Asas Quebradas escrita por CameronDittmann


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.
Nos próximos capítulos essas notas serão usadas como um espaço pra relembrar o que aconteceu.



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Duas da madrugada. Duas horas da porcaria da madrugada. Essa é a hora que o infeliz do meu melhor amigo me avisa do concurso de poesias do festival de literatura do colégio. Tudo bem, admito que o festival tinha sido anunciado com um mês de antecedência e a importância que eu tinha dado a ele, numa escala de um a dez, era zero. Mas juro que só fiz isso porque ninguém tinha falado em concurso, e muito menos que a participação no tal concurso valia pontos. Com certeza míseros pontos extras, mas ainda assim, pontos. Olhei para o relógio um tanto incrédula, só para conferir mesmo se já estava tão tarde. Não tenho costume de ficar até a madrugada na internet conversando, mas dessa vez eu tinha um bom motivo. Eu estive doente — não uma doença qualquer, e sim uma encefalite causada por algum vírus bizarro que resolveu fazer minha cabeça de casa — e por isso passei duas semanas em um hospital, fazendo exames praticamente diários e em permanente estado de confusão mental.

Pelo menos não tenho muitas lembranças, só sei que minha cabeça doía como se estivesse pegando fogo e tenho os relatos da minha mãe para me lembrar que tive um surto antes de fazer um exame e foram necessários três enfermeiros para me segurar, o que parece um tanto surreal, já que tenho zero músculos, sou praticamente mole como uma gelatina. Depois desse tempo totalmente desligada do mundo, eu tinha que aproveitar para colocar a conversa com o Evan em dia e não chegar completamente desentendida de tudo o que tinha acontecido no colégio enquanto eu não estava lá. Mas ainda assim, por mais que a roupa brega da professora de filosofia e a entrada de um cachorro na quadra de educação física fossem assuntos importantes, custava ele ter me avisado sobre o tal concurso um pouco antes? Evan, sinceramente, você já foi melhor.


Clair diz: Cara, vou sair agora, tenho que escrever uma poesia para uma das primeiras aulas de amanhã.

Evan diz: haha, ok, vai lá então.
Desculpa aí não ter avisado antes, sério mesmo.

Clair diz: Vc vai ter sorte se eu não te bater amanhã, senhor Evan Johnson.
Fui.

[Evan está digitando]

[Clair está offline]

Desligo o computador e pego o caderno e um lápis, tentando me forçar a escrever algo. Nada vem à minha mente, ou melhor, muitas coisas vêm e vão, mas nada parece tão interessante a ponto de ser um tema de poesia. Olho o papel por alguns minutos, com a louca esperança de que magicamente as pautas azuis do papel se transformem em palavras, versos e rimas. Mas nada iria sair daquelas pautas. Céus, como eu odeio esse tipo de pressão. Tenho que escrever algo, de preferência rápido, pois estou perdendo preciosas horas de sono. Meus olhos pesam, mas a sensação de obrigação parece mantê-los presos à folha do caderno. Tento pensar em temas recorrentes de poesias famosas, só para concluir que não estou no modo de escrever nada sentimental sobre amor, solidão ou tristezas. A verdade é que estou com sono demais para conseguir escrever qualquer coisa.

Olho para o relógio mais uma vez, na esperança de ver o tempo voltar e algumas horas retrocederem, e logicamente como isso não aconteceu, desisto de escrever. Fecho o caderno e ando a passos lentos em direção ao meu quarto, já levemente irritada. Abro a porta do armário, pronta para jogar o caderno lá dentro e já penso em mil respostas enviesadas para as perguntas do professor, para quando ele resolvesse me interrogar sobre a minha não participação no festival. Confesso que isso é uma coisa ruim sobre ser uma boa aluna. Os professores e diretores tem a ilusão de que todos aqueles que tiram notas boas tem como passatempo se digladiar com os colegas de classe para ser melhor que todo mundo e subir no pedestal invisível de "mais inteligente da turma", e isso gera uma obrigação subentendida de participar de todos os torneios e concursos possíveis organizados pelo colégio. Uma vez que você não participe já ficam cheios de perguntas indiscretas, tentando saber de toda forma se algo está afetando seu rendimento. Entretanto, antes que eu pudesse formular a primeira frase nos meus pensamentos, um item em especial dentro do armário chamou minha atenção. Como eu não tinha pensado naquilo antes? Ali está minha salvação. Uma pasta. Uma pasta plástica antiga que mal parece aguentar seu conteúdo, com pontas de papel branco saindo pela tampa e pelos lados. Aquela pasta era uma das principais que estavam destinadas à incineração na fogueira do ano novo.

A fogueira do ano novo é um estranho ritual que desenvolvi com Evan: transformar papeis velhos e as apostilas do ano anterior do colégio em chamas, fazendo uma grande fogueira que dá até para assar marshmallows. Contando dessa forma, nossa brincadeira pode parecer bem estranha — talvez porque não aconteça no ano novo convencional, e sim antes de um novo ano escolar ― ou porque pessoas que não têm tendências incendiárias não tenham o costume de lidar com fogueiras anuais, mas na prática é um momento divertido que fazemos já há quatro anos e ainda ajuda a fazer espaço para as apostilas escolares do ano seguinte. Sempre fazemos isso antes de setembro, naquele período de fim de férias em que todo mundo tira uma semana para arrumar os armários e começar o colégio com tudo em ordem, mas nesse ano ainda não tivemos tempo porque o Evan tem passado todos os fins de semana e dias livres na casa da namorada, Melanie.

Mantenho minha atenção na pasta e folheio alguns papeis para me recordar do tipo de coisa que ela contém. Dou um sorriso ao perceber que ali dentro tem todo o tipo de coisa que eu já tinha tentado desenhar ou escrever. Fanfiction, poesias, histórias em quadrinhos, retratos, rascunhos aleatórios, desabafos, diários com apenas duas ou três páginas preenchidas. Qualquer coisa desse tipo, por mais velha que seja, com certeza está guardada ali.

— É isso! — comemoro em voz alta, com cuidado para não acordar a minha mãe. — Vou pegar uma poesia velha e entregar para o professor.

Agora devem ser quase três horas. Nem me dou ao trabalho de abrir a pasta para olhá-la com atenção. Mesmo sabendo que minha mochila vai pesar horrores, o que vai me render uma boa dor nas costas no fim do dia, enfio a pasta em um dos compartimentos da mochila jeans. Com certeza dá tempo de procurar uma poesia antes da aula.

***

Seis e meia da manhã, estou quase dormindo sentada na arquibancada da quadra do colégio. É raro que minhas manhãs sejam assim. Definitivamente eu não tenho costume de dormir tão tarde, e por isso acordei em um misto de medo e vontade de morrer. Medo de acidentalmente ignorar o despertador e perder a hora, e vontade de morrer só porque pessoas mortas não têm que acordar cedo para ir para o colégio. Em meio a tudo isso, o medo de perder a hora foi maior e, por ter comprado o café da manhã em uma cafeteria que fica no caminho, acabei chegando até um pouco mais cedo do que o costume. O copo de café com meu nome escrito ainda tem metade do seu conteúdo, mas do bagel com manteiga que eu havia comprado, só restou a embalagem. Esfrego os olhos e me lembro da poesia. Abro a pasta e, em meio a várias folhas de papel desenhadas, escritas ou simplesmente rasgadas, começo a analisar tudo em busca de uma poesia decente. Caramba, ler essas coisas é como viajar no tempo. É praticamente uma retrospectiva de tudo que eu vivi e criei até agora.

Passo por páginas velhas de vários diários, Rabiscos aleatórios e tentativas de desenhos, versos motivados pelos mais diversos tipos de pensamentos e contos variados. Separo uma poesia que julgo ser a melhorzinha dentre todas, e dedico meu pouco tempo restante antes de ir para a sala de aula a terminar meu café e relaxar um pouco olhando os outros papeis que estão guardados ali. Com isso, lembro que eu realmente já tinha tido a pretensão de viver produzindo arte. E a verdade é que, por mais que ainda tenha certa afinidade com o mundo artístico, não tenho mais a mínima pretensão de levar o desenho como profissão. O medo de acabar como moradora de rua vendendo aquarelas em uma calçada — ou de ser uma freelancer que vende o almoço para pagar o jantar — me fez pensar em tomar como profissão algo que ao menos financeiramente parecesse mais seguro. Se há quatro anos atrás eu pensava em viver fazendo quadrinhos, hoje almejo fazer faculdade de Biologia, meramente porque na pior das hipóteses, sempre vai existir alguém disposto a pagar por uma aula de ciências.

E até que não desenhava mal, talvez porque eu desenhasse muito, o que dava para deduzir só pela quantidade de papel que aquela e outras pastas acumulavam. Deduzi também que eu tinha a falsa ilusão de que envelopes e sacos plásticos manteriam minha papelada organizada. Só dentro daquela pasta, encontro três envelopes pardos — um com uns dois ou três retratos realistas, outro com folhas de diários de uns nove anos atrás e o último severamente fechado com durex — fora alguns sacos plásticos que guardam de papéis de carta até recortes de revistas de moda. Dentre as folhas soltas, um desenho me chama a atenção, uma garota sorridente de cabelos curtos e roupas pretas, posando com uma espada japonesa nas mãos e carregando um cachorrinho em uma bolsa a tiracolo.

Aquela era a Ninja. Uma garota que tinha um cachorro listrado e sonhava em vencer o primeiro lugar do torneio de artes marciais do país onde ela vivia. Ela tinha dois melhores amigos e iria enfrentar inimigos poderosíssimos. Meus personagens... Olhar para aquelas páginas rascunhadas me faz lembrar deles com carinho. Tenho plena consciência do meu fracasso como roteirista, pois nunca terminei uma história sequer. A história da Ninja, por exemplo, tinha não mais que vinte páginas feitas, enquanto na minha cabeça, era uma saga de mais de cem capítulos. Mas naquela época, me recusava a jogar qualquer rascunho fora pois naquela época eu ainda tinha o pensamento de que um dia continuaria aquelas histórias.

Para uma garota de quatorze anos que tinha o sonho de passar o resto da vida desenhando histórias em quadrinhos, a emoção de elaborar personagens e enredos novos sempre parecia um presságio de que aqueles personagens eram excelentes, a história da qual eles faziam parte ia ser um sucesso, eu iria ter meus trabalhos aceitos por uma editora e começar precocemente uma carreira bem-sucedida. Agora eu me pergunto onde eu estava com a cabeça quando interpretava tão mal a simples alegria de ter feito um bom trabalho, mas não vou mentir dizendo que não estou alegre em ver esses desenhos novamente. Ninja. Estela, a garota normal que virava celebridade por acidente. O garoto paranormal que tinha que impedir o apocalipse e até mesmo um gato agente secreto chamado Palosk. Ainda gosto deles. Cada um dos meus personagens tem uma importância até maior do que a de algumas pessoas com as quais convivi ou convivo.

O conteúdo do envelope fechado continua sendo uma incógnita, mas provavelmente tem mais quadrinhos incompletos. Tento abri-lo com as unhas, mas percebo que ele é mais do que um simples envelope pardo. É forrado com um plástico grosso por dentro, com certeza é uma daquelas embalagens que embrulham encomendas delicadas que chegam pelo correio. Maldito dia em que escolhi um pacote tão elaborado para guardar simples papeis velhos. Preciso de algum instrumento para abrir essa coisa. Olho à minha volta tentando identificar algum conhecido para que eu possa pedir uma tesoura ou estilete, mas nesse horário as pessoas preferem circular pelo colégio conversando com seus amigos e até mesmo comprar coisas na cantina do que simplesmente ficar sentadas na arquibancada. Ouço o sinal tocar, mas continuo no mesmo lugar, folheando meus papéis. Já estou bem mais acordada, mas ainda sem a mínima vontade de levantar ou me mexer muito.

— Bom dia, senhora Clair! — Uma voz consegue tirar o foco do que eu estou fazendo. — E aí, conseguiu escrever a poesia a tempo?

Levanto o olhar e vejo Evan com um sorriso sem graça, segurando um copo de suco de laranja com uma mão e passando a mão livre pelos cabelos. Se minha vida fosse um livro e um capítulo fosse dedicado aos meus amigos, ele seria praticamente sobre uma pessoa só. Não sou aquela pessoa que costuma ficar excluída no canto mais distante do fundo da sala sem falar com ninguém, mas reconheço que apesar de contar com muitos colegas e conhecidos, de amigo mesmo só tenho o Evan. O garoto de olhos verdes e cachinhos loiros que conheço há mais ou menos quatro anos. Apesar disso, ignoro momentaneamente o cumprimento dele e começo a juntar minhas coisas para me dirigir à sala de aula.

— Lógico que não — falo em um tom falso de irritação — Catei um troço velho no armário e ai do professor se não aceitar. E ai de você também, não vou te dar confiança. Ainda não desculpei esse aviso em cima da hora.

Visivelmente sem graça, ele riu com a minha ameaça. Ele sabe que eu não vou com a cara do professor de literatura, e não é só por pura implicância. Aquele cara não dá uma aula direito. Aliás, sempre me perguntei se ele realmente é capacitado para ser professor de literatura, porque durante todas as aulas ele deixa claro que antes de vir lecionar nesse colégio, era professor de teatro. E tenho quase certeza que é por isso que a turma toda está aprendendo mais sobre teatro do que literatura. Fora as vezes em que ele acaba contando casos da vida dele que nada nos acrescentam, tipo a vez em que os ex-alunos de teatro pagaram para ele uma viagem de uma semana a bordo de um cruzeiro como prova de eterno agradecimento por terem tido um professor tão maravilhoso. Talvez ele conte isso em uma tentativa de nos convencer a fazer o mesmo, mas tenho certeza de que se a turma fosse pagar uma viagem com base na satisfação de tê-lo como professor, talvez não cotizasse o valor de uma passagem de ônibus. Ninguém da classe está satisfeito com ele, mas especialmente em mim, essas indiretas causam bastante irritação. Por causa disso, quase sempre a aula é pontuada por meus breves e sarcásticos comentários depois de cada sessão de coisas inúteis que ele conta.

— E você, fez a sua poesia? — pergunto ao Evan, tentando manter um tom de voz seco.

—Fiz sim, mas é algo só para constar que fiz mesmo, sabe? Só por aquele pontinho de participação, sem intenção de ganhar nada no concurso. Olha, mas o Rob me mostrou a dele... Você precisa ver. Ele inventou de escrever sobre física e... Enfim, você imagina o que saiu. — Evan tenta desconversar e se controla para não rir ao citar a poesia do amigo.

Não respondo. Apenas olho para ele e levanto as sobrancelhas, como quem diz "e daí?"

— Sério, Clair... A poesia dele tinha uma parte que era assim: "Newton diz: será que sou feliz?" — diz ele forçando a rima na frase, pronunciando o nome do cientista como se fosse "New-tôn".

Estamos subindo as escadas para o segundo andar do colégio. Quando Evan termina sua frase, paro de caminhar. Rob é o melhor amigo dele, e estuda na mesma turma que nós dois. Rob é bem conhecido pela abundância de músculos e pela falta de noção, o que sempre rende algum momento cômico que anima as aulas. Para quem tem a intenção de fazer faculdade de engenharia, Rob conhece mais sobre academia e suplementos alimentares do que sobre o que vai fazer na futura profissão. Ainda parada, olho para Evan. Não consigo manter a irritação aparente, começo a rir ao pensar na poesia ruim, em Rob, e em como eu sou uma má atriz. Meu amigo já parecia saber que toda a minha irritação era fingimento, e começa a rir também. Entramos na sala gargalhando. A aula está prestes a começar.

***

Um tempo de matemática, um de literatura e um de gramática. Isso tudo é o que temos que aguentar até o tão esperado intervalo. Estranhamente, hoje todos os tempos de aula estão sendo tranquilos demais, cheios de revisões das matérias e até mesmo sem nenhuma indireta ou casinho bobo do professor de literatura. Por mais que tudo esteja normal, já não aguento mais esperar. Assim que o sinal toca, corro para a cantina para tentar não pegar uma fila grande demais. Graças à minha pressa, sou logo atendida. Compro um hambúrguer e, ao contrário dos outros estudantes que aproveitam o intervalo para ficar pela quadra, jogando vôlei, futebol, ou simplesmente conversando, volto para a sala de aula. Lá é o único lugar sossegado o bastante para eu poder continuar a ver meus papeis antigos. Entrando na sala, vejo que Evan ainda está lá. Como sempre, ele me espera chegar com meu lanche para pedir um pedaço, e só assim comprar o dele.

— Não estou irritada com você, mas ainda assim você hoje está de castigo. — Me esquivo de Evan antes dele falar qualquer palavra. — Pode ir lá embaixo e comprar o seu.

Ele logo se dirige ás escadas, reclamando baixo em um tom bem-humorado. Fecho a porta da sala e pego novamente minha velha pasta. Aproveitando que ele não está, vasculho um dos bolsos da mochila do meu amigo até encontrar uma tesoura. Corto um lado do envelope de papel e viro o conteúdo sobre a minha mesa. Fico surpresa quando percebo o que estava guardado ali por todo esse tempo. Minha última história em quadrinhos, praticamente a última coisa que eu tinha desenhado, há uns bons anos atrás. "Broken wings", dizia o título escrito em letras rebuscadas na capa improvisada, feita a grafite. Começo a folhear. Me lembro de ter criado os personagens e o enredo à moda dos seriados policiais, que na época eram a minha paixão.

"Um crime perturbador havia ocorrido na cidade turística de Newbridge. O corpo de Victoria Hall, uma jovem de 16 anos, havia sido encontrado em uma praça. Quem olhasse sem atenção, poderia jurar que a jovem de cabelos cuidadosamente penteados estava viva, apenas sentada em um dos bancos apreciando a paisagem. Mas ao examinarem o corpo, uma surpresa macabra havia sido descoberta: em vez de coração, Victoria trazia um pássaro em suas entranhas. Para a surpresa de todos, o animal não estava morto, apenas imóvel, com as asas quebradas.
Os detetives da divisão de homicídios, sob o comando da sargento Dahlia Brandt, estava ali para solucionar o caso. Mas tudo parecia ficar cada vez mais difícil quando novos desaparecimentos ocorriam, e pareciam estar ligados ao primeiro crime."

Talvez em termos de criar cenários para as minhas histórias, eu nunca tenha sido boa. A própria cidade fictícia não passa de uma mera cópia de onde eu vivo, com praia em vez de lagoas. Nem o nome eu me dei ao trabalho de mudar muito — Woodbridge, Newbridge, no fim são todas pontes, não é mesmo? ― E ao folhear algumas páginas, percebi que eu incluía as pessoas do meu cotidiano nos quadrinhos sem hesitar. Minha vizinha gorda aparece na primeira página atendendo um telefone, o professor baixinho de física aparece em um parque, a cafeteria em que eu havia comprado o café também era onde meus policiais compravam comida nas horas vagas. Até as casas e apartamentos eram reais, desenhados com um tanto de observação e outro tanto de imaginação, apenas com números e nomes de bairros mudados. Depois disso percebo que meus desenhos não são ― ou melhor, não eram ― ruins. Posso ter parado há um bom tempo, mas ainda sei que o maior desafio do desenhista é transpor a imagem da sua imaginação para o papel. Ouço a porta abrir e vejo Evan chegando com seu lanche.

— Olha, olha o que eu achei! — Mal espero ele se sentar e entrego pra ele os esboços que estou vendo.

— Wow, de onde você desenterrou isso? É aquela sua história policial, não é? ― Evan folheia rapidamente as páginas apesar de estar segurando ao mesmo tempo um sanduíche e uma lata de refrigerante. ― E se eu não me engano... esse aqui é o cara de quem você mais gostava.

Ele coloca os papeis novamente sobre a minha mesa e identifico rapidamente a que personagem o Evan se referia. Com um sorriso, tiro a página de dentro do plástico para conseguir ver melhor.


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Notas finais do capítulo

No Spirit, a história já tem alguns capítulos postados, então a atualização por aqui vai ser mais rápida até os capítulos já prontos acabarem.

Depois disso os capítulos vão se atualizar mensalmente.



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