De repente, você escrita por calivillas


Capítulo 11
Preconceito




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As garotas chegaram à praia, junto com o primo Eduardo besuntado por protetor solar nível 60, para proteger a pele muito clara e pouco acostumada com os raios do sol de verão. Carla já estava lá, sozinha e distraída e escutando música com os fones de ouvidos.

— E as crianças? – Elisa perguntou assim que viu a amiga.

— Em casa, minha mãe achou que elas não deviam vir a praia hoje, depois da chuva, porque as ondas poderiam estar muito altas. Por isso, vim para praia cedo, porque elas ficam insuportáveis, quando estão presas dentro de casa.

— Carla, esse é nosso primo Eduardo – Joana os apresentou, os dois trocaram ois e sorrisos, educados.

O mar estava bravo, mostrava toda a sua energia, com as ondas altas quebrando com força, nada convidativas, avisavam que o lugar deles era na areia, juntos com os detritos devolvidos à praia, contudo, Elisa gostava da visão dessa natureza violenta e selvagem, que lhe fazia sentir-se tão pequena e insignificante, a consciência que havia algo maior do que as meras mesquinharias do dia a dia. Logo a seguir, Charles e Dani chegaram, trazendo uma prancha de surf.

— Você surfar? – Joana, vencendo a timidez, perguntou a Dani.

— Um pouco – ele respondeu de forma educada.

— Mas não é perigoso, com o mar assim tão bravo? – Joana interrogou-o, preocupada.

— Às vezes, é necessário se arriscar um pouco. Além disso, gosto mesmo do mar, principalmente, quando ele está assim, passa uma grandeza, toda a força da natureza, incontrolável, como se a vida fosse muito maior do que as bobagens que a maioria das pessoas se preocupam – Dani filosofou, Elisa ouviu com atenção a resposta tão parecida com suas ideias.

— Deve ser difícil para você, saber que tem algo que não pode controlar, Dani – Sem se conter ou razão aparente, Elisa o provocou, a não ser a simples vontade de provocar. Ela, definitivamente, não gostava daquele jeito dele, sempre que estavam juntos, sentia algo estranho, como um certo incomodo, dando a desculpa da história contada por Leo, como ele havia sido tratado na escola por Dani, só porque era pobre.

— Não tenho tanta pretensão de poder controlar tudo, mas preciso admitir que não gosto de surpresa, não gosto de ser pego desprevenido e do inesperado – Dani respondeu de forma um tanto brusca, olhando nos olhos dela, de forma dura.

— Mesmo assim gosta de enfrentar o mar revolto? – Elisa continuou a instigá-lo, sustentando o olhar.

— Porque conheço os meus limites, sei até onde posso ir com segurança – Dani lhe espreitou com os olhos em fenda, sem saber onde ela iria chegar.

— Deve ser muito chato, prever tudo que pode acontecer, nunca testar seus limites – Elisa o atiçou.

— Porém, não preciso contar com a ajuda de outros para me salvar – Dani replicou de maneira seca, enquanto os outros assistiam aquele diálogo, em silêncio.

— Mas, é chato – Elisa insistiu, sem propósito, só fazendo isso, pelo simples prazer de aborrecê-lo.

— Então, senhorita destemida, conte-me o que faz assim de tão ousado para julgar a vida dos outros tão chata desta maneira? – ele retrucou, com um sorriso cínico.

Elisa ficou em silêncio, sem graça, não sabia o que dizer, não conseguia lembrar-se de nenhum feito tão ousado ou espontâneo.

— Vejo que a deixei sem resposta, senhorita destemida. Por isso, vou enfrentar as ondas que parecem bem mais amistosas do que algumas pessoas aqui na areia – Ela sentiu um arrepio subir por sua espinha, quando ele lhe deu um sorriso torto, pegou a prancha e correu para o mar, entrando direto na água, sem vacilar e saiu remando ao encontro das ondas.

Elisa, sem jeito, notou a atenção de todos recaía sobre ela, seus olhos cruzaram com o olhar interrogativo da amiga e ela deu de ombros, depois, voltou-se em direção ao mar, para ver Dani de pé sobre a prancha, surfando uma onda, com destreza.

— Ele é bom! – Carla comentou ao ver as manobras dele.

— Ele é mesmo! Dani é assim mesmo, quando quer uma coisa tem que ser o melhor – Charles explicou.

— Deve ser muito difícil para ele? Digo, ser assim tão exigente consigo mesmo – Carla considerou, pensativa.

— Pode ser, mas é assim que ele é – Charles retrucou.

— Elisa, sabe quem chega nesses próximos dias? Enzo – Carla informou, animada. — Enzo é o meu irmão mais velho, que estava na Itália, e Elisa tinha uma quedinha por ele.

— Não tinha! – Elisa retrucou, envergonhada pela indiscrição da amiga.

Enquanto Charles e Joana trocavam beijos, conversas e risadinhas, no seu mundo próprio, sem saber o que acontecia a sua volta, Carla exercitava sua paciência ouvindo as histórias intermináveis do primo Eduardo, Elisa ficou em silêncio, sem prestar atenção em nada do que ocorria ao seu redor, desejou ter trazido um livro para poder se distrair.  E após algumas ondas, Dani voltou para junto dos outros, atirou-se na areia, os cabelos revoltos, a expressão de satisfação, a adrenalina fazia seus olhos brilharem com intensidade, estava bonito, e Elisa teve que disfarçar para não o olhar diretamente.

— Estou cansado daqui! –Charles declarou. – E se pegássemos o carro e déssemos uma volta pelo litoral, poderemos ir a algum lugar diferente. Vocês devem conhecer outras praias além dessa, não é, garotas? – Ele quis saber.

— Na verdade, não conhecemos nada por aqui – Joana respondeu, desanimada. – Nunca saímos muito desse condomínio. Meu pai e minha madrasta não são muitos de aventuras. Mas, eu adorei a ideia! – Ela mudou de tom. — Podemos conhecer juntos. O que você acha, Elisa? – Joana deu a irmã, um olhar suplicante.

— Tudo bem  – Elisa deu de ombros.

— E vocês, Carla e Eduardo?

— Não posso, porque prometi a minha mãe que estaria em casa, na hora do almoço –Carla declinou o convite.

— Eu também prefiro não ir, não estou acostumado com tanto tempo na praia – Eduardo respondeu, cauteloso.

— Dani também irá – Charles não perguntou, apenas afirmou. – Vamos, então – determinou, já se levantando, depois estendendo a mão para ajudar Joana a se erguer.

— Para vocês que ficam, boa praia! – Joana se despediu, animada com o passeio.

Mas Dani e Elisa se levantaram deram um rápido tchau e seguiram o casal, em silêncio, sem nenhum entusiasmo, até a casa dos rapazes em frente ao mar.

— Não vamos convidar as suas irmãs? – Joana perguntou, sempre preocupada com os outros.

— Não, vamos deixá-las dormirem mais um pouco. Além disso, precisaríamos do outro carro – Charles justificou.

Ao entrarem no carro, Charles e Joana ocuparam o banco de trás e Elisa não teve outra escolha, a não ser ficar ao lado de Dani.

— Para onde vamos?  — Elisa perguntou, para começar uma conversar e quebrar o pesado silêncio entre os dois.

— Vamos ser espontâneos, iremos para onde a estrada nos levar – Dani respondeu, sarcástico.

— Assim, vamos acabar nos perdendo e não chegaremos a lugar nenhum – Elisa rebateu, desafiadora.

— Eu fiz uma rápida pesquisa pela internet, podemos usar o GPS para achar o caminho – Charles respondeu, querendo terminar com aquela disputa sem propósito.

— A tecnologia pode acabar com a espontaneidade – Dani brincou, sorrindo divertido, para surpresa de Elisa.

O GPS os levou ao primeiro destino escolhido.

— Essa é uma das praias mais populares – Charles explicou, enquanto paravam junto a orla de uma praia que se estendiam por quilômetros, cheio de gente, guarda-sóis coloridos, vendedores ambulantes.

— Acho que Dani não irá gostar muito dela – Elisa alfinetou mais uma vez, sentia a irmã a cutucar por trás. Ela olhou para trás e viu Joana erguendo as sobrancelhas, reprovadora.

— Por quê? – Dani perguntou, sem entender.

— Porque ela deve ser muito popular para você – Elisa explicou com um tom irônico.

— Eu não estou entendendo – ele respondeu, confuso.

— Você não parece gostar muito da mistura das classes sociais – Elisa esclareceu, e Dani ergueu a sobrancelha em interrogação.

— Eu acho que está praia está muito cheia! – Joana se meteu, dando sua opinião, tentando acalmar os ânimos. – Poderíamos ir para um lugar mais tranquilo. O que vocês acham?

— Acho que você está certa. Tem muita gente aqui. Tem outra praia um pouco mais adiante, bem mais calma. Podemos almoçar por lá – Charles respondeu, conciliador, não querendo prolongar o assunto. – Tudo bem para vocês?

E sem falar mais nada, Dani colocou o nome do lugar que Charles lhe dera no GPS, manobrou o carro para sair dali, seguindo em silêncio até seu destino. Chegando lá, pararam em pequeno restaurante regional, assim que ocuparam a mesa, as garotas pediram licença para ir ao banheiro.

— O que há com você, Elisa? – Joana questionou, em um tom recriminador, encarando a irmã, assim que saíram da visão dos rapazes.

— Como assim? – Elisa perguntou, com dissimulada inocência.

— Como assim?! Você está chata, não para de pegar no pé do pobre Dani desde que o viu, pela manhã – Joana reclamou – Afinal, o que ele fez a você, para trata-lo dessa maneira tão rude?

— Pobre Dani?! – rebateu, com sarcasmo — Para mim, ele não fez nada! Só não gosto daquele ar arrogante dele, como se fosse melhor que todo mundo. Ficar ao lado dele me deixa irritada.

— Olha, Elisa, mas quem está sendo arrogante e bancando a dona da verdade aqui é você. Isso está ficando muito desagradável. Estou até me arrependendo de vindo até aqui por sua causa – Joana estava muito aborrecida, poucas vezes, Elisa a viu daquela maneira e ela não gostava de aborrecer a irmã.

— Acho que você está exagerando, Joana – Elisa tentou minimizar a situação.

— Não estou não! Você está insuportável desde que encontrou com Dani. E o que ele fez para você odiar o cara tanto assim?

— Nada para mim. Mas, eu fico pensando no coitado do Leo e o que me contou que Dani fez com ele, na escola, o humilhando. Isso me deixa com muita raiva. Toda vez que o vejo sinto que algo me incomodando por dentro, quase não consigo me controlar.

— Não entendo toda essa sua implicância com ele. Por que você não pergunta a versão do Dani? Talvez, tenha sido só algum mal-entendido entre eles, nada tão grave assim para você ficar desse jeito. Você só conhece um lado da história, não pode ser tão imparcial assim, sem conhecer a versão do Dani – Joana ponderou, mais tranquila.

— Joana, você é uma boa pessoa e sempre vê o lado bom de tudo e de todos. Mas, não viu como eles se comportaram na casa de Carla, teve alguma coisa muito grave entre aquele dois.

— Então, pergunte ao Dani, antes de sair julgando e condenando – Joana insistiu com a irmã.

— Não posso, porque não é da minha conta.

— Então, se não é da sua conta, não devia tratar Dani dessa forma tão agressiva, além do mais ele é o melhor amigo de Charles e você é a minha irmã, não vê a posição delicada que você nos colocou.

— Desculpa, Joana – Elisa se sentiu envergonhada. – Prometo que não farei mais isso. Vou tratar Dani da maneira mais educada possível.

— Ótimo – Joana respirou, aliviada. – Vamos voltar para a mesa, já demoramos demais.


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