Cicatrizes - Memories Of Kusanagi escrita por duuhalbuquerque


Capítulo 4
Capitulo Quatro - Água Contida




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         Acordei. A luz clara e agressiva ofuscou meus olhos. Tentei me levantar, mas a dor na minha cabeça me mostrou que eu não estava nada bem. Novamente abri meus olhos e pude apenas enxergar o teto branco. Foi então que senti alguém segurando minha mão direita. Seja quem fosse, segurava com força, como se estivesse me impedindo de ir a algum lugar. Levei meus olhos até a pessoa.

 

      – Filho, graças a Deus! Que bom que acordou – Os olhos da minha mãe se encheram de lágrimas, e um sorriso frágil se estendeu sobre seu rosto.

      – Mãe... – Um sorriso dolorido também surgiu em meu rosto. Nenhuma briga conseguira tirar a satisfação e segurança que tal presença me oferecia – Onde estou? – Perguntei, olhando para meus lados e imaginando que lugar era aquele.

      – Você está no hospital. Por que fez aquilo, meu filho? – Minha mãe me respondeu, ainda segurando firme minha mão.

      – Há quanto tempo estou aqui? – Meu corpo ainda doía, e minha boca estava mais ressecada do que nunca tivera antes.

      – Quase três dias – Ponderou.

 

Tentei sentar-me na cama. Mas o soro que estava preso ao meu braço me impediu. Pus uma das mãos sobre a cabeça, sentindo a mesma latejar. Ainda estava atordoado. Não conseguir me lembrar de nada após a noite que tive com Mira.

 

      – Uma pessoa veio lhe ver... – Repentinamente minha mãe comentou, aguçando minha curiosidade logo.

 

A porta do quarto se abriu, e Yushiro adentrou. Com um olhar meio envergonhado.

Sorri ao ver meu irmão ali, e logo pedi para o mesmo se aproximar.

Pus a mão em seus cabelos, bagunçando-os, como sempre fiz. Ele continuava envergonhado, parecia ainda chateado com algo que eu não havia feito. Levantei seu rosto até meus olhos.

 

      – Yushiro... Eu não abandonei você. Nunca acredite em nada que os outros te falarem, principalmente vindo do nosso pai... Entendeu? Eu não estou em casa não é por minha culpa, e sim dele e da mamãe. Mas eu prometo que, assim que puder, voltarei pra perto de você. Ta bom? Vou visitar você enquanto não volto – Expliquei o que deveria ter sido explicado muito antes. E, pra minha tranqüilidade, surtiu efeito.

 

Yushiro sorriu, com os olhos brilhantes e prontos para chorarem a qualquer momento. Retribui o sorriso do garoto, e o mesmo me abraçou. E como uma mágica, o peso que havia sobre minhas costas desapareceu. Minha mãe ali perto sorriu e demonstrou tranqüilidade em seus olhos.

 

      – Tenshin, levarei seu irmão pra comer alguma coisa. Estamos aqui desde ontem a noite, e ele precisa se alimentar – Minha mãe me comunicou, pegando a mão de Yushiro logo depois.

      – Tudo bem. Ele precisa comer mesmo – Sorri, concordando com minha mãe.

 

Ambos saíram do quarto em seguida.

         Novamente levei meus olhos para o nada. Por mais que eu tentasse me lembrar de alguma coisa daquela noite, nada me vinha. Era como se minha mente tivesse bloqueado tudo. Suspirei. Juntei minhas mãos até a cabeça, e, com esforço, consegui me sentar à cama.

 

      – Mas que merda que eu fui fazer... – Pensei, com tudo muito confuso ainda.

 

Aquela sala hospitalar era como qualquer outra que eu já tinha visto. A temperatura era fresca, por conta do ar condicionado. Havia um pequeno sofá amarronzado ao lado esquerdo do leito hospitalar. Do outro lado, bolsas e roupas que minha mãe provavelmente havia levado pra mim. Fui surpreendido com alguns toques na porta.

 

      – Posso entrar? – A voz logo foi identificada. Era Mira e Yuki.

      – Claro que pode – Respondi trepidante.

 

Mira e Yukihiro entraram. Os mesmos usavam o uniforme do internato.

O primeiro a se aproximar foi o ruivo.

 

      – Seu maluco, não faça mais aquilo. Ok? – O mesmo disse, com seu jeito sacana de sempre – Trouxe uma coisa pra ti... – Logo tirou uma barra de chocolate do bolso de sua calça e me ofereceu.

 

Sorri para o ruivo, e aceitei a barra. Mira estava ao lado, mas a poucos passos atrás. Yukihiro olhou para ele, e em seguida para mim. Soltando um sorriso nada discreto.

 

      – Deixarei os dois a sós. Espero você lá fora, Mira – O ruivo ponderou, já abrindo a porta do quarto – E o senhor, Kusanagi... Trate de ficar bom logo! – Saiu logo em seguida.

 

O silêncio se expandiu pelo quarto. Mira apenas me observava. Seu semblante era de assustado, e seus olhos estavam vermelhos. Denunciando que o garoto havia chorado algumas horas atrás.

 

      – Por que você fez isso, idiota? – Indagara de maneira ríspida repentinamente.

      – Mais um me perguntando isso... – Elevei minha cabeça para o alto e suspirei.

      – Mais um, e logo terão muitos mais. Todos do internato estão super preocupado com você... Idiota! Deixa de ser arrogante, e assume que você errou. Admita que fez uma merda, e das grandes! – Novamente Mira ponderou, ainda sendo bruto em suas palavras.

 

Levei meus olhos até os seus. Sim, ele estava certo. Fui idiota com aquela minha atitude. Deixei todos que gostam de mim preocupado, e, por pouco, não perdi minha vida.

 

      – Desculpe... – Admiti meu erro, inclinando a cabeça levemente pra baixo.

      – Me promete que não vai fazer mais isso? – Mira se aproximou, sentando-se ao meu lado.

      – Sim, eu prometo – Respondi convicto.

 

Repentinamente, Mira me abraçou. Pude sentir seu coração acelerado. Coloquei uma de minhas mãos sobre a sua. Ainda não estava acostumado com certas demonstrações de afeto. Nunca tive muito isso, além do meu irmão e às vezes da minha mãe.

 

      – Enfim, preciso ir agora. Yuki deve está impaciente me esperando – Mira levantou-se, e caminhou em direção da porta a frente.

      – Mira... – Interrompi o garoto, fazendo o mesmo levar seus olhos até a mim.

      – O que foi, Tenshin? – Me perguntou.

      – Você se arrependeu do que fizemos naquela noite? – Indaguei, causando espanto sobre Mira.

      – ... Não! E você, Tenshin? Arrependeu-se? – Agora o garoto me perguntava.

      – Não – Sorri sem jeito.

 

Mira retribuiu o sorriso, e logo depois saiu do quarto.

 

         Algumas horas haviam se passado, e minha mãe decidira levar Yushiro pra casa.

Eu continuava deitado ali na cama. Uma enfermeira havia me dado um estranho remédio à noite. Enfim, o que importava era que eu estava me sentindo um pouco melhor.

         Liguei a televisão, e deixei no canal que passava um desenho americano.

Novamente alguém tirara minha atenção batendo na porta.

 

      – Pode entrar – Respondi.

 

Um homem de cabelos grisalhos, trajando um terno elegante entrou ao meu quarto.

 

      – Vovô?! – Me surpreendi com a visita, me sentando na cama rapidamente.

      – Tenshin... Que susto você deu na gente! Como está agora? – O mesmo se aproximou, sentando-se a minha frente.

      – Só com um pouco de dor na cabeça. Mas estou melhorando – Respondi.

      – Fiquei sabendo que você está em um internato. Desculpe-me, se eu soubesse antes, não teria deixado – Desculpou-se meu avô.

      – Não se preocupe comigo. Só quero que olhe meu irmão... Ele na mesma na casa que meu pai não vai dar certo – Meu avô talvez fosse minha única ajuda.

      – Você não está sabendo? Eu expulsei seu pai de casa. Não agüentava mais reclamações da sua mãe, dizendo que ele chegava bêbado quase todos os dias em casa. Dei um basta nisso! – Meu avô se levantou, e meus olhos o seguiram.

      – Verdade? Pelo menos o senhor teve alguma atitude... – Sussurrei, ficando mais tranqüilo após aquela noticia.

      – Do que está falando? Sobre sua mãe ter deixado você ir para o internato? Ela fez isso porque seu pai a ameaçou... Ameaçou, dizendo que, caso ela não concordasse com a idéia, sumiria com Yushiro! – Após tais palavras, era notável minha expressão de surpresa.

 

Então... Minha mãe não havia sido conivente. Apenas uma vitima de chantagens. Como não pude pensar nisso? Era o que deveria esperar de um homem sujo como meu pai. E só de pensar que eu a desprezei sem me importar. Senti meu coração ser esmagado com meus próprios sentimentos. Meu avô permanecia me observando, e assim disse tais palavras.

 

      – Se quiser, não precisa ir ao internato a partir de amanhã. Desfaço sua matricula, e você estará livre! – Propôs, me deixando pensativo sobre a idéia.

Comecei a pensar nas semanas anteriores. Do meu convívio com os alunos do internato. E em especial, no Mira.

A noticia que meu pai havia saído de casa me deixou mais tranqüilo. Minha mãe e meu irmão não viveriam mais o inferno que tanto tempo vivemos.

Novamente olhei para meu avô.

 

      – Agora não... Por enquanto prefiro ficar lá, não é necessário voltar pra casa agora! – Respondi, deixando o senhor Kusanagi surpreso.

      – Tudo bem, meu filho. Que assim seja feito, mas, se precisar, pode entrar em contato comigo. Ok? – Novamente meu avô sentou-se a minha frente, demonstrando que atrás daqueles olhos aparentemente rudes, existia uma pessoa que se importava comigo.

      – Obrigado, vovô. Não se preocupe comigo, vou ficar bem – Sorri.

 

 

         Cheguei ao internato. No meu quarto, alguns presentes que o pessoal havia comprado de boas vindas. Logo me encontro com Mira e Fye.

 

      – Sentiram a minha falta? – Brinquei.

 

         E assim logo se passaram cinco meses desde o acontecido. Quase todos finais de semana eu dormia em minha casa. Era impressionante como aquele lugar havia se transformado em um paraíso com a ausência do meu pai!

 

Eu havia terminado meu banho. Sai do banheiro apenas de calça moletom, e a toalha jogada sobre meus ombros. Deparei-me com Mira perto da porta. O garoto estava meio pálido, e seus lábios levemente trêmulos.

 

      – Mira? O que houve? Pensei que íamos nos encontrar lá fora – Me assustei com a presença repentina.

      – O que você fez, Tenshin? – Mira indagou, ainda me olhando com seus olhos estatelados.

      – O que? Como assim? – Me aproximei do garoto, ainda sem entender absolutamente nada.

      – Uma menina... Uma menina me parou lá fora. Disse que está a sua procura, tem assuntos pendentes contigo – Mira respondeu.

      – Menina...? Eu não sei de quem está falando – Eu realmente estava confuso.

      – Ela me segurou pelos braços. Parecia nervosa, e querendo te encontrar de qualquer maneira... Vai lá fora que você vai encontrá-la – Ponderou Mira, demonstrando nervosismo em seu timbre de voz.

 

Não hesitei, e logo sai do quarto em busca da misteriosa garota.

         Caminhei pelo corredor, me deparando com uma sala vazia ao lado. Na verdade, nem tão vazia assim. Havia uma garota de cabelos negros até os ombros encostada sobre a janela. A observei bem. Ela não me era estranha. Aproximei-me.

A garota trajava uma saia preta um pouco acima dos joelhos e uma blusa feminina branca. Seus cabelos eram lisos e extremamente escuros.

 

      – É você que estava me procurando? – Perguntei, trazendo os olhos da garota até a mim.

 

A mesma me olhou. Aproximou-se lentamente. Não sei por que, mas ela tinha algo de muito familiar. Continuei a observando curioso.

 

      – Não consegue se lembrar de mim? – Indagou repentinamente – Amily...

 

Amily? Claro! Ela era a filha do meu pai com a amante. Bem que eu estava reconhecendo seus olhos familiares. Mas por que ela estaria ali? Eu só havia visto essa garota umas duas vezes quando pequeno. Novamente fitei meus olhos aos seus.

 

      – Ah, agora eu me lembro. O que você quer? Por que me procurava?

      – Você ficou sabendo que seu avô tirou o emprego do meu pai? – Amily me perguntou.

      – Sim, fiquei sabendo... – Fui frio em minhas palavras, esperando o próximo comentário da garota.

      – Ele não deveria ter feito isso! Meu pai precisa sustentar a casa da minha mãe. Seu avô destruiu as nossas vidas! – A garota alterou sua voz, mas nada que pudesse me assustar ou amedrontar.

      – O que posso fazer? Ele fez por merecer. Ele também destruiu minha família, ou melhor... Quase destruiu. Mas meu avô deu um fim nisso! Seu pai não merece nem a metade que recebeu da minha família... E se contente em ter uma casa – Fui rude em minhas palavras.

      – O que está dizendo? Não vai fazer nada? – Amily perguntou, incrédula.

      – Acha que vou sustentar o alcoolismo do seu pai? Desista, Amily! Ele teve diversas oportunidades, mas não soube aproveitá-las. E mais uma coisa, quem é você pra me exigir algo? É uma bastarda! Fruto de um adultério... Precisa se contentar com o pouco que tem dele e da sua mãe – Minhas palavras foram como uma faca afiada invadindo o peito da garota.

 

Seus olhos encheram-se de fúria. De sua garganta foram proferidas palavras de vingança. Nada que deixou ameaçado. Amily saiu logo em seguida.

Segui seus passos até a porta.

Eu continuava sem acreditar que aquela garota havia tido coragem de ir até o internato atrás de mim. Era cruel, mas agora eu me sentia muito melhor ao saber que meu pai passava por dificuldades financeiras.


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Notas finais do capítulo

Capitulo pequeno. Porém bem importante para o enrêdo.
Estamos chegando na reta final dessa pequena biografia de Tenshin, espero que todos estejam gostando!

Obrigado pra todos que leem e alguns que comentam



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