Guardiões escrita por Godsnotdead


Capítulo 27
Dilacerado.




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Meu reflexo no espelho refletia exatamente como estava por dentro. Destruído, exausto um caco. O remorso me consumia hora após hora. Meu peito ardia em arrependimento e com a dor da perda. Sofria e a culpa era totalmente minha. Merecia que minha testa fosse tatuada com a palavra “idiota” como um lembrete eterno.

Fechei os punhos sobre a pia e baixei a cabeça. A respiração entrecortada chiava dentro do peito. Meus ofegos enchiam o banheiro. Tornara-me apenas a sombra do guardião que um dia já fui. Estava recluso em meu quarto a cinco dias, mal comia ou bebia, dormir era artigo de luxo porque minha consciência não deixava que pregasse os olhos sem ver ou ouvir Elizabeth.

— Até quando vai deixar que sua covardia fale mais alto? - Sussurrei para mim mesmo. - Porque está se tornando uma criatura medíocre digna de pena. - Levantei a cabeça voltando a encarar meu reflexo. – Até quando vai deixar seus deveres de lado?! — A raiva encheu-me. — Já chega! — Guiado pela fúria que sentia de mim mesmo soquei o espelho estilhaçando-o.

Entre os dedos um rio carmim escorreu pingando na pia manchando o azulejo branco. Aos poucos a dor de minha mão dilacerado ofuscou a dor de meu peito. Respirei fundo e afastei o punho do espelho. Abri a torneira e coloquei a mão machucada debaixo d'água.

Pouco a pouco os cortes fechavam-se logo não havia vestígios de meu descontrole a não ser o espelho quebrado e manchado com meu sangue. Gostaria que meu emocional se curasse com a mesma velocidade.

Entrei debaixo do chuveiro e deixei que a água corresse livremente por meu corpo na esperança que levasse toda tristeza e vergonha embora, sentia-me sujo, indigno. Encostei a cabeça na parede os olhos firmemente fechados.

— Ela está bem... Você fez o que era certo. – Esse mantra já não me convencia mais, muito pelo contrário só fazia aumentar minha incerteza. “Nem sempre o que achamos ser a coisa correta realmente é.” As palavras de lorde Sky açoitavam-me em resposta.

            Saí do box pingando, pisei no chão frio escorregando as vezes até chegar ao closet. Sacudi os cachos ainda mais crescidos por falta do corte regular que dedicava aos meus cabelos uma vez por semana.  

Vesti-me rapidamente e desci, assustei-me com a quantidade de coisas na sala. Mochilas de suprimento estavam sobre o sofá. Espalhados pela mesinha de centro objetos de localização: mapas, bússolas e anotações geográficas. Em um canto Encostado a parede estavam dois arcos, um longo e um recurvo. Dois pares de aljavas contendo 30 flechas cada uma e três espadas sendo duas eram longsword com suas lâminas duplas imensas. E uma rapier, sua lâmina era estreita com uma ponta afiada, a fazia perfeita para perfurações. Seu punho intrincado feito para proteger as mãos durante uma batalha.
Parece que lorde Sky e Madison estiveram bastante ocupados.

— Olha só o ursinho Pooh resolveu saiu de sua toca. – Era Madison, a guardiã parecia está indo treinar, pois vestia um short de box, uma blusa regata, estava descalça enquanto carregava uma par de luvas debaixo dos braços. A olhei envergonhado e cauteloso, desde que ela falou aquelas verdade não nos falamos mais. Aparentemente ela não estava mais com raiva de mim. Senti-me um pouco melhor.

— Ham ram.

— Isso é bom, Sky não e me convencer a deixá-lo em paz mais uma vez. – Os olhos claros dela brilharam com humor e com outra emoção camuflada.

— Mady... Eu...

— Deixa para lá, passou. – Ela suspirou pesadamente. – Peço desculpas por ter gritado com você.

— Eu mereci. – Era a verdade. – Irmãos brigam não é?

— É. – A loira sorriu largamente. – Então, está pronto para uma sessão de treino? – Ela jogou um dos pares de luva. – Iria esperar Sky retornar, mas já que você está aqui. Por que perder tempo?

— Ok então. – Precisava mesmo fazer com que minha mente focasse em outra coisa que não fosse minha dor.

— Ótimo. – Mais uma vez ela sorriu satisfeita.

— Onde lorde Sky foi? – A segui até o gramado da frente.

— Pelo que entendi, foi atrás de montarias ou é isso ou ouvi errado.

— Entendo. – Lorde Sky está fazendo de tudo para que passemos despercebidos pelas dimensões que viajaremos.

            A ajudei a colocar as luvas em seguida coloquei as minhas, nos afastamos dois passos e ficamos em posição.

— Pronto? – Assenti concordando.

            Então ela atacou com uma velocidade arrasadora desferindo uma seqüência de Jabs com o punho esquerdo seguindo com punho o direito visando acertar meu queixo. Levantei o braço esquerdo na lateral do rosto para defender de seus golpes esquerdos enquanto balançava para trás desviando da direita.

            Meio desesperado tentei acertá-la com um gancho de direita visando o queixo tomei cuidado para não usar força demais, não estávamos usando proteção de cabeça. Ela deu um passo para trás desviando com facilidade, um sorriso esperto brincou em seus lábios. Ainda mantendo a distancia ela usou um chute frontal com força suficiente para me nocautear se conseguisse me acertar. Cruzei os braços em ‘x’ aparando o golpe, mais uma vez ela se afastou e começou a me circular avaliando minhas defesas.

— Vamos Ed, sei que pode fazer melhor. – Sacudi a cabeça tentando clarear os pensamentos. Minha idéia de me focar nos treinos estava caindo por terra e como resultado estava sendo massacrado pela garota que um dia foi minha aprendiza. .

— Ok. Agora é para valer. – Gostaria que fosse verdade.

            Comecei atacando, socos atrás de socos e ela rechaçando cada uma de minhas tentativas, chutei mirando a lateral de sua panturrilha, Madison levantou a perna fazendo com que meu golpe acertasse o vazio. Sem esperar que eu voltasse atacar ela girou o quadril para também chutar só que o alvo era a lateral de meu corpo. Seu pé acertou minhas costelas em cheio arfei perdendo o ar por alguns instantes. Tempo suficiente para que me acertasse novamente agora com um cruzado debaixo do queixo. O gosto metálico de sangue encheu minha boca, para finalizar passou uma rasteira levando-me ao chão tonto e ferido.

— Reaja Edward! – Ela não saiu da posição de ataque. Meu peito subia e descia a adrenalina correndo por minhas veias. Sacudi a cabeça e apoiei-me no joelho. Levante vacilante.

— Se não tivéssemos conversado antes de começar esse treino. Diria que ainda está com raiva de mim e está me punindo. – Limpei o filete de sangue do canto da boca.

— Não estou com raiva de você. – A guardiã avançou com mais uma seqüência de socos e chutes. – Estou com raiva da forma com que está se auto-punindo. – Ela derrubou todas minhas defesas iria levar outra pancada, mas Madison parou o punho a centímetros de meu rosto. – Não vê que também estou arrasada?! – Só agora vi que seus olhos brilhavam com lágrimas. – Não vê que pare meu coração vê-lo assim?!

— Mady... Não sei o que fazer.

— Reaja horas! – Ela berrou pegando-me de surpresa. – Faça alguma coisa. – A guardiã abaixou o punho que ainda estava a centímetros de meu nariz e com a outra mão enroscou em meu pescoço forçando-me a olhar dentro de seus olhos. – Você sabe o que fazer.

— Ela nunca vai me perdoar. – Não escondi o desespero. – Nunca mais vai querer olhar para minha cara.

— Se Elizabeth o ama como acho que ama pode até demorar, mas vai te perdoar. E você tem todo o tempo do mundo. O que não pode é ir conosco nessa viagem que nem sabemos se iremos voltar com essa culpa te correndo.

— Tem razão. – Respirei fundo tomando coragem. – Chega de me sentir assim. - Ela me soltou. – Vou resolver isso agora mesmo.

— Assim que se fala.

            Tomei um banho rápido troquei-me mais rápido ainda e concentrei-me visualizando mentalmente o local para onde transladaria. Em piscar de olhos na velocidade de um batimento de coração estava em frente ao orfanato.

            Antes que atravessasse a rua a vi saindo pela porta da frente, Elizabeth caminhou pela calçada seguindo para um ponto de ônibus que não ficava muito distante de sua casa. A segui sem ser notado a cada passo sentia-me terrivelmente culpado, teria sido infinitamente melhor tê-la levada comigo.

Enquanto permaneceu no correio vi o quão distante ela estava parecia não se importar com nada a sula volta. E foi assim durante a volta também fechei as mãos em punhos pronto para abordá-la quando ela desceu do ônibus e retornava para casa.Mas resolvi esperar que ela chegasse ao orfanato, foi mais uma decisão errada.

Horrorizado a assisti começar a atravessar a rua com o farol fechado para os pedestres. A poucos metros dela um carro buzinou a alertando do perigo, mas era tarde Elizabeth não conseguiria sair da rota de colisão. Minha garganta fechou, meu coração acelerou pelo pânico.

Não havia tempo para pensar em discrição, transladei para atrás dela e a agarrei pela cintura e a puxei para trás fazendo com que ambos caíssemos sentados na calçada, ainda com rapidez puxei sua pernas para cima da calçada. O coração já disparado se contraiu quando os olhos dela se encontraram com os meus. As orbes castanhas antes brilhantes estavam opacas e sem vida. Só me dei conta de que estava chorando quando as lágrimas pingaram em suas bochechas. Elizabeth não pareceu se importar.  

— Perdoe-me Lizie... – Como pude ser tão cego? Conseguiria protegê-la de qualquer perigo, só para não vê-la tão deprimida, murchando como uma flor sem os raios do sol. Não carregaria mais essa dor não faria mais ela sofrer. Baixei a cabeça e levei os lábios até seu ouvido. – Lembre-se Elizabeth suas lembranças ainda estão aí. Lembre-se... De mim...

            Demorou apenas alguns instantes. A expressão dela mudou algumas vezes: primeiro para confusão, dor e depois retornou para confusão e então raiva. Os olhos cor de chocolate se estreitaram; a boca se crispou em uma careta antes de finalmente falar.

— Como... Pôde... Mexer... Com minhas memórias?! – As palavras sussurradas soaram ofendidas me pegando um pouco de surpresa.

— Eu...

— Não quero saber! – Elizabeth se afastou de meus braços como se dessem choque e se levantou em um salto e se preparou para ir embora.

— Sei que não há desculpa para o que fiz, mas deixe-me explicar. – Também levantei.

— Tem razão! – Por alguns segundos pensei que ela me ouviria. – O que fez não tem desculpa! Declarei meu amor por você e em troca apaga minhas lembranças! Você violou minha mente Edward! Tem noção do quanto sofri?! E nem ao menos sabia o motivo! – A morena tremia de raiva e tinha toda razão para isso.

— Está certa... Carregarei essa culpa pela eternidade. – Meu arrependimento não mudaria minhas ações.

— Ótimo! – Dito isso ela me virou as costas e atravessou a rua que agora não representava mais perigo.

            Deveria ter ido embora também, mas não consegui. Precisava ter certeza de que ela chegaria bem em casa. A segui mantendo uma pequena distancia entre nós, conseguia ouvi-la resmungando.

            “Como ele pôde? Como ainda posso?” Não entendia o que ela queria dizer, mas duvidava que fosse algo favorável a mim. Ela entrou no orfanato batendo a porta sem olhar para trás. Fiquei parado do lado de fora encarando a porta fechada por pura teimosia, dentro de mim nutria a esperança de que ela me ouvisse. Eu sei, é pedir demais, estava colhendo o que plantei, pelo menos poderei ir embora um pouco mais leve. Torcia que um dia ela pudesse me perdoar.   


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Notas finais do capítulo

Então gente, Lizie deve ou não deve perdoar Edward?



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