Fragmentada escrita por DrixySB


Capítulo 3
O que eu perdi?


Notas iniciais do capítulo

Desmemoriada, Jemma tenta se situar...



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 – Eu… não estou entendendo - Fitz percebeu que era algo ridículo a se dizer no exato momento em que proferiu a sentença.

— Se estamos em 2018 como você diz - ela falava entre soluços - então… então eu não me lembro de nada dos últimos dez anos… Eu não…

Seu choro era convulsivo e desesperado. E se intensificava cada vez mais. Fitz se sentiu de mãos atadas, sem saber o que fazer. Era difícil pensar em algo para dizer quando o rosto dela estava coberto de lágrimas.

— Jemma… vai ficar tudo bem - nem ele mesmo conseguiu acreditar naquelas palavras.

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Não… Não vai, não…

Depois disso, tudo aconteceu rápido demais. A porta se abriu de maneira abrupta e Coulson e Daisy entraram no quarto com semblantes preocupados, perguntando o que estava acontecendo. Fitz levantou-se de um salto, tentando argumentar para que eles saíssem.

— Não é uma boa hora, pessoal!

— Quem são essas pessoas? - Jemma indagou, assustada, até mesmo pela forma repentina com que eles entraram no quarto.

— Jemma… Somos nós! - Daisy tentou se aproximar, sem entender o que estava havendo, mas Coulson colocou o braço a sua frente, a impedindo de prosseguir.

— É melhor deixarmos os dois a sós.

— Mas…

— Vamos, Daisy! - Coulson foi categórico, puxando a inumana pelo braço para fora do quarto. Ela ainda deu uma última olhada por cima do ombro para sua amiga, antes de sair, notando que ela a fitava como se nunca a houvesse visto na vida.

Assim que deixaram o quarto, Jemma tornou a levar as mãos à cabeça, como se estivesse se esforçando para acordar de um pesadelo. Fitz não sabia o que fazer para acalmá-la. Jemma estava começando a entrar em pânico.

Pela parede de vidro do quarto, o engenheiro viu que o médico se aproximava rapidamente, provavelmente alertado por Coulson. Fitz abriu a porta, pedindo a ele que tomasse uma providência imediata.

— Ela perdeu a memória e entrou em desespero.

— Teremos que lhe dar um sedativo - o doutor afirmou.

— Não! Eu não quero! Eu não posso continuar dormindo.

Mesmo contra a sua vontade, o doutor injetou o medicamento em seu braço, enquanto Fitz a segurava para que ela não se debatesse.

Uma voz gritava em seu subconsciente ao mesmo tempo em que o mundo se tornava um borrão e Jemma apagava novamente. Ela sabia que não podia continuar dormindo. Já havia perdido uma parte significativa de si… Anos de sua vida. Tinha medo de dormir e se perder de vez de si mesma, de nunca mais se encontrar.

Precisava desesperadamente enfrentar a realidade acordada. E tentar entendê-la.

*

Seus olhos se abriram vagarosamente e foram se ajustando à luz do quarto. Seu corpo parecia pesado. Sentiu como se tivesse dormido por séculos. Então seu coração deu um sobressalto, lembrando-se dos últimos momentos acordada antes de lhe aplicarem um sedativo.

Esperava que não houvesse dormido por séculos. Já era demais ter se esquecido dos últimos dez anos…

Jemma sentou-se na cama, olhando em torno de si e sentindo, de repente, uma pontada na cabeça. Olhou para a mesa de cabeceira e encontrou um espelho. Imediatamente, esticou o braço para alcançá-lo.

Ela deu uma boa olhada em si mesma. Seus traços permaneciam essencialmente os mesmos, com algumas sutis diferenças. Obviamente, ela estava mais velha. Virou o rosto um pouco, encontrando o motivo de sua cabeça latejar.

Havia uma contusão bem feia no lado esquerdo de sua cabeça. Massageou a região, ainda sentindo dor. A origem daquele ferimento era o mistério a ser resolvido. Mas sabia que tinha estreita relação com sua perda de memória.

Algum tempo depois, Fitz entrou no quarto com um tablet em mãos, a encontrando sentada sobre a cama, mais calma do que estava horas atrás, mas com um semblante que expressava melancolia e mau humor.

Iria ser bem difícil reanimá-la.

Ele hesitou antes de se aproximar. Estacionado em frente à porta, com uma postura rija, avaliou se ela se sentia confortável com sua presença.

— Hey, Jemma… Como está se sentindo? - ele perguntou, forjando seu melhor sorriso.

— Cansada de tanto dormir - respondeu de maneira áspera.

O engenheiro reparou que ela o fitava com um olhar maquiavélico. Certamente brava por ele ter ajudado o médico a lhe aplicar um sedativo.

— Eu sinto muito, Jemma… Foi necessário - ele procurou as palavras certas, sentindo como se estivesse pisando em ovos - você estava…

— Surtando - ela completou, em um tom determinante - e com razão, não é? Como você se sentiria no meu lugar?

Ele suspirou.

— Eu não tiro sua razão, Jemma - concordou, se aproximando enfim. Fitz sentou-se na cadeira ao lado da cama - eu sei que está brava, mas… deve haver algo que eu possa fazer para… contornar isso.

Os olhos dele eram súplices e Jemma conseguiu identificar que ele também estava sofrendo, embora procurasse omitir isso. Certamente para não preocupá-la ainda mais.

Ela desviou o olhar do dele, suspirando longamente e procurando engolir sua frustração.

— Tudo bem… Tem algo em que você pode ser útil.

Fitz deu um sorriso sincero pela primeira vez em dias, mesmo que contido.

— Estou às suas ordens.

— Ainda é 2018?

— Temo que sim…

Ela deu um novo suspiro carregado de melancolia.

— Eu preciso de atualizações… Tem muito que perdi.

— Eu pensei nisso - disse Fitz, sorrindo, e lhe mostrando o tablet - por isso eu trouxe algumas fotos.

Jemma assentiu, mesmo sem ter certeza. Não sabia se estava preparada para o que Fitz iria lhe mostrar.

— Se me permite um gracejo… Pelo menos agora você sabe como o Capitão América se sente - o engenheiro falou, tentando soar engraçado e despreocupado. Mas falhou miseravelmente em sua tentativa.

— O que quer dizer?

— Bem… Sabe, Steve Rogers…?

— É só uma lenda - ela enfatizou as palavras como se estivesse falando com alguém intelectualmente muito inferior.

Um tanto sem jeito, Fitz desviou o olhar para o tablet, passando as fotos rapidamente e selecionando-as.

— Ah, esqueça… É um pouco demais para você assimilar o mundo que vivemos hoje, com um bando de homens adultos fantasiados e combatendo o mal…

— Fitz, de que está falando? - ela perguntou já sem paciência.

— Olhe - disse ele, por fim, mostrando uma foto no aparelho para mudar de assunto.

Ela tomou o tablet em suas mãos analisando a figura. Ela e outras cinco pessoas que pareciam formar um time.

— Quem são…?

— É a nossa equipe. A equipe original. Até onde você se lembra, nós dois nos formamos na Academia da Shield há algum tempo e então passamos a trabalhar na divisão de ciência e tecnologia, certo? Posteriormente, fomos recrutados para a equipe do agente Philip Coulson - Fitz apontou, na tela, para seu antigo diretor.

Jemma o ouviu atentamente, tentando delinear aquele cenário em sua imaginação.

Fitz engoliu em seco antes de perguntar.

— Por acaso… Não se lembra dele? - o engenheiro apontou para um sujeito alto, sério, bem apessoado, trajando um elegante terno e que dividia a foto com eles.

Ela fez que não com a cabeça.

— Grant Ward. Esse nome não te remete a nada?

Simmons desviou o olhar do tablet e encarou Fitz por um longo instante.

— Não… Não mesmo!

Fitz limpou a garganta e continuou.

— O doutor me disse que, de repente, ver algumas fotos poderia reavivar sua memória. Despertar o que está adormecido dentro de você.

— Bem, essa foto não despertou nada - comentou, novamente se sentindo frustrada e com raiva - isso significa que meu caso é grave, é isso?

— Não… Ele também disse que você pode recuperar a memória aos poucos.

— E se eu nunca mais me lembrar?

Fitz tocou uma das mãos dela que ainda segurava o tablet e a fitou intensamente. Simmons devolveu seu olhar. Seu coração falhou uma batida, mas ela não soube precisar o motivo.

— Você vai se lembrar. Não se preocupe. Acho que é melhor continuarmos vendo as fotos - ele prosseguiu - eu perguntei se você se lembrava dele porque, infelizmente, esse cara teve um impacto muito forte em nossas vidas.

Ela ergueu as sobrancelhas, curiosa.

— O que ele fez?

— Era um membro da Hydra infiltrado.

— Oh! - ela exclamou, surpresa - por quanto tempo ele permaneceu infiltrado?

— Um longo tempo. O suficiente para causar danos irreparáveis…

— Ele nos machucou?

— De todas as maneiras possíveis e impossíveis.

— Fez algo contra nós dois especificamente?

O olhar de Fitz tornou-se distante por um momento.

— Fitz…? - ela o chamou suavemente para despertá-lo do transe que pareceu envolvê-lo. Os olhos dele tornaram a se focar nela - ele fez algo contra nós dois?

O engenheiro assentiu.

— Sim, ele mentiu. Conquistou nossa confiança e amizade e depois nos traiu. Ele… - Fitz respirou fundo - ele tentou nos matar, jogando nós dois no fundo do oceano dentro de um container.

Jemma lançou-lhe um olhar incrédulo.

— Isso é sério?

— Eu não estaria lhe contando se não fosse.

— E o que houve depois?

— Bem… Depois que descobrimos uma maneira de sair de lá, só tinha oxigênio para um de nós, então eu… Eu dei a você a chance de se salvar.

Ela engoliu em seco, o coração apertando-se de repente enquanto o ouvia.

— E você nadou até à superfície… Recusando-se a me deixar no fundo do mar, por isso me carregou desacordado até que Nick Fury nos tirou de dentro da água.

— Fury? Essa história é mesmo real?

Fitz não respondeu, limitando-se a fitá-la com um olhar determinante.

— Oh, é claro que é… - concluiu, censurando a si mesma por fazer uma pergunta tão tola - por que você iria mentir para mim? E então, o que aconteceu?

— Eu sofri um dano cerebral… Hipoxia.

— Meu Deus! - ela exclamou sem conseguir se conter - você está bem agora?

— Sim, de certa maneira… Ficaram algumas sequelas. Eu ainda tropeço em algumas palavras, tenho certa dificuldade para formular pensamentos coerentes quando fico muito agitado… Mas estou melhor.

— E depois disso? - ela soava interessada, mas ao mesmo tempo receosa de onde aquela história toda ia dar.

Fitz contou a ela sobre eles terem se afastado um do outro graças àquele incidente e Jemma sentiu-se mal por isso. Relatou sua missão disfarçada na Hydra e como ela foi salva por Bobbi Morse, mostrando-lhe a fotografia de sua salvadora. A bioquímica ficou boquiaberta ao tomar conhecimento de que tinha sido capaz de se infiltrar em uma subversiva e altamente perigosa organização, lembrando-se de que era péssima em fingir e mentir. Mas nada a deixou mais perplexa do que quando o engenheiro disse, um tanto relutante, que ela havia ido parar em outro planeta. Ele explicou os pormenores de sua partida indesejada para Maveth e, não fosse o fato de Fitz lhe mostrar algumas fotos do tal planeta azulado e inóspito, ela não teria acreditado em uma palavra do que ele dizia.

— Tudo isso é muito bizarro… Não é possível. Você precisa me contar em detalhes todas essas situações! - ela exigiu, tendo em vista que ele apenas expôs todos aqueles acontecimentos superficialmente, sumarizando-os, ao mesmo tempo em que mostrava algumas pouco esclarecedoras fotografias - eu preciso saber como sobrevivi em outro planeta durante… Seis meses?

— Eu acho que fui longe demais - ele comentou, visivelmente preocupado - você está desmemoriada e eu fui jogando esse excesso de informações sobre você…

— Não! Pelo contrário… Eu não quero que me esconda nada, nem que me conte meias-verdades. Lembro que você era bom nisso - ela tornou, com um tom repreensivo e irônico - agora eu quero saber…

— Jemma… Eu contei essas coisas e mostrei essas fotos na esperança de que isso iluminasse o caminho de volta à sua memória… Mas percebo que não adiantou. O doutor disse que algumas das lembranças mais marcantes teriam o poder de disparar um gatilho - seu tom diminuiu consideravelmente na última palavra, como se aquela sentença tivesse despertado em Fitz alguma lembrança dolorosa - isto é… Esqueça - ele moveu uma mão no ar, como se espantasse um inseto voador indesejável - eu não deveria...

— Ora, pare com isso! Quem pode dizer se minha memória vai voltar ou não? Por enquanto é bom que eu consiga me situar… entender quem sou, qual é a minha identidade - ela disse com certa rispidez - mesmo que eu admita que isso tudo é muito confuso…

— Eu sei. E é por isso que eu acho que deveria ter ido com calma…

Jemma cerrou os olhos, procurando contar até dez. Ela estava experimentando uma inexplicável e incontrolável raiva. Tinha a sensação de que, se não procurasse respirar fundo, sairia quebrando o quarto todo. Mas não queria despejar sua revolta em cima de Fitz. Ele não tinha culpa de nada, só estava tentando ajudar.

— Ok - ela levantou as mãos, como se pedisse por calma - tem mais uma coisa que eu preciso perguntar.

Fitz arqueou as sobrancelhas em expectativa.

Mordendo a parte interna dos lábios, a bioquímica passou a alisar com o indicador a aliança misteriosa em seu dedo anelar. Fitz prendeu a respiração por um segundo. Tomando fôlego, Jemma, enfim, tomou coragem para falar.

— Isso - começou, referindo-se ao anel - significa que sou casada.

Ela avaliou Fitz por um segundo, acidentalmente detendo seu olhar no dedo anelar da mão esquerda dele.

— Oh, você também - ela exclamou, rindo um pouco, algo que fazia pela primeira vez em dias - não dá pra acreditar... É uma realidade complicada de aceitar… Quer dizer, eu me lembro de meus discursos anti-matrimônio e você, Fitz… Bem, não me leve a mal, mas você não era muito de interagir, sempre tão tímido e solitário… Isto é, até se tornar meu amigo, mas isso… - ela parou de falar por um segundo ao perceber que Fitz tentava esconder o acessório, cobrindo-o totalmente com a outra mão, soando constrangido e desapontado, cabisbaixo de repente…

Jemma franziu o cenho, confusa com aquele gesto.

— Fitz… Com quem somos casados? - o universo pareceu jogar a resposta lógica em sua face no mesmo instante em que ela perguntou. Simmons engoliu em seco, um lampejo de compreensão atravessando seu rosto. Sua boca se entreabriu… - Isso quer dizer… Você e eu… Nós…? - ela tentou, sem conseguir dar andamento àquelas sentenças.

Fitz inalou profundamente, sentindo o ar tão carregado, que parecia que seu peso avassalador iria lhe esmagar. Naquele silêncio estava expressa a resposta para a pergunta não formulada.

— Oh… - ela disse, apenas, dando-se conta de que perdera mais do que gostaria de admitir.

E precisava se encontrar com extrema urgência.


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