Valentia e Doçura escrita por Amorecida


Capítulo 9
Tocando Em Frente


Notas iniciais do capítulo

Olá docinhos, sejam bem vindos a mais um capítulo.
Sei que demorei, e peço perdão.

Uma ótima leitura a todos, espero que gostem!



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P.O.V.  Catarina 

 

Nasci em 09 de julho de 1965, em um inverno rigoroso. Depois que nasci, minha "mãe" me abandonou para viver com seu novo namorado. Nunca mais tive notícias dela. De meu pai não sabia nem o nome. Fui criada por minha avó e meu avô, até que minha avó faleceu, em 1971. Meu avô nunca me amou, ele me considerava um peso. Quando vovó morreu, ele me jogou em um orfanato. Assim que cheguei, fui adotada por um casal. O que eu não sabia era que esse casal se odiava, vi meu pai adotivo esfaquear minha mãe adotiva. Ele foi preso e eu voltei ao orfanato. Lá fiz uma amiga. Seu nome era Natália. Três anos depois ela morreu de câncer. Ninguém nunca mais quis ser meu amigo. Ninguém nunca mais quis me adotar. Eu estava sozinha. 

Vim ao mundo pra sofrer ? Por quê ? 

 

Mudei de opinião quando Hugo apareceu em minha vida, meu amor, meu eterno amor.

Eu o conheci quando estava com 17 anos, estava no final do ensino médio. Ele na época tinha 20 anos e trabalhava de garçom em um restaurante em frente minha escola. Assim que nos conhecemos nos tornamos amigos, ele sempre me buscava e me deixava no orfanato, também me visitava frequentemente.  Apenas três meses depois que nos conhecemos, ele me prometeu que no meu aniversário de 18 anos viria me buscar e nós nos casaríamos. Assim ele fez. Hugo é resultado de minhas orações. Ele mudou a minha vida, me deu uma família. Ele me deu motivos para sorrir.

 

Cinco anos após nosso casamento, em uma noite de intensa de amor ele me deu Alice, minha menina, tão parecida comigo. Ela herdou meus olhos verdes, os cabelos ruivos, as sardas, covinhas e muitas outras feições. Ela é muito delicada, como eu, mas também é forte e inflexível, como o pai. Como eu, ela nasceu em um dia de inverno. Nomeei-a de Alice, que significa mulher de respeito e de muito valor.

Cinco anos após o nascimento de Alice, Hugo me deu mais um presente:  Miguel. Fisicamente ele era mais parecido com Hugo, herdou os olhos azuis, o cabelo castanho claro, e a maioria dos traços eram do pai. De de mim herdou as famosas sardas e covinhas, que faziam ele e Alice serem tão angelicais. E por falar em anjo, o nome Miguel significa semelhante a Deus, e é o nome de um dos sete Arcanjos de Deus. Miguel era um garoto a alegre e sonhador, como seu pai. Diferente de Alice, ele nasceu em uma tarde de verão. Alice e Miguel eram diferentes, e ao mesmo tempo tão parecidos. 

 

Quando eles nasceram, junto com eles nasceu uma mãe também. E ser mãe foi a melhor coisa que me aconteceu. 

 

Antes de ser mãe ninguém nunca vomitou e nem fez xixi em mim.
Antes de ser mãe eu não tropeçava em brinquedos espalhados pela casa.
 Antes de ser mãe eu nunca fiquei gloriosamente feliz com uma simples risadinha.
 Antes de ser mãe eu nunca senti meu coração se despedaçar quando não puder estancar uma dor.
 Antes de ser mãe eu não conhecia a sensação de ter meu coração fora do meu próprio corpo.

E então, vivi lindos dias ao lado de meu marido e meus filhos. A tristeza já não fazia parte de minha vida, havia se alojado no passado. Enquanto eu via meus anjinhos crescerem, só a felicidade habitava em mim. 

 

Porém, a triunfante morte ficou no meu caminho, não satisfeita com minha vida feliz, tirou meu filho de mim. Ela já tinha tirado tanto de mim, por que meu filho ? Por que não me levou com ela no lugar dele? Por que fechou os olhos de meu garotinho para sempre ? 

Recebi tapinhas nas costas, mensagens de consolo, remédios fortes. Nada!  nada nunca me ajudou ou irá me ajudar. Meu filho está morto. E eu quis morrer, quis encontrá-lo. Fiquei submersa em tamanha dor, e não enxerguei nada ao meu redor. Eu ainda tinha a minha menina e o meu homem ao meu lado. Eles também sofriam e eu não podia abandoná-los. Meu lindo marido continuava ali, por mim. Minha Alice também estava por mim, e ela agora estava se tornando uma mulher. 

A morte me ensinou. Foi minha professora. Tirou muitas vidas de mim. Mas tem algo que aprendi com aquilo, se ela retirava as vidas ao meu redor e nem sequer encostava em mim, era por que não era minha hora. A morte não me queria com ela. Ela estava me dando chances, de continuar viva, me dando chances para que meu coração continuasse batendo, mesmo que machucado. E então, parei de culpá-la, a morte só fazia seu trabalho.

Lembrei de uma vez que Miguel se distanciou de mim no supermercado. Ele tinha 6 anos, eu estava comprando os itens para fazer um almoço especial, foi o dia em que Hugo foi promovido no trabalho. Quando me dei conta Miguel não estava mais no meu campo de  visão. Fiquei desesperada, as lágrimas brotaram de meus olhos e eles, embaçados, procuravam o rosto do meu filho. Até que o encontrei, ele estava no corredor dos produtos de limpeza.

— Meu menino, eu estava desesperada atrás de você — abracei-o enquanto afagava os cabelos castanhos. 
 
 — Também te procurei mamãe, mas agora nos encontramos de novo.
 
 — Fiquei com tanto medo de perder você meu pequeno. 
 
 — Eu sei mamãe, também fiquei com medo. Mas odeio ver você chorar mamãe, não chore mais, por favor — Ele disse enquanto secava minhas lágrimas com seus dedos pequeninos. 

 

Me perdoe filho, por tanto chorar. Faz 2 anos que eu choro. Não é fácil ficar aqui sem você. Eu chorei naquele dia por que tive medo de perder você. Hoje eu choro por que meu maior medo se realizou. Eu te perdi, e desta vez, você não estará no corredor dos produtos de limpeza.

 

P.O.V.  Hugo 

 

Era uma quarta feira cinzenta. Saí de manhã para trabalhar, como de costume. Dei um singelo beijo em Catarina, que dormia tranquilamente. Ela sempre dormia de camisola, e pela manhã, suas camisolas sempre estavam levantadas. Eu não me surpreendia quando ia me despedir e via sua bela bunda. Catarina se mexia muito, sempre acordava descoberta e eu, sempre ajeitava o lençol por cima  dela. Optei por descer pelas escadas. O tempo estava mudando meu corpo, uma barriguinha saliente já se tornava aparente. Decidi que agora faria abdominais em casa e não usaria mais o elevador. 

Então fui em direção ao metrô. Desde o acidente que tirou a vida do meu filho, eu nunca mais dirigi. O dia arrastou-se lentamente, como sempre. Enquanto voltava para casa, observei o sol se pôr. 

Quando voltei para casa, no fim do dia, Alice e Catarina estavam cozinhando. 

— Boa noite meninas.

— Oi papai. 

— Eu já não sou menina a muito tempo — resmungou Catarina.

— Continua sendo uma menina pra mim, a minha menina — Dei-lhe um beijo na testa. 

Jantamos e Alice nos contou sobre seu segundo dia de aula. Ela estava muito animada com a faculdade, estava fazendo amigos e aprendendo o que sempre quis aprender. Fiquei muito feliz por ela. Na missão de ser pai, não há nada melhor que ver sua filha sorrir, de verdade.   

Depois do jantar, fui para o quarto. Catarina estava sentada na cama passando óleo nas lindas pernas. Olhei para a parede, vi os quadros que Alice tinha pendurado. Miguel estava lá. Lembrei-me do dia da foto, foi quando eu o ensinei a andar de bicicleta. E então eu chorei. Chorei por conta da culpa que me habitava. Eu o matei. É minha culpa de ele não estar mais entre nós. É minha culpa quando minha esposa tem pesadelos e chama por ele. Fui até Catarina e desabei no chão, na sua frente. Ela permaneceu quieta, apenas afagou meus cabelos. Encharquei seu colo. As lágrimas simplesmente saíram, uma por uma. Não teve escândalo nem gritaria, apenas as minhas lágrimas procurando pela liberdade. Não sei por quanto tempo ficamos assim. 

— Vá tomar um banho, precisa relaxar — Catarina me recomendou, quando eu me acalmei um pouco.

— Venha comigo. 

— Claro — Ela concordou sorrindo. 


Tranquei a porta do quarto, para que Alice não visse... Bom, depois puxei Catarina pela mão, arrastando-a para dentro banheiro. Ela soltou os cabelos e começou a se despir, revelando o corpo que mesmo após vinte e cinco anos,continua sendo o mais lindo do universo. Despi-me também, sabendo que Catarina não se importaria com minha barriguinha saliente. Liguei o chuveiro e fiquei abraçado com ela por vários minutos. Em seguida começamos a nos ensaboar, peguei shampoo e comecei a massagear os cabelos ruivos de Catarina, fiz o mesmo com o condicionador. Tornei a ligar o chuveiro, observando a espuma abandonar a pele de porcelana de Catarina. Depois, peguei a toalha e comecei a enxugá-la, e ela fez o mesmo comigo. 

Saí do banheiro com ela em meus braços. Depositei seu corpo nu delicadamente na cama e parei por um momento para observá-la. Ela tinha estrias, devido à gravidez. Tinha celulite, suas pernas possuíam alguns vasinhos. Seu rosto já mostrava linhas de expressão. Sua barriga, que abrigou meus filhos por 9 meses, já não era tão chapada, sua cintura já não era mais tão fina. Nada disso era defeito, pelo contrário, eram detalhes que faziam parte da obra de arte que Catarina é pra mim. A mãe dos meus filhos era a mulher mais bela e ver sua figura nua, já era suficiente para entrar em êxtase. 

Fiquei por cima dela, dando lentas investidas. Pousei a cabeça em seu pescoço, aspirando o delicioso cheiro de lavanda, enquanto meus gemidos se misturavam aos dela.  Quando terminamos, deitei ao seu lado e fiquei olhando seus lindos olhos verdes, que mesmo após terem visto tanta coisa, continuavam brilhantes. 

— Eu te encontrei sem querer. Tem vinte e cinco anos que te encontrei e você continua com os olhos mais lindos que já vi e esse sorriso que ainda me tira o fôlego — murmurou. 

— Obrigado, eu amo você. Vou te amar até depois da morte, você sabe, não sabe? 

— Eu sei. 

— Eu sou culpado — sussurrei.

— Não é — Catarina passou as mãos por meu rosto. — Nenhum de nós é. 

— Miguel se foi. A culpa é minha. Se eu não tivesse perdido o controle... 

— Shhh — Ela pôs um dedo em meus lábios — Não foi sua culpa. Não foi culpa de ninguém. A morte chega para todos, chegou para nosso querido filho também, chegou porque era a hora ele partir e se tornar um anjo — Ela virou o rosto para o quadro na parede. — Ele está nos protegendo. 

— Ele quer que nós possamos sorrir não é ? — indaguei. 

— Sim, devemos tentar, por ele.

Lágrimas corriam por seus olhos, mas ela não soluçava. As lágrimas desceram por seu belo rosto no mais completo silêncio. Ficamos calados, e enfim dormimos. Naquela noite, sonhei com Miguel. Depois, comecei a pensar em como nossa vida mudou desde sua morte. 

 

" A gente se reconstrói das ruínas. " 
 

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram ? Então por favor comentem.
Não gostaram ? Então por favor comentem.
Caso estejam gostando, favoritem.

Me ajuda muito gente >.<
Beijos e até o próximo capítulo!



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