Fragmentada escrita por DrixySB


Capítulo 4
Velhos amigos


Notas iniciais do capítulo

A equipe visita Jemma em seu quarto.



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O quarto mergulhou em um silêncio desconcertante.

Nenhum deles se atreveu a falar no minuto seguinte à dedução de Jemma. Fitz permaneceu de cabeça baixa, enquanto ela encarava o vazio, tentando se situar na nova realidade à sua volta.

Então ela era casada com Fitz. Era isso o que o anel em seu dedo simbolizava…

Evitando olhar para ele, a bioquímica respirou bem fundo antes de recomeçar a falar.

— Isso é... Bem – ela riu, sem humor, no entanto – isso é o que se chama de plot twist...

— Decepcionada? – Fitz indagou em um tom inexpressivo.

Finalmente, ela tomou coragem de virar o rosto na direção dele e encará-lo. Não que ela estivesse preparada para isso, mas a pergunta foi tão impactante que ela não conseguiu evitar reagir dessa maneira.

— Não! – ela tentou assegurá-lo, o semblante grave. Mas a verdade é que Jemma estava incerta quanto àquela resposta. Não que estivesse realmente decepcionada. Só estava tendo dificuldades em encarar aquele fato. Parecia algo muito além de sua compreensão, da realidade que ela costumava viver aos 19 de anos de idade – não é isso – ela desviou novamente o rosto.

— Sei que, no ponto onde sua memória parou, você pensava que, bem... – ele ria nervosamente, sem de fato achar graça naquele raciocínio – poderia ter feito bem melhor do que isso...

— Não é isso, Fitz! – ela o cortou prontamente com um tom de voz severo – é só que... No ponto em que parei, você é meu melhor amigo – seu timbre atenuou e ela se atrapalhou na escolha das palavras que diria a seguir – e não consigo te imaginar como... Nada além... Eu não pensei... Jamais passou pela minha cabeça...

Ela parou de falar no exato instante em que se deu conta de que cada palavra sua assemelhava-se a um golpe violento no peito de Fitz. Os olhos dele pareceram diminutos, vazios, desprovidos de brilho. Ele não se atrevia a olhar para ela, encarando um ponto qualquer no chão. Jemma suspirou, cerrando os olhos.

— Me desculpe... Eu não quis dizer...

— Tudo bem, Jemma. Eu entendo – ele tentou dar um sorriso compreensivo, mas este soou triste – não tem motivos para pedir desculpas e nem se explicar. Ainda somos melhores amigos... De uma forma um pouco diferente, mas... Ainda é isso.

O quarto ficou novamente imerso em silêncio.

— Você vai me contar tudo? – interrogou Jemma após alguns segundos calada.

— Cada coisa ao seu tempo – ele praticamente murmurou.

Jemma lhe lançou um olhar inquisidor.

— Sem meias verdades, Fitz.

— Eu vou lhe contar tudo – ele assegurou, sacudindo a cabeça de um modo determinante – Mas aos poucos.

Ela tentou protestar, mas Fitz a silenciou com um dedo.

— Terá de confiar em mim. É melhor revelar aos poucos. Tudo o que vivemos na SHIELD… É uma loucura. Contar tudo de uma vez seria o equivalente a jogá-la em meio a um turbilhão. Vamos com calma.

A bioquímica inspirou, descontente, tornando o olhar na direção oposta de Fitz.

Ele tentou dizer algo, mas as palavras morreram em seus lábios. Ele engoliu em seco, profundamente triste, sem ideia do que fazer para melhorar a situação.

Jemma não estava brava com ele. Como poderia? Estava com raiva da situação em si. Com raiva de si mesma por não conseguir se lembrar de nada. Por tentar forçar a si mesma a se recordar e nenhuma lembrança retornar à sua mente.

— E agora...? – ela indagou em uma voz frágil e desesperançosa.

— Bem, o melhor seria que você...

— Não vá dizer que devo descansar que eu não respondo por mim. Já estou farta de descansar – ela sequer se importou ou mesmo atentou para a incoerência contida em suas palavras.

— Na verdade, eu ia dizer que seria adequado que você reencontrasse os outros... Digo, a nossa equipe. Talvez fosse bom para você revê-los.

Jemma o fitou, enfim, avaliando a expressão no rosto do engenheiro a quem ela costumava chamar de melhor amigo e que, agora, em um universo totalmente diferente do que ela conhecia – transformado pelo tempo e pelo destino – havia se tornado seu marido. Ao pensar naquela palavra enquanto o encarava, seu coração disparou de uma maneira desconcertante, como se fosse saltar pela sua boca.

— Não crie expectativas de que vê-los vá trazer minha memória de volta.

Ele meneou a cabeça, em negativa.

— Eu sei, eu... Não estou esperando por isso. E só que os outros estão preocupados com você e insistindo para vê-la. Eles são... Seus amigos. Você não se lembra, mas é como se fossem nossa família. Querem apenas ver como você está.

Jemma suavizou seu olhar, notando o quanto estava sendo rude e grosseira, tanto na maneira como o encarava quanto em como se dirigia a ele. De repente, se viu censurando a si mesma por descarregar sua fúria em Fitz. Estava sendo injusta.

— Está bem.

Ele sorriu. Era um sorriso contido, mas ainda assim, pareceu apaziguar seu coração. Intimamente Jemma se perguntou se, em todos esses anos, o sorriso de Fitz serviu para esse propósito. De alentar seu coração diante das situações mais tumultuosas.

— Eu vou chamá-los.

De repente, havia uma nova leveza em seu andar enquanto ele se dirigia à porta. E Jemma sabia que, embora não admitisse, bem no fundo, ele tinha uma esperança de que ver o restante da equipe ao vivo e não em uma simples foto, pudesse despertar alguma memória adormecida.

Ela não podia negar que também nutria uma pequena expectativa em relação a isso.

*

— Hey, Jemma! – Daisy foi a primeira a entrar sendo seguida de Fitz. A garota portava um sorriso comprimido e cuidadoso, como se estivesse pisando em um campo minado, tentando desviar das armadilhas que ocultavam as minas, e cada passo seu pudesse acarretar uma explosão violenta – Como está se sentindo?

Jemma demorou a responder, tentando puxar pela memória combalida algum registro daquela garota desconhecida. Não encontrou nada em seus arquivos corrompidos. Era uma sensação estranha. Não saber quem ela era e, mesmo assim, ela estar ali perguntando de seu estado como se a conhecesse há séculos.

— Bem... Fisicamente bem – ela disse enquanto observava os outros entrarem no quarto – um pouco de dor de cabeça apenas...

Foi só quando ela mencionou a dor de cabeça que a dúvida veio perturbar sua mente.

— Aliás, o que diabos aconteceu? – perguntou, alterando o tom de voz e levando a mão à contusão do lado esquerdo de sua cabeça – o que foi isso que fez com que eu perdesse a memória?

O time se entreolhou. Ela encarou Fitz, inquisitiva.

— O que houve e por que não me contou?

— Você levou um tiro, Jemma – disse um homem de estatura mediana e um porte sério – um tiro de raspão.

— E você é...?

— Coulson. Philip Coulson. Fui seu chefe um dia – ele deu um meio sorriso – havia alguma piada interna ali porque os demais, exceto por Fitz, também sorriram, mesmo que disfarçadamente – você levou um tiro em uma missão. Algo corriqueiro.

— Corriqueiro? – Jemma perguntou, franzindo as sobrancelhas, não crendo no que ouvia – as missões da SHIELD são sempre assim? Eu sequer tenho treinamento suficiente como agente de campo, saio em uma missão sem muita segurança, levo um tiro e isso é corriqueiro? – ela brandiu a cabeça, irônica – quanta organização!

— Na verdade, você tem muita experiência e teve um intenso treinamento como agente de campo – corrigiu Daisy – mas não se lembra...

— Quando eu disse corriqueiro, quis dizer que era uma missão como qualquer outra, estávamos seguindo o protocolo de sempre, mas incidentes acontecem. Não foi a primeira, nem será a última vez. Estamos sujeitos a isso. Nem sempre conseguimos ter o controle do que acontece ao nosso redor durante as missões. Nunca partimos com a certeza de que iremos vencer mais uma ou perder definitivamente. Já tivemos baixas na equipe, de fato, mas todos vocês sabiam disso quando concordaram fazer parte da SHIELD. São ossos do ofício – o seu ex-chefe procurou retificar – isso não quer dizer que não lamento, Jemma. Lamento profundamente e fico feliz que não tenhamos perdido você. Seria uma perda irreparável... Ainda bem que ainda está conosco. Foi apenas um grande susto.

Jemma compreendeu porque, um dia, ele fora seu chefe. Mostrava imensa preocupação, mas não deixava de ser profissional. Não se rendia ao emocional, tampouco se mostrava frio. Era um sujeito racional que valorizava os membros do time.

A questão era por que ele havia deixado de ser líder quando isso lhe parecia inato?

— Foi isso, então? Eu levei um tiro em uma missão?

— Exatamente. Explicaremos eventualmente os pormenores da missão. Você ainda tem de se situar na realidade em que vivemos para poder compreender melhor o propósito e as consequências disso. Por ora, basta saber que você foi acidentalmente atingida por um de nossos estranhos desafetos. Temos muitos deles.

Ela entendeu o que ele quis dizer. Provavelmente falar do que a missão se tratava de nada adiantaria, visto que não faria sentido nenhum para Jemma. Deveria haver um sem número de situações bizarras que levaram aquela missão a acontecer.

— Justo – ela disse – já é muito mais do que Fitz me disse – ela lançou-lhe um olhar repreensivo – ele insiste em meias verdades.

— Hey, pega leve – disse Mack, em defesa do amigo – o Turbo está fazendo o melhor que pode.

Jemma encarou o desconhecido por um momento, captando de imediato que Turbo se tratava de um apelido concedido a Fitz.

— Você não se lembra de nós, então deixe eu lhe apresentar os demais. Esta aqui é Daisy. Logo vai perceber que não se trata de uma agente comum. Ela é o que chamamos de inumana.

A bioquímica arqueou as sobrancelhas, confusa.

— Ela tem poderes especiais. Consegue gerar ondas sísmicas.

Daisy acenou, sorrindo. Jemma a fitou com certo interesse.

— Este outro sujeito que acabou de falar com você é o Mack e esta que está calada é...

— Melinda May – Jemma completou – eu a conheço. No ponto onde minha memória estacionou, ela é uma lenda pela qual todos os que sonham em ingressar na SHIELD nutrem um intenso respeito.

May deu um sorriso enviesado e assentiu.

— A admiração é mútua, agente Simmons.

Em resposta, Jemma ficou levemente boquiaberta, sem saber exatamente o que dizer até que conseguiu alinhar e coordenar seus pensamentos novamente.

— Oh, isso é... Uma grande e incrível surpresa.

— É mesmo! – comentou Fitz, enfim dizendo algo após passar tanto tempo mudo – ela nunca havia expressado verbalmente sua admiração – finalizou com certo entusiasmo.

May apenas relanceou o olhar para ele, como se silenciosamente informasse que o comentário era inoportuno.

— Bem... – continuou Coulson – esta é sua equipe.

Jemma deu um quase imperceptível sorriso. Eles pareciam ótimas pessoas. Mesmo que, naquele momento, representassem a ela um bando de desconhecidos, ela se sentiu estranhamente confortável perto deles. Havia algo de familiar ali.

— Você precisa de alguma coisa? Qualquer coisa? – Perguntou Daisy.

Jemma respirou profundamente. A verdade é que ela apenas queria assimilar direito tudo o que havia sido dito até agora para ela. A realidade ainda lhe era muito estranha. Tinha de concordar com Fitz que era melhor ir sabendo das coisas aos poucos, embora não ousasse dizer aquilo em voz alta. Ela precisava mesmo ficar a sós com seus pensamentos.

— Na verdade... Não me levem a mal – ela olhou para cada um deles – eu só preciso ficar sozinha.

— Você não gostou do que viu? Não gostou de nós? – Daisy perguntou com um ar de quem graceja, mas também havia algum receio em sua voz.

— Não é isso – Jemma sorriu, levando uma mecha de cabelo para trás da orelha – eu só preciso de um tempo sozinha para tentar compreender tudo... Tentar me situar.

— Nós entendemos, Jemma – Coulson disse – vamos deixar você sozinha. Não é? – ele se dirigiu aos outros que assentiram, ainda que com certa relutância.

Um a um, eles foram deixando o quarto. Apenas Fitz ficou.

— Espero que não fique chateado, mas... – ela começou, fazendo o possível para não magoá-lo com suas palavras ou tom de voz – quando eu disse que queria ficar sozinha, eu quis dizer realmente sozinha.

— Claro, eu entendi – ele tornou com simplicidade – só queria me assegurar de que está bem, de que não precisa de nada.

Ela sorriu em resposta.

— Estou bem.

— Se precisar de qualquer coisa...

— Pode deixar. Se precisar, eu chamo – disse, resoluta.

Foi a vez de Fitz sorrir, ainda que melancolicamente, antes de deixar o quarto. O engenheiro ainda arriscou uma última olhada por cima do ombro em sua direção antes de fechar a porta.

Jemma esperou que ele saísse de seu campo de visão para dar um novo suspiro, encarando ligeiramente suas próprias mãos estendidas no colo. Lá estava a aliança. Um lembrete constante do papel que, agora, Fitz desepenhava em sua vida.


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Notas finais do capítulo

O próximo tem uma briga e uma revelação ;)



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