A Rainha da Beleza escrita por Meewy Wu


Capítulo 24
XXIII - Presentes Perfeitos




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Enquanto Tina, sentada aos pés da árvore de Natal igual a uma criança, distribuía as pilhas de presente, a minha sem dúvidas era a menor – bem, com exceção de Nisha, que ganhara apenas um embrulho, e estava até agora o encarando sem abri-lo.

Alicia sem dúvidas seria a que mais ganharia presentes – talvez até mais do que a soma de alguma de nós – mas ela mandará que todos os presentes direcionados a ela fossem enviados para caridade, como parecia que fazia todos os anos desde que chegará ao palácio. Tal como Nisha, ela estava apenas com um presente, e também se recusara a abrir, apenas brincando com o laço da caixa enquanto observava o resto se nós e desviava das perguntas e piadas de Lilie e Livie.

Isabel não teve a mesma cerimônia, desembrulhou a todos, fazendo pilhas de caixas de chocolates dos mais diversos cantos da Eurásia, e de sapatos das mais variadas cores e modelos, todos tendo em comum saltos maiores que o palmo dela.

—Tome Bethany - ela me estendeu uma das caixas, sem nem olhar para mim, observando um sapato vermelho com ar de desconfiança, antes de puxar uma florzinha grudada nele até que se soltasse - É da suíça, assim como você.

—Obrigada – correi, eu não comprara nada para Isabel. Me surpreenderá o quanto de dinheiro eu descobrirá ter por ser uma musa, mas foi difícil demais escolher os presentes de todas, e o de Isabel se mostrou impossível.

—Não se preocupe, eu não acharia uso em nada que você pudesse comprar para mim - ela desfez, como se lesse meus pensamentos, olhando os rótulos de outras caixas até entregar uma para Alicia - Mas eu ficaria bastante feliz em saber o que o Jovem Duque Dylan de Bordeaux deu para você...

—Pare com isso Isabel - Grunhiu Alicia, levantando os olhos sonhadores da fitinha de seu presente.

—Estou curiosa - Ela deu os ombros, batendo os pés uns contra os outros, abrindo os olhos e piscando para mim - Per favore Bethany!

Acho que nunca em todos os meses que passei no palácio Isabel havia sido tão adorável. Eu já estava começando a duvidar que ela realmente estivesse sã.

—Se eu abrir, promete que vai voltar a me odiar? - perguntei, enquanto todas começaram a gargalhar - Você está me assustando.

—Viu Alicia? Por isso eu não sou boazinha com as pessoas... - ela alegou, fechando os olhos - Sei o que tem dentro da caixa Bethany, eu só preciso ter certeza.

—Pare Isabel, ela não vai abrir - Tina pegou a caixa das minhas mãos, levando para junto a ela embaixo da árvore - Não agora.

—Está sendo estraga prazeres Valenttina - resmungou a morena, se virando dela para Annie - Nós sabemos o que é!

—Não, nós não sabemos - Annie sequer tirou a cara de um de seus livros novos para responde-la - Nenhuma de nós.

—Como você quiser, piccola regina — Isabel fez uma referência, ou o mais próximo que conseguiu sentada e cercada de caixas.

Ela se levantou, desviando das pilhas de presentes e marchando para o quarto, carregando apenas uma caixa de sapatos embaixo do braço.

—Ela não espera deixar tudo isso aqui, não é? - Questionou Kali, olhando para as pilhas enquanto Lilie tirava um par de sapatos pequenos demais para ela e tentava calçar em um dos pés, e Livie abria uma caixa de chocolates.

—Eu espero que sim - Lilie falou, com os pés apertados tentando ficar em pé.

—Depois eu mesma peço que alguém leve tudo para o quarto dela - Alicia garantiu, esticando as pernas e bocejando - Estes eram todos os presentes, Valenttina?

—Sim, era tudo - Tina concordou, olhando com atenção em volta.

—Então eu vou me deitar mais um pouco, tentem deixar tudo arrumado - ela deu uma olhada para a pilha de Isabel, cansadamente - A altura do possível.

—Qual o problema? - perguntei, sentando ao lado de Nisha, que estava sozinha no canto da sala, olhando para o único embrulho que ganhará.

—Não sei... Não sei de quem é - ela virou o quadradinho nas mãos - Não sei quem me daria um presente.

—Nunca ganhou um presente de Natal, não é? - arrisquei, e ela confirmou - Então, apenas abra.

Me levantei, deixando-a ali e carregando meus próprios embrulhos para meu quarto, mas um em particular se parecia muito com o presente solitário de Nisha, com o mesmo papel e laço.

A diferença era que o meu tinha um cartão, com o nome de quem enviara e o meu,escritos em uma caligrafia perfeita e dourada. Aquele, era o presente de Annie.    

.........

'Dezembro, 2218

'peguem suas armas, e não temam. Acertem seus corações. Faça o que for preciso para proteger seu pais. O que for preciso para proteger sua família!'

Cameron fez. Ele fez o que eu não tive coragem. Ele deixou de lado o que era certo e errado para mandar o povo lutar sem piedade.

Entendo seu ponto, entendo como ele se sente. Com Belle grávida, ele percebe que nada é mais importante do que proteger sua casa e sua família. Talvez eu sentisse o mesmo se tivesse minha própria família.

Mas para mim, há apenas um castelo vazio. O 'petit palace' só tem de pequeno seu nome. Sei que Cameron carregará o peso dessa decisão pelo resto da vida, como você carregou a morte de Victor e de todas as pessoas inocentes na América.

Você acha, pai, que o perdoaria se estivesse aqui?'

.........

Olhando pela janela da biblioteca, dava para ver extensões de prédios e cores, sob o pôr do sol. A visão era macia, tanto que me dava vontade de registra-la - era o tipo de coisa que parecia poder deter as piores confusões.

Três andares sob meus pés, nos jardins, Fox e Dylan brincavam com espadas de madeira, sob os olhares de duas garotas. Tina tinha os cabelos presos bem no alto, e andava de um lado para o outro em volta dos garotos. Era difícil pensar nos três como primos, de tão diferentes que eram. Havia um guarda segurando os blazers dos rapazes. Fox secou o suor da testa com o antebraço, dando chance para Dylan acertar sua espada e joga-la longe, antes de pararem para descansar.

A quarta pessoa do grupo era Annie. Observei-o parando ao lado dela e falando algo, antes do primo lhe lançar uma garrafa de água - a tarde gelada parecia não ser um empecilho para os quatro.

Me escondi na biblioteca até perto da hora do jantar, mas quando eu cheguei no salão das musas ainda estava tudo em silêncio - Isabel estava na sala, juntando seus presentes, mas não havia mais ninguém por perto. Mesmo assim, olhei em volta para ter certeza que ela estava falando comigo.

—Vossas Majestades também lhe dispensaram? - ela perguntou, entediada, abrindo uma caixa e pegando um bombom - Você quer?

—Achei que não estava falando comigo - peguei desconfiada um doce.

—Por que? - perguntou ela, espirrando um perfume no pulso e cheirando.

—Por causa do que aconteceu depois do almoço - falei, recolhendo um cartão que estava perdido no meio dos papeis de embrulho jogados pelo chão.

—Tenho motivos melhores para não querer falar com você Bethany - ela deu os ombros, soltando uma pilha de caixas em cima de mim - Me ajude a levar isso para o meu quarto?

—Eu tenho escolha? - perguntei, enquanto ela pegava outra pilha de caixas e passava por mim e seguia para o quarto, empurrando a porta com o quadril e não me deixando opção além de segui-la.

—Pode largar aqui, Bethany - ela soltou a pilha ao lado da penteadeira, parando por um minuto para admirar a si mesma. A enorme penteadeira de Isabel era toda preta, cheia das coisas mais diversas e surpreendentes possíveis - tudo brilhante, de aparência cara. Mas bem no meio de toda a combinação, ela soltou o novo perfume, milimetricamente bem no centro do móvel. - O que acha do meu quarto, Bethany?

—É muito... Muito, luxuoso - falei, olhando em volta com cuidado. Eu nunca tinha de fato estado ali dentro por mais do que alguns segundos. Era impotente e escuro, cheio de madeiras e veludos vermelho, flores brancas e folhas verdes. Era italiano, sem dúvidas, tudo remetia a isso. Diferente dos quartos de Tina ou Alicia, não havia nenhuma luz de graça. Era feito para ser uma fortaleza, impotente, porém confortável em seu conjunto, tal como Isabel era - combina com você.

—Imagino que combine - ela concordou, e então ficou me encarando - Você ainda não abriu, não foi?

Respirei fundo. Outra vez. E então neguei.

Se qualquer uma das meninas chegasse naquele momento, eu não saberia explicar como Isabel acabou no meu quarto, com Romeu no colo ronronando como se a conhecesse desde que era um filhote.

—O que é? - perguntei, mais uma vez, enquanto ela revirava os olhos.

—Abra logo, Bethany - Romeu miou, preguiçosamente, quase como se concordasse.

Dei os ombros, esperando algo realmente surpreendente, e me decepcionei quando embaixo de todo aquele papel de embrulho encontrei uma tiara de bronze.

—E aí está... - Isabel bateu as mãos, com um sorriso amargo - Aquele estúpido ao menos explicou o que isso quer dizer?

—É... Muito bonito - mais pareceu uma pergunta. Não havia muito o que dizer. Os fios de bronze formavam pontas, pequenas, sem pedras ou nada realmente especial.

—Dylan assumiu o lugar do pai no conselho quando o duque se foi - Isabel explicou, duramente - Tem vinte e um agora, é velho o bastante para fazê-lo.

—Você é mais velha do que Dylan? - Percebi, tarde demais, que aquela era uma pergunta que eu não deveria ter feito.

—Isso, definitivamente, é a última coisa que deveria estar na sua cabeça agora - ela engoliu em seco, me encarando - Com o aniversário de Fox se aproximando, os seis membros mais importantes do conselho tem a chance de escolher suas preferidas para futura rainha, tendo em vista que a essa altura era de se esperar que já tivéssemos ao menos a noiva.

—Achou que Dylan escolheria você - percebi, arregalando os olhos.

—Ele disse que tinha uma surpresa para mim - ela concordou, encarando as próprias unhas - Me deu algo muito mais valioso para mim do que uma coroa de bronze, mas quando não fui eu, eu soube que seria você.

—Como você poderia esperar que ele te oferecesse como... Como uma oferta, para Fox? - não me contive, me levantando e ouvindo a tiara tilintar ao cair no chão - Não é possível que não perceba o quanto ele gosta de você!

—Eu não sou cega, Suíça - ela grunhiu, acariciando Romeu - Mas pouco importa tudo isso. Tenho outros que irão me indicar. Pode me achar uma pessoa horrível se quiser Bethany, eu verdadeiramente não me importo. - Ela respirou fundo, soltando Romeu no chão e se levantando - Quero a coroa e Dylan sabe disso. Talvez eu não a tenha, mas ele não pode alegar que não fui sincera com ele, e ninguém muito menos você pode me julgar por lutar. - Ela estava bem na minha frente agora, e chutou a coroa para o lado, antes de seguir para fora do quarto e se virar para mim - A propósito, meus parabéns Bethany.

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, ela bateu a porta e os passos ecoaram pelo corredor. Tremendo, voltei a me sentar. Não tinha notado minhas mãos, suadas e amassadas, até abri-las e encontrar ali o cartão que recolherá da sala de estar.

"Talvez não seja o que você esperava, mas não consegui sentir esse perfume e não lembrar de você, Isabel Venezza. Espero que te leve de volta ao lugar que chamava de lar.

Sem esperar agradecimentos, Dylan Bordeaux"

O papel cheirava como o perfume que Isabel borrifara ainda mais cedo. Era doce, quente, era o cheiro do sol, de campos de pera e de baunilha, e depois do jantar, quanto todas contaram suas histórias e foram dormir, desamassei o tanto quanto podia o cartão e enfiei por baixo da porta de Isabel.

.........

No dia que sucedeu o Natal, apenas quatro de nós havíamos acordado a tempo do café da manhã, e destas, três não conseguiam parar de olhar para Alicia – e a quarta, era a própria Alicia.

Jin mexia o próprio chá, e Lilie nem sequer tentava disfarçar, enquanto Alicia parecia longe dali, como se pudesse estar flutuando em uma nuvem branca e macia naquele exato momento, enquanto olhávamos para ela.

Ela estava radiante. Não que isso fosse tão surpreendente assim, Alicia era radiante desde o primeiro momento que a vi, mas ela parecia mesmo estar brilhando naquela manhã – dos cabelos até a pela. Havia saído no meio da noite e se espantará ao chegar e perceber que estávamos acordadas e tomando café da manhã, mas sem dar qualquer explicação se sentou e se juntou a nós.

—Por que não me acordou? - perguntou Livie, de camisola, parada na porta da sala de jantar, encarando a irmã.

—Alicia passou a noite com o namorado – foi a resposta da outra, lambendo uma mancha de geleia no dedo.

—Eu não... – Alicia começou olhando feio para ela.

—Alicia o que? – Livie já havia esquecido da irmã, pegando o lugar ao lado de Alicia e se voltando para ela – Por favor Alicia, nos conte quem é, todo esse suspense está me matando. Nós somos todas irmãs.

Ela respirou fundo – Sim, é verdade, eu estou namorando – ela falou, colocando os ombros para trás – Mas... Ele não quer que eu diga sobre isso para ninguém ainda.

—Por que? – Isabel, parada na porta de roupão, encarava Alicia também – Você é uma musa, qualquer homem iria querer mostrar ao mundo.

—Nós tivemos alguns problemas, certo? – ela se encolheu um pouco – Ele... Ele passou por momentos difíceis, estou só tentando dar espaço para ele lidar com tudo.

—Lidar com tudo? – Jin parecia confusa.

—Ele é um soldado? – Lilie avançou sobre Alicia, ansiosa.

—Ele foi para a guerra? – Livie perguntou, se juntando a irmã.

—Na Rússia? Em Portugal? – Lilie continuou.

—Ele teve que matar alguém? – as duas perguntaram ao mesmo tempo.

—Já chega! – Alicia se levantou, alarmada, e depois riu – Por isso eu não queria contar para vocês.

—São duas preguinhas, não são? – Isabel se sentou em seu lugar habitual, lançando um olhar carinhoso para as gêmeas – Nunca pensei que você gostasse de homens de uniforme, Alicia.

—E você, gosta dos que tem coroas – Alicia contra-atacou, e por um minuto toda a sala ficou tensa, esperando uma explosão de Isabel, mas ela sorriu.

—Já que os que parecem gostar de mim não estão dispostos a me dar uma, não é mesmo Bethany? – ela olhou para mim, sorrindo, e depois continuou – Alguém viu Tina e Annie? Nenhuma delas estão nos quartos...

—Valenttina disse que tinha que se preparar para algo - Alicia baixou a voz - Particular.

—Ah, certo... – Isabel revirou os olhos – Parecem crianças, nem acredito que ainda fazem isso depois de tantos anos.

—Você não faria? Se estivesse em casa? – perguntou Alicia.

—Não com as irmãs que eu tenho – Isabel respondeu, parecendo de repente um pouco triste, e então começando a se servir.

.........

A maioria das meninas já esperava para almoçar, quando o convite de Fox chegou, pedindo que eu me juntasse a ele. Tentei ignorar a batida falha do meu coração, tentada a dar meia volta e mandar uma bilhete de recusa. Parei na metade da escadaria para o quarto andar, alisando meu vestido uma última vez e me preparando para seguir subindo, mas o som de um par de saltos furiosos andando de um lado para o outro e duas vozes discutindo me impediu de continuar. A primeira era indiscutivelmente a de Fox. Eu sabia disso, mesmo sem conseguir ouvir o que de fato ele falara.

Talvez, aquele fosse o sinal para que eu fosse de fato embora, voltar para o almoço com as outras garotas, que sem duvidas estava muito divertido. Mas a curiosidade me fez subir mais dois degraus, até ouvir a voz de Annie furiosa.

—Está sendo ridículo!

—Você ficará longe dela – calmo como uma brisa, Fox lhe contradisse, e ouvi seus passos se moverem também – Sabe tão bem quanto eu que ficar perto dela, é um risco para você. Oras, ela é um risco para você!

—Não vou me afastar de Nisha, Fox! – ela bateu o pé com força no chão de mármore – Ela já tem muitas pessoas que a evitam neste castelo. Ela precisa de uma amiga!

Fox deu um suspiro, e depois de um longo silêncio continuou – Eu vejo como vocês duas se olham, Annie – ele falou pausadamente –Eu sei que o que você sente por ela não é amizade.

—E se não for? – ela confrontou-o, indiferente – Só por que você é incapaz de confiar em alguém Fox, de amar alguém, não quer dizer que todos sejam assim. Não quer dizer que eu seja.

—Não está apenas se colocando em risco – ele argumentou, as vozes estavam mais baixas, como se estivessem muito perto um do outro - Esta colocando ela também. Na sua posição, você sabe o quão perigoso pode ser para ela. Tudo por um capricho seu!

—Estou colocando você em risco também – Annie complementou, amargamente – Não é?

—A todos nós. – ele engoliu em seco, e suspirou, antes de alterar o tom a uma voz fria e impessoal – Eu sou seu futuro rei, e estou dizendo que você não vai mais falar com ela.

Annie Bufou - Talvez não devesse ficar tão certo assim que será rei...

—Isso é uma ameaça? – ele parecia exasperado.

—Pense o que quiser Fox, eu estou cansada de me esconder. Me escondi a vida inteira com medo de se as pessoas soubessem a verdade machucariam a quem eu amo, mas se eu precisar da verdade pra proteger as pessoas que me importo então vou usa-la.

—A verdade? – ele perguntou, muito lentamente - Depois de todos esses anos você está disposta a... Por ela?

— Sim, por ela.

Ele soltou um grunhido - Esta sendo teimosa – ele falou, por fim – Eu tenho que encontrar Bethany, esta conversa está encerrada. Mas se considere avisada, se acha que vou deixa-la assinar sua sentença de morte e ficar parado assistindo seu declínio, está enganada Antoinette.

—O que você vai... Fox? – os passos dele se afastaram – Fox!

 

Annie soltou uma dúzia de xingamentos, com a voz prestes a chorar, antes de se calar e inesperadamente virar em direção a escada, me encarando ali parada. Ela parecia tão irritada, em então em choque, que talvez tenhamos ficado nos encarando tempo demais, antes da máscara de calma dela voltar.

—Ele está esperando por você, Bethany – foi tudo que ela falou, os olhos cansados e cheios de lágrimas, antes de seguir descendo as escadas apressadamente.

Seguindo-a com os olhos, pensei em que caminho seguir. Talvez Fox devesse ser deixado esperando, pensei, descendo um degrau prestes a seguir Annie. Mas de todas, ela ainda era a mais parecia comigo entre as musas. E no lugar dela, eu gostaria de ficar sozinha.

Eu não entendia nada daquilo. Frustrada, sentei na escadaria, olhando para um grande e belo quadro de uma rainha que não era a Rainha Lena, nem Nathalie a mãe de Tina. Parecia haver um manto em volta de Annie e Fox, cheio de coisas que eu parecia sempre acabar ouvindo e tendo de fingir que nunca estive por perto.

Eu provavelmente não deveria ter estado.

—Achei que também desistirá de mim, senhorita Bethany – olhei sobre o ombro. Parado no topo de escada, Fox tinha um sorriso aliviado.

A primeira coisa que percebi foi que ele não parecia com um príncipe. Usava roupas de inverno pesadas, como se tivesse chegado de uma caminhada na neve, e o cabelo pingando afirmava ainda mais meu palpite. Me senti estupida de ter trocado de roupa para encontra-lo.

Me senti ainda mais estupida por ficar tão feliz em vê-lo.

—Bem, isso seria desistir de toda a nação, vossa alteza – sorri de volta, me levantando rapidamente e subindo a escadaria– Embora eu sinta-me tentada a isso, se me disser que há ervilhas novamente para o almoço.

—Vai ter de descobrir por si mesma – ele ergueu a mão, pegando a minha quando cheguei perto o bastante. Hesitei, erguendo uma sobrancelha para ele. Ele riu – Nada de ervilhas, eu garanto. Imagino que as cozinheiras acharão outras finalidades para elas.

—Tenho certeza que seriam ótimos olhos para bonecos de neve – falei, enquanto um guarda abria a porta para nós.

—Nunca fiz um boneco de neve – Fox comentou, tirando o casaco e pendurando.

—Imagino que não seja muito principesco – falei, pensativa, olhando para as nuvens se formando no céu que até cedo ainda era muito azul – Ao menos já fez biscoitos de gengibre?

O rosto dele, demonstrou que não.

—É um tipo de tradição de Natal – dei os ombros, deixando-o puxar a cadeira para mim – Meias nas lareiras, biscoitos de gengibre, e bengalas de açúcar.

—Não há muitas tradições na minha família – ele deu um sorriso estranho, cheio de lembranças, percebi pouco depois – Apenas uma.

—No orfanato onde eu morava, Marsella nos fazia ter tradições para tudo... Ela tinha sempre um balde de moedas para colocar nos travesseiros de quem perdesse um dente, ovos coloridos para espalhar pelos jardins na páscoa, e no Natal... – parei, quando percebi que tinham lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Fox me olhava de uma forma estranha, mais uma vez, com aquele brilho estranho que as vezes ele tinha nos olhos. Sequei os olhos, tomando um gole de água – Desculpe.

Um trovão estalou, me forçando a olhar para a escuridão que tomava os céus de Paris. Fox seguia olhando apenas para mim.

—O que foi? – senti o sangue correndo para minhas bochechas, sem conseguir entender todas aquelas centenas de coisas dançando nos olhos dele, brilhando mais do que o reflexo da lareira.

Ele deu os ombros – Você tem um lindo sorriso, Bethany – ele falou, quando então um segundo trovão o fez olhar para fora, como se ainda não tivesse notado a mudança do outro lado das janelas.

Percebi que deveria ter agradecido, quando já seria muito estranho faze-lo. Um terceiro trovão marcou o início da tempestade, e toda a extensão visível da cidade foi coberta com uma cortina densa de chuva que não estava ali segundos antes.

 


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