papai… -Os olhos da Dragonesa deixaram escapar mais uma lágrima. -Ele enlouqueceu e partiu para o litoral nordeste de Ruthure. Sabe o que existe lá? Um Necromante! Ele procurou o maldito bruxo com a intenção de trazer mamãe de volta à vida. Eu estou falando com você, OLHE PARA MIM! -Gritou e foi obedecida. -Isso é amar a família, a forma como trata Rita e eu, não!

 

Um longo silêncio os envolveu.

 

—Mary, obrigada pela gentileza, mas realmente preciso ir. Só que antes tenho alguns presentes a entregar. -Ao som da palavra “presentes” Isaac surgiu detrás da porta e se concentrou na bolsa da tia.

—Criança, você não pode ouvir a conversa dos adultos. -Advertiu-o, Mary. -Isso não é educado.

—Mas o pai chamou tia Meline de criança. -É impressionante o raciocínio das crianças, Isaac nunca deixava escapar um fato despercebido.

—Conversaremos sobre isso depois, querido.

—Para o jovem espadachim, tenho uma espada igual a da guarda de Eyrell. Essa réplica é feita de um material que só é encontrado em no reino dos elfos. -A espada era branca e completamente flexível, como borracha, sendo possível torcê-la em ângulos incomuns. -E tenho aqui também um estilingue, mas você tem de me prometer que não vai machucar as pessoas nem os bichos, e que também não vai quebrar janelas com ele.

—Eu prometo, eu prometo!

—Ótimo! -Meline entregou os presentes ao sobrinho e ele saiu de casa para brincar no quintal. -Mary também tenho um pra você, mas, antes, passe-me aquele vaso de plantas vazio. -Meline apontou para o vaso no parapeito da janela, sem nenhuma flor, apenas terra.

—Aqui está.

—Esse é um truque novo que aprendi: acelerar o crescimento das plantas. -A maga falou enquanto procurava algo no pequeno saco que trazia amarrado ao cinto da calça, retirando de lá um grão vermelho logo em seguida. -Achei! Isto aqui é uma semente de flor do fogo. Paguei caro por ela, mas nenhum valor é alto demais quando investimos em algo que amamos, não é? Para cuidar dela não tem mistério, você deve deixá-la tomar luz da Astral todos os dias, durante o dia todo, e protegê-la do frio da noite e do inverno. Se ela sobreviver os primeiros dois anos após o florescer, vai-se tornar praticamente indestrutível! -Mary anotava tudo com toda a atenção do mundo em um caderno velho de receitas.

—Agora observe. -Neste ponto, até o mal-humorado Hector olhou para ver o que aconteceria em seguida. Meline esticou as mãos sobre o vaso com a semente dentro, limpou a garganta e pronunciou o feitiço. -Germinent, Crescant et Floreant! -Ao fim da magia, o caroço, que em condições naturais leva mais de um século só para germinar, floresceu. A flor do fogo lembra vagamente a forma de uma flor de lótus. Tem nas pétalas externas um vermelho intenso e brilhoso, enquanto nas pétalas mais internas carrega a cor preta com pintas em cores quentes, simulando brasa, e traz nas folhas um tom negro e fosco como fumaça vulcânica.

—Meline, pelos Deuses! Nunca vi uma flor tão linda! -Mary abraçou a cunhada emocionada. A paixão por jardinagem criou um laço de amizade admirável entre as duas.

—Tenho um presente pra você também, Hector. -Existia, lá no fundo, um pouco de mágoa nas palavras da mais jovem das Dragonesas.

—Que atenciosa! -Outro escárnio. -Acontece que eu não aceito esmolas de bandidos. -Por mais que Meline tente ignorar as brigas com Hector, o irmão faz questão reforçar a muralha que os separa com comentários maldosos e ofensas como esta.

—Esta “esmola” você terá de aceitar. Terá de enfiar seu maldito rancor por mim goela abaixo e aceitar ou você, seu filho e sua esposa passarão fome. -A postura da menina mais aparenta a de uma mulher formada e decidida do que a de uma órfã de treze anos. Meline amadureceu com uma rapidez absurda após o falecimento dos pais. -Eu arranjei um emprego para você de lavrador na fazenda da Condessa de Keneau. Ela quer que comece amanhã mesmo pois há muito o que se fazer.

—Isso não é ótimo, querido? -Mary ficou muito contente com a notícia. Hector não respondeu e Meline continuou.

—A condessa pediu que eu o avisasse que ela pagará bem e que lhe servirá almoço desde que cumpra com seus horários e trabalhe bem. -Meline tentou tocar o ombro do irmão e tornou a ser repelida. -Bem... é isso, vou-me embora. Depois conte ao Isaac que as Dragonesas vão passar algum tempo em Feltares, estamos à procura de uma estalagem a venda.

—Obrigada pela gentileza e me desculpe qualquer coisa. -Outra alfinetada de Mary, olhando diretamente para o marido. -Será sempre bem-vinda nesta casa. -Ela ainda o encarava, como se o desafiasse a contrariá-la.

—Agradeço o apoio. A partir de hoje, se não for incomodar, eu gostaria de buscar o Isaac na casa da senhora Goatath depois das aulas todos os dias para que ele passe as tardes comigo e com Rita.

—Sim, vai incomodar. -Hector se intrometeu com seu veneno característico.

—Isaac costuma voltar sozinho, mas, se quiser buscá-lo, não será incômodo algum; com certeza ele vai adorar. Fique à vontade. -O normal seria a esposa sempre respeitar a palavra do marido, porém Mary, mesmo que seja humana, nasceu em Eyrell e no Reino dos Elfos as mulheres e os homens são iguais em poder; logo, vez ou outra, a vontade de Hector era atropelada.

 

Meline tornou a agradecer o amparo de Mary com um sorriso e se foi.

 

***

 

Cena II – Criança.

21 horas e 19 minutos. Reino Humano – Feltares. Casa dos Sereel.

 

—A sua tia tem só treze anos, ela ainda é uma criança em idade. -Mary tentava explicar ao filho. -Mas em maturidade ela é adulta há muito tempo.

—O que é maturidade, mãe? -Isaac se esforçava para entender.

—Maturidade, nesse caso, é saber agir como adulto. Meline, mesmo sendo tão jovem, já pensa e tem responsabilidades de uma mulher crescida.

—E por que o pai não gosta disso? Parece ser bom saber ser adulto antes de ter idade de adulto. -O menino colocou a mãe em uma saia justa. -Assim quando ela for adulta vai ter ainda mais maturidade, não é?

—Escute. -Mary chegou mais perto do filho. -Cinco anos atrás, quando seus avós se foram, seu pai ficou muito mal por não ter podido ajudar… você era muito pequeno pra se lembrar. Ele tem medo de que algo ruim aconteça a Meline e a Rita e, como não consegue mais controlar nenhuma das duas, acaba ficando mal-humorado e rabugento. Ele tenta protegê-las, do jeito errado, mas tenta.

—Ah, entendi. -Disse o menino.

—Amanhã é quarta-feira, e como a Senhora Goatath não dará aula, Meline deve vir buscá-lo depois do almoço. Não fale sobre esta conversa, ela pode ficar magoada.

—Certo, boa noite, mãe!

—Durma bem, querido. Boa noite!


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