Cicatrizes - Memories Of Kusanagi escrita por duuhalbuquerque


Capítulo 2
Capitulo Dois - Consequências


Notas iniciais do capítulo

O personagem YUKIHIRO é criação de RAFAEL NAVARRO.
Obrigado por deixar eu usa-lo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/71734/chapter/2

         Eu estava deitado na minha cama assistindo televisão. E em todos os canais passavam a mesma coisa.

Meu pai estava internado fazia alguns dias. Por conseqüência do meu golpe, o mesmo havia ficado cego do olho esquerdo. Toda a mídia agora fazia a festa com o assunto.

Tanto sensacionalismo e exageros estavam me irritando.

Não fui visitá-lo, seria muita falsidade da minha parte. Não me importava se ele estava bem ou não, por mim, ele podia morrer.

         Minha mãe ficava tempo integral ao lado dele. Enquanto me deixou encarregado de cuidar do meu irmão. Por esse motivo, estava faltando aula.

Então três dias se passaram, e adivinha quem voltava pra casa. Eu terminava de preparar a janta, enquanto Yushiro assistia a um filme infantil.

Quando cheguei à sala, presenciei meu pai com uma faixa tampando seu olho esquerdo e a metade do rosto.

 

      – Você ta vendo o que fez em mim... Tenshin? – Ele perguntou, logo depois que coloquei os pratos sobre a mesa.

 

Olhei apenas pra ele, com um olhar provocante de desprezo.

 

      – Apenas fiz o que você merecia – Continuei frio, sem demonstrar qualquer tipo de arrependimento.

 

Como ele reagiu? Como era de se esperar de qualquer animal que não pensa. Tentar novamente me agredir, mas minha mãe o impediu.

Ambos subiram para o quarto. Yushiro sentou-se comigo para jantar. Coloquei o macarrão com queijo e bacon em nossos pratos ainda em silêncio.

 

      – Por que o papai faz essas coisas? – Yushiro me perguntou antes mesmo de começar a comer.

      – Porque é um idiota... Agora coma antes que a comida esfrie, ta bom? – Tentei soltar um sorriso, pra não deixar aquele ar de tensão por ali, mas era difícil.

 

         Algumas horas se passaram. Yushiro já estava dormindo. Eu terminava de escovar meus dentes no banheiro do meu quarto.

Molhei meu rosto com água gelada, novamente me olhei no espelho. O que estava acontecendo comigo? Que vida era aquela que eu vivia? Minha mãe, mesmo sendo violentada, continuava a viver com aquele inescrupuloso. Yushiro, apenas um menino, convivendo naquele tipo de ambiente.

Voltei pro meu quarto e me sentei na cama. Chovia bastante naquela noite, e alguns relâmpagos clareavam o quarto.

Ao olhar pro lado, nada poderia estragar minha noite do que aquilo, isso mesmo. Meu pai. Ele estava próximo a porta, e me olhava com nojo.

 

      – Satisfeito com o que fez? – Indagou, me olhando de longe.

 

Levantei-me da cama, querendo ficar com meus olhos a sua altura. De maneira inesperada, soltei um sorriso sínico, que fez o meu pai mudar sua expressão de repugnância para surpresa.

 

      – Sinceramente? Sim... Muito satisfeito! – Respondi, já preparado pra algum tipo de agressão daquele homem.

      – Não sei a quem você puxou, garoto... Ta merecendo umas boas porradas – Como era de se esperar, ele veio com toda ignorância puxando meu braço direito.

 

Meu corpo foi para frente com o puxão, mas me mantive firme. Continue olhando em seus olhos, demonstrando que estava pronto para enfrentá-lo.

 

      – Vai me bater, é? Vamos lá... Bate! Estou esperando! Mas logo depois, vou lhe denunciar por maus tratos a um menor... Ou melhor, a dois menores e uma mulher... – O provoquei, liberando mais sua ira.

 

Senti sua mão esmagando mais ainda meu braço. Mesmo sentindo dor, nada demonstrei, meus olhos frios continuavam provocadores.

 

      – ... Você não teria coragem... – Hesitou, ainda segurando meu braço.

      – A mesma coragem que tive pra lhe atingir no rosto, eu terei de te denunciar... É só você me provocar... – Eu mesmo me soltei de suas mãos podres, mas nada mudava minha postura ameaçadora.

 

Meu pai permaneceu me observando. Acho que minhas ameaças surtiram efeito, parecia que ele não ia tentar mais nada contra mim.

 

 

         No dia seguinte acordei com alguns barulhos no meu quarto. Abri os olhos, e a luz do dia, que entrava pela janela, me deixou atordoado por alguns segundos.

Sentei na cama, esfreguei um pouco o rosto e olhei para frente.

Minha mãe estava arrumando algumas malas, todas elas com roupas minhas.

 

      – O que está fazendo? – Perguntei, sem entender absolutamente nada.

      – Vamos nos mudar, Tenshin... – Ela respondeu, sem me olhar e terminando de dobrar uma calça na ultima mala vazia.

      – Nos mudar...? Pra onde? – Novamente indaguei.

      – Vamos voltar para o Japão! – Continuava tirando minhas roupas do guarda-roupa.

      – Por quê?

      – Devido a toda exposição da gente na mídia, seu pai perdeu o emprego... Lá no Japão vamos ficar mais tranqüilos – Minha mãe parou a minha frente, puxou alguns fios de seu cabelo para trás da orelha, sempre fazia isso quando algo lhe preocupava muito.

      – Você se preocupa tanto com aquele homem, mãe? – Indaguei a ela, ainda sentado na cama.

      – Aquele homem? Ele é seu pai, Tenshin! – Me repreendeu.

 

Já cansado de toda aquela situação, me levantei da cama – Ele deixou de ser meu pai faz tempo, agora... Eu não tenho mais pai!

Lagrimas desceram dos olhos da minha mãe. Ela sentou-se na cama, com a cabeça inclinada para baixo e tampando os olhos com uma das mãos. Sentei ao seu lado.

 

      – Por que você o deixa fazer isso tudo? Eu tento entender, mas não consigo... – Perguntei mais uma vez.

 

Sim, como sempre, ela não me respondeu.

 

      – Quer saber? Cansei disso tudo, cansei mesmo! Se quiser viver com ele e da maneira dele, viva! Mas não obrigue a mim e a meu irmão viver assim também... Se você não defende seu filho mais novo, eu faço isso... Quanto a mim, eu sei me defender sozinho! – Sai do quarto após o desabafo, não estava mais agüentando todo aquele jeito omisso da minha mãe.

 

 

         Como era previsto, eu e meu irmão saímos do colégio que estudávamos e voltamos para nosso país de origem.

Chegamos a nossa casa de limusine mandada por meu avô.

Realmente, era uma mansão. Infinitamente maior do que minha casa nos Estados Unidos. Surpreendi-me de primeira, nunca fui acostumado com aquele luxo todo. Eu não fazia idéia de quantos quartos tinham lá, também havia um enorme jardim todo decorado e duas piscinas.

 

      – Mamãe, a senhora já morou aqui? – Yushiro perguntou, abismado com a casa.

      – Sim, meu filho... Eu nasci aqui – Relembrou.

 

         Logo entramos na casa. Os empregados levaram nossas malas, enquanto eu ainda admirava o ambiente. A mansão era toda decorada em estilo colonial, e havia diversos quadros espalhados.

 

      – Gostou da sua nova casa... Tenshin kun? – Me surpreendi com a pergunta de um homem atrás de mim.

 

Virei-me bruscamente assustado, não conhecia aquela voz.

Era um senhor trajando um elegante terno preto. Tinha os cabelos grisalhos e olhos tão pequenininhos quanto os da minha mãe. Sorri, mas nada falei.

 

      – Não se lembra mais de mim, não é? Sou Eiji Kusanagi... Seu avô! – Ele respondeu, me trazendo algumas lembranças de seu rosto em tempos atrás.

      – Papai! – Minha mãe nos interrompeu, abraçando forte meu avô.

 

Apenas continuei observando. Meu pai não estava ali, era de se esperar, ele e meu avô sempre se odiaram.

         Assim as horas foram se passando. Eu, minha mãe, meu irmão e meu avô conversávamos na sala, bebendo café servido por uma das empregadas.

 

      – O senhor ainda continua muito ocupado... Não é mesmo? – Disse minha mãe, terminando de tomar o resto de seu café.

      – Como sempre, não é, filha? Desde que sua mãe decidiu se separar de mim, tenho me dedicado apenas ao trabalho – Meu avô respondeu, e eu apenas observava os dois, junto de Yushiro.

      – Você quer mesmo ficar nessa casa, não prefere morar comigo em Tóquio? – Prosseguia com a conversa, meu avô.

      – Sim, pai... Tóquio é muito movimentado, já estou velha pra essas coisas! Estou bem vivendo aqui em Shinjuku mesmo... – Minha mãe sorriu após o comentário.

      – Se você está velha, imagina eu, minha filha... – Agora os dois riam.

 

Percebi que minha mãe se sentia bem com meu avô. Afinal, ele era pai dela, e qualquer um se sentiria protegido. Ainda mais sendo filho do meu avô, apenas olhando, podia perceber o quão ele era importante por lá.

 

      – Filha, como o Tenshin cresceu... A ultima vez que eu o vi, ele tinha apenas dez anos... – Agora toda a atenção voltava pra mim, me deixando levemente corado com a situação.

      – Verdade, não é? Ele cada dia parecendo mais comigo... – Minha mãe brincou.

      – E Yushiro... Finalmente cada dia maior! – Meu avô mexeu nos cabelos de meu irmão, fazendo o mesmo sorrir envergonhado – Quem sabe um dia eles não possam tomar a frente das empresas Kusanagi...?

      – Deus me livre! Desisti disso, papai... Não quero meus filhos envolvidos nessa vida não... Se quiser alguém pra tomar a frente das empresas, chame os filhos do meu irmão – Repudiou minha mãe.

 

 

         Algumas horas depois e meu avô fora embora. Subi para meu novo quarto, que era três vezes maior que o antigo aproximadamente. Tudo estava lá, computador novo, cama, rádio, televisão... Tudo de ultima geração.

 

      – É, talvez essa vida de rico não seja tão ruim... – Pensei pra mim mesmo, ligando o rádio logo depois.

 

Fui até a janela e comecei a observar as enormes colinas distantes cobertas por nevoeiro. Meu quarto tinha uma privilegiada vista da natureza.

 

      – Foi bom reencontrar o vovô? – Meu pai já entrou no meu quarto perguntando de maneira debochada.

      – O que você quer aqui? – Como sempre, fui ríspido.

      – Sua mãe já lhe deu a noticia? – Ele me perguntou.

      – Noticia? Noticia do que?

      – Eu lhe matriculei em um internato, Tenshin... Vamos ver se assim você aprende a respeitar os mais velhos – Meu pai avisou, me deixando sem entender.

 

Sem esperar mais palavras dele, sai do quarto, esbarrando no mesmo.

Abri a porta do quarto da minha mãe, e a mesma terminava de tirar a maquiagem à frente do espelho.

 

      – É verdade o que meu pai me disse? – Já entrei alterado, não podia acreditar que minha mãe estava sendo conivente aquilo.

 

Ela apenas ficou me olhando desorientada. Não sabia o que dizer, mas seus olhos a entregava completamente.

 

      – Não... Não estou acreditando que você aceitou isso... – E confirmei o que pensava, realmente minha mãe aceitou aquela idéia absurda do meu pai.

      – Vai ser melhor assim, Tenshin... – Minha mãe falou com os olhos lacrimejando, tentando amenizar as coisas.

      – Você é a ultima pessoa que pensei em me decepcionar... Obrigado! – Sai do quarto em seguida, correndo para a varanda.

 

         Sentei no chão. Continuei pensativo, ainda sem acreditar que minha mãe havia sido cúmplice do meu pai. Sim, aquilo foi uma represália pelo o que fiz. Eu tinha que imaginar que uma hora isso ia acontecer.

O silêncio da noite voltava a reger por ali. Alguns grilos insistiam em cantar, enquanto eu insistia em pensar sobre o inferno que estava se tornando minha vida.

Percebi que nada adiantaria ficar pensando, e muito menos em fugir de casa. Quem iria cuidar de Yushiro? Não confiava mais em minha mãe pra isso. Qual seria a melhor saída?

         Enfim, voltei para meu quarto. Achei minha mochila largada ao chão, lembrei que tinha uma carteira de cigarros guardada ali, Anna havia esquecido comigo uma vez.

Nunca havia fumado, mas... Por que não agora? Talvez me ajudasse se acalmar.

Peguei um cigarro guardado ali, e junto, havia uma caixa de fósforos.

 

         E assim os dias se passaram. Eu nada fazia, a não ser ficar trancado no quarto esperando o dia que iria para o tal internato. E assim foi, finalmente havia chegado o tal dia. Minha mãe tentou umas duas ou três vezes vir falar comigo, eu apenas a ignorei. Meu pai? Demonstrava toda satisfação em não me ter mais naquela casa. Eu apenas pensava em Yushiro... O que seria dele sem mim ali, já que minha mãe não servia para nada? Um dia eu resolveria isso.

 

      – Vamos? O taxi já está aqui embaixo lhe esperando... – Meu pai me avisou ao entrar no meu quarto, eu continuava encostado na janela.

 

Peguei minhas duas malas sobre a cama, e desci as escadas da casa. Minha mãe estava aos prantos sentada ao sofá, mas nada daquilo me comoveu. Yushiro? Ele estava no colégio, era preferível que ele não visse aquilo.

         O taxi me esperava em frente à casa. Meu pai me levou até a porta, e logo depois voltou pra dentro, já minha mãe, ficara me observando da porta, ainda chorando.

Entrei no veiculo, e logo o motorista seguiu para o internato, que era localizado no centro de Tóquio. Pensando por um lado, talvez no internato eu pudesse pensar e esquecer todo o inferno em que eu vivia. O que me doía mesmo, era que Yushiro ia passar por tudo que eu já passei, e nem minha mãe ele teria como alguém que fosse o defender. Meu avô? Depois da primeira visita, nunca mais apareceu, mas talvez ele fosse nossa única solução.

 

         Cheguei finalmente ao internato, pelo o que ouvi falar, o mais conceituado de todo o Japão. Era uma manhã de segunda feira, e o sol já havia nascido.

Olhei para o local, e vi um letreiro indicando o nome do internato.

 

      – Internal School... Que criativo!

 

O motorista gordo acenou pra mim com o braço do lado de fora, e foi embora logo depois que peguei minhas malas.

         O internato era realmente enorme. Sua entrada começava num belíssimo jardim e haviam alguns chafarizes que enfeitavam o local.

Logo na entrada, havia um rapaz, que parecia ser um pouco mais velho que eu, de cabelo castanhos avermelhados. Trajava uma jaqueta marrom, blusa preta e calça jeans. O mesmo comia um bombom de chocolate, e assim que me viu, se aproximou.

 

      – Olá!

      – Oi... – Ainda tentando me acostumar, respondi de qualquer jeito.

      – Novato por aqui, não é mesmo? Deixe-me apresentar, me chamo Yukihiro... Seja bem vindo! – O garoto falou, terminando de comer o bombom.

      – Sou Tenshin Kusanagi... – Novamente fui sucinto na minha resposta, não estava tão a vontade quanto aquele rapaz.

      – TENSHIN KUSANAGI? Da família Kusanagi? – O ruivo deu um grito, que me fez soltar as malas de susto, que ótimo... Ali o pessoal parecia que me conhecia mais do que nos Estados Unidos – Vamos, entre! Mostrarei-lhe seu quarto...

 

         Segui Yukihiro então, afinal, ele conhecia aquilo ali, já eu, não.

O lugar, como era de se esperar, estava cheio. Garotos e garotas levavam seus olhos para o novo aluno, que no caso, era eu. E me mantive sério, não gostava de sorrir pra desconhecidos. E assim cheguei a meu quarto, no segundo andar do internato.

 

      – Prontinho, é aqui que você vai ficar... – Falou o ruivo, abrindo a porta pra mim e me mostrando todo o ambiente.

 

O quarto realmente era um lugar muito bonito, não se comparava ao quarto da minha casa, lógico. Mas era grande e tão bonito quanto o meu.

Haviam três camas de solteiro, indicando que eu teria companhia, isso era péssimo. Também tinha no quarto uma grande televisão, frigobar e fogão.

É, acho que morar ali por uns tempos talvez não fosse uma idéia ruim... Quase uma vida independente.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

NOOOOOOSSA, esse capitulo foi um sacrificio postar. O site ficou dando problema, e junto dele, a internet. Quase desisti... Mas por respeito aos que estão lendo, consegui postar


MAIS INFORMAÇÕES - http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=94069707



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cicatrizes - Memories Of Kusanagi" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.