Fragmentada escrita por DrixySB


Capítulo 7
Sem rumo


Notas iniciais do capítulo

As coisas ficam meio awkward entre FitzSimmons...



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Jemma a contemplou durante o que pareceu ser um longo minuto, sem demonstrar qualquer outra emoção que não fosse o choque ao perceber que Athena era real.

A mãe de Fitz foi cuidadosa em observá-la e tentar uma abordagem sutil.

— Quer segurá-la? – Perguntou com parcimônia, franzindo o cenho.

— Não! – Jemma respondeu de imediato, dando um passo para trás, como se houvesse levado um susto. Ao se dar conta de sua reação, tratou de se recompor e justificar seu comportamento – quero dizer... – recomeçou, levando uma mecha de cabelo para trás da orelha – eu não sou... Muito boa com isso.

A mãe de Fitz sorriu, divertida.

— Está enganada, Jemma. Você é ótima. Apenas não se lembra – ela desviou o olhar da nora e, aos poucos, seu sorriso foi se desfazendo, dando vez a um semblante preocupado e complacente. Jemma seguiu seu olhar, capturando de relance o movimento de Fitz se distanciando da porta.

— Leo... – Sua mãe o chamou tarde demais. Ele já havia se afastado.

Nenhuma delas havia percebido que ele estava lá, provavelmente encostado no batente, observado a cena. Jemma sentiu o coração afundar no peito quando se deu conta de que, possivelmente, Fitz havia interpretado errado a relutância dela em segurar a menina. Talvez Fitz houvesse entendido que aquele receio em tomá-la em seus braços – algo que Jemma sentia quando mais jovem, por ser totalmente inexperiente com crianças – se tratasse de rejeição. Uma nova onda de raiva atravessou todo o seu ser. Ela respirou fundo e contou até dez, evitando descarregar a fúria em quem não merecia. Mais tarde, teria uma conversa franca com seu marido.

Ela engoliu em seco. Ainda era estranho se referir a ele dessa maneira. Bem como era estranho saber que aquela garotinha frágil e sorridente era sua filha com ele.

— Sua cabeça deve estar uma bagunça. Sequer consigo imaginar – comentou a mãe de Fitz como se houvesse lido seus pensamentos.

Jemma baixou o olhar, procurando disfarçar toda a confusão de sentimentos que ameaçava engolfá-la com um sorriso retraído.

— O que há com Leo?

— Ele está frustrado... Assim como eu, mas no caso dele é diferente – ela pausou por um momento, reflexiva – Acha que estou decepcionada com... Essa nova realidade.

Sua sogra assentiu.

— Alguma ideia do porquê de ele estar se sentindo assim?

Jemma ergueu os ombros.

— Eu pensei que a senhora saberia – disse, recostando-se, despercebidamente, no berço e cruzando os braços – deve conhecer seu filho melhor do que eu.

— Não mesmo. Ninguém conhece o meu filho melhor do que você – ela concluiu enquanto se aproximava para colocar Athena no berço. A menina não estava mais sorrindo. Agora encarava Jemma com curiosidade.

A bioquímica riu sem um traço de humor.

— Até ela sabe que há algo de errado comigo.

— Não se preocupe – a mãe de Fitz procurou acalmá-la, tocando em seu ombro e olhando firmemente nos olhos da nora – tudo vai ficar bem. Logo, sua memória estará de volta.

Eu só espero que até lá, tudo isso não acabe por causar danos irreparáveis na minha vida. Jemma pensou consigo, mas não ousou verbalizar.

— Eu vou falar com Fitz.

Ela caminhou determinada pelo corredor que dava acesso aos quartos. Desejando, de repente, que não o tivesse feito... Jemma queria ter se preparado melhor para aquele momento.  Hesitante e levemente desconcertada, ela entrou no quarto que, pela conclusão óbvia a que chegou, dividia com Fitz.

Ele estava pendurando o casaco em um cabide e o guardando no armário quando se deu conta da presença dela.

Finalmente, ele havia se desfeito dos óculos escuros. Mas seus olhos eram impossíveis de sondar. Pareciam vazios, opacos...

Ambos ficaram imersos em um silêncio desconcertante e avassalador. Um esperando o outro iniciar uma conversa. Era difícil, porém, quando ambos sabiam onde qualquer tentativa de diálogo iria dar.

Os olhos de Jemma percorreram o recinto, detendo-se na cama de casal. Seu estômago pareceu se agitar. A cada novo minuto dentro daquela casa, havia um indício que confirmava que ela tinha vida a dois com Fitz. A cada novo indício, ela constatava que tudo o que ele havia lhe dito era real. E, no ponto onde ela parou, aquela realidade soava como algo distante, até mesmo impensável...

— Então é aqui que... Nós...?

— Sim – ele respondeu subitamente, não deixando que ela completasse qualquer que fosse a sentença por ela iniciada.

Jemma se recriminou por, em meio a outras tantas bilhões de palavras, ter escolhido justamente aquelas para iniciar um diálogo. Fora uma pergunta idiota com uma resposta óbvia. Ela respirou fundo, determinada, e avançou alguns passos em sua direção.

— Então... Vai finalmente me contar tudo em detalhes?

Fitz suspirou, derrotado.

— É uma longa história... Você deveria comer alguma coisa, primeiro – tentou, buscando adiar aquele colóquio.

— Eu não estou com fome – afirmou, resoluta.

Como se tratava de uma batalha perdida, Fitz tomou o tablet em mãos e dirigiu-se para o divã, a fim de se sentar. Jemma encarou o móvel por um instante, tendo certeza de que se tratava de outra de suas ideias de decoração, então se aproximou, sentando-se ao lado do engenheiro.

Sem omitir nenhum pormenor, Fitz contou sobre o fato de Jemma tê-lo convencido a ingressar na divisão da SHIELD liderada por Phil Coulson, anos atrás, e como ele foi meio a contragosto a princípio. Especialmente por estar acostumado com a segurança de seu laboratório. Jemma estava a fim de aventurar-se, arriscar-se, testar coisas novas. Fitz estava bem com o status quo, mas acabou decidindo acompanhá-la, mantendo sua parceria iniciada na Academia da SHIELD quando eles tinham apenas 16 anos.

Falou sobre como transcorreu o primeiro ano até a traição de Grant Ward. Em seu semblante, palavras e tom de voz, era perceptível a raiva que sentia do ex-amigo, bem como a mágoa devido ao fato de que realmente havia acreditado que ele tivesse alguma afeição por eles. Fitz havia confiado na amizade do traidor mais do que gostaria de admitir.

Minuciosamente, relatou o momento que tiveram no fundo do oceano. Não omitiu que foi aquele o preciso momento em que se declarou a ela. Jemma ouviu o relato com atenção, sem olhar para ele e engolindo em seco no momento da declaração. Ele falou sobre como ela se afastou no ano seguinte, indo trabalhar infiltrada na Hydra e o fato de ter escondido isso dele. Fitz comentou sobre seu dano cerebral e como ele se sentiu sozinho até conhecer Mack. E foi quando Jemma entendeu o porquê de Mack defendê-lo naquele dia em que ele e o resto do time foram visita-la na enfermaria. Eles eram grandes amigos.

Respirando fundo e tentando não vacilar, Fitz contou sobre ela ter ido parar em outro planeta, por meio de um portal, e sobrevivido lá durante seis meses em condições precárias, não escondendo os detalhes assombrosos do inóspito planeta Maveth e sobre como ela contou com a ajuda de um astronauta que estava perdido por lá há quatorze anos. O único outro ser humano existente naquele lugar e com quem ela partilhava sua desgraça, seu infeliz destino.

Reunindo todos os resquícios de coragem que possuía, ele mostrou à Jemma uma foto dela ao lado do tal astronauta. A bioquímica encarou a imagem por um instante, um tanto confusa e ainda atordoada com aquela narrativa surreal a respeito de um planeta alienígena em que ela estivera.

— Por que ele parece mais do que somente um amigo? – indagou notando uma proximidade curiosa entre ela e o sujeito na foto. Ele a estava abraçando, afinal.

— Bem... Por que ele foi mais do que isso – Fitz respondeu sem encará-la, tentando imprimir firmeza em sua voz enquanto mantinha seus olhos repousados na tela do tablet.

Jemma prendeu a respiração por um momento, o coração acelerou devido ao choque.

— Oh... Eu... Eu sinto muito – disse entre gaguejos.

— Está tudo bem, você não me devia nada naquela época – ele procurou soar casual.

— Mas nós dois... Entendo – ela concluiu vagamente depois de uma ligeira pausa – por que você mantém essa foto? Isto é, por que nunca a deletou?

— Por que eu faria isso? – ele perguntou, genuinamente confuso – é parte de sua vida, eu não tenho o direito de simplesmente apagá-la – concluiu, finalmente olhando para ela, e Jemma notou que havia sinceridade em suas palavras.

Fitz continuou seu relato, falando sobre a criatura que vivia por lá e que eles chamaram de Hive. Sobre o plano fracassado de resgatar Will Daniels, o astronauta. Sobre o envolvimento da Hydra em todo o caso do monolito que se tratava de um portal para outra dimensão. Sobre como foram sequestrados por Ward que queria obter respostas a respeito do outro planeta e trazer a criatura que o habitava para a Terra. Sobre Hive ter possuído o corpo de Ward após Coulson matar o ex-agente. E, por fim, sobre como ele acabou por controlar mentalmente Daisy e as consequências disso, como o fato de terem perdido um amigo: Lincoln Campbell.

O engenheiro concluiu, em tom de gracejo, que Jemma pensara que seria divertido ingressar naquela divisão da SHIELD e ter acesso ao desconhecido, mas, em contrapartida, acabaram por colecionar um sem-número de traumas e tragédias.

Era informação demais para Jemma assimilar. Entretanto, uma coisa que ela absorveu de imediato é que era a responsável (mesmo que indiretamente) por todo o sofrimento de Fitz. E verbalizou sua culpa.

— Eu sinto muito...

— Eu fiz minhas próprias escolhas, Jemma – ele rebateu em um tom de voz enérgico – você não me levou a fazer nada. Eu poderia ter me recusado. Mas não o fiz.

— Você quis ficar ao meu lado, me acompanhar. Afinal, eu sempre fui sua parceira...

— Como eu disse: fiz minhas próprias escolhas – acentuou.  

Jemma terminou por assentir. Mesmo assim, a culpa que se alojara em seu peito não diminuiu diante daquelas palavras.

— Espero não estar interrompendo – a voz da mãe de Fitz, bem como suas leves batidas no batente da porta, ressoou no repentino silêncio que se instalou entre Fitz e Simmons – Vim avisar que Athena dormiu e perguntar se vocês dois estão com fome.

Fitz levantou-se de súbito.

— Acho que Jemma deve se alimentar. Eu vou voltar para o trabalho.

— Mas você não comeu nada a manhã inteira...

— Eu resolvo isso quando chegar à base.

Ela encarou o filho com um semblante preocupado

— Eu vou deixar algo para você comer mais tarde, quando voltar.

— Não é necessário...

— Fitz, por que não fica? – perguntou Jemma, que estava em silêncio até então.

O engenheiro se surpreendeu ao ouvir a voz da esposa. Especialmente devido à nota pungente em seu tom.

— Porque tenho trabalho a fazer.

— Bem, eu sou a diretora da SHIELD e estou te dando um dia de folga – ela levantou-se do divã, falando com certa altivez.

Fitz a observou sem reação por um momento, não sabendo se achava graça nas palavras dela ou se as encarava com seriedade.

— Você é a diretora, mas não se lembra. De modo que não está em posição de dar ordens.

— Ainda sou a diretora.

— Jemma...

— Está retornando para a base porque quer ficar longe daqui e evitar confrontar nossos problemas – ela o interrompeu, finalmente expressando em alto e bom som seu pensamento.

— Vou deixa-los a sós – a mãe de Fitz disse após um constrangedor momento de silêncio, afastando-se da porta.

Cuidadosamente e depois de um segundo de reflexão sobre quais deveriam ser as suas próximas palavras ou ações, ele se aproximou de Jemma, a olhando nos olhos.

— Olha, sei que está brava e aborrecida comigo...

— Não estou brava com você. E, sim, com toda essa situação – a bioquímica foi rápida em retificar.

Fitz suspirou, melancólico.

— Escute, aqui está a chave de uma gaveta no escritório em que você guarda alguns antigos cadernos – recomeçou, alcançando uma chave que se encontrava sobre o criado-mudo – Você nunca teve paciência para manter um diário, mas escrevia algumas coisas neles... De repente, pode te ajudar em algo... A se lembrar – o engenheiro fez uma pausa estratégica para observá-la, então prosseguiu quando notou que não havia perigo. Ela não parecia zangada, só um tanto frustrada, como de costume – Seu notebook está lá também... Mais tarde eu volto. Realmente tenho trabalho a fazer, não estou fugindo.

Ela estremeceu levemente quando o sentiu tocá-la. De repente, as mãos dele estavam em seus ombros, quentes e acolhedoras, enquanto ele depositava um beijo terno em sua testa – e havia algo de tão familiar naqueles gestos que Jemma não soube precisar. Sem mais uma palavra ou sequer uma troca de olhares, ele se dirigiu para a porta, fechando-a ao sair.

Jemma permaneceu em pé, no meio do quarto, sozinha e confusa, sentindo-se totalmente perdida no mundo, pequena e com frio. Talvez, nem mesmo a sensação de se estar irremediavelmente cativa em um planeta desconhecido e alienígena, se equiparasse a essa.


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Notas finais do capítulo

Demorou, mas aí está ;) slow burn como quase todas as minhas fics.



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