Além do Espelho escrita por Moon


Capítulo 9
O mundo dos sonhos


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores
Faz tempo que eu não posto mas estou aqui, em plena quinta feira chuvosa postando para vocês. Perdoem-me o atraso.
Espero que gostem do capítulo.



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“Senhor Marcos, acho que tenho atravessado espelhos enquanto durmo” foi a primeira coisa que Charlie dissera ao entrar no carro. Nenhum “bom dia”, nem um “olá”. Apenas isso. Marcos teria achado uma grandíssima falta de educação se não tivesse visto o rosto da menina imediatamente. Parecia mais aflito que no dia anterior, quando ela tinha contado sobre toda a situação, coisa que podia ter acontecido à semanas. Mas o que ela havia dito era impossível. Atravessar espelhos era uma atividade que requeria muito exercício mental, não era algo que poderia ser feito dormindo, mesmo que a pessoa em questão fosse sonâmbula. Mas essa não era a única explicação possível para o que tinha acontecido.

—Bom dia para você também, Charlotte. –Respondeu o senhor, um pouco mal humorado. –Vejo que a sua noite não foi das mais normais, pela sua reação ao chegar aqui. Quando chegarmos à loja, quero que me conte tudo.

—Perdoe-me pela falta de educação. Bom dia, Marcos. Bom dia, Heitor. Como vocês estão?- Perguntou a menina, ouvindo como resposta um simples “bem”. –Não foi a minha intenção parecer mal educada ou qualquer coisa assim, mas eu estou realmente confusa com tudo que aconteceu essa noite. Foi como o primeiro sonho que eu tive, mas uma pessoa conversava comigo, e me dizia que era um Atravessador também, e que me reconheceu pelo meu modo estranho de agir em meio a uma época diferente. Começou parecendo um sonho normal, mas depois...

—Você pode deixar para dar os detalhes com calma quando chegarmos ao meu escritório. Mas uma pergunta: Você sofre de sonambulismo?

—Não que eu saiba, mas não acho que seja impossível.

—Tudo bem então.

O resto da viagem seguiu-se silenciosa, o que fazia Charlie ficar cada vez mais ansiosa para poder entender o que realmente estava acontecendo, isso se Marcos pudesse explica-la isso. Ele parecia bem confuso também, do jeito que nunca parecera antes, e isso assustava Charlie. O tempo estava correndo, e quanto mais tempo sua mãe passava fora de sua realidade, maiores as chances de acontecer algo ruim a ela, coisa que a menina esperava que ainda não tivesse acontecido com sua mãe. Quinze minutos depois, chegaram à vidraçaria, que havia acabado de abrir as portas e agora parecia muito mais atrativa e aconchegante que na primeira vez em que as meninas haviam adentrado. Subiram as escadas, em direção ao escritório de Marcos, e Jonas já os aguardava sentado em uma das poltronas.

—Bom dia –Disse ele. –Dormiram bem?

Aquela pergunta pareceu um tanto irônica para Charlie, por conta da noite que havia passado, mas de modo algum teria como ele saber o que havia acontecido... a menos que tenha acontecido com ele também.

—Não muito, e você? – Respondeu Charlie.

—Sonhos estranhos, como sempre. Nada fora do comum. Sonhei que estava dentro do Titanic enquanto ele afundava, tentando desesperadamente encontrar um espelho por onde pudesse voltar para cá. Aí eu não achava, morria e ficava sendo arremessado de um lado para o outro pelas correntes marítimas pensando “por que eu voltei para ver se Jack e Rose realmente existiam?” Foi bem idiota – Completou o menino.

—Realmente –Disseram Charlie e Alice, em uníssono.

Então, Marcos sentou em sua poltrona de couro por trás de sua mesa de madeira maciça, parecendo bastante preocupado, e pediu para que Charlie contasse o que havia ocorrido.

Enquanto Charlie falava, ela parava para pensar em várias coisas que teria gostado de fazer antes de ter acordado de fato. Por exemplo, perguntar o nome do jovem que a havia ajudado. Odiava não saber o nome das pessoas, e sem ele, não teria durado muito tempo por lá. Então, lembrou-se que tudo tinha sido apenas um sonho, e que pessoas não podem simplesmente morrer ou sentir dor física ou qualquer coisa desse modo em sonhos, a não ser que essa coisa esteja acontecendo com seu corpo também na vida real. Pelo menos, era assim que Charlie pensava.

Quando acabou de contar mais uma vez sobre seu sonho, incluindo três vezes o fato de que ele parecia muito mais real que um sonho comum, Marcos parecia mais preocupado que quando buscara as meninas em casa. Aquilo parecia estar ser muito mais sério que Charlie havia pensado a princípio, o que, na condição atual em que sua vida se encontrava, não era nada bom.

Marcos começou a falar sobre o que tinha acontecido.

—Bem, isso é muito mais preocupante que um sonho comum, eu presumo. Você não estava atravessando espelhos enquanto dormia, Charlie. Seria bom se esse fosse só um caso de sonambulismo qualquer. A solução seria simplesmente amarrar você na cama e só soltá-la pela manhã –Disse o senhor, sorrindo pouco entre sua barba. –Mas aparentemente as coisas não podem ser muito simples no seu caso, sim? Vou tentar ser o mais claro possível ao explicar isso.

O homem levantou de sua cadeira e abriu espaço em sua parede, cuja pintura imitava um quadro negro. Pegou um giz e virou-se de volta na direção do quadro

—O mundo real, ou presente –Disse ele, desenhando uma linha horizontal no meio do quadro –É apenas uma das quatro dimensões em que se pode alcançar quando se é um viajante. As outras três são o mundo passado, que é história e teoricamente não pode ou deve ser mudado, -Desenhou mais uma linha, sob a linha que representava o presente – O mundo futuro, que não pode ser visitado fisicamente por ninguém – Desenhou outra linha, dessa vez sobre a linha do presente. – E o mundo dos sonhos. – Enquanto falava, desenhou uma linha diagonal que cortava todas as três linhas anteriores. – Que pode ser visitado como você fez, às vezes, apenas indo dormir.

A expressão de surpresa de Charlie foi percebida por todos os presentes na pequena sala. Realmente, a preocupação de Marcos era justificável, aquela experiência poderia ter sido muito pior sem a presença do estranho que a “salvou”.

—O mundo dos Sonhos –Continuou ele –É como um espelho da realidade, onde suas ações não interferem na história real, mas sim na história de lá. É como se você imaginasse “bem, como seria o mundo se Hitler nunca tivesse subido ao poder?” e então simplesmente tivesse voltado no tempo e tentado impedir. Você pode fazer qualquer coisa que seria possível na ida real, lá, sem alterar a vida real propriamente dita. Como eu disse antes, a história já está escrita e não deve ser mudada. Mas no mundo dos sonhos, você pode fazer qualquer coisa. Você pode até “ver o futuro”, ou os eventos que podem vir a acontecer em breve, se for muito bom em atravessar  espelhos. Claro, que eles podem não acontecer também, mas nunca se sabe. A questão é que esse é um meio realmente excelente de encontrar a sua mãe, se não fosse por um pequeno detalhe.

Charlie, na expectativa do que estava por vir, curvou-se em sua cadeira.

—Se você morrer no sonho, nunca mais acorda.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo. A escola voltou com tudo, então, ultimamente eu estou com mil coisas pra fazer, mas estou fazendo o possível para continuar a história, para vocês.
Obrigado por terem lido até aqui c:
Boa semana a todos.



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