Cicatrizes - Memories Of Kusanagi escrita por duuhalbuquerque


Capítulo 1
Capitulo Um - Limite




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         Eu dormia com dois cobertores escondendo meu rosto. Eu sabia como seria aquele dia. Por isso, insistia em tentar voltar a dormir.

Logo o sol intrometeu-se no meu quarto. Mas isso não foi o suficiente pra me esquecer do sono. Agora gritos e xingamentos ecoavam pela casa, mesmo meu quarto sendo no segundo andar, a briga dos meus pais sempre chegavam até meus ouvidos.

 

      – Como sempre, acordando de um jeito tão maravilhoso! – Ironizei, tirando os cobertores do rosto, e me levantando logo depois.

 

         Meus cabelos curtos e negro estavam bagunçados, e meus olhos ainda doíam com o impacto do sol. Sacudi minha cabeça, esfregando as mãos no rosto em seguida.

Dei uma olhada novamente em meu quarto. Eu amava aquele lugar, talvez fosse o único lugar que me deixava tão bem, mesmo com as brigas constantes dos meus pais. Em cada canto, havia pôsteres de bandas que eu idolatrava, bandas que minha mãe insistia em odiar.

Mesmo não gostando às vezes, eu percebo que sou um garoto da alta sociedade. Muito das vezes via meu avô, um empresário japonês, se pronunciando sobre alguma coisa na televisão.

Eu havia ido morar nos Estados Unidos aos seis anos de idade. E agora, com dezesseis, continuava ali, em São Francisco.

Mesmo tanto tempo ali, não tinha feito muitos amigos. Alguns me odiavam pelo simples fato de eu ser rico. Mas eu ainda não entendia. Quase todos do meu colégio tinham dinheiro... Por que o ódio exclusivo a mim?

Enfim, eu não me importava com os outros.

Fui até o banheiro como de costume, tomei meu banho matinal e me vesti logo em seguida.

         Meu Deus, será que meus pais não cansavam de gritar? Eu ficava sem voz só de ouvir aquilo. Sai do meu quarto, e fui até o do meu irmão mais novo ao lado.

Por sorte, o mesmo estava dormindo tranquilamente. Que bom, eu não queria que ele ouvisse toda aquela discussão. Yushiro tinha apenas oito anos, e não merecia desde novo presenciar aquelas coisas que eu sempre presenciei.

 

         Desci as escadas tranquilamente, vestindo um casaco preto e calça jeans.

Meus pais brigavam na cozinha, e pelo mesmo motivo de sempre, bebida e traições vindas de meu pai. Eu juro que tenho nojo desse homem, e nunca hesitei em assumir pra ele e muito menos pra minha mãe.

 

         – De quem era aquela mensagem que vi no seu celular? Responde! – Minha mãe repetia aos berros, causando sérios danos aos meus ouvidos.

 

Mas assim que me viu, tentou aparentar-se calma. Sorriu pra mim de maneira doce, como ela sempre fizera, e logo me ofereceu o café da manhã.

 

      – Você não ta atrasado pra escola, Tenshin? – Perguntou meu pai, encostado na porta. Meu pai era um homem de cabelos loiros e olhos verdes, os quais eu e meu irmão puxamos.

 

         Eu sou eternamente grato por ter tido apenas os olhos verdes semelhantes e alguns detalhes ocidentais. Odiaria caso tivesse mais características desse homem. Já minha mãe, era uma linda mulher oriental, de cabelos até os ombros negros.

 

      – Não – Respondi meu pai de maneira sucinta, sem sequer olhar.

      – Filho, eu preparei esses ovos mexidos com torradas pra você – Minha mãe disse, trazendo até a mim o prato.

 

Eu agradeci, como sempre fiz. Em poucos minutos terminei o café, olhei meu relógio de pulso, percebendo que já deveria ir pro colégio.

E assim fiz, me levantei, beijei o rosto da minha mãe, peguei meu casaco que estava largado sobre o sofá e sai. E meu pai? Ah, eu nunca falo com ele, e muito menos dou satisfação sobre minha vida. Peguei minha mãe inúmeras vezes chorando escondida, pela falta de amizade que meu pai tem comigo.

         Todos da vizinhança estavam cansados de saber que meu pai tinha outra mulher, e até uma filha antes de mim, fruto dessa relação.

Eu tentava entender o porquê da minha mãe ainda continuar casada com ele.

Mas eu sabia o motivo dele não querer se separar. Minha mãe era filha de um dos homens mais ricos do Japão, um empresário dono de diversos comércios e produtos de alta tecnologia vendidos mundialmente. Acham mesmo que meu pai deixaria uma oportunidade dessas escapar? Não mesmo.

Será que minha mãe amava aquele homem mesmo assim? O amor é tão cego e idiota a esse ponto? Se for, nunca quero amar ninguém.

Continuei fazendo meu caminho rotineiro, distraído com outras pessoas que passavam por ali. Eu gostava daquela vida mais simples, às vezes até esquecia-se de quem era neto. Mas era só eu falar meu nome completo, Tenshin Kusanagi.

Pronto, isso era o suficiente pra descobrirem. Mesmo porque, muitos comércios de grande potencialidade, levavam o nome Kusanagi.

 

         E foram pelos motivos de tanta invasão dos repórteres, jornais, e toda a mídia, que minha mãe decidiu mudar-se para os Estados Unidos. Mesmo a família Kusanagi sendo conhecida em todo o mundo, nos Estados Unidos ainda tinha como viver como uma pessoa mais normal.

         Finalmente cheguei à escola. Já podia ver muitos alunos chegando, alguns correndo se preocupando com a hora, e outros apenas conversando sobre o final de semana. Cheguei à sala, e sentei na primeira cadeira próxima a janela, peguei alguns livros da mochila, e joguei sobre a mesa.

Alguns minutos de muita conversa entre os alunos, a professora de Geografia chegou.

Era uma mulher baixinha, gorda e de cabelos grisalhos.

 

      – Espero que todos tenham estudado, hoje é dia de prova! – Comunicou a professora, causando burburinhos por toda a sala.

      – Estudou, Tenshin? – Perguntou Anna ao meu lado, uma das minhas poucas amizades naquele lugar.

      – Sim... Vai precisar de ajuda, como das outras vezes?

      – Claro, né, Kusanagi?! Você sabe que odeio estudar... – Anna brincou, terminando de enlaçar seus cabelos loiros com um elástico.

 

         Depois de um pouco mais de meia hora, terminei a prova. Anna, como sempre fazia, ficava mais um pouco na sala, tentando arranjar mais informações.

Olhei mais uma vez meu relógio de pulso.

 

      – Não queria voltar pra casa agora, mas acho que não tem outro jeito... – Pensei comigo mesmo, enquanto passava pelo portão principal do colégio.

 

         Cheguei a casa, e antes mesmo de ir falar com minha mãe, fui até meu quarto. Larguei minhas coisas em cima da cama, sem me preocupar com a bagunça, e sai logo em seguida. Chegando até a sala, vi meu irmão mais novo jogando seu jogo favorito no vídeo game que minha mãe havia lhe dado de aniversario.

 

      – Maninho! – Gritou ele, vindo até mim e me abraçando pela cintura, como se eu fosse seu maior herói.

 

Retribui o abraço do meu irmão caçula. Sacudi seus cabelos negros com a mão.

 

      – Não foi pra escola, rapaz? – Perguntei a ele, sorrindo, já sabendo a resposta.

      – Não... Eu acordei atrasado, e mamãe me deixou ficar – Yushiro respondeu, soltando-me logo depois.

      – O senhorzinho está cheio de mordomia, só to vendo... – Brinquei novamente, soltando sorriso de Yushiro.

 

Enquanto eu brincava com Yushiro, ouvi gemidos vindos da cozinha. Já imaginava que fosse minha mãe, constantemente ela chorava escondida por ali.

Deixei meu irmão jogando, e fui até ela. Minha mãe permanecia sentada de cabeça baixa, com um paninho branco no rosto, limpando as lágrimas.

 

      – Por que você ainda insiste em ficar com esse homem, mãe?  – Perguntei, mesmo sabendo que não obteria resposta.

 

Ela apenas continuou chorando. Eu sofria ao ver suas lágrimas descendo, mas parecia que nada podia fazer.

 

         Algumas horas se passaram. Meu pai continuava no trabalho, um emprego que meu avô lhe ofereceu assim que se casou com minha mãe, uma loja de computadores e outros produtos eletrônicos.

Seu horário de saída já havia passado, e o mesmo ainda não havia chegado.

Continuei no meu quarto lendo um livro de Stephen King deitado sobre a cama. Minha mãe terminava de preparar a janta, quando um violento golpe foi dado contra a porta. Meu pai havia chegado, e como sempre, extremamente bêbado.

Não demorou muito, e logo comecei a ouvir a rotineira discussão, coloquei meus fones, mas havia terminado a bateria.

 

      – Ótimo! – Joguei meu aparelho no chão, e tentei voltar a minha leitura.

 

Mas estava difícil, os gritos do meu pai começava a me irritar profundamente.

Eu não podia mais ficar ali, sem ter nenhuma atitude. Eu era o homem da casa, sim, eu era. Meu pai não passava de um homem bêbado, qual moral ele tinha?

Então era meu dever defender minha família. Estava cansado de toda aquela situação. Todos os dias eram brigas atrás de brigas, cada uma pior do que a outra. Até quando eu devia aturar aquilo? Eu estava atordoado, tonto com os gritos, nervoso, sem saber o que fazer.

Subitamente levantei da cama e desci até a sala. Meu pai estava lá, gritando com minha mãe, e por algum motivo, também com Yushiro.

 

      – VOCÊ NÃO DÁ EDUCAÇÃO PRA ESSE MOLEQUE, NÃO PASSA DE UMA MÃE IRRESPONSÁVEL... SUA VADIA! – Ele gritava de forma alterada.

 

Sim, era notório seu estado alcoolizado. Minha mãe e meu irmão permaneciam encolhidos no sofá, enquanto aquele bêbado continuava gritando, cuspindo no rosto deles, mais tonto e atordoado do que qualquer criatura irracional. Foi quando meu limite chegou ao fim ao ver meu pai erguendo sua mão direita, preparado para golpear minha mãe e meu irmão.

Corri, e me joguei na frente dos dois. Mantendo-me erguido e olhando dentro dos olhos do bêbado. Qualquer garoto da minha idade teria medo daquele olhar. Meu pai parecia possuído, parecia outra pessoa. Mas a mim, ele não colocava mais medo, apenas nojo. Exatamente isso, eu apenas sentia nojo dele. Cansei de ficar omisso, ele não machucaria minha mãe e nem meu irmão, eu NÃO deixaria.

 

      – Sai da minha frente... – Ordenou ele, ainda com seu olhar e com seu timbre de voz amedrontadora.

      – Não, eu não saio! – O enfrentei, me mantendo quase sobre sua estatura, pelo menos meus olhos chegavam até os seus, demonstrando que nada me tiraria dali.

      – Filho, por favor, sai daqui – Minha mãe pediu, segurando meu braço, em vão.

      – Ouça sua mãe, seja inteligente... Sobe pro seu quarto... O quer apanhar também? – Ele já se preparava pra atingir sua mão em meu rosto, mas eu continuava firme.

 

         De modo repentino, meu pai me agarrou pelo pescoço com força. Suas mãos eram fortes, eu não conseguia me soltar. Nem os gritos desesperados da minha mãe e o choro do meu irmão fazia com que me soltasse. Minhas mãos procuravam algo pra me proteger, eu precisava sair daquilo, começava a me faltar ar. Foi então que minha mão alcançou um bastão de ferro que servia para mexer na lareira. Já sentindo meu pescoço moído, não hesitei em atingir meu pai com aquele objeto.

Acertei de forma violenta em sua testa, fazendo o mesmo cair no chão inconsciente.

Agora na parede, escorria um pouco de sangue em resultado ao violento golpe. Minha mãe deu um grito desesperador ao ver meu pai ao chão, com seu rosto completamente sujo de sangue. Meu irmão apenas chorava, e eu me lamentava por ele ter presenciado tal cena. Larguei o objeto ao chão, deixando escapar um som metálico. Olhei o corpo do meu pai. Teria eu matado meu próprio pai?

Continuei ali, com meus olhos estáticos, imaginando toda situação. Mesmo assustado, eu sabia que havia feito o que era certo. Sim, ele merecia!

Eu me mantive assustado, mas um sorriso satisfeito e sarcástico lutava pra escapar pelos meus lábios. Eu... Eu matei meu pai...

Minha mãe correu com Yushiro pra longe do local, enquanto eu continuava parado, apenas observando o corpo a minha frente.

 


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Notas finais do capítulo

Bom, pra algumas pessoas que já conhecem Tenshin Kusanagi, essa fic serve pra deixar claro sobre todo o passado misterioso do mesmo. O por que desta personalidade forte, difícil, e um tanto quanto polêmica. Como se tornou um homem tão rico e poderoso, e muito mais. Espero que gostem!

E pra quem não conhece ele, comece a conhecer agora, e divirta-se com esse personagem tão carismático e diferente.

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