A Herdeira de Zaatros escrita por GuiHeitor


Capítulo 18
Capítulo 17




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Octogésimo segundo dia do segundo mês, ano 7302.

 

Cena I – Miguel Quendra.

07 horas em ponto. Reino Anão – Ruthure. Fortaleza dos Guardiões das Chamas.

 

—Kira, vá descansar. Continuo daqui. -Darius disse ao entrar no cômodo onde seu meio-irmão estava preso para tomar o lugar da afilhada na vigia.

A menina acordou do sono leve no qual estava, piscou algumas vezes e assentiu, deixando o lugar entre bocejos longos e preguiçosos.

—Não percebeu ainda que ninguém aqui é idiota? -Cuspiu Darius. -Ficar invisível não nos fará pensar que escapou e muito menos me fará abrir as grades.

—Mau dia pra você também, irmãozinho.—Respondeu Miguel, desistindo da invisibilidade. Tinhas os pés e as mãos presos a correntes além de estar trancado em uma jaula de metal, cortesia das Bruxas Siamesas. Estava vestido apenas com uma calça velha em farrapos, coberto por hematomas e pequenos cortes.

—Vê se se engasga e morre. -Falou o elfo, atirando um pão velho e duro entre as barras da gaiola. Kira deixava o prisioneiro passar fome durante seus turnos e, diga-se de passagem, era ela quem vigiava na maior parte do tempo.

Miguel tentou não transparecer o quão faminto estava, mas, assim que deu a primeira mordida, o restante do pão foi engolido o mais rápido que podia mastigar.

 

O elfo-duende tem tido uma vida de cão desde sua captura. Até aqui, foi levemente torturado (se é que existe uma forma branda de tortura), passou frio, fome, sede e apanhou bastante. Kira estava furiosa por ele ter machucado seu tio, era ela quem surrava Miguel. Uma verdadeira leoa defendendo seu bando.

Fizeram-lhe várias perguntas. Cada indivíduo do clã tinha seu próprio interrogatório com o homem invisível. Dentre as perguntas e respostas, cabe destacar algumas delas, as quais serão contadas resumidamente, para poupar tempo e evitar a brutalidade das formas de convencer o híbrido a falar. No início, ele até resistiu, mas, depois da terceira ou quarta sequencia de socos de Kira, resolveu soltar a língua e mostrou-se até bem sincero.

Os Guardiões das Chamas descobriram que Miguel havia sido abandonado pela mãe ao nascer e até hoje não a conhece e nem sabe se está viva. Ela o entregou a um mago de Oroada, Garutar Nuetro, que vivia isolado nos confins da Ilha Menor, com um bilhete contendo apenas o nome da criança e o pedido para que cuidasse bem dela. Com Garutar, o híbrido aprendeu a reconhecer perturbações na magia, anular alguns feitiços e outras coisas sutis. Mágica em si nunca. Aos dez anos, passou por um doloroso processo do qual saiu com os sais encantados. “São feitos a partir de uma liga entre prata e zyndra, um metal brilhoso com muitas propriedades mágicas.” disse ele. Primeiro moldaram os sais em uma forja e depois veio a parte difícil: com a mesma liga do sai fundida, o mago tatuou os dois braços do filho adotivo, partindo do cotovelo para as costas da mão, enquanto ele segurava os sais. As tatuagens são as linhas em espiral que se acendem prateadas antes do sai surgir nos punhos de Miguel. Agora, imagine a dor de ter a pele desenhada com um metal derretido funcionando como tinta.

O elfo-duende disse também que, desde o suicídio da princesa, alguns oroanos o acusam de, junto ao pai adotivo, esconderem Darius. “Nem todos os duendes são essas maravilhas de pessoas”, explicou Miguel. Certo dia, cercaram Garutar e ele durante a noite, o mago deu a vida para que Miguel fugisse. Desde então, exterminar Darius passou a ser seu escopo.

Então, após a fuga, enquanto sofria pela morte do homem que o criou, decidiu olhar os pergamingos que o mago nunca o permitira ler. A mochila estava cheia deles. O mais antigo parecia que viraria pó ao ser desenrolado. O papel estava muito amarelado, bolorento e frágil… essa parte fica melhor contada pelas palavras dele:

 

Trata-se de um rolo gigantesco! Deve ter uns quinze metros de comprimento. Espero que vocês não tenham destruído nada do meu esconderijo, tudo lá é importante. Dele pouca coisa consegui entender… estava escrito na língua primitiva dos humanos e eu não cheguei a aprendê-la completamente. -Disse Miguel. Era interrogado por Ezerk naquele momento. -Contava uma história de setecentos anos atrás sobre uma criança, uma menina, marcada para acabar com uma maldição. A Maldição Cuendra presente em mim, em Darius e sabe-se lá quantos mais.

—Não seria Quendra a pronúncia correta? -Ezerk perguntou.

—E é, mas, no antigo idioma humano, não existem runas para as letras K, Q, W e Y. —Explicou o híbrido. -Assim, a letra Q do sobrenome foi substituída por uma runa de som aproximado, a qual se traduz hoje em dia como a letra C quando seguimos fielmente os escritos do pergaminho, traduzindo-o para Altavoz. A letra Q é invenção élfica, surgiu primeiro no élfico e depois foi adotada por algumas outras línguas e, por fim, apareceu na Altavoz. -Ele parou por um momento tentando lembrar a linha de raciocínio anterior e então:

—Aço Voador é como a chamam, mas acho que é só uma lenda porque, até agora, ela não veio nos salvar.

 

Ezerk saiu e contou a Hilda o que ouvira antes que ela entrasse para ver o prisioneiro. A jugar pela tensão no rosto da cigana, a situação não era nada favorável.

 

—Acha que Aço Voador vem livrar vocês da maldição? -Perguntou ela, com uma sobrancelha erguida e um olhar de professora que tenta mostrar ao aluno que a resposta está errada, dando a ele outra chance de responder.

—Foi o que eu consegui traduzir do texto: “Aço Voador porá um fim ao erro.”

—Já pensou um pouco em quais outras interpretações isso pode ter? Digo, se a tradução estiver mesmo correta. —Hilda esperou que Miguel falasse, porém ele apenas ergueu uma das sobrancelhas e fez cara de desentendido.—Dar fim ao erro tanto pode ser acabar com a maldição quanto com os amaldiçoados.

—E por que acha que se trata da segunda opção?

—Porque eu a conheci e sei como ela age. Terminamos nossa conversa… por hora.

 

Agora, voltando ao presente:

 

—Você não teria aí mais alguma coisa para comer? -Perguntou Miguel. Os olhos pretos implorando silenciosamente por mais comida. Dava pena e era difícil se recusar a ajudá-lo.

—Você não merece, mas eu estou de bom humor hoje. -Darius, desta vez, levantou-se e entregou na mão do irmão duas laranjas.

—Obrigado. -Ele pegou as frutas com calma, mas as partiu vorazmente na pressa de matar a fome.

—Ah, veja só! Então você tem noções de bons modos! Sabe agradecer. -Zombou o elfo. -Não é um bicho como eu pensava.

Miguel não respondeu e Darius continuou:

—A runa marcada no pedaço de diamante que tomamos de você significa Rancor.

—E?… -Disse o elfo-duende devorando a carne da primeira laranja.

—Encaixa-se perfeitamente ao meu diamante inscrito com a Runa Azar. Quero saber onde o conseguiu.

—Bem, depois que li todo o pergaminho sobre Aço Voador eu adormeci e sonhei com a avó dela… a mulher lançou a maldição sobre os Quendra e sobre a própria neta. -Falou ele com a voz baixa e carregada de suspense. -Vi o rosto dela, tinha uma energia monstruosa, um grande desequilíbrio na aura! Ainda está viva! Na verdade, entre a vida e a morte, pelo que senti. Ela me disse coisas que já não lembro e então toda a cena mudou: eu via uma cachoeira durante a noite. Quando mergulhei, notei que algo no fundo refletia a luz do Raus: o caco da escritura da maldição.

—Então você o pegou?

—Não ainda, era só um sonho. Mas, no dia seguinte, fui até a tal cachoeira e o peguei. Por sorte estava próximo a ela e fui atraído para o lugar certo. Nunca havia ido lá até então.

—Isso faz quanto tempo? Onde fica a cachoeira? -Perguntou, a curiosidade martelando seu juízo.

—Há algumas semanas. Fica em Eyrell, na Ilha Espinheiro, no meio da mata. -Miguel pareceu envergonhando por um momento. -Você não teria mais comida aí? A mocinha brava nunca me alimenta.

—E por que eu te daria mais? Você atacou a mim e a meus amigos, me sequestrou…

—Porque você não é ruim; se o fosse, eu estaria em pior situação do que agora. Talvez até sendo surrado. -Respondeu o elfo-duende, mirando seus olhos pretos nos verdes de Darius.

—Argh, posso arranjar mais alguma coisa. -Cedeu. -Apesar de tudo, você tem informações importantes e eu fui com a sua cara… irmãozinho. —Foi difícil, mas a última palavra saiu. Não com entoação de deboche como quando dita por Miguel antes, mas realmente como algo gentil.

—Agradeço. Sabe, eu bem que mereci esses maus-tratos, mas estou morrendo de fome!

—Antes eu quero saber como você fica invisível. -Disse o elfo. Ele se levantou da cadeira na qual estava e sentou-se no chão, de pernas cruzadas, diante da jaula de Miguel. -Diga-me. -Mandou ele, destapando uma garrafa pequena e agitando-a para que o prisioneiro sentisse o cheiro de seu conteúdo.

—Hum, mel! -Deliciou-se Miguel depois de uma boa fungada. -Eu já disse antes aos outros: Uma fada-rainha me deu o poder depois de eu tê-la ajudado.

—Quero detalhes.

—Ah, certo. Sou meio duende, como você sabe, e senti que uma comunidade de fadas estava em perigo. -Contou ele, gesticulando para dramatizar a cena. -As fadas vivem em grupos como as abelhas; existe uma rainha que comanda as outras e é a única capaz de pôr ovos, os fairos que seriam equivalentes aos zangões e as construtoras que fazem o trabalho sujo, defendem a toca e protegem os ovos e a rainha.

—Eu sei o que são fadas, não quero uma aula de fauna. -Cortou Darius.

—Enfim, uma árvore tombada sobre a entrada da toca prendeu todas as fadas lá. Eu recebi um pedido de ajuda, parte do dom natural dos duendes, e fui até lá. Encurtando a história: não consegui mover a árvore então cavei um túnel de saída alternativo e a rainha me deu isto. -Disse ele ficando invisível.

—Entendi. Mas me parece pouco para ela te conceder um dom assim… na verdade sempre achei que os poderes que as fadas concediam fossem uma lenda ou, pelo menos, temporários.

—Foi uma tempestade o que derrubou a árvore, havia água entrando e todas morreriam se não fosse por mim. -Então, ele se perdeu novamente do assunto. -A rainha é diferente das outras… -Disse Miguel com os olhos cheios de admiração. -Ela tem expressões curiosas, parece que não é um animal como as demais, mas um pequeno humanoide inteligente e com asas. E que asas! As dela são as mais bonitas: grandes e brilhantes, multicoloridas! Ela também é um pouco maior que as outras.

—Certo, isso é tudo. -O ladino interrompeu. -Aqui está. -E entregou a garrafa de mel ao irmão.

—Ei! Você não vai me deixar sozinho aqui com ela de novo, ou vai? -Perguntou o elfo-duende, pressionando o frasco por nervosismo.

—Com Kira? -E caiu em uma gargalhada descontrolada ao receber o aceno positivo de cabeça. -Você tem medo dela? -E continuou rindo.

—Vamos trocar de lugar: você apanha e eu fico rindo que tal? -Ralhou Miguel irritado.

—Ela deve estar dormindo. Para cá, vêm as duas pessoas mais tediosas desse mundo: Vice-versa. -E saiu.

Quando cruzou com Manu no corredor, ouviu-o dizer com um tom esquisito, venenoso:

—Estava rindo à beça, parece que fizeram as pazes…

 

***

 

Cena II – Escolhas Perigosas.

Meio-Dia. Reino Anão – Ruthure. Fortaleza dos Guardiões das Chamas.

 

—Sei que não devo ficar dando pitaco sobre como conduzem os objetivos do clã, mas Aço Voador é duplamente uma ameaça agora. -Falou Hilda durante o almoço.

—Sim, mas o que nós podemos fazer? -Disseram as vozes pareadas de Razatte e Luzabell. -Aço Voador pode ser considerada uma semideusa. Nada seria capaz de pará-la.

—Vamos ser trucidados por ela na primeira batalha… -Comentou Manu, pessimista.

—Nada pode parar um semideus, exceto… -Começou Ezerk, dando a deixa para que alguém terminasse o raciocínio.

—Um deus ou outro semideus, talvez. -Disse Urak.

—Não temos como pedir ajuda dos Antigos. -Falou Targus, sua voz estava mais rouca e fraca do que nunca. Ele tem feito um grande esforço para manter o exército de fantasmas sob controle e Kayena longe de Darius. -Para reanimá-los precisarei da energia de Harkuos.

—E se conseguíssemos domar um dragão? -Perguntou Cícero.

—Ficou louco? -Riu Darius. -Um Dragão não pode ser dominado por sua telepatia.

—E se matássemos um para Garras comer? -Hilda viu todos os olhares sobre ela após dizer aquilo. Pegou o copo e deu um grande gole enquanto pensava no que dizer a seguir. -Garras absorve forma e poderes das criaturas que consome, não é?

—Hilda, atacar um dragão seria ferir os Deuses Antigos. -Disse Ezerk.

—Eu sei, mas essa é nossa única chance contra Aço Voador. Nenhum de nós sabe o nome dela e quem sabia não está mais entre nós.

—Fala de Medusa? -Perguntaram as Bruxas Siamesas.

—Sim.

—Então é verdade que ela sabia? Como você conseguiu essa informação?

—Eu sou ou fui amiga dela. -Respondeu a cigana.

—Você foi amiga da Górgona-rainha?! -Chocou-se Darius. -Nossa!

—Não, seu lesado, fui amiga de Aço Voador. -Explicou Hilda. -Tudo que dizem sobre ela é verdade: a feitiçaria, a superforça, o voo, o aço na pele, o anel mágico e, é claro, o colar com a alma de Medusa, o Aura Paralisante.

—Creio que o sacrifício de um dragão vermelho em prol do renascimento dos Deuses Ancestrais seja uma perda aceitável. -Disse Targus, levantando-se da mesa e deixando-os ali com a questão por resolver.

—Manu, o que acha? -Indagou Ezerk ao dono da cascavel-camaleão.

O duende-humano pensou antes de responder e, por fim, disse:

—Garras não tem força para medir com um dragão, tampouco nós.

—Mas temos os Infernos Congelados, e… bem, podemos obrigar Miguel a nos ajudar. -Falou o ladino.

—Ficou louco, Darius?! -Zangou-se Cícero. -Soltá-lo para que ele tente te matar outra vez?

—Ele não me parece mais uma ameaça, estava até cooperando comigo e respondendo as perguntas que fiz.

Manu ia abrir a bota para refutar, mas Darius o cortou dizendo:

—E ele desenvolveu um grande medo de Kira. Ponha-os lado a lado e a mera presença dela o fará se comportar.

—O Inferno Congelado não causará grandes danos ao dragão. -Salientaram as Bruxas Siamesas. -São de criaturas do fogo que estamos falando.

—Mas na mágica há também o gelo perpétuo. Os estilhaços podem feri-lo gravemente se conseguirmos fazer com que ele engula a bomba. Podem cortá-lo de dentro para fora, onde a carne é mais mole sem a proteção das escamas. -Disse Hilda. -Certo?

—Creio que sim. -Responderam as vozes duplas, levemente enervadas por deixarem passar um detalhe bobo como aquele e terem sido superadas pela cigana com quem têm uma leve inimizade desde as apresentações.

—General Urak, a palavra final será sua. -Bradou Ezerk.

Urak refletiu antes de responder e disse:

—Precisaremos trancar a fortaleza e irmos todos. É de um semideus que estamos falando, uma criatura infinitamente mais poderosa que nós.

—Perfeito. Chamarei Miragem e pedirei que traga consigo alguns homens da Guarda Ruthurana para vigiarem a fortaleza durante nossa ausência.

—Não vamos ainda, é preciso planejar. Sairemos no próximo amanhecer. -Concluiu o general, estalando os dedos das quatro mãos com gosto. -Hilda, você ficará e fará o que você veio aqui pra fazer que eu ainda não sei bem do que se trata.

—Monitorar as cordas do destino e ajudá-los a escalar essa grande montanha que é o tempo usando a corda mais fixa, forte e estável. -Explicou ela olhando para todos; demorando-se um pouco mais ao olhar para Luzabell e Razatte, com ar de superioridade.

—Certo… -Concordou ele. -Orelhudo, você tem certeza de que pode confiar no homem invisível?

—Meu irmão, a única certeza que tenho nesta vida é a morte. -Disse Darius teatralmente. -Entre morrer nas mãos dele ou nas mãos do dragão eu, sinceramente, prefiro as dele. E, considerando que a maldição dos dragões seja verdadeira, ele não deixará nem Kira nem eu na mira do bicho.

—Por que? -Perguntou o General.

—Ora, porque a lenda diz que todo aquele que morrer pelo fogo do dragão castigará toda a sua linhagem. Seja ela por sangue e/ou sobrenome. -Explicou.

As Bruxas Siamesas, vendo o olhar de confusão no rosto de Urak, acrescentaram:

—Miguel e Darius são meio-irmãos. Kira é sobrinha de Darius e, consequentemente de Miguel também. Se o fogo divino da criatura queimar a carne de qualquer um deles, todos os outros vão pelo mesmo caminho. Isso sem falar de sua esposa, que também é meio-irmã de Darius, General.

—Churrasquinho de Quendra. -Completou Darius, de boca cheia, acabando com a última porção de gelatina.

—Pois bem, vou bater um papo com o elfo-duende. Kira, venha comigo, pelo que seu padrinho disse, ele tem mais medo de você do que cigana de agouros. Sem ofensas, Hilda. -Apressou-se em acrescentar.

Pai e filha, então, deixaram a mesa, indo ao encontro de Miguel Quendra.

 

***

 

Cena III – O Banquete.

18 horas e 18 minutos. Reino Gigante – Ramavel. Palácio Real.

 

Estavam no jantar, além da família real, alguns nobres próximos aos sangues azul e a Chefe de Segurança, Aço Voador. Esta sala de jantar em especial era, na verdade, um grande terraço a céu aberto. A mesa era rodeada por um raso córrego artificial apinhado de carpas gordas, e, a água, aquecida magicamente para não congelar sob ação do frio ramaveno. As estrelas e o Raus brilhavam no céu raramente sem nuvens naquele reino que vivia constantemente sob nevascas e tempestades.

 

—Eu sinto uma inquietação. -Disse Aço Voador em dado momento.

—A comida não lhe caiu bem? -Perguntou Rei Danan.

—Não é isso… algo está para acontecer. Sinto que devemos atacar nossos inimigos antes que eles se preparem para vir até nós.

—Quer invadir Kaotheu e Ruthure? -Perguntou Príncipe Ledrone.

—Sim. Há muito estamos prontos e, para nós, será mais favorável combater na terra deles.

—Atacar em solo desconhecido? Que vantagem há nisso, Aço? -Indagou o rei com um ar de desaprovação.

—Deixar ruínas nas mãos dos inimigos em vez de nas nossas. -Explicou a feiticeira. -Tomar os palácios, fazer os reis se renderem em troca das vidas de suas famílias e deles próprias.

—Se me permite dizer, meu rei, parece-me uma boa jogada. -Disse Rainha Imelda.

—Mas e quanto ao clima? -Rebateu Danan. -Gigantes não lutariam bem em lugar tão quente quanto os desertos de Kaotheu ou as terras vulcânicas de Ruthure.

—Majestade, lembre-se de que sou uma feiticeira, uma quase milenar, devo lembrá-lo. -Gabou-se Aço Voador. -Posso fazer nevar com um pequeno esforço.

—Marcaremos um conselho de estratégias e, caso consiga convencer a mim, terá autorização. -Decretou Rei Danan, dando, em seguida, um grande gole em seu cálice. -Por hora, aproveitemos o banquete!

—Um brinde a Ramavel e a Harkuos! -Exclamou a única humana ali. Era uma recém-chegada ao Reino Gigante. Insatisfeita com a posição de Feltares em se abster de suas obrigações para com a deusa e seus aliados, a moça abandonou seu reino natal. Chama-se Dóris Tartaza, beirava os dezenove anos e tinha consigo uma beleza estonteante: cabelos longos, lisos, pretos e enfeitados por um delicado arco de prata, caíam-lhe abaixo da cintura em cascatas, a pele macia estava rosada por causa do frio intenso. Vestia-se inteiramente de azul-celeste, e o decote atraía olhares do Príncipe Ledrone e de outros convidados para seu busto quase que volumoso. A nobre havia sido acolhida nas Terras Geladas pela família Efinm e, junto a seus novos pais, também fora convidada para a ceia.

—Prosperidade a Ramavel e vida-longa a Harkuos! -Exclamou Rei Danan, erguendo seu cálice.

—Prosperidade a Ramavel e vida-longa a Harkuos! -Seguiram-no os demais em coro.


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