Meus mini pais comeram feito duas crianças comportadas e depois foram brincar no quarto que, bem, é deles... Enfim, eu preferi não discutir com os dois e dizer que cama não é pula-pula, pois prefiro não ouvir reclamação de crianças. 

Ora, são duas crianças, os dois são levinhos. Que mal há em pular na cama?

Sentei no sofá da sala e suspirei pesadamente. Como pode isso estar acontecendo? Ainda não me conformei totalmente! 

Pra piorar a situação, como eu, uma garota de quinze anos, vou cuidar de duas crianças pequenas? Não faz sentido! Não cuido nem de mim.

Fui tirada dos meus pensamentos pelo som irritante da campainha que, pela frequência com que tocava, com certeza é o Boruto. 

– Já vai... Já vai... - Abri o portão bufando de raiva e  encarei o loiro sonso - Basta tocar uma vez, Boruto! 

– Oi, Sarada. - Ironizou.

– Já te vi hoje pela manhã, não preciso te cumprimentar. - Dei passagem para o Uzumaki entrar e depois fechei o portão. 

– Delicada como sempre.  - Revirou os olhos. 

Entramos na sala e ambos sentamos no sofá, um ao lado do outro. 

– O que você quer? - Cruzei as pernas e pus uma almofada sobre elas - Não veio aqui só pra me ver, não é mesmo?

– Vim pegar os episódios de Game of Thrones. - Sorriu sem graça - Agora que eu tô de férias, posso fazer uma maratona. 

Sério que ele ainda não terminou os episódios? Que moleque lerdo... Eu assisto desde que a série estava na terceira temporada - e daí que eu tinha doze anos na época ? - e vivia dizendo pra esse traste que a série era boa e que ele deveria assistir! Mas Boruto me deu ouvidos? Não, ele não me deu ouvidos e não quis baixar a série, mesmo depois de eu ter contado o quão épico foi o episódio da batalha da água negra... Mas, foi só a série virar modinha que o infeliz começou a assistir! E sequer viu o casamento vermelho ainda! Esse Boruto só me dá desgosto... 

– Ah, agora você gosta de Game of Thrones! - Cruzei os braços em frente ao corpo - Eu não deveria te dar os episódios só de sacanagem! 

– Você não faria isso... - Semicerrou os olhos azuis - Não faria...

– Faria sim... Vai ver Supernatural ou The Vampire Diaries, esses já são modinha bem antes de Game of Thrones. 

– Sarada! Não gosto de nada que envolva alguma pitada de terror... - Se caga de medo - E... porra, tem dó! Esses vampiros de hoje em dia são uma vergonha! 

– O Damon é lindo! - Retruquei. 

– Você assiste? - Indagou curioso e desconfiado, fazendo minhas bochechas ficarem coradas. 

Antes que eu pudesse abrir a boca para responder, as duas criaturinhas entraram na sala correndo feito doidos e berrando. Pra piorar tudo e pra me deixar com uma sensação de que alguma merda aconteceu, a garota ainda me apareceu com as sobrancelhas pintadas!

Boruto me encarou com uma sobrancelha levemente arqueada, como um questionamento mudo sobre o porquê de ter duas crianças pequenas na minha casa. 

– Parem de gritar! - Mandei, fazendo calarem a boca as duas crianças que discutiam por algum motivo que eu tenho até medo de saber qual é - Qual é o problema de vocês dois?

– Ele pintou minhas sobrancelhas e agora eu tô parecendo uma bruxa... - Choramingou a pequena rosada.

– Ela falou pra eu fazer uma coisa legal, então eu deixei ela com cara de má! - Explicou o pirralho, foi quando eu notei que ele está com o lápis de olho da minha mãe em sua mãozinha. 

O lápis de olho da minha mãe... na mão de uma criança... o lápis de olho cuja marca é os olhos da cara... esse lápis está na mão de uma criança... e por acaso essa criança usou o lápis pra pintar as sobrancelhas de outra criança... Traduzindo: Eu tô fodida! 

– Me dá isso agora, garoto! - Mandei furiosa, então o pequeno Sasuke me entregou o objeto e infelizmente ele não tem mais ponta. Já era - Merda!

– Olha o palavrão!  - Meu mini pai me repreendeu. Ok, ele é meu pai, mas é uma criança, portanto é humilhante - Isso é muito feio, sabia?!

– Tia Sarada... - Sakura me chamou agoniada - Tira isso do meu rostinho. 

Esse negócio é à prova d'água, vai demorar pra sair... Ótimo! Não podia piorar! Minha mãe, como toda boa perua, morre de ciúmes das maquiagens dela. Acho que a senhora Uchiha tem mais ciumes do estojo de maquiagem do que do meu pai. 

– Eu tô conversando, não estão vendo? - Massageei as têmporas - Vão os dois pro quarto, agora. Depois eu vou lá pra resolver esse problema. 

Por incrível que pareça, as duas crianças viraram as costas e foram para o quarto sem contestar. Pelo menos isso!

– Sarada... - Boruto me encarou confuso - Pelo amor de Goku, quem são essas crianças? 

Não adianta, ele viu os dois. Não sei nem pra onde inventar uma desculpa, pois não há pra onde fugir. 

– Olha... - Suspirei - Boruto, eu não tô ficando doida... - Mordi levemente o lábio inferior, claro sinal de nervosismo - Eles são os meus pais.

– Quê ?! - Indagou com a voz esganiçada - Sarada, o que você anda usando?

– Vai se lascar! - Joguei uma almofada no loiro - Eu não tô mentindo. Pegue qualquer foto dos meus pais na infância e faça a comparação! - Bufei. Boruto permaneceu calado, apenas me encarando desconfiado - Você me conhece desde que éramos pequenos, eu pareço estar mentindo? 

– Sarada, isso é impossível! 

– Eu também pensava assim até entrar no quarto dos meus pais e encontrar duas crianças! - Aumentei meu tom de voz, falando seriamente - Você precisa me ajudar, Boruto! - Implorei. 

Meu amigo me encarou com certa estranheza e depois soltou um longo suspiro.

– Isso é bizarro... - Entortou os lábios - Como você espera que eu te ajude?

– Sei lá, cacete, eu tô perdida! - Lamentei - Meus pais viraram dois bebês e eu não sei como vou cuidar deles! 

– Calma, calma. 

– Boruto!  - Choraminguei - O que eu faço? Eu quero meus pais de volta!

– Veja pelo lado bom, Sarada.

– Que lado bom? - Bradei.

 Esse loiro é mais idiota do que eu pensei. Tem lado bom nisso? Meus pais voltaram a ser crianças, eu tô sozinha com eles e o lápis de olho da minha mãe foi pro brejo! 

– Você vai passar as férias sozinha... - Falou tranquilamente - Pode dormir até na mesa da cozinha que não vai ter ninguém pra brigar com você. 

– Boruto... - Ajeitei meu óculos, o que é quase um tique nervoso, e encarei o rapaz com os olhos semicerrados - Sua praga, que parte do "meus pais viraram dois bebês" você não entendeu? - Berrei - Eu vou ter que cuidar deles! 

– Ah sim... Bem, aí você tá lascada mesmo. - Deu de ombros - Mas, espera, você quer que eu te ajude a cuidar deles? 

– Não, seu trate!  - Respondi como se fosse a coisa mais óbvia da galáxia - Você é uma anta. Sua mãe não confia em você pra cuidar da Himawari, que por acaso já é quase uma mocinha, por que eu confiaria em você pra me ajudar a cuidar dos meus pais do jeito que eles estão agora? 

– Magoou... - Dramático! - Então você quer ajuda pra quê?

– Pra trazer eles de volta. 

– Ah, por acaso eu tenho cara de quem manja das macumbas? Eu, hein... - Cruzou os braços em frente ao corpo - É cada uma que me aparece.

– Boruto... - Uni as sobrancelhas, nitidamente insatisfeita com a "ajuda" que  o meu melhor amigo de infância está me dando. 

–  Ok... Ok... - O rapaz levantou as mãos em sinal de rendição - Diga-me, aconteceu alguma coisa estranha antes dos dois voltarem à infância? 

– Bem... - Pousei o dedo no lábio inferior, tentando me lembrar de algo bizarro que pudesse ter transformado meus pais em duas criancinhas - Os colares! - Bradei em desespero.

Cacete, os colares de coração com a criança dentro. Só pode ser culpa dos colares que a mamãe comprou da velhinha macumbeira. 

 - Sarada, explica melhor. - Ele me olhou com uma expressão confusa - Que diabos de colares?

– Minha mãe comprou dois colares super bregas, cujos pingentes são dois corações partidos ao meio que se completam e tem uma criança desenhada neles. - Expliquei.

– E daí? - Indagou indiferente, com simples dar de ombros - Casal costuma usar essas coisas mesmo. Meus pais têm um chaveiro assim e no da mamãe tá gravado o nome do papai, no do papai tá gravado o nome da mamãe...

– Tá, Boruto, eu entendi! - Interrompi o loiro - Mas a minha mãe comprou bijuterias bregas quando estava na rua. Sabe, dessas velhinhas que parecem macumbeiras e vendem essas coisas... 

– Humanas... - Suspirou - Sarada, quem garante que foi isso?

– Só pode ser! - Exclamei - O papai e a mamãe estavam com os colares, mas agora não tem nada nos pescoços deles. - Resmunguei. 

– Tá foda pra ti, hein. 

– Demais! 

– Vou fazer umas pesquisas pra você. - Se levantou - Agora eu preciso ir antes que a Himawari diga pra mamãe que eu saí de casa, deixei ela sozinha e demorei um século pra voltar.

Peguei os episódios de Game of Thrones e entreguei para o rapaz num pen drive em formato de guitarra. Espero que o Boruto não suma ou estrague, caso contrário eu faço ele consertar com a força do pensamento. 

O Uzumaki foi embora, me deixando novamente a sós com os dois pestinhas que meus pais se tornaram. 

Caramba, eles estão sozinhos no quarto! Misericórdia, espero que ainda estejam vivos e o quarto inteiro! 

Saí correndo feito uma doida até o quarto dos meus pais e quando abri a porta, me deparei com os dois "anjos" brincando com a bolsinha de maquiagem da minha mãe! 

Caralho, eu vou morrer quando ela voltar ao normal! 

Sasuke está usando o estojo de sombras da minha mãe como se fosse tinta guache, pra piorar, está pintando papéis que eu nem sei se podem ser pintados. Enquanto isso, Sakura passa hidratante no rosto, com certeza na tentativa de tirar o lápis de olho que o garoto usou pra pintar suas sobrancelhas.

Sarada, calma... Fecha os olhos, respira fundo, conta até dez, abra os olhos lentamente e tenha esperança de que foi tudo um terrível pesadelo.

Ok, não funcionou. 

– O que vocês dois pensam que estão fazendo? 

– Tia. - Todo feliz, Sasuke se levantou para me mostrar a medonha obra de arte que, por sorte, não foi feita em nenhum documento importante - Olha só, eu desenhei o Lion dos Thundercats! Ficou parecido?

– Espera... - Peguei o desenho para analisar enquanto o pequenino me encarava com os olhinhos negros brilhando - Isso tá molhado? 

– Tem que esperar secar.

– Mas... - Meu rosto empalideceu - Por que isso tá molhado?

– Ué, tia. - Ele riu - Porque essa tinta é daquelas que precisa botar água. Só achei estranho é que tem algumas com brilho... 

Ele jogou água nas sombras da mamãe... Essa peste estragou um estojo de sombras todinho!  

– Sasuke... - Fechei os olhos e soltei um longo suspiro - Você usou o dedo pra pintar, não foi?

Por favor, que ele tenha pintado com o dedo... Por favor. 

– Pintei com aqueles pincéis legais. - Falou empolgado e meu coração quase veio parar na garganta - Tem um monte, todos diferentes. Usei eles, por quê? 

É, mamãe, dê adeus às suas maquiagens. 

Eu devia ter estranhado, os dois estavam quietos demais. Só podiam estar aprontando alguma coisa.

– Sakura... - Chamei a garotinha que finalmente me olhou - Onde você pegou esse hidratante? 

– No guarda-roupa. - Respondeu como se fosse óbvio. 

A menina, ao invés de tirar o lápis de olho, fez foi espalhar tudo pelo rosto e, bem, o resultado foi tragicamente cômico. 

– E quem deixou você mexer no guarda-roupa? - Briguei. 

– Tia, ela tá com o rosto todo manchado! - O garoto começou a rir.

– Tô não! - Resmungou a menina com a voz chorosa - Para com isso, Sasuke!

– Tá horrorosa! 

– Tô não! 

– Tá sim. Bruxa! 

– Não tô não!  - A pirralha começou a chorar enquanto Sasuke ria descontroladamente. 

– Tá parecendo um monstro. 

– Tia, olha ele! 

Ótimo, eles estão brigando. Sakura está chorando e, ainda por cima, gastou o hidratante que foi caríssimo. Sasuke, pra variar, estragou um estojo de sombras inteiro! 

– Parem de brigar, os dois! - Briguei. 

– Meu rosto tá sujo... - Resmungou a pequena rosada.

Suspirei pesadamente e peguei a menina no colo, levando ela até o banheiro e sentando na pia de mármore em seguida. Peguei um pouco de algodão e o demaquilante da mamãe, então finalmente pude limpar o rosto dela. 

Claro que depois disso eu não joguei o estojo com as sombras molhadas no lixo, tampouco o desenho horroroso que meu pequeno pai diz ser do Lion. Eu preciso ter a prova do crime quando meus pais voltarem ao normal... Se eles voltarem ao normal... Merda!