Além do Espelho escrita por Moon


Capítulo 15
Memórias


Notas iniciais do capítulo

APRESENTO-LHES MINHA OBRA PRIMA DE MAIS DE TRÊS MIL PALAVRAS!!!!!
Eu pretendia postar esse capítulo no primeiro de Abril, mas por motivos de falta de criatividade e desejo extremo de escrever um capítulo decente, eu só acabei ele hoje. À aproximadamente dois minutos, na verdade.
Bem, sobre o capítulo: Ele é tipo um filler, mas é um filler importante. Espero que tenha ficado tão bom quanto eu acho que ficou.
Espero que vocês gostem ^^



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O dia de Leonardo havia sido difícil. Ele sentia-se culpado pelo que tinha feito, mas julgou que aquilo era o melhor que poderia fazer naquela situação. Deixar a esposa dele nas mãos daqueles homens desconhecidos nunca seria uma opção, a não ser que a vida dela e de Charlotte estivesse em risco e infelizmente, a situação era exatamente essa. Quando tudo isso começou, ele ficou temeroso de que algo pudesse acontecer à ele e à Noemi, mas ela garantiu que era uma ótima Viajante e que, além disso, nunca arrumava briga com ninguém. A coisa que ela mais gostava de fazer era ajudar as pessoas. Tudo estava indo muito bem, eles estavam casados há vinte e dois anos e nada realmente ruim tinha acontecido, até aquele momento.

Charlotte havia entrado em contato com ele mais cedo, mas as coisas não aconteceram exatamente do jeito que ele queria. Noemi era dedicada às pessoas, sempre sendo bondosa e tentando ajudar, mas sempre abusando do bom senso também. Essa era uma das coisas que ele mais adorava em sua esposa. Ela levava realmente à sério aquela história de que tudo em excesso faz mal. Aparentemente, Charlotte não sabia disso, ou estava disposta à ignorar esse fato, se isso fosse necessário para salvar sua mãe. Leonardo devaneou sobre quais seriam os sentimentos da filha sobre ele nesse momento, e se algum dia ela voltaria a trata-lo como o pai que ela amava tanto. Mas alguma coisa dentro dele dizia que não.

Deitou-se na cama do hotel e tentou tirar tudo aquilo da cabeça. A culpa pesava uma tonelada sobre seus ombros, e tudo que ele queria fazer era voltar e ajudar a filha, mas ele não tinha coragem o suficiente para isso. Ele era completamente oposto ao que Noemi era. E ela era simplesmente espetacular. Era a mulher mais incrível que ele tivera a sorte de conhecer, e a única que havia correspondido ao seu amor em todos aqueles anos. A única que lhe deu a mão, coisa que nunca mais poderia fazer, e tudo por culpa dele.

...

Leonardo havia acabado de passar para a faculdade de Engenharia. Ele estava felicíssimo, e seus pais mal podiam se conter de tanto orgulho do filho. Único, aliás. Mimado do melhor jeito que seus pais puderam fazer, o que não havia sido lá grande coisa, mas ainda muito mais que algumas pessoas poderiam ter. E junto com todos esses mimos, viera a superproteção. Ele dava graças à Deus por ter entrado para uma faculdade tão longe de casa, onde, pelo menos teoricamente, poderia aproveitar sua vida de jovem plenamente. Não havia possibilidade de ele ir para a escola e voltar para casa depois, dada a enorme distância entre as duas. Tudo planejado nos mínimos detalhes. Mas tudo que seus pais viram quando ele conseguiu aquela vaga foi a possibilidade de seu filho cursar o que sempre quis em uma das melhores faculdades do país.

No primeiro mês de aulas, ele já havia alugado um apartamento relativamente próximo à sua faculdade, que seus pais pagariam até ele conseguir algum tipo de estágio. Ele tinha apenas dezoito anos e morava sozinho, sem cobrança alguma de seus pais sobre nada, sem aquela proteção exagerada o tempo todo sobre ele. Era o que qualquer pessoa daquela idade desejaria, e ele sentia-se muito sortudo por conseguir. Sempre quisera cursar a faculdade de Engenharia Aeronáutica, um curso extremamente desafiador, do jeito que ele gostava, e conseguir isso tão jovem seria considerado um milagre, caso o menino não tivesse passado os últimos três anos de sua vida dedicando-se à estudar para aquilo, mas finalmente seu esforço teria valido à pena. Um dia, seus professores marcaram uma saída de campo: Eles iriam até uma das bases aéreas da FAB (Força Aérea Brasileira), para ver de perto o dia a dia de engenheiros já formados, atuando especificamente em sua área. Todos de sua turma estavam especialmente ansiosos, mas ele estava muito mais. Ao pisar naquele local, com todas aquelas aeronaves em volta dele, sentia-se incrível. Projetar uma máquina tão complexa que seria capaz de cruzar os ares era uma ideia fascinante.

— Coronel Gonçalves se apresentando. –A voz grossa e autoritária tirou Leonardo de seus devaneios. Aparentemente, sua turma estava ouvindo algo sobre como era o dia a dia de engenheiros e pilotos de aeronaves. – Eu sou o supervisor responsável pelos pilotos desta base há mais de vinte anos. É um trabalho árduo, mas nunca houveram incidentes muito graves nessa área, pelo menos não sob minha supervisão. Agora, deixo vocês sob os cuidados da Tentente Barbosa.

Uma mulher alta, aparentando ter cerca de 20 anos estava caminhando na direção do Coronel. Ela se apresentou como piloto de avião. Leonardo nunca pensaria em ver uma cena como aquela. Quando alguém imaginaria que, em 1993, haveria uma mulher negra ocupando um lugar tão alto na hierarquia militar? Ele nunca confiaria em uma mulher para pilotar algo que ele tinha projetado, muito menos com ele dentro. Aquilo era totalmente impensável.

— Boa tarde. Vocês, como engenheiros aeroespaciais, devem conhecer muito bem essas máquinas, mas eu infelizmente não posso deixar nenhum de vocês no comando delas, pois não têm licença para pilotar. Não sei se alguém aqui se interessaria em não só projetar aviões, mas eu recomendo muitíssimo. É uma sensação totalmente prazerosa. Alguém aqui tem medo de altura?

Algumas mãos tímidas se levantaram no meio da aglomeração de alunos.

— Então recomendo que não olhem pela janela. Por favor, me acompanhem. Vamos voar.

Alguns dos amigos de classe de Leonardo recuaram. Outros olharam para a Tenente como se ela tivesse falado absurdos. Voar? Com uma mulher pilotando? Aquilo era totalmente impensável, mas o professor que tinha os levado à visita de campo parecia satisfeito, e nem um pouco assustado, como os outros alunos. Para ele, aquilo parecia totalmente normal, até mesmo aceitável.

— Bem, eu devo dizer –Começou o professor, devido à inquietação da turma – Que ninguém é obrigado a entrar no avião. É totalmente compreensível que alguns de vocês possam ter traumas de infância ou algo assim com altura, e eu jamais os obrigaria a fazer algo que prejudica vocês de algum modo. Então, se alguém não quiser entrar no avião exclusivamente por motivos de acrofobia, pode ficar aguardando aqui, em terra firme, até que voltemos. Caso contrário, todos deverão entrar no avião.

O jeito como o professor enfatizou que só as pessoas que realmente tivessem medo de altura poderiam ficar em terra foi extremamente irritante para a maioria dos alunos que estavam presentes.

“Ninguém deveria ser obrigado a fazer algo que não quer” — Pensou. “Quaisquer sejam seus motivos.”— Mas mesmo emburrado como uma criancinha, ele entrou no avião. Aquela mulher estava realmente subindo no avião e checando dados no painel. Aquilo deveria ser impossível.

— Bem, parece que ninguém aqui tem medo de avião, não é? – Ninguém respondeu. – Espero que não estejam temendo outras coisas também. Essa aeronave é equipada com os sistemas de segurança mais recentes, então vocês não tem nada a temer. Em caso de turbulência, peço que vocês tentem ao máximo não entrar em pânico, e respirar nos saquinhos que irão cair sobre suas cabeças caso isso aconteça, o que é extremamente improvável. Então é só todos vocês ficarem quietinhos nos seus lugares que tudo ocorrerá bem.

Novamente, ninguém da turma respondeu. Claramente estavam todos pensando a mesma coisa que Leonardo: É totalmente impossível que deixem uma mulher pilotar um avião. Ainda mais sendo negra. Ela esperou todos se arrumarem em seus assentos e foi para o seu próprio lugar, na cabine de comando, lado esquerdo. Sem dúvida alguma, ela era mesmo piloto daquele avião. Começou a falar com a torre de comando pelo seu rádio, pedindo permissão para decolar. Aparentemente, a permissão foi concedida.

Ela puxou o manete para mais perto de si. Tinha mantido a porta da cabine aberta, para que os alunos pudessem vê-la em atividade. O avião içou voo tão levemente que nenhum tipo de trepidação foi sentida por nenhum dos passageiros. Tudo que se ouvia eram os suspiros dos alunos, vendo o avião ganhar altitude como se estivessem apenas flutuando pelas nuvens. E uma mulher estava fazendo aquilo. Ela tinha a ajuda  do copiloto, como qualquer pessoa, mas boa parte daquela operação extremamente complicada era efetuada apenas por ela.

Leonardo nunca pensou que uma mulher fosse capaz de tanto. Seus pais, incrivelmente cuidadosos, eram também muito conservadores. Acreditavam que mulheres “civilizadas” ou “decentes” não deveriam ter empregos. Caso seus pais vissem aquela cena, com uma mulher rodeada de tantos homens, certamente comentariam sobre aquilo durante toda a semana, e não seria de um jeito bom. Mulheres deveriam ficar cuidando da casa e dos filhos, enquanto só os homens deveriam se arriscar na vida profissional. Ele não queria admitir, mas a Tenente Barbosa era incrivelmente corajosa.

Assim que o voo acabou, todos saíram do avião e pareciam espantados com toda aquela situação e por outras coisas mais, como por exemplo o avião não ter caído. Leonardo sentia-se um pouco mal por ter achado que características meramente físicas poderiam alterar a capacidade ou habilidade de alguém fazer algo.

— Bem, eu espero que o voo tenha sido suficientemente satisfatório para todos os presentes. Eu creio que alguns de vocês devem estar pensando sobre eu ser uma mulher e ocupar um cargo tão alto em uma carreira militar. – Ela andava de um lado para o outro – Eu quero que vocês desde já saibam que ninguém é melhor que ninguém por causa da cor ou do sexo. O seu sucesso depende unicamente da sua dedicação. Infelizmente, não há nenhuma mulher na turma de vocês, e isso é causado unicamente pelo machismo. Vocês cresceram vendo suas mães ou irmãs fazendo somente coisas de casa, mas elas não são capazes de fazer só isso. Eu peço por favor para que, se um dia vocês vierem a casar, não impeçam suas esposas de viverem seus sonhos profissionais. Muito obrigada pela atenção de todos. Tenham uma boa tarde.

Ninguém aplaudiu. O professor olhava para ela com um tom de orgulho quase que imperceptível, mas existente. A expressão dos colegas de classe de Leonardo variava entre o nojo e a inspiração. Depois daquele dia, Leonardo prometeu para si mesmo que tentaria ao máximo não julgar pessoas pelo seu sexo, ou mesmo pela sua cor.

...

Dois anos depois desse evento, quando Leonardo estava cursando já o quinto período, ele entrou como terceirizado na manutenção de aviões da FAB, e foi enviado para a mesma base aérea que tinha visitado dois anos antes, e sua supervisora seria ninguém menos que a Tenente Barbosa. Ela não havia envelhecido nada, mas parecia muito mais bonita que da primeira vez em que ele a vira, mesmo usando o uniforme militar.

— Acho que eu já o vi em algum lugar – Disse ela.

— Não achei que lembraria de mim. Foi a dois anos, nesse mesmo lugar. Eu era calouro em Engenharia Aeroespacial, e vim aqui em uma saída de campo.

— Não me lembro muito bem, mas é bom que você já conheça pelo menos um pouco daqui.

— Hã... eu poderia dizer algo antes?

— Permissão concedida.

— Eu queria te agradecer por todo aquele discurso dois anos atrás. Eu me tenho tentado ser uma pessoa um pouco melhor  desde aquele dia, por sua causa. Você falou muito bem sobre como o preconceito é ruim e eu aprendi bastante por isso, então, muito obrigada.

— Fico feliz por minhas palavras terem atingido ao menos uma pessoa. Mas chega de conversa, vou te apresentar o seu trabalho.

Algum tempo e muitas conversas depois, ele tinha reunido coragem o suficiente para chama-la para sair. Seus pais não deveriam nem mesmo imaginar aquilo, mas ele seguiria seu coração. Nunca pensou que teria coragem para fazer aquilo. Ela parecia tão mais velha, e tão inteligente e interessante, e a dois anos atrás ele era só um calouro que se achava dono do mundo quando na verdade não era nada. Mesmo assim, ela aceitou seu pedido. No dia marcado, ele foi busca-la em casa, e ela simplesmente parecia outra pessoa. Estava com uma maquiagem muito leve, que apenas realçava seus traços mais bonitos, e um vestido azul, que delineava perfeitamente suas curvas. Ele estava totalmente encantado.

Passaram horas conversando e provando os mais variados pratos, e a noite havia sido incrível. Leonardo nunca havia pensado muito sobre amor ou qualquer coisa próxima disso, mas ele sentia que estava completamente apaixonado por aquela mulher, que ele achava ser muito melhor que ele nunca se achou capaz de ser. A base aérea não ficava muito longe do apartamento dele, e logo eles começaram a namorar, para total surpresa dele. Ela contava sobre como havia sido difícil vencer os preconceitos para chegar até onde estava, e ele dizia como a vida dele havia sido tão fácil desde sempre. Vidas totalmente opostas que se encontraram por um dos acasos do destino. Mas mesmo tendo sido apenas um acaso, os dois pareciam felizes com isso.

Alguns meses depois, eles resolveram que era hora de conhecer os pais. Leonardo estava com muito medo daquela situação, afinal ele e Noemi já estavam namorando a um bom tempo. Eles haviam escolhido se encontrar em um restaurante, para um tradicional almoço de domingo, pois assim ninguém teria que perder tempo cozinhando, lavando, arrumando, e haveria mais tempo para as conversas. Os pais dela adoraram conhecê-lo, e ele sentia-se igualmente feliz por tudo ter dado certo. Já com os pais dele, as coisas não tinham ido tão bem assim.

Os pais de Leonardo tinham ido visitar o filho no feriado de páscoa, tendo avisado apenas dois dias antes de chegarem à casa dele. Disseram que pretendiam voltar para casa no domingo, depois do almoço, pois sentiam falta dele para comemorar os feriados. Noemi achou que aquela era a oportunidade perfeita para conhecê-los. Na sexta feira santa, eles passaram o dia em casa preparando a comida e tentando deixar a casa o mais arrumada possível para as visitas, que chegariam para o jantar. Um pouco depois da hora marcada, os pais de Leonardo chegaram.

— Ah, meu filho, quanta saudade! Olha como você cresceu! Aposto que sua namorada sente-se muito sortuda por estar com um homem tão bonito e inteligente como você. Espero que ela esteja à sua altura. – Disse a mãe dele. Leonardo estava com um mau pressentimento sobre aquilo...

— Olá, mamãe. Senti sua falta. Tinha dias que tudo que eu queria era chegar em casa e sentir o cheiro delicioso da sua comida.

— Bem, a sua namorada não cozinha para você?

Leonardo preferiu fingir que não tinha ouvido aquela pergunta.

— Oi, pai.

— Olá, filho. – Foi tudo que seu pai disse.

— Bem, vocês podem vir entrando. Deixem suas malas ali perto da porta. Minha namorada está se arrumando, então podemos esperar ela aqui na sala mesmo.

— Então, você não falou muito sobre sua namorada nas ligações... Ela existe mesmo?

— É claro que ela existe, mãe!

— E você tem certeza de que ela aceitou namorar com você, não é? Não que eu esteja desconfiada da sua capacidade de atração, mas...

— Sim, mãe, ela aceitou namorar comigo. – Na verdade, aquilo era mentira. Noemi que havia pedido ele em namoro, porque ele não tinha coragem para fazer isso na época, mas seus pais teriam surpresas demais naquele dia, então ele preferiu não falar nada sobre isso.

— Você ignorou totalmente o meu pedido. Fale sobre a garota!

No momento em que ela terminou a frase, Noemi apareceu na porta do quarto, usando um vestido Lilás soltinho, que contrastava lindamente com o tom da sua pele e a deixava bonita de um jeito muito simples. Seus cabelos cacheados, ainda úmidos do banho desciam como uma cascata por suas costas.

— Boa noite – Começou ela. Falou como se estivesse referindo-se a um de seus superiores, e isso significava que estava nervosa. – Leonardo me falou muito sobre vocês. Prazer em conhecê-los. Sou Noemi, namorada do seu filho.

A expressão no rosto de seus pais era uma mistura de horror e surpresa. Sua mãe pigarreou nervosa, tentando disfarçar. Seu pai nem deu-se ao trabalho.

— Prazer em conhece-la... também. Você conheceu meu filho na faculdade?

— Ah, não. Ele foi à base militar onde eu trabalho, depois de um tempo ele começou a trabalhar lá. Nós conversamos por um tempo, começamos a sair e chegamos onde estamos agora.

— Ah, você era faxineira de lá? Merendeira, ou algo assim? – Leonardo queria enfiar a cara num buraco, embora soubesse que sua mãe não falou por mal. Ela havia sido criada de um jeito muito mais antiquado que ele, e devido à sua idade, teria pouquíssimas chances de chegar a mudar de opinião como ele havia mudado. Ela ter “aceitado” que Noemi trabalhasse já era um grande avanço.

— Hã... não. Eu sou uma oficial da base aérea. Capitã, na verdade. Piloto com grande experiência em voos de longa distância. Algumas condecorações também.

— Então você trabalha totalmente cercada de homens?

— Sim, é um pouco difícil. Mas todos eles aprenderam a me respeitar. Do jeito bom ou do jeito ruim.

A mãe de Leonardo estava prestes a fazer mais perguntas constrangedoras, então ele levantou abruptamente.

— Acho que a lasanha já está pronta – Disse ele, com um sorriso amarelo. – Vamos comer!

Depois do jantar, seus pais disseram que dormiriam em um hotel perto da casa dele, pois já eram meio idosos e não queriam tirá-lo do conforto da cama. Foram embora já bem tarde, apesar da insistência de Leonardo para que dormissem lá.

— Você acha que seus pais gostaram de mim? Seja sincero. – Disse Noemi, logo após eles irem embora.

— Acho que eles ficaram espantados. Eles nunca conheceram uma mulher tão independente como você, e acho que nunca pensaram que minha namorada poderia ser negra. Isso tudo é muito novo para eles, e eu acho compreensível eles terem aquela reação. Não estou dizendo isso como uma justificativa ou algo assim, mas você pediu minha opinião sincera, e aqui está ela.

— Isso vai mudar o seu jeito de pensar sobre mim? – Ela parecia prestes a chorar. – Se seus pais mandassem você terminar por isso, você terminaria?

— Noemi, meu amor. Eu aceitei namorar com você por um motivo. Por esse mesmo motivo, eu continuo aqui. Eu nunca te deixaria por algo tão simples e banal como a sua cor de pele. O fato de você ser uma mulher tão independente e corajosa me inspira. Eu tenho orgulho de namorar com você, eu sou imensamente feliz por ter sido escolhido por você pra ocupar esse lugar. Eu não sinto nada além de gratidão por ter você como minha namorada.

— Você tem certeza disso?

— Absoluta.

— Tudo bem então.

— Pode esperar aqui? Eu já volto.

Então ele foi até o quarto, abriu seu guarda-roupa e destrancou a gaveta que tinha lá. Pegou um pequeno embrulho e voltou até onde Noemi estava.

— Bem, eu estava pensando em fazer isso numa ocasião um pouco mais formal e feliz para nós dois, mas o meu coração me diz que essa é a hora certa. Eu amo você como nunca amei nenhuma outra mulher na minha vida. Você é a razão pela qual eu levo a vida do modo mais simples e alegre que eu consigo. E tudo isso graças à você, graças à sua presença me inspira a continuar seguindo meu sonho mesmo depois de sete períodos de recuperação final em matemática. Você deu o primeiro passo na última vez, então eu achei que deveria dar o primeiro passo dessa vez. Capitã Noemi Barbosa, você aceita casar comigo?

Aquelas lembranças e muitas outras mais rodeavam a mente de Leonardo, enquanto ele estava deitado na confortável cama do hotel. O tempo é engraçado, às vezes. Algumas situações que parecem ter acontecido a anos podem ter acontecido à apenas alguns dias, e o contrário também. Em outras, parece que se passaram apenas alguns minutos, quando na verdade já são quatro horas da manhã e você está deitado numa cama de hotel pensando sobre como é ruim ser covarde.

Leonardo levantou-se da cama e tomou um banho. Pegou um elevador, foi até o térreo e pagou sua estadia completa, embora tenha passado apenas algumas horas por lá. Não sentia sono algum, sua mente estava totalmente desanuviada e com um claro objetivo traçado.

Ele não deixaria sua filha arriscar-se sozinha.


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Notas finais do capítulo

OLHA QUE LINDO ESSE CAPITULO CARA
Sério, espero que tenha ficado bom porque eu demorei uns três dias e toda a minha criatividade para escrevê-lo.
Então, se você discorda da minha opinião, deixe o seu comentário, assim como se você tiver uma crítica ou qualquer coisa assim.
Obrigado à todo mundo que leu até aqui c: