I Will Survive escrita por Iphegenia


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Boa madrugada, queridinhos!

Eu sei que essa demora para atualizar talvez não tenha perdão, mas eu sou um pouco Snow e tenho esperança de que vocês o façam.
Eu ainda estou viajando. E... com a namorada. Portanto, não consigo muito tempo para sentar a minha bunda em algum lugar, acessar o note e escrever. Sorry?

Enfim... Espero que gostem!



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Dois dias haviam se passado tão rápido quanto podiam e o feitiço que impedia a criação de portais que chegavam à Storybrooke estava cada vez mais fraco. Nesse tempo Regina repassou toda a estratégia com David e intensificou o treinamento dos civis. Contudo, Regina temia que aquilo não seria o suficiente. Eles tinham um plano, uma única chance de deter os invasores e se ele não funcionasse, estariam todos vulneráveis e seriam presas fáceis. Não saber que tipo de criaturas mágicas estavam lutando ao lado do rei Dionísio a deixava ainda mais insegura quanto ao plano. A estratégia era boa, era eficiente contra criaturas mágicas de poderes razoáveis, mas tendo conhecimento da presença do Dark One, Regina duvidava que o rei atacaria com algo “razoável”.

Com isso em mente, Regina deixou o campo onde o treinamento estava acontecendo partindo em direção à loja de Gold. Quando passou o cruzamento e avistou o seu destino, identificou a caminhonete de David e uma viatura estacionada do outro lado da rua. Regina acelerou até parar abruptamente com parte do carro em cima da calçada. Entrou na loja sem preocupar-se com a boa educação, chamando a atenção de Emma, Snow, David e Rumple.

— O que está acontecendo? - Regina caminhou até o balcão encarando o homem do outro lado.

— Regina, eu…

— Ele não quer reforçar a barreira. - Emma falou por cima do sombrio, cerrando os dentes.

— Queridinha, entenda, eu não posso ficar refazendo aquele feitiço uma vez por semana. Uma hora ele vai cair e você vai precisar lutar. Que seja agora.

— Mas nós não estamos prontos. - David colocou-se a frente de Emma.

— Me deixem conversar com Rumple. - Regina apontou para a porta lançando um olhar duro para os outros.

— Não, nós precisamos resolver isso porque…

— Eu vou resolver. Eu vou resolver, Swan. Apenas me deixe conversar com ele.

Relutante, Emma deixou-se ser guiada pelo pai até o lado de fora da loja. Seu sangue fervia e, por mais que se esforçasse, ela não conseguia encontrar uma solução. Amaldiçoou-se pela falta de interesse em estudar magia durante todos aqueles anos. Era frustrante ter e não saber usá-la, não ter total controle nem conhecimento de toda sua potência. Estava depositando sua fé em Regina, na esperança de que ela decidisse ficar na cidade e lutar ao seu lado, mas nem isso ela conseguia fazer. Tudo estava escapando por entre seus dedos.

Dentro da loja, Regina e Rumple se encararam por longos segundos, com o olhar fixo no outro, tentando ler cada linha de expressão, cada sinal, qualquer coisa que pudesse conter significado.

— Então você fez um acordo com Dionísio? - Regina quebrou o silêncio dando a volta no balcão.

— Não.

— Não ou ainda não?

— Ainda não.

Regina travou o maxilar e forçou seu raciocínio a ligar todos os pontos que conseguiu identificar durante o trajeto até ali.

— Pretende fazer um assim que ele estiver na cidade?

— Eu não luto com perdedores, você já devia saber.

— Nós não somos perdedores, Rumple

— Não. Você não. Mas eles... – Apontou para a porta referindo-se aos que saíram recentemente. - Eles são. Eu já fiz muito criando aquela barreira e dando-lhes tempo para se prepararem para a batalha. Mas eu não posso lutá-la por eles também.

— Você pode ajudar.

— Não, Regina. - Rumple segurou carinhosamente os braços da rainha e soltou um suspiro cansado. - Ouça, você os preparou bem. Eles têm uma chance. Você fez a sua parte, eu fiz a minha, chegou a hora deles.

— Você pode apenas fazer o que faz de melhor, que é sentar e assistir o circo pegar fogo, sem se meter? Eu não os preparei para lutar contra você.

— Okay. - Rumple ergueu as mãos em rendição e caminhou até a porta que dava acesso ao seu escritório. Antes de sumir completamente, virou-se para Regina. - Então você está indo embora?

— Estou. - Regina passou as mãos pelo blazer, alisando-o, e girou nos calcanhares dirigindo-se para a saída. Quando tocou a maçaneta, falou por cima do ombro. - Eu senti sua falta!

Assim que fechou a porta atrás de si, Regina foi bombardeada com perguntas. Sentia o estômago revirar diante do desespero que via nos olhos dos três, especialmente nas esmeraldas sempre tão brilhantes, mas agora embaçadas, de Emma.

— Ele não irá nos ajudar, mas também não vai atrapalhar. Não estará em lado algum.

— E podemos confiar nele? Porque ele estava nos ajudando e agora nos traiu…

— Mesmo, Swan? - Regina a cortou elevando a voz. - Em algum momento ele te disse que ajudaria quando essa guerra eclodisse? Porque eu nunca o ouvi dizer isso e tampouco é do feitio do Rumple prometer tal coisa.

— Ele estava nos ajudando com a barreira e agora…

— Ele estava dando tempo para vocês se prepararem para a batalha. Você se preparou, Swan? Ou gastou todo o seu tempo pensando nos passeios que gostaria de fazer?

— Eu estava cuidando de você.

— Eu não preciso que cuide de mim.

O grito de Regina silenciou Emma. A loira sentiu eu coração sendo retirado do peito e sendo cravado por finas unhas que compunham a mão que o esmagava. Sua mágoa projetou-se em forma de lágrimas e escorreram sem permissão pelo rosto. Emma girou o corpo e caminhou atravessando a rua, em direção à viatura.

— Swan? - Regina chamou acalmando o tom de voz. - Swan?

Não recebendo resposta e sentindo o gosto amargo do arrependimento descendo por sua garganta, Regina fez uso de sua magia para levá-las para o único local de onde tinha certeza que Emma não fugiria.

— O que estamos fazendo aqui? - Emma olhou em volta identificando o lugar. Era onde ela havia levado Regina para assistir ao pôr do sol, em alto-mar. Emma sentiu os braços de Regina em seu pescoço, apoiando-se. - Nos tire daqui agora.

— Não até você me ouvir.

— Regina, eu não consigo usar minha magia na água. Me tira daqui.

— Eu só quero conversar com…

— Regina, eu quero ir.

Emma elevou a voz tanto quanto Regina havia feito minutos atrás. As lágrimas ainda desciam pelo rosto da loira. Regina afastou-se do tronco de Emma e soltou seu pescoço.

— Sinta-se livre para ir nadando.

Assim que soltou-se completamente de Emma, Regina começou a bater os pés tentando manter algum equilíbrio, mas falhando. Emma apenas a observou por alguns segundos e quando a morena submergiu pela segunda vez, a loira a tomou nos braços.

— Você ficou maluca? - Emma ainda gritava quando Regina passou novamente os braços em seu pescoço, mantendo-as de frente uma para a outra.

— Eu só quero conversar. - Regina sussurrou encarando os olhos de Emma, esperando que ela se acalmasse. - Eu sinto muito pelo que eu disse mais cedo. Eu sou muito grata pelo que fez por mim, foram momentos especiais e inesquecíveis. Eu estou irritada, mas não tinha o direito de descontar em você. Eu sinto muito.

— Por que você está irritada? É comigo? - A voz de Emma passou a ser um sussurro também, acompanhando o tom de Regina.

— Não. Não é com você. É que… - Regina inspirou algumas vezes enquanto pensava sobre isso. Ela não estava irritada com uma coisa, com alguém específico, com um fato, na verdade era o acúmulo que lhe tirava do sério. - Quanto mais essa guerra se aproxima, mais acirrado fica o meu conflito interior. Você… Você não entende.

— Então me explica. - Emma apertou a cintura de Regina mantendo-a na superfície.

— Eu me sinto mal quando penso que deixarei vocês aqui à própria sorte. Eu gostaria de conseguir ficar e ajudar, mas eu não consigo. - Uma lágrima solitária escorreu pela bochecha da rainha até atingir o mar.

— Por quê?

— Como eu posso proteger os habitantes daqui quando eu mesma desejo a morte de cada um deles?

Instintivamente Emma soltou Regina e a morena submergiu pela terceira vez. Ao perceber o que fez, Emma a tomou novamente em seus braços usando uma mão para retirar os fios de cabelos grudados no rosto moreno.

— Me desculpe, eu não tive a intenção. Eu apenas fiquei surpresa com…

— Tudo bem. - Regina ergueu a mão silenciando uma Emma desesperada. - Eu entendo que desejar uma coisa dessa é algo muito longe da sua realidade. Mas quando eu olho para essas pessoas, eu sei que as fiz sofrer muito, eu vejo isso, mas também vejo o meu sofrimento refletindo nos olhos de cada uma. Tudo que essas pessoas fizeram durante toda a minha vida foi me tratarem com rejeição, com julgamentos, com ódio. Mesmo quando eu era apenas uma menina, recém-casada com Leopold, quando ainda não fazia nada a ninguém, eles já me detestavam. E isso só piorou, Swan. Eu não me tornei a Evil Queen sozinha. Eu tive a ajuda de cada um deles.

— Regina, isso é…

— Eu sei. É um despropósito, é loucura e parece absurdamente rancoroso e injusto porque eu fiz coisas muito piores e…

— Hey! - Emma tocou o rosto de Regina ganhando sua atenção. - Eu ia dizer que é compreensível.

— Você acha? - Regina uniu as sobrancelhas e abriu levemente a boca enquanto buscava algum traço de mentira no rosto da loira.

— “O mal não nasce, ele é feito”, não é isso?

Regina sorriu sentindo o gosto das lágrimas que escorriam livres por seu rosto e sentindo-se menos solitária após aquelas palavras. Emma ajustou as mãos na cintura de Regina, deslizando a direita para as costas da rainha, trazendo-a para cima, uma vez que a água já atingia seu queixo. A loira sentiu a respiração quente de Regina contra sua boca. Elas estavam perigosamente próximas.

— Como você pode me olhar com tanta ternura depois de me ouvir dizendo essas coisas?

— Porque eu amo você.

As palavras simplesmente escaparam da boca de Emma e atingiram Regina como uma onda forte que cresce em alto-mar e que quando atinge a praia, a faz desaparecer, levando tudo que está a sua volta. Mas Emma não tentou capturá-las. Embora tenham saído sem sua permissão, não era uma verdade que ela suportaria guardar por muito mais tempo, então, esforçou-se para manter os olhos em Regina aguardando, estática, alguma reação.

Regina perdeu o ar e, momentaneamente, a capacidade de voltar a respirar. Sua cabeça girou e seu pensamento voltou para dois dias atrás, quando voou com Emma e recordou-se de como era estar apaixonada por ela anos atrás. Aquilo era apenas demais. Ela iria embora no dia seguinte, partiria sem saber o destino de Storybrooke e aquele não era o momento para ouvir uma declaração. Especialmente uma de Emma.

— Nós devemos ir agora.

 

***

 

O sol atravessava com dificuldade as nuvens escuras que cobriam Storybrooke. Regina caminhou pela cidade a passos lentos até o Granny’s Diner. O asfalto indicava a recente chuva e por mais de uma vez ela precisou desviar de poças de água, fazendo-a resmungar sobre o trabalho que Snow vinha fazendo na prefeitura. Quando chegou ao destino, deparou-se com as luzes apagadas e a placa indicando que ainda não estava em funcionamento. Pela primeira vez no dia, Regina capturou o celular no bolso a fim de conferir as horas.

— Ótimo!

Bufou ao descobrir que era mais cedo do que suspeitara. Puxou uma das cadeiras da área externa do estabelecimento e sentou-se. Quando sentiu a umidade do assento, inalou profundamente e fez uma pequena contagem mental buscando pela calma que ela precisaria ter, especialmente, naquele dia. Regina vagou os olhos pelo local observando os detalhes da arquitetura, as rachaduras nas paredes provocadas pelo tempo, a pintura desbotada e os ramos, de seja lá qual fosse a vegetação que crescia ali, tomando a parte superior da entrada. Fechou os olhos e respirou o ar gélido da manhã forçando a memória para lembrar-se o que exatamente pensou quando estava criando Storybrooke. Após minutos de tentativas falhas, a rainha suspirou frustrada e voltou a abrir os olhos encarando as pontas dos dedos que brincavam com a manga de seu casaco. “Quão mergulhada na escuridão alguém precisava estar para fazer algo demasiado sombrio de forma tão irresponsável para sequer recordar-se de tal momento com exatidão?” A morena torturava-se repetindo essa mesma pergunta quando o som de passos a fez girar na cadeira.

— Parece que não fui a única a madrugar hoje. - A voz de Snow atingiu Regina com desconforto revelando à morena uma dor de cabeça que ela não sabia que estava sentindo até aquele momento. - Bom dia, Regina.

Ignorando o cumprimento da mulher, Regina virou-se novamente no assento e encarou a porta fechada da lanchonete. Snow aproximou-se com passos curtos e sentou-se na cadeira ao lado de Regina. Naquele momento a rainha fez uma aposta mental consigo mesma de quanto tempo a princesa manteria o silêncio e antes mesmo que pudesse decidir entre 30 segundos e um minuto, a voz de Snow atingiu-a mais uma vez.

— Eu gostaria que a Granny também tivesse tido uma noite de insônia.

Assim que ouviu a primeira sílaba, a cabeça de Regina latejou e ela, instintivamente, levou uma mão à testa, massageando-a. Ainda pressionando o local, a morena voltou a dar atenção aos detalhes indesejados do estabelecimento.

— Isso é uma espelunca. Um dia cairá sobre a cabeça dela.

Snow estreitou os olhos e varreu o ambiente, analisando-o. Embora a degradação fosse incontestável, ela apenas abanou a cabeça lançando para longe a responsabilidade que lhe cabia como atual prefeita. Ao invés disso, ela encarou a ex-madrasta e demorou-se alguns segundos observando as olheiras da noite mal dormida.

— O que aconteceu com você e Emma ontem?

 

 

— Nós devemos ir agora.

Regina fechou os olhos concentrando-se em sua magia e logo seus pés estavam tocando a madeira do porto. Sem forças para encarar a loira, Regina desvencilhou-se de seus braços e girou nos calcanhares iniciando um rápido caminhar.

— Regina?

O nome da morena foi proferido por Emma tão baixo que mais parecia um sibilar do que, propriamente, um chamado. No entanto, foi o suficiente para fazer com que Regina parasse. Emma sentiu um bolo formar-se em sua garganta com o esforço que fazia para não chorar mais, mas quando Regina girou o tronco na sua direção, as lágrimas simplesmente escorreram livres.

— Eu não posso lidar com isso agora, Swan.

 

 

— Eu descontei minha irritação na pessoa errada. - Regina encarou novamente a porta do estabelecimento, sentindo-se desconfortável com aquela conversa. - Pedi desculpas, mas não sei se foram aceitas.

— Ela estava péssima quando a vi.

— Eu também estaria se a cidade da qual sou a salvadora estivesse em risco.

— Não. Você estaria furiosa, mas excitada por ter alguém para destruir.

Os olhos castanhos escuros abandonaram a entrada e buscaram a pequena mulher ao seu lado. Antes que pudesse responder, o barulho da porta sendo, finalmente, destrancada chamou a atenção das mulheres.

— Formigas na cama? - Granny acenou sorrindo antes de descansar as mãos no quadril e encarar o céu. - Parece que o tempo virou.

— Bom dia, Granny. - Snow caminhou até estar ao lado da senhora e afagou seu ombro. - É um bom dia para um chocolate quente. Que tal?

Granny sorriu para a sugestão e deu as costas para as mulheres, caminhando até o balcão. Posicionou os bancos um a um e seguiu para a cozinha, antes de desaparecer por completo, gritou para a rainha que estava entrando logo atrás de Snow.

— O de sempre, Regina?

— Por favor.

Regina não estava certa de que a senhora havia, de fato, lhe ouvido, mas não se importou em repetir. Sentou-se no balcão apoiando os cotovelos nele e deixou com que sua cabeça fosse sustentada pelas mãos enquanto massageava as têmporas.

— Precisa de um analgésico? - Granny depositou a xícara de expresso no balcão, poucos minutos depois, assustando Regina que não havia notado sua presença. Quando a morena gemeu e pressionou mais o ponto, Granny passou a mão por cima de uma pequena prateleira de alumínio e retirou um frasco transparente de lá, o abriu e deixou cair dois comprimidos no balcão. - Tome apenas um agora e, se não melhorar, tome outro daqui oito horas.

Regina arrastou a mão até o comprimido e o colocou na boca. Com uma careta, ela tomou a xícara em mãos e ingeriu o líquido quente.

— Então você vai embora hoje?

Regina encarou a ex-enteada com o canto dos olhos e suspirou para a expressão desapontada que encontrou.

— Snow, eu nunca disse que…

Regina começou com a voz cansada, mas a princesa a interrompeu tocando seu braço. Um toque gentil, íntimo, como Regina não imaginava que teriam depois de tanto tempo e, principalmente, tanto ódio.

— Eu sei, Regina. Você nunca disse que ficaria, nunca disse que ajudaria e, ainda assim, ajudou. Mas você não pode me julgar por ter esperanças, pode?

— Você é feita disso, querida. - Ao olhar novamente para a ex-enteada, Regina deparou-se com um sorriso contido, que foi crescendo a medida que se observavam. - O que?

— Eu sei que “querida” para você pode significar nada, mas é um longo tempo desde que me chamou assim. Com essa naturalidade. Nós ainda éramos…

— Mãe e filha? Nunca fomos isso.

— Eu ia dizer família.

Regina viu o sorriso desfazer-se tão lentamente quanto nasceu. Por algum motivo aquilo a desconcertou e um estranho sentimento de culpa cresceu em seu âmago. Quando Granny trouxe a panqueca de maçã, a morena concentrou-se em seu dejejum tentando ignorar a presença da mulher ao seu lado. No entanto, como se estivesse alheia ao desconforto de Regina, em poucos segundos, Snow voltou a falar.

— Henry está bem com isso?

Regina suspirou impaciente, elevou a cabeça com os olhos fechados e respirou profundamente.

— Ele não está contrário à decisão de partirmos.

— Isso é diferente de concordar…

— Sim, Snow, É diferente. Ele gostaria de ficar, mas entende que aqui é perigoso e que tudo que ele pode fazer para ajudar é manter-se a salvo. - Regina cortou-a antes de sorver o café e morder a panqueca.

— Eu não estou te julgando, eu…

— Isso foi só o que fez a vida inteira. - Regina cobriu a boca com guardanapo forçando-se a engolir a massa antes de bater com a mão no balcão. - Desde o dia em que nos conhecemos você não tem feito outra coisa.

Sob o olhar assustado de Granny, Regina levou ar aos pulmões e sustentou a xícara até a boca forçando-se a se acalmar. Snow manteve-se calada até o fim da refeição de Regina que, ao terminá-la, colocou algumas notas sobre o balcão e balbuciou um “adeus” para a mulher mais velha.

 

***

 

Emma rolou na cama por um número incontável de vezes até finalmente desistir de encontrar o sono. Sentou-se e apalpou a mesa ao lado buscando pelo notebook. Passou os primeiros minutos navegando por sites de vídeos buscando uma distração, qualquer coisa que a fizesse esquecer Regina, ou melhor, a rejeição da rainha. No entanto, sem nem mesmo perceber, o nome da morena já estava na busca do navegador e, imediatamente, uma foto de Regina apareceu na tela. Usando uma camisa verde-escuro e uma calça preta, com uma bota da mesma cor, assim como um capacete, Regina posava ao lado de um cavalo castanho marrom. No canto da foto havia um logotipo que Emma julgou ser da escola para qual a morena trabalhava. Com movimentos automáticos, Emma buscou pelo site correspondente ao logotipo e, assim que a página carregou, buscou, no menu, a galeria de fotos.

Um sorriso dançou nos lábios de Swan quando várias fotos de Regina apareceram bem diante de seus olhos. Algumas posando ao lado de um cavalo; a dupla, Emma descobriu na legenda, é chamada de conjunto. Em outras fotos Regina estava saltando nos obstáculos; em algumas apenas caminhando, sobre o animal, e sorrindo. Havia duas fotos que ganharam a atenção de Emma e fizeram com que o sorriso finalmente desabrochasse em seus lábios. Na primeira Regina segurava a mão de uma garotinha, que, aparentemente, não tinha mais do que seis anos de idade, montada em um jovem corcel branco. Pela expressão que a menina tinha, Emma deduziu que, se não fosse a primeira, certamente ela estava começando as aulas. Regina tinha um sorriso tranquilizador no rosto, além de mãos firmes sustentando os pequenos dedos da criança. Emma lembrou-se de quando Regina se ofereceu para ensinar-lhe a cavalgar. Aqueles animais grandes e musculosos conseguiam apavorar Swan de uma forma que poucas coisas eram capazes, mas se Regina lhe dirigisse aquele mesmo olhar, Emma tinha certeza de que cavalgaria através de Estados sem medo.

Já na segunda imagem, Regina estava montada em um alazão negro e a sua frente, colado em seu corpo, estava uma criança ainda mais nova. Um menino, que aparentava estar no seu quarto ano de vida, segurava as rédeas com força. Ao contrário da garotinha, ele parecia se divertir. Um sorriso de pequenos dentes rasgava o seu rosto e Emma quase conseguia ouvir o som de sua gargalhada. Regina não estava muito diferente. Vendo-a tão feliz, um calor cresceu no peito da loira e correu por todo o seu corpo. Apesar da chateação pela infeliz decisão da rainha em partir, Emma conformou-se de que era, de fato, o melhor. Se aquilo faria Regina manter sorrisos tão bonitos, então, qualquer que fosse o preço, era demasiado barato.

Emma estava observando cada detalhe das fotos quando ouviu uma batida na porta do quarto e, logo após, ela sendo aberta. Quando a cabeça de Snow passou pela pequena abertura, a loira fechou o notebook e fez sinal para que ela entrasse. A princesa acenou negativamente com a cabeça e, após dizer que havia lhe trazido chocolate e donuts, retirou-se fechando novamente a porta. Ao ouvir aquilo, o estômago da salvadora resmungou. Ela levantou-se preguiçosamente e arrastou-se até a cozinha.

— Você também não dormiu? - Snow abriu a caixa de donuts e depositou no balcão, onde a filha escorou-se.

— Também? - Emma esticou o braço e alcançou o copo de chocolate quente trazendo-o para perto da caixa. Afastou o banco e sentou-se ali mesmo.

— Eu tive insônia. Cheguei à lanchonete antes mesmo da Granny e Regina já estava por lá, esperando também.

— Regina? - Emma tentou disfarçar o interesse enchendo a boca com os açucares do lanche. - Como ela está?

— Me pareceu abalada com algo, mas sabe como ela é, não conversa.

— E ela falou algo sobre sua partida? - A sheriff assoprou o líquido quente e molhou os lábios certificando-se de que não se queimaria, antes de tomar o primeiro gole.

— Parece decidida. Era sobre isso que conversaram ontem?

— Não… - Antes de completar sua resposta, o celular de Emma vibrou sobre o balcão. Ela o tomou em mãos e o desbloqueou. - É Henry. Ele disse que vão partir dentro de uma hora.

— Ele…

— Vou me despedir dele. Você quer ir? - Emma cortou a mãe e levantou-se, abandonando o copo e pegando a caixa de donuts.

Durante o trajeto, feito no carro da loira, Emma ouviu a voz da mãe como uma melodia de fundo de alguma peça dramática. Ela não sabia o que estava sendo dito, mas nada importava quando, em menos de sessenta minutos, as duas pessoas que mais amava partiriam sem data de retorno. Uma delas talvez nem retornasse.

Quando estacionou na frente da mansão da rua Mifflin, pode ver a porta se abrir e um Henry abatido caminhar até a calçada. Assim que saltou do carro, Emma correu até o filho lhe envolvendo em um abraço longo, carregado de sentimentos e saudade antecipada. Snow juntou-se ao abraço e, antes de qualquer palavra ser dita, já haviam lágrimas nos olhos das duas mulheres.

— Você está mesmo seguro de que é isso que quer fazer? - Emma segurou os ombros do filho de forma carinhosa.

— Não. Mas sei que é o que deve ser feito e disso eu estou seguro. - Henry afastou-se para que sua mãe e avó ficassem em seu ângulo de visão e forçou um sorriso apertado. - Eu sei que todos estarão mais seguros e concentrados se tiverem certeza de que estou bem. Eu não ajudaria mais do que atrapalharia aqui, de qualquer forma.

— Hey! - Snow buscou a mão do neto e acarinhou seu dorso. - Você já é um herói. Sabe disso, não sabe?

— Até mesmo um herói precisa saber quando a luta não é dele. - Henry friccionou os lábios em um ato claro de nervosismo e guardou as mãos no bolso traseiro, em um conjunto perfeito das manias de suas duas mães, balançando-se para frente e para trás. - Eu ligo assim que chegarmos em Boston.

— Eu amo você, garoto. - Emma puxou o filho para um segundo e último abraço. Ficaram assim por alguns minutos, com a loira não se importando em disfarçar o choro.

Quando desvencilharam-se, Henry aproximou-se de Snow e depositou um beijo em sua bochecha para logo em seguida caminhar de volta para a casa. Emma conteve a vontade de gritar e perguntar por Regina. Ao invés disso, ela voltou para o carro e dirigiu em direção ao loft. A parada no cruzamento e alguns segundos de tédio foram o suficiente para levar Emma até o dia anterior, no momento exato em que as quatro palavras saltaram de sua boca. “Porque eu amo você”. A sheriff soltou um suspiro pesado e fixou os olhos no que havia lhe estagnado ali. Aquele perfeito círculo vermelho rapidamente se transformou em uma mancha e logo tinham o formado exato dos lábios da ex-prefeita. Lá estava Emma novamente, encarando-a, admirando-a, petrificada enquanto aguardava uma resposta ao que disse. Ou melhor, ao que lhe escapuliu. O fato de, secretamente, seu coração ter alimentado esperanças de que ouviria as mesmas palavras vindo da morena fazia com que a loira se sentisse estúpida. Apesar disso, “Nós devemos ir agora” é deveras frio até mesmo para a temida Evil Queen. E Regina já estava distante de ser aquela mulher, ainda assim, dentre todas as formas de rejeição que Emma imaginou desde que aceitou que estava apaixonada pela outra mãe de seu filho, aquela havia superado toda e qualquer expectativa.

Navegando entre as outras possibilidades de resposta, Emma sentiu seu braço ser puxado seguido da voz conhecida de Snow, como se seu corpo estivesse sendo subitamente resgatado de perder-se no espaço no momento em que a gravidade lhe abandonasse. Com o susto, Emma esticou o corpo e seu pé pressionou o acelerador fazendo o carro abandonar a inércia e imediatamente colidir com outro. O corpo da loira foi jogado para frente e, estando negligenciando o uso do cinto de segurança, seu rosto bateu no volante arrancando-lhe sangue. O impacto jogou sua cabeça novamente, dessa vez para o lado e ela pode ver Snow White ser salva de semelhante ferimento por estar atada ao cinto.

— Emma! Você está bem? - Snow passou a mão pelo rosto da filha, tirando os fios loiros que lhe cobriam.

— Sim… - Emma ergueu o corpo e encarou a mãe, exibindo um pequeno corte no lábio e um sangramento no nariz. - Eu me sinto bem.

O olhar de pânico de Snow fez com que Emma reavaliasse o grau de sua dor. “Quatro. Talvez cinco. Nada de mais”. A loira tocou levemente os ferimentos e encarou os dedos agora sujos de sangue.

— Você não parece bem, Emma. Precisamos de um médico.

Snow desatou o cinto e abandonou o carro, contornando-o até estar ao lado da filha. Com o rosto contorcido em total desgosto, ordenou que o motorista do outro automóvel ligasse para o hospital. Enquanto isso, a princesa abriu a porta de Emma e enlaçou suas mãos enquanto aguardavam a chegada da ambulância.

— Hey! - Emma apertou a mão de sua mãe ganhando sua atenção. - Não se preocupe tanto e pare de olhar para ele assim. - Maneou a cabeça para o homem que encarava a esquina que a ambulância deveria cruzar a qualquer momento. - Eu estava distraída, ele não tem culpa de nada.

Emma tombou a cabeça no encosto do banco e fechou os olhos inalando o cheiro do pouco sangue que saía dela. Elevou a mão novamente tocando o seu corte. Sorriu quando imaginou se ele seria profundo o bastante para render-lhe uma cicatriz. Era exatamente do mesmo lado que a de Regina, mas no lábio inferior. Seu sorriso cresceu quando pensou que, com sorte, elas poderiam ter o formato semelhante e se completarem. Quando sentiu a ardência pelo esticar de sua pele provocada pelo sorriso, gemeu baixo, mas o suficiente para que Snow a recriminasse por não manter-se quieta.

Quando a ambulância estacionou logo a frente do fusca amarelo, o próprio Whale desceu dela e caminhou até a salvadora.

— Dia tedioso no hospital? - Emma provocou enquanto o homem colocava as luvas.

— Você não imagina o quanto estou grato por essa distração. - O médico sorriu simpático para a loira e aproximou-se para examiná-la. - Eu confesso que esperava mais de você, Emma. Isso não é nada de mais.

— Não rende nem mesmo uma pequena cicatriz no lábio? - Emma apontou o corte como uma criança encantada pela arte que fez.

Whale molhou um pouco de algodão no soro fisiológico e passou pelo corte e outro no nariz. Uniu as sobrancelhas ao ouvir a pergunta animada da sheriff e libertou uma risada contida.

— Está tentando ser intimidadora como ela? - Whale usou a mão livre para indicar a direção em que ficava a casa de Regina. - Desista. Aquela ali é única.

Emma sentiu um desapontamento infantil. Lembrou-se do seu antigo desejo de quebrar alguma parte do corpo, quando criança. Como o braço ou talvez a perna. Muitas crianças no orfanato tinham desejos parecidos, com algumas realmente aconteceu, mas Emma não era uma delas. Era ridículo e ela descobriu isso alguns anos mais tarde, no entanto, lá estava ela com o mesmo sentimento. “Estar apaixonada é uma droga”. A loira sorriu com o diálogo que mantinha consigo mesma e manteve-se parada até que Whale lhe desse permissão para sair. Quando o fez, ela finalmente pode ver o estrago que aquela distração deliciosamente vermelha havia lhe custado. As ideias infantis lhe abandonaram a mente e deram lugar ao desespero de ver o seu estimado fusca e, pode-se dizer, melhor e mais velho amigo, com sua lataria amassada em um raro momento onde o ladrão demonstra todo seu amor pelo objeto furtado. 

 

***

 

No horário previsto, Regina saiu pela porta da mansão carregando as mesmas malas que havia levado de Boston, mais duas que pertenciam ao Henry. O menino veio atrás com Júlia no colo que, por sua vez, carregava um pinguim de pelúcia que tinha, facilmente, mais do que a metade do seu tamanho. Regina a pegou do colo de Henry e a ajustou na cadeirinha atrás do banco do passageiro. A filha preferia estar ali, onde conseguia visão parcial da mãe pois isso lhe acalmava durante a viagem, até que ela dormisse e só despertasse quando já estivessem no destino, seja ele qual fosse.

Silenciosamente, Regina voltou até a porta principal da mansão e a trancou com magia de sangue, afastou-se alguns passos e a protegeu com um escudo. Ela não acreditava que ele duraria muito, mas, talvez, o suficiente. Ainda sem que qualquer palavra fosse dita, Regina entrou no carro seguida por Henry e, acompanhada de um suspiro pesado, girou a chave. Regina dirigiu vagarosamente até a fronteira da cidade, observando atentamente cada detalhe da cidade. Um sentimento de nostalgia a abateu ao imaginar que talvez nunca voltaria a ver Storybrooke daquele jeito: de pé!

Quando aproximou-se da fronteira, Regina diminuiu ainda mais a velocidade e parou. Encarou a linha vermelha no chão e, contra sua vontade, sua memória a levou de volta ao dia em que foi expulsa, anos atrás.

 

Ela encarou a linha no asfalto e sentiu que seu coração estava sendo esmagado. Atravessar aquela linha significava perder suas memórias, perder seu filho, perder suas raízes, perder a si mesma. Sua mente buscou o último instante em que esteve com seu filho e sentiu ainda mais dor ao perceber que ele estava sofrendo. Tendo a perdoado ou não, Henry não queria aquela separação e ele demonstrou isso. Depois de alguns anos a rejeitando, no último momento, Henry a quis.

 

Regina girou o pescoço encarando o filho, que a observava atencioso. O medo de tomar uma decisão que pudesse afastá-los novamente a invadiu e sua mão, que descansava no câmbio, tremeu. No entanto, ao contrário de tudo que esperava encontrar no rosto do filho, ele lhe sorriu. Um sorriso amoroso, como os que ele costumava lhe dar quando era apenas uma criança apaixonada pela mãe, presenteando-a com atividades feitas na escola. Isso afastou qualquer medo de perdê-lo, qualquer dúvida em relação ao amor que ele sentia por ela. Nesse momento Regina teve a certeza de que Henry ainda a amava profunda e verdadeiramente. Retirou a mão do câmbio e ligou o som, quando a música começou a tocar, Regina acelerou e atravessou, novamente, a fronteira.


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Notas finais do capítulo

Críticas construtivas, comentários, ideias, confissões, enfim... tudo é aceito e adorado.

Obrigada pela leitura ♥



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