Fragmentada escrita por DrixySB


Capítulo 6
Athena


Notas iniciais do capítulo

Jemma conhece um pouco mais sobre a filha da qual não se lembra.



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— Então… - ela começou a falar, hesitante - nós temos um filho - as palavras saíram baixas, como se Jemma estivesse afirmando para si mesma, se certificando de que aquela informação era mesmo real.

— Uma filha, na verdade - Fitz corrigiu em um tom inexpressivo de voz, tirando o celular da mão dela e deslizando o dedo pela tela de modo a passar as fotos. Agora, a tela exibia uma foto de uma criança sorridente com um discreto laço na cabeça. Não havia como negar os traços similares aos seus e aos de Fitz. Jemma conseguiu identificar de imediato os contornos que comprovavam que a menina era o resultado da combinação de seus DNAs.

Ela fechou os olhos, tentando engolir aquele sentimento estranho que parecia fechar sua garganta, fazendo um esforço sobre-humano para impedir que as lágrimas, ocasionadas pela confusão, pela revolta diante daquela situação e pela tristeza de não se lembrar da própria filha, se projetassem para fora de seus olhos. Ela as manteve internamente, sufocando sua alma e seu coração. Sentiu-se, de súbito, impotente, de mãos atadas, sem saber o que fazer. Era como seu houvesse perdido o controle de sua vida, seu rumo, sua direção...

Jemma levou um tempo para falar novamente – para ponderar as palavras que diria a seguir e evitar que sua voz quebrasse em meio à sentença. Fitz, por sua vez, permanecia impassível, olhando para a foto em seu celular de uma maneira intensa e penetrante.  

— Quanto tempo ela tem? - Simmons finalmente perguntou com uma voz frágil e incerta.

— Fez um ano na semana passada - ele respondeu de maneira casual.

— Ela… Parece tão pequena…

— Essas fotos são mais antigas - Fitz novamente deslizou o dedo pela tela - essa é mais atual - disse, entregando o aparelho para Jemma mais uma vez, ainda sem olhar para ela.

A imagem trazia Jemma com a menina em seu colo. Ambas sorriam. A cientista exibia um sorriso tão exultante e vivaz na foto que fez seu coração se aquecer e latejar ao mesmo tempo. Sentimentos contraditórios tomaram conta de si. Ao mesmo tempo em que sentia uma pontada irreprimível de genuína alegria ao ver aquela imagem, uma dor intensa parecia dilacerar seu peito. Era tudo muito confuso.

Era horrível simplesmente não saber mais quem ela era…

— Qual é o nome dela? - Jemma indagou, sem saber mais como dar prosseguimento àquela conversa.

— Athena.

Ela não conseguiu evitar um sorriso e um leve arquear de sobrancelhas.

— Curioso - comentou, pela primeira vez tornando o rosto na direção de Fitz. Ele devolveu seu olhar sem pensar e ambos ficaram desconcertados. Eles tinham um grau tão elevado de intimidade e, naquele momento, era como se não conhecessem tão bem assim - Quero dizer… Nunca pensei que daria o nome de uma deusa para minha filha… Quando tivesse uma - ela completou, desviando o olhar novamente.

— Achamos que faria sentido, dado o nosso histórico na SHIELD. Isto é, ela é a deusa da sabedoria, estratégia, justiça, inspiração e da matemática. É uma excelente mistura do racional e do mítico. Durante nossa trajetória na SHIELD, nos deparamos com fenômenos que desafiavam a lógica, mas sempre tentamos explicá-los por um viés científico. Por mais conflitantes e incoerentes que as duas coisas soassem. Athena parecia um modo de unir esses dois universos e torná-los familiares um ao outro.

Jemma deu um sorriso contido, devolvendo o celular para Fitz.

— Muito inteligente e perspicaz - ela disse, distraída por aquele pensamento - não poderia esperar outra coisa vinda de… Nós.

Fitz riu baixinho.

Tomando fôlego e coragem, ela se virou para ele no sofá, encarando-o inteiramente.

— Vai me levar até lá? Para vê-la? - disse, tentando imprimir determinação em seu tom de voz, embora estivesse aterrorizada frente ao pensamento de reencontrar a filha da qual não se lembrava. Não sabia como deveria reagir, como chegaria perto da criança…

— Tem certeza? - Fitz perguntou de maneira simples, como se lesse os pensamentos de Jemma.

Ela apenas assentiu.

— Ok – ele concordou, levantando-se do sofá em meio a um suspiro. Jemma pôs-se em pé imediatamente, o coração em disparada – mas amanhã – Fitz completou.

— Como assim, por que não agora?

— É quase meia-noite, Jemma...

— E...? – ela inquiriu.

— Ela está dormindo agora – Falou como se fosse óbvio. E deveria ser.

— Oh... Claro... – Ela desviou o olhar, meio sem jeito – quem está com ela? – quis saber, de repente.

 - Minha mãe. Ela... – Fitz olhou para o celular em sua mão – ela me manda mensagem de hora em hora me informando como Athena está.

O nó na garganta de Jemma parecia crescer a cada palavra proferida por Fitz.

— Eu te levo lá amanhã – Ele finalizou com um semblante inexpressivo. Fitz guardou o celular no bolso e caminhou até a porta sem dizer mais nenhuma palavra.

A bioquímica ficou ali, parada em pé na sala comunal, lutando contra uma terrível vontade de chorar.

*

Simmons notou que Fitz parecia anestesiado, não esboçando nenhuma reação ou sentimento, a não ser uma intensa e inabalável calma enquanto dirigia rumo ao apartamento deles. Os óculos escuros que ele usava não ajudavam em nada nas tentativas de Jemma de espreitá-lo e ler sua expressão.

Ou as palavras que ela lhe disse no dia anterior haviam deteriorado sua sensibilidade, ou ele apenas não queria demonstrar seus sentimentos diante dela. Jemma desistiu de tentar arrancar algo daquele silêncio, portanto, decidiu que era hora de iniciar uma conversa.

— Fitz...

— Hmmm?

— Por que... Por que fica tentando me preservar da verdade?

Ele engoliu em seco, concentrado no trânsito à sua frente.

— Como eu já disse, eu acho que é um pouco demais pra você...

— Não é só isso – ela o interrompeu – tudo o que você me conta... Eu tenho a impressão de que você me conta as coisas cheio de culpa.

Ele não soube como responder, de modo que permaneceu em silêncio.

— Fitz, eu preciso que fale comigo!

— O que você quer que eu diga? – uma nota de impaciência se destacou em sua voz.

— Que tal se me dissesse o motivo de se sentir tão culpado?

Fitz respirou fundo, ponderando.

— É apenas complicado...

— O quê, exatamente?

— Ficar te decepcionando – ele disse, por fim, seu tom de voz diminuíra consideravelmente.

— O que quer dizer? – agora era ela quem soava impaciente diante de tantas meias palavras.

— Ora, Jemma! No ponto em que você parou... Bem, aposto que quando tinha dezenove anos não era bem isso que imaginava para seu futuro.

— Perder a memória e não me lembrar de nada, de ninguém e nem de mim mesma? Com certeza, não! – sua voz saiu enérgica.

— Não é disso que estou falando.

Jemma suspirou. Ela havia compreendido de imediato aonde ele queria chegar, apenas não queria admitir.

— Olhe – ela virou-se para ele no banco do carro – o fato de que, aos dezenove, eu não imaginava que iria... Bem, me casar... E ter uma filha com você – ela tentou não soar reticente, mas não foi bem-sucedida – não significa que estou decepcionada, como você presume. Eu estou surpresa. Essa é a palavra. Por exemplo, no ponto onde parei, como você costuma dizer, eu jamais imaginei que seria diretora da SHIELD um dia...

— É diferente, Jemma – ele a cortou – ser a diretora da SHIELD não era algo que passava pela sua cabeça, mas nem de longe se trata de algo decepcionante.

— Fitz, pare! – ela cerrou os olhos, levando as mãos à cabeça – pare de se autodepreciar – Jemma retornou à postura inicial no carro, tornando o olhar na direção da janela como se procurasse fugir de alguma maneira daquele clima horrível que havia se instalado entre eles. Ela cruzou os braços em frente ao corpo, de maneira defensiva, antes de voltar a fita-lo.

Fitz permanecia impassível, sem demonstrar emoção, protegido atrás de seus óculos escuros.

— Eu não entendo. É como se... Desde que eu perdi a memória, você se desse conta de que nós dois, juntos, é algo errado.

— Jamais pensaria isso – ele rebateu prontamente – é só que agora você tem a oportunidade de refletir sobre... Tudo o que poderia ter sido e não foi...

Ela riu sem humor.

— Tenho certeza de que não me arrependo das minhas decisões.

O silêncio predominou no carro até que eles chegassem ao seu destino.

Jemma saltou do carro, hesitante. Fitz permaneceu de óculos escuros e em silêncio no elevador, o que incomodou Jemma, mas ela se esforçou para engolir a cólera que ameaçava tomar conta de si por inteiro. E suas mãos estavam úmidas de suor quando Fitz deu duas leves batidas na porta e então a abriu, penetrando o recinto.

Com passos vagarosos e indecisos, ela o seguiu para dentro. Uma primeira olhada na sala conjugada à cozinha fez com que um sorriso ameaçasse brotar em seu rosto, mas ela imediatamente o reprimiu. Não havia como negar que aquele era o seu apartamento. A decoração vintage era sua cara.

Vacilante e sem trocar uma palavra com Fitz, ela apenas seguiu seu instinto e caminhou na direção do quarto onde se ouvia um breve rumor de vozes. Ela abriu a porta sem bater e se deparou com um rosto conhecido. A mãe de Fitz. Logicamente, mais velha do que ela se lembrava, mas ainda com um semblante jovial. Sorridente, ela segurava uma criança em seu colo.

— Oi, Jemma. Como está indo? – ela perguntou com simplicidade.

A cientista engoliu em seco antes de responder.

— Bem... Desmemoriada, mas bem.

A mãe de Fitz sorriu em resposta.

— Chegue mais perto! – disse, procurando encorajar a nora.

Nervosa e com o coração acelerado, ela se aproximou, apenas para atestar definitivamente que a garotinha das fotos contidas no celular de Fitz, era real.

Athena sorria.

E naquele sorriso, naquele olhar, naquele rosto, Jemma reconheceu a combinação precisa de seus traços somados aos de Fitz. O fruto de seu relacionamento estava bem diante dela. Não se lembrava, no entanto. Nem de sua concepção, nem de seu nascimento, nem de seus primeiros dias e meses de vida. Porém, de uma forma estranha e que ela não conseguia explicar, Jemma sabia que a garotinha a pertencia.

Que ela tinha vindo de dentro de si.


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Notas finais do capítulo

Demorou, mas aí está! =)

Bom fim de ano e excelente 2017 a quem estiver lendo ;)



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