De repente, você escrita por calivillas


Capítulo 12
Culpado




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Depois do almoço, cheios de preguiça, o pequeno grupo foi direto para a areia da praia, que estava quase vazia naquela hora do dia, estirando-se nas espreguiçadeiras de aluguel. À sua volta, avistavam alguns poucos casais namorando e pequenos grupos de pessoas espalhados pela longa faixa de areia branca iluminada pelo sol morno da tarde, a brisa suave refrescava a pele e o som ritmado do vai e vem das ondas aumentava a moleza.

— Vamos dar uma caminha até o outro lado da praia? – Charles propôs com todo o ânimo dos apaixonados. Sem vacilar, Joana se ergueu de imediato para acompanhá-lo.

— Eu prefiro ficar aqui, aproveitando esse solzinho de fim de tarde e ouvir umas músicas – Elisa falou, dando uma longa espreguiçada, depois, pegou seu telefone e colocando os fones de ouvido para ouvir música, querendo deixar o casal sozinho.

— Eu, também, prefiro ficar aqui. Trouxe um livro para ler – Dani declarou, tirando seu livro da mochila.

Joana olhou para irmã, suplicando para que ela se comportasse e não começasse nenhum embate com o amigo do namorado, Elisa sorriu solidária, dando de ombros. O casal se afastou, caminhando de mãos dadas na areia molhada, um tanto receoso, por deixar aqueles dois turrões, sozinhos.

Depois de algum tempo, em silêncio desconfortável e estranho, Dani parou de fingir que prestava atenção no seu livro e olhou para Elisa, que disfarçava cochilar, com os óculos escuros e escutando músicas.

— Posso fazer uma pergunta? – Dani disse, quebrando o sossego.

— Sim – Elisa tirou os fones e ergueu os olhos para vê-lo melhor, um tanto intrigada pelo que viria a seguir.

— Por que você está me tratado dessa maneira? – Dani perguntou, sem rodeios, depois de uma longa batalha consigo mesmo, se deveria fazer essa pergunta ou não.

— O quê? – Elisa fingiu que não havia entendido o que ele queria dizer.

— Eu gostaria de saber por que você está me tratando dessa maneira tão grosseira? O que eu fiz de errado para você, afinal? – ele repetiu, olhando nos olhos dela.

— Como assim? – ela interpretou dissimulada inocência, querendo que Dani desistisse de interrogá-la, pois havia prometido a irmã que não discutiria com ele.

— Você sabe muito bem do que estou falando, Elisa – ele insistiu, com a voz grave, encarando-a. Ela sustentou o olhar dele.

— Eu só não gosto de você – ela disse direto, em um tom desafiador, Dani balançou para trás, como tivesse levado um tapa na cara.

— Por quê? O que eu fiz de tão errado assim para você não gostar de mim? – Seu tom era um misto de surpresa e desilusão.

— Nada em particular contra a mim, mas o seu modo de ser. Você age como se fosse tão superior aos outros seres humanos – Elisa o provocou, não sabia o porquê estava fazendo isso, contudo, as palavras saiam da sua boca sem freio.

— Acho que você está com uma impressão muito errada de mim, Elisa. Posso não ser muito simpático, não tenho um riso fácil, não fico querendo agradar ninguém, nem me julgo melhor do qualquer um, nem exijo dos outros mais do que exijo de mim mesmo. Não sei de onde você tirou essa ideia, que eu me acho superior a qualquer um? Que eu sei, nunca fiz mal para ninguém que você conheça – Apesar de suas palavras parecerem sinceras, Elisa o instigou:

— E Leo? O que você fez com ele na escola? Isso não conta para você?

— O que você sabe? – Dani ficou pálido perante a menção de Elisa.

— Eu sei tudo! Toda a verdade! — ela falou, em um tom provocador.

— E qual é essa verdade que você conhece, Elisa? – A voz dele saiu baixa, mas firme.

— Existe mais de uma verdade? – ela quis saber, cheia de dúvidas.

— Existe, dependendo de quem a conte. O que foi que Leo contou a você, Elisa? – Agora, era ele que a desafiava.

— Ele me contou sobre o que você fez na escola, como foi perseguido e inventou calúnias até que perdesse a bolsa de estudo, que poderia lhe garantir um futuro melhor. – Ela atirou as palavras sobre Dani, que as recebia calado, mas seus olhos demonstravam dor e angústia.

— Então, essa é a história que Leo lhe contou e você acreditou em toda ela, sem pestanejar, só porque tem uma péssima ideia minha, porque acha eu sou arrogante e que me considero melhor do que todos, sem saber se era realmente verdade ou não. Você me julgou e condenou, sem ouvir a minha versão – Dani falava baixo, contendo sua raiva, agora, Elisa se sentia insegura, por talvez ter feito um julgamento precipitado, sem ter conhecimento de todos os fatos.

— Então, qual é a sua versão, Dani? – Ela perguntou com um fio de voz, arrependida por ter lhe falado aquilo, sem pensar.

— Eu não estou aqui para ser julgado, não sou um réu, nem você é a minha juíza. Talvez, eu só queria proteger outras pessoas inocentes, não revelando o que aconteceu de fato.

— Talvez, se você saísse para fora desse castelo que habita, Dani, perceberia que você não é assim tão superior – ela o incitou.

— Para quê? Se você já me condenou, não preciso mais fazer a minha defesa. Além do mais, essa história envolve acontecimentos que não gostaria de revelar para uma quase estranha como você, e que tem o hábito de formar opinião sem conhecer, completamente, tudo que está envolvido na situação. Contudo, eu só posso lhe dar um aviso, Elisa: Nunca acredite em tudo que contam a você sem ter certeza ou saber todas as versões. E cuidado com seu novo amigo Leo, você poderá ter uma tremenda decepção – A voz dele era calma e ponderada.

Elisa sentiu o seu rosto queimar, não sabia mais o que dizer naquele momento, porém, felizmente, foi salva pelo retorno de Joana e Charles, que não conseguiram ir muito longe e deixando os dois, sozinhos, por muito tempo. Os recém-chegados perceberam logo o clima ruim que pairava por ali.

— Vamos embora! – Dani comunicou, já se levantou, pegando seus objetos, rapidamente, seguindo para o carro, sem dar nenhuma explicação, deixando os outros para trás, atônitos, que sem escolha, o seguiram em silêncio.

A viagem de retorno para casa se passou em um constrangedor silêncio, a não ser pelas incursões do casal de namorados, que tentavam, inutilmente, amenizar o clima denso que pairava no ar, até que, finalmente, desistiram daquela missão impossível.

Ao parar na frente da casa das garotas, Elisa saiu apressadamente, em direção a porta, depois de uma rápida despedida, porém Joana demorou muito mais no seu adeus, com um longo beijo em Charles, enquanto um impaciente Dani olhava para frente, em direção à rua, com as mãos em garra sobre o volante. E o casal foi interrompido, quando Maria e Lídia ladearam o carro, enfiando a cabeça pelas janelas.

— E aí? Aonde vocês foram? – Lídia perguntou, sem rodeios, Joana deu um olhar reprovador a irmã, que a ignorou.

— Dar uma volta no litoral – Charles respondeu, educadamente.

— Por quê? – Maria quis saber.

— Porque a gente quis – Joana cortou, sem disfarçar a irritação.

— E a festa, Charles, quando será? – Lídia indagou, impaciente.

— Ainda não marquei uma data, Lídia. Mas, deverá ser em breve.

— Não demore muito, ouviu, Charles! – Lídia o intimou, Joana arregalou os olhos, espantada com a petulância das irmãs.

— Lídia! – ela exclamou, a meia-irmã devolveu-lhe um sorriso cínico.

— Vamos, Maria! — Lídia disse, afastando-se – A turma já deve estar no Nico. Vou poder levar a minha turma, não é, Charles?

— Claro, Lídia – Charles respondeu, desconfiado que, talvez, aquela não fosse uma boa ideia.

— Essas garotas! Desculpa! – Joana falou, sem jeito, dando um rápido beijo de despedida em Charles.

— A gente se vê depois? – Charles perguntou, cheio de esperança. Joana demorou um pouco refletindo.

— Está bem, daqui há duas horas – respondeu, ele deu um sorriso de alívio.

 

Assim que Joana saiu do carro, Dani arrancou rápido.

— O que foi aquilo na praia, Dani? – o amigo questionou, preocupado, ao notar seu rosto tenso.

— Aquela garota Elisa! Você viu como ela me tratou o dia todo? Como falou comigo? – Dani respondeu, sem dissimular o seu rancor.

— E você não está acostumado a tratarem você dessa maneira, não é, Dani? Mas, com certeza, ela foi muito grosseira. Não entendo porque ela não gosta de você, assim de graça.

— Eu perguntei isso a ela – Dani explicou, depois de respirar mais fundo e se acalmar.

— Perguntou? — Charles ficou surpreso.

— Sim, perguntei e ela, simplesmente, disse que não gostava de mim – Dani repetiu com um sorriso irônico.

— E ela deu alguma razão para isso?

— Disse que era pela minha maneira de agir arrogante, como se fosse melhor do que todos – Suas palavras estavam cheias de sarcasmo.

— Para quem não o conhece direito, você passa essa primeira impressão, Dani. Mas só por isso?

— Não. – Dani fez uma breve pausa. — Ela falou sobre o Leo e o que eu fiz para prejudicá-lo no colégio.

— Como ela soube sobre o Leo? Ela sabe toda a verdade? – Charles indagou, surpreso.

— Ela sabe a versão que Leo contou, cheia de mentiras, onde eu sou o vilão.

— E você contou a verdade para ela? – Charles indagou, erguendo as sobrancelhas, aflito com a resposta.

— Claro que não! Como posso expor minha vida para uma completa estranha! – Dani retrucou, aborrecido, principalmente, pelo o quê Elisa pensava dele.

— Então, não tem solução, ela vai continuar tendo uma ideia completamente errada de você, Dani – Charles finalizou, resignado.


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