WSU's Aracnídeo escrita por Gabriel Souza, WSU


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Para aqueles que não sabem, Aracnídeo faz parte de um universo de histórias originais, o WSU, outras histórias com outros personagens fazem parte desse universo, sendo assim, recomendo fortemente que leiam as outras histórias para se situar melhor no universo criado.



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Recebo a bola, restam seis segundos para o fim da partida válida pela final dos jogos escolares de Pernambuco 2016. Minha equipe está perdendo por 55-56 (no basquete a equipe da casa tem seu placar a direita e o visitante a esquerda), vejo meu marcador a menos de um metro de mim, dois companheiros de equipe marcados um pouco mais próximos da cesta e um relógio que cada vez mais se aproxima de zero.

Por sorte eu treino a minha vida toda para momentos como esse, momentos decisivos que separam jogadores como eu de jogadores comuns. Domino a bola, finto para esquerda puxando a bola para minha mão dominante, a esquerda obviamente, arremesso em posição estática, livre do marcador que foi deixado para trás e apenas vejo a bola fazer uma curva perfeita no ar para logo em seguida passar pela cesta sem tocar o aro, CHUÁ, dois pontos a mais, 57-56, relógio chegando a zero e vitória do colégio Grupo Gênese.

Meus companheiros de equipe correm em minha direção e me levantam, levando-me ao centro da quadra onde sou ovacionado pela considerável torcida presente de nossa escola.

Recebo a medalha de ouro (até parece que é ouro de verdade) e também os certificados de MVP (jogador mais valioso, o melhor) da partida/competição, melhor ala-armador e cestinha da competição, tudo perfeito. Meus companheiros de equipe comemoram bastante e vão falar com seus pais e amigos que assistem ao jogo.

Vejo um cara vindo em minha direção. Fernando e seu topete de gel é quem se aproxima.

  — Olha se não é o meu amigo Jonas!! — Ele aperta minha mão com aquele sorriso amarelo dele.

  — Eae cara, beleza?

— Comigo tudo ótimo... Nem preciso te perguntar isso né — Ele dá uma risada, bem constrangedora para falar a verdade. — Campeão, MVP... só na boa. Parabéns!!

— Valeu. — sorrio — Eu não teria conseguido sem aqueles idiotas ali, mas, você sabe, sou o melhor.

 — Claro. Você joga muito, se quiser você pode ir longe.

Algumas garotas me chamam da arquibancada e eu me viro para elas esquecendo de Fernando por alguns instantes, três garotas, três gostosas, hoje é meu dia de sorte. 

— É isso aí cara, a gente se vê por aí beleza? Preciso resolver umas coisas aqui rapidão. 

Saio correndo em direção às garotas,  ainda ouço um "até mais" de Fernando.


******

 

 Faz umas duas semanas que às aulas do pré-Enem começaram (antigo pré-vestibular), tudo normal para mim; aulas chatas como sempre, treino toda segunda, quarta e sexta, novas garotas no colégio. Fora a nova modinha: os vigilantes, todo mundo tem falado sobre eles.

Particularmente, não me importo nem um pouco com esse heróis, vigilantes ou seja lá o que forem, são só alguns malucos fantasiados que acham que estão num quadrinho, infelizmente, aqui é o mundo real e não existe espaço para super-heróis no mundo real.

 Enquanto ando por um dos corredores do colégio uma pessoa me chama, Rafael, meu melhor amigo.

— Ei Jonas! — Ele chama minha atenção — Você viu o vídeo novo sobre um cara mascarado de caveira lá em Corsário?

— O que? Do que que você tá falando?

— Vai dizer que você nunca ouviu falar da caveira que ri? — Ele questiona. 

— Bem... — começo — Não. Quem é? O Motoqueiro Fantasma?

 — Não!! — Rafael faz uma cara de indignação — Claro que não cara. Que insulto. Esse novo cara é demais!!! Chamam ele de Temerário, caveirão, coisa assim. Ele é o vigilante mais Bad-ass de todos!! Ele está agindo lá em Corsário e segundo o blog do TD ele teve uma luta ontem com o Soldado Fantasma!!

 — Soldado o que? Tão roubando nome de personagem da Marvel agora?

Ele me olha com uma cara de desapontamento. Esse fanático por HQs deve estar morrendo por dentro por conta desse meu último comentário.

— Não! Deixa eu falar e depois fala essas suas piadinhas. — Alguém tá com um pouco de raiva — Esse cara é o Soldado Fantasma! FANTASMA, o da Marvel é INVERNAL! E ele é muito foda. O cara vem fazendo estrago por onde passa!

 — Beleza, beleza. Vai, diz aí quem você não acha foda?

Ele ri o que me faz rir junto. Mesmo com esses papos de heróis isso, heróis aquilo ele ainda é meu melhor amigo.

— Agora você me pegou...

Rimos de novo e nos dirigimos a sala. Dois horários de Química, ninguém merece.

 


******

 

Após um longo e duro treino de basquete voltei para casa, tomei um longo banho para tirar todo o suor, pus uma camisa do Shaq (Shaquille O'neal, um mito do basquete) fui jogar um pouco de NBA 2K16 no modo MyCarrer, nossa, como eu amo esse modo de jogo, controlar seu próprio jogador é uma experiência sem igual.

Após algumas poucas partidas onde eu me destaquei como o melhor ala-armador da temporada, pelo Phoenix Suns, Rafael me liga.

— Ei cara, eu e uns caras aqui do condomínio vamos bater uma pela. Quer vir? — A voz de Rafael soa animada.

  — Você pergunta? — Basquete no meio? Tou dentro.

Pude perceber a animação ainda maior na voz dele pelo celular. 

— Ótimo, chega aqui em meia hora. Deve ser o tempo para os caras se organizarem e descerem.

— Belê.

Apenas terminei a partida que estava jogando e desci, a casa dele fica a dois quarteirões daqui, é bem fácil de se chegar lá, só andar algumas centenas de metros e me vi de frente a grande portaria do condomínio dele. Por conta disso fui andando na rua até que vi uma luz forte vindo em minha direção, a luz do farol de um carro, um carro branco bem próximo, não há como escapar do impacto, apenas fecho os olhos e espero a morte.

 

 


******

 

Abro os olhos e tudo o que vejo é branco, escuto vozes, mas não consigo distinguir de quem são e o que estão falando, sinto dores em todo o meu corpo. Só espero que eu não esteja deformado, isso seria muito ruim, como eu irei namorar se ficar assim?

Um pouco depois começo a enxergar melhor, minha visão fica mais focada, vejo minha mãe chorando e gritando com um homem com jaleco, um médico. Vejo Rafael ao lado da minha mãe, a mantendo de pé, e mais atrás, bem, mais atrás vejo aquela garota que quase não fala na aula, Beatriz, acho que nunca falei com ela, não sei o que ela está fazendo aqui.

— Parem de gritar, tão atrapalhando o sono do futuro novo Michael Jordan. — Minha voz é baixa.

As quatro pessoas no quarto se voltam para mim. Quer saber? É legal ser o centro das atenções.

— Filho! — Minha mãe corre até ao lado da minha cama e pega na minha mão — Você está bem?

Esboço um sorriso fraco:

— Claro que estou, eu sou o Jonas não sou?

Minha mãe ainda brigou um pouco com o médico que me operou, Rafael e Beatriz ficaram lá tentando acalma-la, depois de um bom tempo, com sucesso.

Depois disso foi só conversa, meu médico informou que eu teria que ficar no hospital por duas semanas, minha mãe  ficou me mimando mais uma vez e depois teve que ir embora. Fiquei sozinho no quarto de hospital vendo televisão.


 "Mais uma vez o vigilante conhecido como A Caveira ataca uma gangue na cidade de Corsário, todos os membros da gangue foram mandados ao hospital mais próximo do local do confronto, não se sabe ainda a gravidade dos ferimentos ou por que ele começou a agir pela cidade..."

Desligo a TV antes de ver o resto da reportagem, no momento eu não quero saber de vigilantes, eu só quero saber de quando vou poder voltar às quadras.


******

 

— Estou bem mãe!! —  falo enquanto minha mãe me passa mais um remédio, tem sido assim desde que voltei para casa a três dias após passar duas semanas entediantes no hospital.

— Jonas Ferreira! Tome esse remédio que estou te dando se quiser voltar a jogar basquete. — Seu tom de voz mudou de suave para repreensivo.


 — Dá para calar a boca? — grito irritado — Para de ser irritante e ficar me dando remédio 24 horas por dia como se eu fosse um bebê!!

Grito com minha mãe sem pensar no que dissera, a dor de cabeça que estou sentindo, junto com ela ficar falando sem parar já estava me irritando e acabei soltando tudo de uma vez. Infelizmente, vejo a expressão de tristeza no rosto dela e me vejo obrigado a voltar atrás

 — Olha mãe... Me desculpa, eu não quis falar isso. Eu tou morrendo de dor de cabeça e acabei falando coisas sem pensar por conta disso... — Ela mantém sua expressão e sai da sala se dirigindo à cozinha.

Como essa dor tá me matando... acabo por não ir atrás dela, subo as escadas rumo ao meu quarto, fecho a porta, escuto o som de algo se quebrando mas nem me importo, amanhã quando eu acordar eu vejo o que quebrou, deito na minha cama e durmo.

 

 


******

 

Sabe quando você tem um pesadelo que te causa arrepios mesmo depois de você acordar? Um pesadelo que é tão real que você duvida que esteja sonhando, mesmo se você souber que aquilo não é real? Pois é, esse é o meu pesadelo, estou fugindo de uma aranha gigante, ela tem mais de 10 metros.

Nossa, os olhos e os pelos são mais nojentos quando são gigantes, essa aranha causaria aracnofobia em qualquer um. Ela corre atrás de mim a uma velocidade absurda e o mais incrível é que consigo me manter a uma boa distância dela, ou seja, eu tou correndo muito. Passo por uma esquina, entro num beco e o atravesso, chegando ao fim do mesmo, descubro que ele é sem saída, me viro e vejo a aranha me encarando a alguns metros, ela abre o que deveria ser uma boca e grita:


  — Corrompidos! Morte aos corrompidos! — A voz da aranha faz com que eu me arrepie por completo.

Ela salta até a minha frente e me come - literalmente -, por alguns instantes tudo o que vejo é escuridão, mas logo vejo uma luz, uma saída, me dirijo até ela e me vejo saindo da aranha. A minha frente tem um espelho grande, nele é possível ver  o meu reflexo:

Mas, esse cara não sou eu, tipo, até onde eu me lembre não tenho patas de aranha, garras, presas e muito menos olhos azuis e frios. Olho para minha mão, vejo garras onde deveriam estar minhas unhas, realmente sou essa pessoa aracnídea... algo errado, minha mão começa a coçar e do meu punho uma teia gosmenta sai, dessa teia pequenas aranhas começam a brotar e a vir em minha direção, sinto cada uma delas mordendo um pedaço da minha pele, esse é o meu fim.

Acordo, estou no meu quarto, mais precisamente na cama, o relógio na parede diz que são 8:30 da manhã, ótimo, estou atrasado para o meu primeiro dia de aula após o acidente.

Me levanto, ponho a farda sem tomar banho, já estou atrasado, irei me atrasar mais? Tento abrir a porta do quarto e acabo tirando-a do lugar, isso mesmo, ela saiu da parede, agora eu sei o que eu quebrei ontem. Desço as escadas, vou à cozinha e pego um analgésico, a dor de cabeça que eu sentia cessou, mas deu lugar a uma coceira no pulso e uma dor nos dentes, tudo o que uma pessoa pode pedir.

Na mesa minha mãe deixara meu café e um recado, informava que ela saiu para trabalhar, e para eu não me atrasasse... claro mãe, não me atrasarei, eu já me atrasei.

Saio de casa e começo a correr na rua, a escola não é muito longe e correndo eu posso chegar lá em quase 15 minutos. Corro sem parar na rua, não me preocupo com a orientação do médico, sobre eu não me esforçar no começo, simplesmente saio correndo pelas ruas de Recife pra chegar ao meu colégio.

Um carro que eu não via passa na rua a mais de 60 KM/h, enquanto eu atravesso a mesma.  Seria atropelado se não pulasse como pulei, eu pulei de volta para a calçada em um belo mortal de costas após ver o carro. Como eu fiz isso? Eu não sei, mas foi incrível, simplesmente saltei quase que instantaneamente após ver o carro. Não sabia que tinha reflexos tão bons assim.

Infelizmente, após toda a euforia e o calor que sentia após o mortal eu voltei a sentir meu pulso, que agora doí como se algo estivesse tentando sair, assim como os meus dentes. Era como se novos dentes estivessem querendo nascer no lugar deles.

Corro até um beco próximo, sentindo o pulso doer cada vez mais. Uma dor insuportável e irradiada, me é sentida até que alguma coisa branca e gosmenta jorra de meus pulsos.

— Mas que merda!

 Eu olho para meu pulso esquecendo por alguns instantes a dor nos dentes, isso... Isso é estranho, muito estranho.

— Só falta agora eu começar a subir pelas pare... — Instintivamente tento subir a parede do beco para tentar reafirmar a mim mesmo que isso não está acontecendo. Para minha surpresa eu não caio, me fixo na parede sem dificuldades. Pego meu celular e ligo sem nem pensar duas vezes para Rafael:

— Que foi? Eu estou no meio da aul... — A voz de Rafael é repressiva.

  — Aconteceu uma coisa muito estranha. — falo.

— Tipo o que? — Há sarcasmo em seu tom de voz — Você faltar a aula e ainda por cima me ligar enquanto tento assisti-la?

— É sério. — tento falar enquanto mil coisas passam por minha cabeça — Algo muito estranho está acontecendo comigo. E acho que tem haver com aqueles malucos que você idolatra...


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Notas finais do capítulo

Os personagens citados como: Temerário e Soldado Fantasma são personagens que fazem parte do WSU, para saber mais sobre os personagens eu recomendo procurar suas histórias aqui mesmo no Nyah! e curtindo a página do facebook (WSU-Universo da sociedade de escritores).