Capítulo IV

Apesar da cama muito confortável e do ar-condicionado, Shunrei dormiu mal. Acordou diversas vezes, preocupada com Shiryu ou para checar Shoryu, que ao contrário dela, dormiu a noite toda. Queria ter passado a noite no hospital com o marido, mas seria complicado fazer isso com um bebê de cinco meses, então se resignou a fazer o melhor para o filho. Já perto de amanhecer, acendeu o abajur, pegou a agulha de crochê e o novelo de linha e continuou a trabalhar num casaquinho que estava fazendo pra ele. Quando achou que estava perto de ele acordar, foi até a cozinha preparar uma mamadeira e encontrou Saori lá.

— Bom dia – a chinesa cumprimentou. – Também não conseguiu dormir?

— Bom dia, Shunrei. É, eu geralmente não consigo... Tem sido assim nos últimos tempos.

— Sei bem como é...

Saori deu um longo suspiro.

— Eu tento ter fé – ela continua –, mas é difícil. Quando eu acho que as coisas vão melhorar, sempre vem algo pior.

Ela não queria preocupar Shunrei ainda mais, não queria amolar a moça com suas preocupações, mas sentia que precisava desabafar e deixou que tudo saísse de uma vez, aos borbotões, junto com suas lágrimas.

— O Seiya já estava lá, naquela cadeira de rodas – ela continuou, sem tentar controlar o choro –, mas eu tinha esperanças de que ele se recuperasse. Eu fui tentar salvá-lo da maldição de Hades e agora tudo está muito pior. Eu me sinto culpada... E estou cansada disso tudo, estou muito cansada.

Shunrei deixou que ela falasse, deixou que chorasse, depois disse:

— Você não tem que se sentir culpada. Sei que daria sua vida pelas vidas deles se pudesse.

— Sim...

— Ele ainda está aqui, não está? O que você tem de fazer agora é continuar indo lá para que o Seiya saiba que você está por perto. E quando ele acordar, porque ele vai acordar, você vai estar lá, mostrando para ele o quanto ele é amado.

Elas ouviram o choro de Shoryu vindo do quarto.

— Parece que o mocinho acordou e está procurando a mãe – Saori disse, enxugando as lágrimas e sentindo-se ligeiramente mais confiante.

— Ele está é procurando a mamadeira! – riu Shunrei. – Vamos lá?

As duas continuaram conversando, agora num clima mais leve, enquanto Shunrei alimentava Shoryu. Saori lamentava não ter aproveitado as poucas oportunidades de conversar com a chinesa nas vezes que ela tinha vindo cuidar de Shiryu. Shunrei podia não ter estudo formal, mas fora criada por alguém sábio como Dohko e, apesar de muito jovem, já tinha muito que ensinar.

Mais tarde, as duas foram juntas para o hospital, Shunrei sempre levando Shoryu consigo. No caminho, ela reforçou em Saori a ideia de que os cavaleiros podiam ouvi-las, e cada uma seguiu para o quarto de seu amado.

— Tenho certeza que papai está ouvindo – Shunrei falou com Shoryu –, então vamos fazer barulho para que ele saiba que estamos aqui com ele.

Como se entendesse, Shoryu respondeu com uma risadinha. Ela voltou-se para o marido.

— Eu sei que você me ouve, Shiryu. Eu te amo muito e confio na sua recuperação. Vamos voltar pra casa bem, vamos continuar sendo felizes, nós dois e nosso filho. É só uma questão de tempo.

Shunrei tocou carinhosamente a cabeça de Shiryu.

— Leve o tempo que for, você vai conseguir. Eu sei.

Então ela sentiu a testa dele esquentar repentinamente. Achou que fosse febre e já ia chamar uma enfermeira, mas parou ao perceber a aura esverdeada que o envolvia.

— Cosmo... – murmurou satisfeita e segurou a mão dele com força. – O cosmo dele está ardendo. Vamos, Shiryu. Estou vendo que você está lutando para sair disso. Você consegue. Você é o Dragão Ascendente de Rozan. Erga-se!

E ela quase deu um salto quando ele apertou sua mão de volta.

Continua...