WSU's Aracnídeo escrita por Gabriel Souza, WSU


Capítulo 2
Capítulo 1: O Nascimento de um novo herói


Notas iniciais do capítulo

Lembrando que o Aracnídeo faz parte de um universo compartilhado de histórias chamado de WSU.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/718481/chapter/2

Digamos que não foi fácil convencer Rafael a sair do colégio, talvez eu tenha até errado em ligar para ele, mas o que posso fazer? Eu estou desesperado, não é normal você acordar numa manhã, quebrar a porta do seu quarto, dar um mortal, ter teia sendo jorrada de seu pulso e logo depois conseguir escalar uma parede, bem, na verdade isso não é nem um pouco normal. É por isso que eu tive que ligar, ele é meu amigo, meu melhor amigo, o único com que eu posso contar, o único que pode me ajudar.

Vejo Rafael chegando no beco, ele está com o uniforme branco e azul do colégio, claro, eu acabei de tirar ele do colégio.

— Cadê você cara? — Rafael me questiona.

— Aqui — digo enquanto saio detrás de uma caçamba de lixo. — Obrigado por vim cara.

— Ta... — Ele fala com uma voz meio desconfiada — Por que você me chamou aqui? Principalmente no horário de aula. Que por sinal você deveria estar assistindo neste exato momento assim como eu...

Coço minha nuca tentando pensar numa forma de explicar o que aconteceu.

— Eh.... — Coço a nunca rapidamente — Já assistiu aquele filme.. Homem-Aranha?

— Você sabe que sim — Sua voz tem um tom desconfiado — O que que isso tem haver com você me chamar aqui?

— Bem, é mais fácil mostrar do que falar.

Peço mentalmente que o quê estou prestes a fazer dê certo, para que meu amigo não ache que fiquei maluco. Estico meu braço na direção de uma pequena garrafa de refrigerante no chão e uma teia sai do meu pulso até ela, se prende na garrafa eu a puxo por fim segurando a garrafa em minha mão.

— CARALHO! — Ele grita animado — Mas o que foi isso?

— Entendeu agora por que te chamei aqui?

Ele aparenta estar super animado, bem diferente do que eu achei que ele ficaria. Achei que ficaria assustado, assim como eu estou, mas não, ele tá tão feliz, é como se estivesse pensando em um monte de coisas que ele faria se pudesse fazer isso.

— Cara... você podia ser um super-herói! Nossa, sério, isso é incrível, meu amigo... um super-herói, defendendo a liberdade, justiça, honra. Já sei, com grandes poderes vem grandes responsa...

— Cala a boca! — Caramba, eu chamo ele em busca de ajuda e ao invés disso tenho que lidar com um tagarela — Dá para calar a boca? Eu tou aqui super tenso por que tá saindo uma merda nojenta da minha mão e você tá aí pensando em besteira de ser super-herói? Você sabe que eu não sou esse tipo de pessoa. Você é o certinho, eu não.

Percebo a mudança nas feições dele, acho que exagerei.

— Olha, foi mal se me empolguei demais... — Ele começa — não sei o que está sentindo ou pensando, mas você sabe que eu sou seu amigo e estou aqui para ajudar sempre que precisar. — Ele faz uma pausa, mas conclui o que estava dizendo — Por que não vamos lá para minha casa? Você relaxa mais, me explicar melhor o que aconteceu e a gente dá um jeito.

— Ok.

 

 


******

 

Expliquei a Rafael tudo o que aconteceu, meu pesadelo, a porta, como eu escapei de ser atropelado e tudo o que aconteceu depois. Por incrível que pareça ele ouviu tudo calado e bem calmo, não aparentava ter medo de mim, nem querer me usar.


— Deixa eu ver se entendi — Rafa se ajeita na cadeira — você pode saltar igual um sapo, tem os reflexos do Isao Machii... — Faço uma careta demonstrando que não sei quem é.

— Aquele Japonês com super reflexos — Explica — Corre mais que o Forrest Gump e solta teia do pulso?

— E da bunda...

— O-o que? Sério?!?

Dou uma risada:

— Claro que não. Não sou tão bizarro assim.

— Ufa.... — Ele suspira — Ainda bem... isso sim ia ser bizarro.

— É né...

— Mas e aí. Esqueci algo ou é só isso mesmo?

— Bem, eu escalo paredes também.

— Sério? Taí outra coisa foda. Então, como que você faz? Só coloca as mãos e vai filhão?

— Não. — levanta uma sobrancelha — Eu uso o pé também.

Nós damos mais umas risadas. Estar com ele sempre alivia as pressões, sejam elas quais forem.

— Certo. — Ele fica pensativo — Então esses são seus poderes até agora.

— Até agora?

— Sim. — Rafael gesticula — Sabe-se lá o que mais você pode fazer

— Mais? Tipo o que? — questiono confuso.

— Ah, sei lá, outros 4 membros? Cuspe de teia? — Ele sorri — Picada venenosa da aranha suprema?

Eu começo a rir da cara dele que mais uma vez levanta uma sobrancelha, dessa vez com uma expressão mais séria.

— Foi mal cara. — começo a me justificar — Mas... Picada venenosa da aranha suprema? Que tipo de nome de poder é esse?

— Ah, sei lá, um que nem a Marvel nem a DC tenham registrado ainda.

Eu sorrio de novo.

— Só você para me fazer rir quando eu tou morrendo de medo. — agradeço.

— Você falou medo? — Ele sorri — Tá com medo de perder para mim no NBA 2K16 é isso?

— Eu? Nunca.

— Tá bom...

 

 


******

 

Jogamos algumas partidas depois disso, algumas eu ganhei, outras não. Foi uma boa alternativa para passar o tempo. Quando vi já era quase noite e eu ainda estava jogando com ele uma partida, a mãe dele nos chamou para jantar. Poxa, lasanha é uma comida muito boa. Conversamos um pouco mais, depois eu sai, já estava ficando um pouco tarde.

 

 


******

 

Enquanto caminho em meio a chuva, em direção a minha casa, vejo um homem ameaçando um casal de idosos na outra calçada, dou meia volta e entro na primeira esquina. Prefiro pegar  outro caminho para casa do que ter que passar por ali, não devo nada para aquele casal mesmo. Continuo seguindo pelo meu novo caminho até que ouço um barulho, o barulho de um tiro. E ele veio da direção da rua a qual eu tinha visto o assaltante e o casal de velhos. Uma sensação de culpa toma conta de mim de repente, por que eu não fiz nada? Por que voltei? Sou tão egoísta assim? Dane-se, deve ter algo que eu possa fazer.

Corro em direção à rua, ao virar a esquina vejo uma mulher ajoelhada ao lado do corpo de um homem. Um outro homem com alguma pistola qualquer está com a arma apontada para sua cabeça, não tenho tempo para pensar em nada, apenas corro na direção deles sem me preocupar em esconder o meu rosto ou qualquer coisa.

Ao me aproximar deles o homem percebe minha presença e aponta a arma em minha direção.

— Cai fora garoto. Senão vai levar bala também. — O assaltante aponta a arma para mim.

Não respondo nada, apenas encaro aquele homem com uma arma apontada para mim, desvio o olhar para baixo e acabo vendo um senhor, um pobre homem sangrando no chão. Eu sinto raiva, muita raiva, mas acima de tudo eu sinto uma culpa enorme, eu podia ter interferido nisso antes, se não fosse tão egoísta.

— Você é surdo moleque? — Ele grita — Vaza daqui agora!

Levanto a cabeça e olho novamente para o homem armado, percebo que ele não está tão confiante quanto tenta aparentar estar. Sinto alguma coisa emergir de dentro de mim, algo poderoso, algo que nunca senti antes. Me sinto forte, forte como nunca me senti antes. Apenas sorrio.

— Qual é a graça garoto? — começa a perder a paciência — Tá feliz em morrer?

— Não... — respondo enquanto aumento o sorriso no meu rosto — Eu só vou gostar bastante do que vou fazer com você agora, seu miserável.

— Já chega! — Ele aperta o gatilho. Eu vejo a bala ser disparada, vejo ela lentamente sair do cano e começar a percorrer o ar em minha direção. Me viro para a esquerda saindo da frente da bala que passa reto sem me atingir.

— Como que você? O que é você?!?

— Não chora bebê. — brinco — O papai aqui vai cuidar muito bem de você.

Ele começa a atirar novamente em minha direção, mas consigo desviar de todas as balas, meu reflexos são incríveis, isso seria muito útil no basquete, não que eu precisasse usá-los né, mas... seriam muito úteis.

— Você vai desistir agora ou quer continuar brincando? — provoco — Eu gosto de dançar, mas não tou afim agora.

Ele larga a arma no chão e apanha um pedaço de metal, tenta me acertar, mas salto e caio em suas costas.

— Tá legal, cansei de brincar. — falo.

Acerto um soco em seu rosto, ele cai no chão com três dentes a menos e uma boca cheia de sangue. Com certeza isso doeu, MUITO. Me aproximo e o levanto pela gola da camiseta.

— Vai abordar e assassinar velhinhos novamente? — Minha voz soa um pouco diferente, mais grossa.

O homem a minha frente começa a chorar e implorar por sua vida. Eu não posso acreditar no que presencio, um homem que acabara de matar um senhor inocente, ainda tinha a cara de pau de implorar por sua vida. Eu não sou um assassino,  não irei matá-lo, mas isso é revoltante, como pode um ser humano ser assim?

A dor em meus dentes volta, retorna muito mais forte do que eu jamais sentira, acabo largando o homem e ficando um pouco desorientado por alguns segundos, a dor é desconcertante. Infelizmente, quando recobro a consciência não consigo desviar do golpe desferido pelo assaltante, que estava novamente armado com um pedaço de metal.

Acabo sendo atingido em cheio no rosto, atingindo o chão logo em seguida, minha raiva cresce, sinto uma pequena dor nas costas que logo cessa, como se algo tivesse saído delas, mas não posso pensar nisso agora. O assaltante tenta me acertar mais uma vez com o metal. Rolo alguns centímetros para a esquerda e evito ser atingido pela Lucille metálica.

Me levanto e me preparo para outro ataque, ataque este que não veio. Assim que me levantei o homem a minha frente simplesmente largou a barra que estava em suas mãos e tentou correr, covarde, o paro com algumas teias e me aproximo dele.

— Depois... — falo com a voz irritada — Depois do que você fez, você ainda tenta fugir?

Posso perceber que minha voz está diferente, mas não me preocupo com isso, só me importo com o covarde a minha frente e em sua feição de medo.

— O que foi? O gato comeu sua língua?

Antes que pudesse socá-lo vejo meu reflexo em uma vitrine pouco metros a minha frente. Eu estou diferente, não sou mais o mesmo Jonas. Eu estou igual ao meu pesadelo, os olhos, garras, presas... Quatro patas nas costas! Eu virei um monstro, virei uma espécie de aranha humana. Recuo e caio de joelhos no chão, não é fácil de digerir que você se transformou num aracnídeo. Esqueço um pouco do homem a minha frente, sinto a raiva passar, e as patas recuarem. Pouco tempo depois eu sou só o Jonas, o velho Jonas, alto, atlético e sem características de aranha.

Me levanto, garanto que o homem está preso nas teias e me aproximo da mulher que ainda chora ao lado do corpo do falecido marido.

— Senhora... — tento soar reconfortante.

Ela levanta a cabeça e olha em minha direção ainda chorando, ela sussurra alguma coisa que eu não consigo entender até que repete com a voz mais alta e clara.

— Obrigada.

Sinto meus joelhos vacilarem, como essa mulher pode me agradecer num momento como esse?

— Como...

— Obrigada por me salvar, — Ela chora mais enquanto abaixa sua cabeça — não sei do que seria do meu sobrinho se perdesse a mim também.

Agora eu percebo o que ela quis dizer. Ela tem um sobrinho, se os dois morressem ele não teria ninguém, mas como eu a salvei, ele ainda tem ao menos um parente. Teria os dois se eu tivesse agido antes.


Me aproximo e ponho minha mão sobre seu ombro.

— Por favor, me desculpe por ter falhado com a senhora, senhora...

— Park — Ela responde — Maya Park

— Me desculpe por não ter agido antes... — Me desculpo — quero que saiba que nunca repetirei isso em minha vida. Nunca deixarei ninguém para trás como hoje. Paro por um segundo e reflito: Eu tenho poderes e tenho responsabilidades, preciso honrá-las.

— Eu juro senhora, farei de tudo para impedir que isso ocorra com outras pessoas ou eu não me chamo, ARACNÍDEO!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se você gostou ou não gostou, por favor comenta sua opinião, o que você acha que está bom e o que deve ser melhorado?