Além do Espelho escrita por Moon


Capítulo 16
A garota Careca


Notas iniciais do capítulo

OI GENTY
Eu passei um mês sem vir aqui porque... bem, aconteceu muita coisa, mas eu não morri nem peguei nenhuma doença terminal, então quero dizer que tá tudo bem e tal. Desculpa por fazer vocês esperarem tanto por esse capítulo, mas escrever sobre a Alice é muuuito difícil, então eu tentei fazer o meu melhor. Muito obrigado por não terem desistido de mim.
Espero que gostem do capítulo!



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“Quando tudo havia mudado? “ era a pergunta que Alice fazia a si mesma, toda vez que via Charlie saltitando em sua direção todos os dias às sete horas da manhã. Às vezes um pouco mais tarde, pois sua amiga costumava se atrasar, mas sempre saltitante. Sempre feliz, alegre, extrovertida. O contrário de tudo que Alice era no momento em que conheceu a garota. Hoje parece difícil de acreditar, mas quando se conheceram, as duas simplesmente não suportavam uma à outra. Já quase saíram no tapa umas três vezes antes de descobrirem que elas poderiam ser a melhor companhia uma para a outra. Coisas totalmente normais para pré-adolescentes, ela achava. Mas ainda assim, brigar por motivos tão idiotas como os delas era bobagem.

Quando criança, Alice vivia doente. Seus pais demoraram bastante a descobrir porque ela costumava ficar doente com tanta facilidade, e um dia receberam a notícia de que sua filha, com quatro anos na época, portava o vírus HIV. Alice nasceu de um parto muito complicado, e sua mãe precisou receber transfusões de sangue. Por portar sangue O-, o tipo mais raro de sangue, ela precisou receber doações de urgência, que não puderam ser muito bem analisadas. Como resultado, a mãe de Alice contraiu HIV, que sofreu uma mutação rara em seu corpo para uma forma mais branda, e passou para Alice por meio da amamentação. Desde então, Alice teve ainda muitas infecções, e passou a ser cuidada de maneira muito mais caprichosa por seus pais.

Ela chegou relativamente perto da morte muitas vezes, faltava às aulas e não tinha muitos amigos, já que tinha aparência de quem vivia dentro de um hospital. Sua pele era muitíssimo branca, e seus olhos eram fundos, como se ela nunca tivesse dormido bem em toda a sua vida. Com o tempo ela se tornou solitária e levemente antissocial. Os livros, principalmente de fantasia, eram sua melhor companhia e, por muito tempo, ela viveu assim. Um dia, ela sentou num cantinho do pátio da escola e começou a ler O Pequeno Príncipe. Todos estavam ignorando a presença dela ali, até que Charlie, com seus 12 anos, foi falar com ela.

—Meus pais me deram esse livro de presente quando eu era menor. –Alice levantou a cabeça para olhar a menina. – Ele é muito legal, você não acha?

Alice abaixou  a cabeça novamente e fingiu que estava lendo novamente.

—Não é muito educado deixar as pessoas falando sozinhas, sabia?

Alice não respondeu.

—Tudo bem então, vou deixar você em paz. Mas não garanto que não vou voltar aqui novamente.

Alice terminou o livro no mesmo dia. Já havia lido várias vezes, mas seus pais estavam com alguns problemas financeiros por causa da doença das duas, então ela estava tentando não pedir muitas coisas porque sabia que eles não poderiam comprar. Por isso, sempre lia os mesmos livros um monte de vezes. No dia seguinte, Alice voltou para o mesmo cantinho, mas dessa vez havia recomeçado O Sobrinho do Mago. Novamente, estava relendo um livro antigo, quando a mesma menina do dia anterior foi até ela de novo.

— Você já está mais disposta a me responder hoje?

—O que você quer? –Disse a pequena Alice, franzindo a testa.

—Bom, eu só queria conversar com você sobre livros. Não sei se você percebeu, mas você é uma das poucas pessoas dessa escola que gosta de ler. Os outros são maiores e bobos, não gostam de conversar comigo porque “sou uma criança” –Charlie imitou o jeito que os adolescentes falavam com ela. –Então eu pensei que poderia vir aqui falar com você, porque você parecia ser uma pessoa legal, mas acho que me enganei.

Alice apenas levantou uma sobrancelha e enterrou o rosto de volta em seu livro. Charlie resolveu deixar a menina sozinha, como havia feito no dia anterior. Depois de uma semana tentando conversar com Alice, Charlie apenas desistiu de tentar. Na segunda feira seguinte, sentou em uma mesa sozinha e como sempre, começou a ler um livro. Estava bem entretida, até que sentiu alguém sentando do seu lado. Era a menina com quem ela tinha tentado falar a semana inteira. Ela ficou alguns minutos quieta, mas então resolveu começar a falar.

—Olá, meu nome é Alice. –Disse a menina, um pouco constrangida. –Eu não falei com você antes porque achei que poderia ser algum tipo de brincadeira de mal gosto. As pessoas daqui costumam fazer isso comigo, mas eu falei com meus pais e eles disseram que provavelmente não ia acontecer nada ruim. Então, desculpa por não ter falado com você antes.

—Você fala de um jeito tão bonito –Disse Charlie, com os olhos brilhando. Alice a olhou como se ela fosse um Alien.

—Você tem algum problema? Que tipo de elogio é esse? –Alice perguntou.

—Só achei melhor elogiar seu modo de falar que algo superficial como a sua beleza. Minha mãe me ensinou isso ­­–Disse Charlie, mexendo a cabeça afirmativamente, muito satisfeita consigo mesma.

—Acho que ela estava certa. Bem, voltando ao assunto, foi por isso que eu não falei com você. Você só parecia ser igual a todas as outras meninas que ficam me maltratando ou algo assim. Estou bem feliz por você não ser como elas.

Assim que acabou de falar, o sinal tocou, o que significava que o recreio havia acabado. As novas futuras melhores amigas se despediram, e foram cada uma pra sua sala.  Alice era um ano mais velha que Charlotte e por isso elas ficavam em turmas diferentes. No caminho de volta para sua sala, Charlie ficou se perguntando sobre o porquê de as pessoas tratarem Alice de modo tão diferente como ela dissera.

Afinal, a menina só não tinha cabelo.

...

Alice saiu de seu devaneio ao ouvir Charlotte gritando do outro lado da rua, como costumava fazer. A menina vivia reclamando com sua amiga, dizendo que aquilo fazia todos pensarem que elas eram duas malucas, mas ela sempre a ignorava. Naquele momento, tudo que Alice sentiu ao ouvir sua amiga gritando sem estar com a voz totalmente enraivecida foi alegria. Só um pouquinho, bem lá no fundo, mas certamente era alegria. Charlie trazia um pequeno sorriso em seu rosto, o que fez Alice querer sorrir também. Observou sua amiga atravessar a rua, mas ela não trazia mais aquele sorriso no rosto, nem parecia contente (ela sempre fazia tudo como se estivesse muito contente), o que deixou Alice preocupada. Quando as amigas se entreolharam, uma tensão estranha se instalou no ar.

 –Então... –Começou Charlie, meio sem jeito –Acho que eu te devo um pedido de desculpas e um lanche de graça.

—Parece bom... –Respondeu Alice. Um olhar esperançoso tomou conta de Charlie. ­–para o começo. –Charlie fez um muxoxo. – Mas com o tempo talvez você consiga me reconquistar. Por enquanto você pode me contar o que aconteceu, por exemplo.

—Meu pai me ligou –Disse Charlie enquanto abria a porta da sala de sua casa. –E eu falei umas verdades pra ele.

—Nossa, que rebelde. –Respondeu Alice. –Mas você conseguiu descobrir algo, pelo menos? Pela sua cara não parece ter sido uma conversa muito legal, mesmo da parte dele.

—Descobri que minha mãe foi sequestrada. – Os olhos de Alice se arregalaram. –E que ele não fez nada pra impedir. Não tinha como ser uma conversa amigável, eu acho.

—Ok, realmente. Não sei o que faria na sua situação, mas eu devo poder te ajudar em alguma coisa. Então, o que eu posso fazer.

Charlie deu um olhar travesso para sua amiga.

—Vamos quebrar algumas regras. Talvez muitas.

—Você está ficando cada vez mais rebelde, o que tá acontecendo com você, amiga? –Disse Alice, rindo.

—Ah, não sei. Talvez seja a adolescência finalmente batendo à minha porta.


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Notas finais do capítulo

MUXOXO - substantivo masculino
1.B ato ou efeito de tocar levemente com os lábios; demonstração de afeto; beijo, carícia.
2.B estalo que se dá com a língua e os lábios, à semelhança de um beijo, para mostrar desdém ou pouco caso em relação a pessoa ou coisa.
Eu leio de verdade faz bem uns 10 anos e eu nunca tinha pesquisado o que significa essa palavra por pura preguiça. Então, pra facilitar a vida de vocês e trazer-lhes uma informação muitíssimo valiosa, eu deixo aqui a definição dessa incrível palavra da nossa amada e querida Língua Portuguesa.
Até o próximo capítulo ^^



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