As Coisas Improváveis Sobre Nós. escrita por Lua B


Capítulo 21
Outro Lugar Para Ir.


Notas iniciais do capítulo

Chegamos na reta final da história, então segurem essa dobradinha de capitulos!



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Era como se Lana não conseguisse enxergar a sua volta, sua cabeça estava uma bagunça e ela andou até a estação de trem porque sabia que se parasse ia acabar caindo no choro. Ela entrou no trem arfando, as mãos agora tremendo não só  de nervoso, mas, também de frio. Havia tirado o casaco de inverno quando entrou em casa e não o pegou ao sair. Merda de impulsividade

Lana arfava dentro do trem, mas, não parou para se esquentar nem mesmo quando desceu e fez baldeação com a outra linha. Seu celular vibrava sem parar dentro da bolsa, mas, ela não o pegou. Era como se estivesse em piloto automático, como se seu corpo soubesse sozinho o que tinha que fazer em momentos como aquele. Ela ficou por quase uma hora no trem e quando desceu na última estação, que ficava no interior, estava bem mais escuro do que antes e nevava por isso ela foi obrigada a pegar um táxi. 

Mesmo com todo o gelo, a cidade onde havia crescido era deserta a essa hora no inverno  e chegou ao seu destino em alguns minutos. Ela pagou o taxista e praticamente pulou do carro, escorregando um pouco na neve suja acumulada até a entrada da casa. 

Ela tocou a campainha várias vezes e quando Libby atendeu, surpresa ao ver a enteada ali, Lana a abraçou e caiu no choro. Ela chorava tanto que demorou um tempo para que se acalmasse. Libby dava tapinhas em suas costas e a arrastou para dentro de casa, fechando a porta. Lana tremia de frio e não conseguia dizer nada, só conseguia chorar. 

Era como se tudo que ela havia guardado para si desde Darcy e Julian estivesse saindo ali por meio de lágrimas na sala aconchegante e de paredes amarelas de Libby. 

Libby a sentou de frente para a lareira e deixou que ela apoiasse a cabeça em seu colo, cobrindo-a com a manta que estava em cima do sofá. 

—Ah, querida… - Libby falou secando as lágrimas da filha - O que aconteceu? 

Lana não respondeu, sem conseguir parar de chorar. Libby a abraçou e deixou que ela chorasse. 

****************

O silêncio pesava dentro do apartamento. Sam, Steve e Bucky ficaram parados onde estavam como se tivessem congelado em seus lugares. Nenhum olhava para o outro. Foi só quando Xenophilius apareceu miando e roçando nas pernas de Steve que ele se moveu, pegando o gato no colo e finalmente ligando para Lana, mas, ela não atendeu. Era óbvio que ela não atenderia. 

—Me… Me desculpe, Steve. - Bucky falou. 

Steve não respondeu. Colocou o gato no chão e pegou o casaco, notando que Lana havia deixado o dela ali. Ele pegou o casaco dela também. 

—Não vai, Steve. - Sam falou tristemente - Ela precisa de um tempo. 

—Ela esqueceu o casaco. - Steve respondeu de maneira prática, a voz mais fria do que o normal - Vai fazer -10ºC hoje a noite. 

E saiu. Xenophilius começou a miar como se soubesse que algo havia acontecido e foi se roçar em Bucky que o afastou delicadamente e pegou as sacolas que Lana havia deixado no chão. 

—Eu sinto muito, Sam. - ele falou para o amigo - Eu não deveria ter dito aquelas coisas. 

—Não é a mim que você tem que se desculpar, cara. - Sam respondeu e foi para o próprio quarto. 

Bucky guardou as coisas de Lana no quarto dela, notando como ela já tinha começado a empacotar as coisas e voltou para a sala, controlando o impulso de acender um cigarro para se sentir um pouco melhor. Duvidava que fosse possível se sentir melhor depois do que havia feito de qualquer jeito.

Ele se sentou no sofá e esperou Steve voltar. O amigo retornou algumas horas depois, o casaco de Lana ainda nas mãos e as roupas sujas de neve. 

—Você a encontrou? - Bucky perguntou preocupado. 

—Não. - Steve respondeu secamente olhando para o amigo como se esperasse que ele dissesse algo. 

Bucky abriu a boca, mas, a fechou sem saber o que dizer e Steve bufou, indo para o quarto de Lana e batendo a porta, sem falar mais nada. 

*************************

Demorou um tempo para que Lana parasse de chorar, quando ela se acalmou, Libby a deixou deitada no sofá e foi até a cozinha. Ela aproveitou e tirou as botas de inverno e foi até o banheiro para lavar o rosto agora inchado e de maquiagem borrada. 

Quando voltou a sala, ela pegou o celular dentro da bolsa, a bateria já estava acabando e passava das dez da noite. Ela tinha mais de vinte mensagens e dez ligações perdidas. A maior parte das mensagens era de Steve, mas, havia algumas de Bucky e de Sam também. As ligações também eram quase todas de Steve, mas, havia uma de Sam também. Nenhum deles havia deixado recado, o que era melhor. Ela não queria escutar a voz deles. 

—Lana, o que aconteceu? - Libby perguntou preocupada voltando para a sala com duas xícaras coloridas e entregando uma para ela. Era chocolate quente. 

Lana assoprou e tomou um gole antes de responder. 

—Eu briguei com os meninos. - ela disse por fim, o coração doendo - A gente nunca brigou antes e… E eu não sei o que fazer… A gente se muda em alguns dias e o Steve vai embora e eu to gostando dele de verdade, mas, o Bucky é um filha da mãe e o Sam sabia e não falou nada e… 

—Filha, filha - Libby interrompeu pousando a caneca na mesinha de centro cheia de enfeites e vasinhos de suculentas - calma, respira e me conta desde o começo. 

Lana fez o que a mãe pediu, respirando fundo e então contou o que havia acontecido. Contou sobre Steve e sobre ele ter dito estar apaixonado por ela, sobre a casa nova e o fato de ele estar indo embora por três meses, contou sobre a briga e sobre aquele acordo ridículo e machista e nojento que a deixava espumando de raiva só de lembrar. 

—E eu estava tão puta e não sabia para onde ir então vim para cá… - ela terminou segurando a caneca nas mãos, se sentindo melhor de ter desabafado para a mãe. Seu celular havia tocado algumas vezes enquanto ela conversava com Libby, mas, ela não atendeu. - Eu não sei o que fazer, mãe. 

—Não faça nada, pelo menos por hoje. Você está cansada e está tarde, vai dormir e amanhã você pensa no que vai fazer, ok? 

Lana concordou com a cabeça. 

—Ok. 

—Agora vai se deitar, seu quarto está do jeito que você deixou da última vez que visitou. - Libby falou dando tapinhas em sua perna. Lana a abraçou. 

—Obrigado mãe. 

—Não precisa me agradecer, querida. - a mulher sorriu. 

Lana pegou a bolsa e a caneca de chocolate quente que ainda estava na metade e subiu as escadas de madeira até o quarto onde morou quando era adolescente e algum tempo depois que saiu da faculdade, antes de se mudar com Darcy para a cidade. 

O cômodo realmente não havia mudado nada e era como se Lana estivesse entrando em um túnel de volta para sua fase emo de 17 anos. As paredes eram azuis e repletas de pôsteres do My Chemical Romance, do Fall Out Boy, do Panic! At The Disco e do Paramore. Sua cama de solteiro era pequena demais agora que tinha se acostumado a  dormir em cama de casal, mas, os lençóis estavam limpos, único sinal de que Libby ainda entrava ali.

Ela depositou a xícara de chocolate quente em cima da mesa de cabeceira, pegou o carregador dentro da bolsa e colocou o celular para carregar, depois  abriu o guarda-roupa e viu as roupas que tinha ali. Todas eram roupas que ela não usava mais, mas, que não queria jogar fora por motivos sentimentais. 

Encontrou uma calça legging e uma camiseta de manga comprida do Nirvana e trocou de roupa, prendeu os cabelos em um coque alto e depois se deitou na cama olhando para o teto. Seu celular vibrou mais uma vez e se dando por vencida, ela conferiu as mensagens. 

Leu primeiro as de Bucky:

Bucky: Me desculpa pelas coisas que eu disse.

Bucky: A gente não te conhecia e foi idiota da nossa parte... da minha parte!

Bucky: Onde você tá?

Bucky: Da um sinal de vida!

Bucky: Me desculpa, por favor!

Bucky: Eu sinto muito!

Lana suspirou e resolveu não responder, achou que a marquinha de que tinha visto as mensagens que apareceria no celular de Bucky era melhor do que nada. E só para evitar ler as de Steve, leu as de Sam primeiro. 

Sam: Você está bem? Onde você ta? Quer que eu vá te buscar?

Sam: Desculpa pelo que os meninos fizeram

Sam: Desculpa por eu não ter te contado

Sam: Não foi certo, mas, acho que não valia a pena porque aqueles trouxas não te conheciam!

Sam: Você é minha amiga e não concordo com o que eles fizeram!

Sam: Me desculpa também!

Sam: Só diz que você tá bem, senão vou rastrear o seu celular!

Lana riu sem se conter, era bem a cara de Sam fazer aquele tipo de coisa. Suspirou antes de responder a mensagem, pelo menos não estava mais brava com Sam. Ela nunca ficava muito tempo brava com Sam. 

Lana: To bem, to na Libby. Não rastreia o meu celular!!!!!!!!!!!!

Se dando por vencida, ela finalmente abriu as mensagens de Steve. 

Steve: Me perdoa pelas coisas que a gente disse

Steve: Eu fui muito idiota e filho da puta

Steve: Não devia ter mentido para você sobre nada

Steve: Onde você tá? Seu casaco tá aqui!

Steve: Tá nevando, me diz que você está em algum lugar quente pelo menos

Steve: Que você está segura.

Steve: Eu sinto muito.

Steve: Eu sinto muito.

Steve: Por ter mentido, por não ter dito sobre o acordo

Steve: Eu não sabia o que esperar quando Sam disse que você ia morar com a gente

Steve: Não sabia que você ia mudar tudo

Steve: Você mudou tudo

Steve: Eu to no seu quarto agora e parece que alguém morreu

Steve: Tá todo mundo quieto

Steve: E o Xenophilius não para de miar

Steve: Por favor, me diz que você ta bem

Lana cobriu o rosto, culpada ao se lembrar que havia deixado Xenophilius para trás. Ele está com o Steve, ele vai cuidar bem dele, ela disse a si mesma para tentar amenizar a culpa.  

Steve: Vou te pegar se quiser

Steve: Você comeu alguma coisa?

Steve: Já tá tarde, você vai voltar hoje?

Steve: Diz que sim, não quero ficar te mandando isso por mensagem

Steve:Eu devia ter te contado sobre o exército antes

Steve: Mentir para você foi a pior burrada que eu poderia ter feito

Steve: Você não merece a merda que a gente fez

Steve: Só me diz que você está bem, por favor!

A última mensagem havia sido enviada a menos de cinco minutos atras e ela pensou em responder, mas, digitou e apagou diversas respostas até eu finalmente desistiu. Pensaria no que iria fazer pela manhã quando estivesse de cabeça fria. 

*********************

Sam havia saído cedo para trabalhar no dia seguinte deixando Bucky e Steve responsáveis por empacotar as coisas na sala e na cozinha, o que os dois fizeram em silêncio, quase não trocando nenhuma palavra além de “com licença” ou “me passa essa caixa”. 

Bucky suspirou, vendo Steve colocar os jogos de videogame dentro da caixa por ordem de tamanho e largou os pratos de porcelana que havia ganho da mãe quando se mudou anos atrás e foi até o amigo. 

—Steve. - ele chamou, sério. 

—O que, Buck? - Steve perguntou parando de empacotar as coisas e olhando para ele de mau humor. 

—Me desculpa por ter falado daquele acordo idiota para a Lana e por ter surtado por ver vocês juntos. Acho que era meio óbvio… - ele falou desviando os olhos. 

—Então por que você disse? - Steve perguntou se ceder.  

—Porque eu sou um idiota egoísta? - Bucky perguntou de volta. Steve franziu a testa - Acho que você sabe muito bem que é por isso. Eu só… Eu fiquei em choque e foi por impulso e eu e arrependi no momento em que falei… Eu sinto muito. 

Steve olhou para o amigo em silêncio, refletindo sobre o que ele havia dito. Os dois eram amigos há tantos anos e Steve se importava tanto com Bucky. A amizade deles importava tanto. 

—Você sabe que eu te perdoo, Buck - Steve falou por fim e Bucky respirou aliviado, dando um tapinha nas costas do amigo - Mas, não é só a mim  que você tem que pedir desculpas.

—Eu sei, mas, mandei mensagem e a Lana não respondeu. 

—Ela também não me respondeu, mas, Sam disse que ela estava na casa a Libby. 

—Da Libby? Quem sabe ela não volta com o Sam hoje e eu me desculpo… - Bucky falou esperançoso. 

Steve suspirou. 

—Eu espero que sim, mas, não sei… Ela não é exatamente do tipo que perdoa fácil, é?

—Você realmente gosta dela. - Bucky falou um tanto incrédulo. 

—Qual o problema? 

—Nenhum! É só que eu não te vejo fazendo essa cara de tonto quando falo de alguém desde a Peggy. 

Steve deu uma cotovelada em Bucky como resposta. 

—Que seja, cara, vamos só esperar que ela volte com o Sam hoje. 

***********************

Lana não foi trabalhar. Ela acordou cedo por puro hábito na manhã seguinte e ligou para Melinda dizendo que estava doente, mas, que iria no dia seguinte. Se sentia cansada, mas, mais leve ao mesmo tempo. Ela rolou para fora da cama e depois de escovar os dentes e lavar o rosto desceu até a cozinha vazia. 

Libby ainda dormia, sempre acordava tarde. Quando Lana morava com ela, sempre acordava primeiro que a madrasta e fazia o café para as duas quando o pai não estava em casa. Lana considerou ligar para o pai, mas, não falava com ele há tanto tempo que achou melhor não incomodá-lo. Ela não falava com a mãe também há anos, ela não tinha visto a filha se formar e nem sabia onde ela morava, às vezes, Lana se sentia tão sozinha por não ter os pais por perto, mas, sempre se sentia melhor ao saber que ainda tinha Libby e aquela casa e aquele quarto que parecia saído diretamente de 2007. 

Lana preparou ovos e bacon para as duas, sua cabeça imediatamente lhe trazendo imagens de Steve preparando o café para os quatro toda manhã. Pela primeira vez desde a noite passada e a briga toda, conseguiu pensar no que significava ele ir embora por três meses e seu coração apertou. Não queria que ele fosse e não sabia o que aquilo significaria para os dois ou se eles teriam algum tipo de futuro. Talvez as coisas tenham ficado estranhas demais depois da briga e fosse melhor eles não ficarem juntos. Talvez eles nem quissessem mais que ela morasse com eles, afinal. como ficaria o clima depois de tudo aquilo? Ela nem havia falado com eles ainda, nem mesmo com Sam que havia mandando mensagem perguntando se ela iria trabalhar. 

O apito do detector de fumaça a acordou de seus pensamentos e Lana quase pulou de susto ao ver que havia deixado o bacon queimar. Ela jogou tudo fora, abanando a fumaça e jogou a frigideira na pia, desistindo e pegando a caixa de cereal e uma tigela.

Depois de comer, ela saiu para o quintal e caminhou até a estufa que ficava nos fundos da casa e era com certeza seu lugar favorito na casa, desde pequena. Havia plantas enormes que iam do teto de vidro ao chão, além de vasinhos feitos pela própria Libby e que continham suculentas, rosas, margaridas, cactos, palmeiras, girassóis e outra plantas e flores. Ela andou pela estufa repleta e depois se sentou no degrau de entrada, olhando para as plantas e pensando no que faria agora. 

—Quando você era criança, você costumava chamar esse lugar de seu jardim secreto. - Libby comentou a despertando de seus pensamentos e se sentando ao lado dela. 

—Ainda é. Lembra que eu te chamava de Malévola até que você me mostrou suas plantas e eu fiquei fascinada?  Minha mãe nunca deixava a gente ter planta em casa. 

Libby sorriu. 

—Tem algumas suculentas novas que plantei faz uns dias, você pode levar algumas para a casa nova se quiser.

Lana sorriu para ela. 

—Como você sabe que eu vou voltar? - ela perguntou. 

—Porque eu te conheço. - Libby respondeu tranquilamente - E você é teimosa e orgulhosa, mas, sempre colocou seus amigos em primeiro lugar. Até mesmo da Darcy você só desistiu quando não tinha outro jeito. E o Sam, o Steve e o Bucky são bons amigos que se precupam com você. 

Lana sentiu que ia chorar de novo e piscou várias vezes para se conter. Já havia chorado demais nas últimas horas. 

—Fazia tanto tempo que eu não me sentia tão feliz quanto me senti nos últimos meses. - Lana confessou - Mesmo quando a dona Rufina expulsou a  gente ou quando eu briguei com a Dottie… Mesmo assim eu não me sentia sozinha. 

—Eu sei, querida. Por isso você precisa voltar e se acertar com eles. 

—Mas… - Lana começou, mas, Libby a interrompeu. 

—Eu sei que você está chateada e vamos ser sinceras, depois do que sua mãe fez, você nunca foi muito boa em perdoar, mas, às vezes, você tem que abaixar sua guarda e perdoar, filha. Não tem nada de vergonhoso em voltar, Lana. Não quando alguém importa tanto quanto os três importam para você. Você tem que se abrir um pouco… 

—Mas, o Steve vai embora mãe. - ela falou angustiada. 

—E vai voltar. São três meses, não três anos. Vai passar rápido. 

—E se ele não voltar? 

Libby levou a mão ao rosto de Lana e acariciou. 

—Ele vai voltar. - ela afirmou. 

Lana abraçou a mãe e fechou os olhos, tomando uma decisão. 

—Ok, eu vou voltar. - ela disse. 

—Fico feliz em saber disso querida. Mas, você vai ter que esperar um pouco, coloquei suas roupas para lavar porque elas estavam imundas de neve e faz meses que você não vem me visitar. Os três você viu ontem. Acho que eles podem esperar enquanto você passa um tempo com a sua mãe! 

Lana riu. 

—Tá bom, mãe. 

*********************

Quando Sam voltou para casa naquela noite, encontrou todos os objetos da sala e da cozinha empacotados e um Steve e um Bucky ansiosos. 

—Onde está a Lana? - Steve perguntou olhando atrás dele como se esperasse que ela estivesse escondida ali. 

—Ela não foi trabalhar hoje, eu fui até lá e a Melinda me perguntou se ela tinha melhorado porque ligou dizendo que estava doente. - Sam contou - A gente tem alguma coisa para comer ou vocês empacotaram toda a comida? 

—Steve fez salada de legumes com todos os legumes que estavam na geladeira. - Bucky respondeu. 

—Aff, sério? 

Bucky concordou com a cabeça, desapontado. 

—Ela falou com você hoje? - Steve perguntou ignorando completamente a conversa. 

—Não. Ela está na mãe dela, Steve. Relaxa, mais cedo ou mais tarde ela vai ter que voltar para casa. 

—Mas, a gente vai se mudar e eu vou embora em três dias, esqueceu? E eu não posso ir sem falar com ela… - Steve disse, preocupado. 

—Steve, ela vai voltar antes disso, ainda tem as coisas dela para empacotar e o Xenophilius está aqui. - Sam contrapôs de maneira racional. 

—Mas, e se ela nao quiser morar mais com a gente?  - Steve rebateu. 

Sam abriu a boca surpreso. 

—Eu não tinha pensado nessa parte. - ele falou lentamente. 

—Mas, vocês acham que ela não voltaria por causa daquilo? - Bucky perguntou preocupado - Quero saber, nós somos amigos dela… 

—Eu não sei… - Steve falou - Só tem um jeito de a gente saber, indo até a casa da Libby. 

Ele vestiu o casaco de inverno e abriu a porta, se dando conta de uma coisa. 

—Alguém sabe onde a Libby mora? 

—Newark. - Sam respondeu. 

—Como você sabe disso? - Bucky perguntou. 

—Ontem eu fiquei preocupado depois que ela sumiu e pedi para meu amigo na Técnica rastrear o celular dela. Ela até pediu para eu não rastrear, mas, quando ela respondeu já era tarde demais… 

Steve e Bucky olharam para ele impressionados. 

—Ok, então vamos para Newark. - Steve falou saindo pela porta. 

—Espera! - Bucky exclamou - Será que a gente não devia levar o gato? 

—Por que a gente devia levar o gato? - Sam perguntou. 

Bucky deu de ombros. 

—Porque ele sente falta da mãe dele, ué. - ele respondeu como se fosse óbvio. 

Sam revirou os olhos. 

—Tá bom, pega ele então e vamos! 

********************

Lana passou a tarde toda com Libby, é só saiu depois de jantar porque ela havia preparado uma de suas comidas favoritas, lasanha de bolonhesa. A mãe a levou de carro até a estação de trem e ela pegou o primeiro trem de volta para Manhattan.  

Havia começado a nevar de novo e o trem se movia em velocidade reduzida. Lana não parava de balançar a perna de nervosismo e ansiedade e demorou quase o dobro do tempo para que ela chegasse à cidade. Ela desceu do trem quase correndo e fez a baldeação que precisava. 

Quando Lana chegou ao apartamento já era tarde o suficiente para pelo menos Sam, que era o mais idoso, estar dormindo. Ela torcia para que pelo menos Steve estivesse acordado, mas, ao abrir a porta se deparou apenas com uma sala repletas de caixas. Ela olhou nos quartos, mas, nenhum deles estava em casa, nem mesmo Xenophilius. 

Só falta eles terem se mudado sem mim, Lana pensou. Trancando a porta ao sair, ela resolveu ir para o único outro lugar que achou que eles poderiam estar.  

*******************

A estrada estava tranquila apesar da neve que começava a ficar carregada e Steve, Sam e Bucky chegaram a Newark em menos de uma hora. Eles digiriam pela cidade pacata até uma rua do subúrbio que lembrava muito a rua onde a família de Bucky morava e todas as ruas de subúrbio do país, com as casas grandes praticamente iguais do lado de fora, separadas por gramados cheios de neve e garagens frias. 

Steve estacionou na casa de número sete que era a única casa rosa da rua e tocou a campainha esperando que Lana atendesse. Sam e Bucky saíram junto dele, Bucky carregando um Xenophilius que miava e se debatia, nada feliz de estar ali naquela friagem ao invés de dormindo em cima da geladeira, como ele sempre fazia. 

Depois de tocar a campainha pela terceira vez, eles finalmente viram movimento no corredor e a porta se abriu. Libby olhou surpresa para os três. 

—O que vocês estão fazendo aqui? - ela perguntou. 

—Err… A Lana está aí? - Steve perguntou de volta. 

Libby suspirou. 

—Ela foi embora, cheguei quase agora da estação. 

—Para onde ela foi? - Sam perguntou. 

—Para casa, para falar com vocês. 

—Droga. - Steve sussurrou - A gente tem que voltar! Quem sabe a gente chega antes dela? 

—É melhor a gente ir logo então! - Bucky falou tentando tirar as patas de Xenophilius de seu cabelo - Rápido antes desse gato de me deixar careca! 

—Está nevando, o que significa que o trem está com a velocidade reduzida, pode ser que vocês a alcancem. - Libby falou. 

—Obrigado, Libby! - Steve agradeceu. Sam e Bucky a agradeceram e se despediram. 

Steve estava voltando para o carro quando Libby o chamou novamente. 

—Steve?

—Sim. - ele respondeu. 

—Cuida da minha filha, tá? - Libby disse seriamente - Eu sei que você está indo embora por um tempo e que ela pode ser difícil, às vezes. - Steve resmungou algo sobre Lana não ser tão difícil assim, mas, ela o interrompeu - Eu criei ela, Steve, acredite em mim, eu sei. E eu sei que ela é forte e independente e cabeça dura, mas, eu sei que ela também tem um bom coração e que ela se importa muito com você e com aqueles dois também. - ela apontou para Sam e Bucky dentro do carro - Então você cuida dela, tá ouvindo? 

Steve concordou com a cabeça de maneira solene. 

—Eu sei que isso tudo parece muito repentino, Libby, mas, eu realmente gosto da sua filha. prometo que vou cuidar dela. - ele falou com sinceridade. 

Libby sorriu de canto. 

—Então é melhor você ir e encontrar ela. 

Steve assentiu e sorriu, abraçando Libby rapidamente antes de voltar para o carro. 

************

Lana parou na frente da casa onde iria morar notando que nenhum dos carros estacionados era de Steve, Sam ou Bucky e que havia um caminhão de mudança estacionado na calçada. O motorista fechou a porta traseira do caminhão e entrou no veículo, batendo a porta. 

—Lana! - Paul exclamou descendo as escadas, ele e o marido carregavam malas e Paul entregou a chave do carro para Frank que acenou para Lana e abriu o porta malas. 

—Oi, Paul! - Lana respondeu sorrindo. 

—Você apareceu na hora certa! Nós íamos dar uma passada no apartamento de vocês para entregar a chave, conseguimos resolver as coisas mais rápido do que esperávamos e estamos nos mudando mais cedo. - Paul contou animado. 

—Ai que bom, isso é ótimo Paul! - Lana exclamou surpresa. 

—Sim, não via a hora de nos mudarmos! - ele confessou - Bom, aqui estão suas chaves Lana, é só fazer cópias para todos depois - ele suspirou -Agora a casa é de vocês, vocês podem se mudar quando quiserem! 

—Muito obrigado, Paul! Não sei nem o que a gente iria fazer se não tivesse encontrado essa casa! - Lana agradeceu pegando a chave. 

—Eu espero que vocês tenham tantos bons momentos aqui quanto nós tivemos, querida. - Paul disse. 

—Obrigado, Paul. Você sabe se os meninos vieram aqui hoje? 

—Não, hoje não… Bom, é melhor eu ir antes que fique muito tarde. Temos muitas horas ainda na estrada. Tchau, Lana! - ele sorriu. 

—Tchau, Paul! - Lana se despediu e ficou olhando enquanto o homem guardava as próprias malas dentro do carro. Ela acenou para o marido dele e ficou os olhando dar partida no carro até os perder de vista quando viraram a esquina. 

Depois ela suspirou, destrancou a porta e entrou na casa nova, acendendo as luzes. Ela passou pela sala tão vazia que fazia eco e abriu a porta que levava para o quintal, se sentando  degrau de madeira do terraço. Se os meninos não estavam no apartamento e não estavam na casa nova, ela não fazia ideia de onde poderiam ter ido levando Xenophilius. 

—Achamos que estaria aqui. - uma voz falou e ela quase pulou de susto. 

Era Steve. 

Ele estava parado à porta olhando para ela junto de Sam e Bucky, além de Xenophilius que ao ver a dona, arranhou Bucky e pulou do colo dele, indo se roçar nar pernas dela. 

Lana pegou o gato no colo e o abraçou. 

—Mamãe estava com saudades de você. Desculpa por ter sumido! - ela falou para ele, em resposta o gato ronronou e tentou mordiscar o dedo dela, fazendo Lana rir. Ela olhou dele para os três - Oi meninos.

—Ei. - eles responderam. Lana queria muito acabar com aquele clima tenso. 

—Vocês realmente sabiam que eu ia estar aqui? - ela perguntou para tentar melhorar o clima. 

—Na verdade a gente dirigiu até  Newark e a Libby falou que você tinha acabado de sair, então dirigimos de volta. - Steve respondeu - A gente tinha acabado de estacionar na frente do prédio quando o Paul ligou dizendo que tinha te entregue as chaves. 

—Ah… Espera, eu nunca contei que a Libby mora em Newark! - Lana exclamou e olhou para Sam que deu de ombros. 

—Eu meio que rastreei seu celular ontem! 

—Eu te falei para não rastrear, Sam! 

—Ninguém mandou você demorar para responder! - Sam rebateu  cruzando os braços. Lana riu. 

—Você é impossível as vezes, Sam Wilson. 

Ele fez uma reverência. 

—Eu sei disso. 

Os outros três reviraram os olhos em resposta e ela olhou para Bucky com um ar inquisitivo. 

 -Acho que eu te devo um pedido de desculpas. - ele falou. 

—Deve mesmo. - Lana respondeu em tom ameno. 

—Me desculpa pelas merdas que eu disse, de verdade.  E por aquele acordo idiota que foi feito em um momento muito bêbado da minha vida. Se eu te conhecesse naquela época, jamais teria feito um acordo tão idiota quanto aquele. - Bucky falou sério - Talvez eu teria feito você me dar uma daquelas escovinhas de pelo porque todas as minhas roupas claras estão cheias de pelo de gato, mas, bom… Me desculpa, Lana. 

Lana sentiu o sorriso se formando em seu rosto e foi até Bucky e o abraçou. 

—Tá desculpado. - ela disse - Mas, eu acho que a gente devia dar um tempo na bebida. Sério, todas as burradas que a gente tem feito nos últimos tempos tem álcool envolvido. 

—Mas, álcool é tão bom! - Sam exclamou indignado. 

—Eu sei, Mambo nº5, eu sei! - Lana concordou - Mas, a gente tá bebendo demais e fazendo merda demais! 

—Eu vou pensar no seu caso. - Bucky respondeu pelos dois, suspirando. 

—Acho bom mesmo. - Lana retrucou e os outros três riram. 

Ela olhou para Steve e ele devolveu o olhar. Sam e Bucky notando a mudança no clima começaram a voltar para dentro da casa. 

—A gente vai… 

—Err… A gente vai mostrar a casa para o Xenophilius. - Sam decidiu pegando o gato do colo de Lana e entrando. Bucky deu um tapinha no ombro de Steve e sorriu para Lana antes de entrar também. 

Os dois se entreolharam de novo e Lana se sentiu mais nervosa de estar ali com ele. Era possível que eles tivessem regredido tanto em um dia? 

—Eu também estou desculpado? - ele perguntou com um meio sorriso que matava ela do coração. 

—Depende, você pediu desculpas? 

—Desculpa, Lana. - Steve disse - Eu sinto mui…

—Chega de pedir desculpas, Steve. - Lana interrompeu - Eu li suas mensagens. 

Ele deu uma risada nervosa. 

—Você leu? 

—Claro que eu li. - Lana falou suavemente - É você. Eu leria até sua lista de compras! 

—Você já lê minha lista de compras! 

—Pois é… 

Eles trocaram outro olhar e estava custando toda a força de vontade de Lana não agarrar ele, mas, esperou para ouvir que ele iria dizer. 

—O que eu disse ontem…

—Você disse muita coisa ontem. 

—Sobre nós, sobre eu ir embora… Eu realmente gosto de você, Lana, você… Você mudou tudo, depois que você se mudou para lá eu não saí com mais ninguém, eu só queria ficar em casa conversando com você… E-Eu me sinto tão tranquilo quando estou com você, você me faz tão feliz que voltar para o exército e ficar todo esse tempo longe me faz sentir a pior pessoa do mundo… - Steve confessou olhando nervosamente para Lana, como se aquela fosse a primeira vez que ele fazia aquilo. E só de Lana saber que não era, que ele poderia ter qualquer mulher quisesse mas, que havia preferido ficar em casa com ela assistindo “A Pequena Sereia”, fazia seu coração transbordar de uma felicidade que ela não sabia definir - O que estou tentando dizer é que eu não quero que a gente seja só uma ficada, não quero ficar me preocupando com o que pode acontecer. Eu só quero ficar com você… De verdade. - ele suspirou.

Aquilo era demais para Lana, não dava para ficar bancando a sem coração quando Steve estava se declarando para ela daquele jeito. Ela o puxou pela gola do casaco - ela adorava fazer isso - e o beijou de maneira desesperada, como se tivesse ficado mais do que um dia sem vê-lo, como se aquele beijo pudesse compensar os três meses em que não poderia vê-lo. 

Os dois se afastaram um pouco para recuperar o fôlego, mas, Steve não a soltou. Lana aproveitou e acariciou sua barba e beijou sua bochecha. 

—Acho melhor você ir aproveitando a barba enquanto ela ainda está aí. - Steve falou. Lana arregalou os olhos para ele - Vou ter que tirar antes de ir, vou ter que cortar o cabelo também. 

—Por que? - ela perguntou indignada com aquele absurdo - Tem um monte de gente que usa barba no exército, eu ja vi!

—Eu sei, mas, sou o Capitão. É só pelas primeiras semanas, depois vou deixar crescer de novo, prometo. - ele deu uma piscadela que deixou os joelhos dela fracos. 

—Mas, Steve, eu nunca te vi sem barba! E se você ficar com cara de criança de 5 anos? Eu não posso namorar uma criança! Não quero ser presa!

—Nossa, eu não vou ficar tão feio assim sem barba! - Steve se defendeu - E você acabou de dizer que eu sou seu namorado. - ele notou. 

Lana revirou os olhos. 

—Você acabou de dizer que quer a gente tenha algo mais além de pegação. Isso não quer dizer que você é meu namorado? - ela perguntou. 

—Eu sou o que você quiser que eu seja, Lana. - Steve falou sério e a beijou. 

—Urgh, casais são nojentos! - Sam comentou abrindo a porta do quintal e atrapalhando Lana e Steve. 

—Demais. - Bucky concordou - Se vocês ficarem fazendo isso na nossa frente a gente vai ser obrigado a tomar medidas drásticas. 

—Ah é? Tipo o que? - Lana perguntou - Vocês vão se pegar também para deixar a gente desconfortável? Porque já aviso que shippo forte vocês dois! Sambucky, melhor OTP!

Sam e Bucky olharam para ela chocados e Lana caiu na risada resmungando que a “masculinidade deles era frágil demais para lidar com aquele tipo de piada”. 

—A gente vai pensar em alguma coisa. - Bucky comentou. 

—Vocês nunca vão nos dar sossego, né? - Steve perguntou derrotado. 

—Por que dar sossego se a gente pode atrapalhar? - Sam riu com aquele sorriso perturbador - Agora dá para vocês pararem de se pegar que a gente precisa voltar para casa e arrumar as coisas para começarmos a mudança?

Os dois se deram por vencidos e concordaram. Steve segurou a mão de Lana quando Sam e Bucky viraram as costas e Lana sorriu para ele, feliz de ter voltado. 

 

 


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Notas finais do capítulo

Calma gente, ainda tem mais um!



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