A garota na armadilha! escrita por Sua mãe


Capítulo 2
Capítulo 2 - Pão de Alho


Notas iniciais do capítulo

Eu estou viva!!!
Tão viva quanto... sei lá, tão viva quanto o Elvis. Obrigada pela linda ♥ que comentou no capítulo anterior!



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Após um maravilhoso fim de semana em que Casey mandou zero mensagens e que consistiu em arrumar meu quarto, fazer melon-pan e ser miserável, a segunda feira (primeiro dia de aula - eba!) começou com uma mensagem da minha melhor amiga.

“Tem 1 strbucks a kda eskina :-D!!”  A mensagem da Taylor veio acompanhada de uma foto anexa, em que minha loira usava uma camiseta preta, um short curtíssimo (também conhecido como SHORTINHO MEIA BANDA - nome que dispensa explicações) e um coturno com biqueira de aço, segurando o copo da dita cafeteria, sorrindo mostrando todos os dentes brilhantes e a cara mais entupida de maquiagem que o Gene Simmons.

Eu suspirei enquanto colocava o vestidinho de florzinhas (vintage, baby — ficou um arraso com meu casaquinho jeans e a bota country). Eu sentia falta da minha melhor amiga… A ponto de quase me arrepender de ter ficado na cidade. Quase, porque apesar de a St. Julian ser um lugar meio caído, eu não podia sair da cidade. Morar em Nova Iorque teria um preço exorbitante, sem contar que eu não posso deixar o papai sozinho. Já bastava a minha mãe te-lo abandonado…

Terminei de me arrumar, ajeitei meu cabelo em um rabo de cavalo (nada de cabelo armado no primeiro dia!) e desci para o café da manhã que papai preparava na cozinha, nossa tradição de primeiro dia de aula. Enquanto eu descia as escadas, senti o cheiro de waffles queimados. Sim, isso também é parte da tradição.

—Bom dia, pai. — Cumprimentei, dando um beijo em sua bochecha. Papai sorriu, enquanto colocava uma pilha de waffles em um prato.

—Dia, filhota. Calda de morango ou chocolate?

—Morango, por favor.

Papai assentiu e me serviu e eu tomei um gole de chocolate quente que estava numa xícara. Apesar da nossa cozinha ser do tamanho de um ovo, é o lugar em que eu me sinto mais confortável e segura.

—Agora, filha, vamos bater um papo, pode ser? — Papai se serviu e sentou na minha frente — Esse é um dia muito importante na vida de uma jovem.

Concordei, dando uma garfada no meu prato. O gosto de queimado estava suave, dessa vez.

—E, assim, sendo, mesmo que seu coroa não tenha frequentado a faculdade, isso não o impede de te dar alguns conselhos, não é? — Papai deu uma piscadela e eu revirei os olhos. — Primeira coisa: Não volte grávida.

Cuspi waffles, chocolate e calda de morango.

—Jesus, pai, que tipo de pessoa você acha que eu sou???

—Do tipo responsável, eu espero. Bom, segunda coisa: Não aceite bebidas de estranhos. E, se não encontrar sua sala, peça ajuda a um funcionário, não a um aluno. Se seu professor disser que tem um trabalho especial para você recuperar nota, decline e aceita a nota baixa como um homem!

Suspirei. Meu pai é bem intencionado, mas, francamente!

—Ok, pai, primeiro: caso dezessete anos não tenham te dado a certeza, eu sou uma garota. E segundo, fique tranquilo, tá? Meu Deus! — Levantei, colocando os pratos na pia. Nem precisava olhar o meu pai para saber que ele estava vermelho até a ponta do bigode (meu pai gosta de pensar em si mesmo como o sósia ruivo do Tom Selleck. E eles são mesmo bem parecidos).

—Bom, filhotinha, estou fazendo o melhor que posso. Desculpe se seu velho é um mocorongo ás vezes.

—É bom, aí eu não me sinto a mais idiota da família! Tchau, coroa! — Dei um beijão em sua bochecha e saí correndo, para o meu velho Corolla (o carro é seis anos mais velho do que eu).

Embora a St. Julian seja na cidade em que eu moro, o campus fica a pelo menos vinte minutos da minha casa, quase no fim da rodovia municipal e colando na cidade vizinha. Estacionei perto de um grande álamo, ao lado do prédio de Turismo; pelo menos assim o carro não estaria fervendo quando eu voltasse.

A St. Julian não se parece com a maioria das universidades, nada de tijolinhos a vista e paredes de hera aqui (no máximo é falha no reboco e urtiga), os prédios são cinzentos, de cinco andares e estão divididos em cinco quatro categorias: Turismo (olá, é o meu), Artes Visuais, Ciências Humanas e Ciências Exatas, cada um contando com uma biblioteca no último andar.

Entrei no meu prédio, com um frio na barriga. Vi poucas pessoas enquanto ia para a minha sala (Gastronomia ficava no primeiro andar), sem reconhecer nenhum. Provavelmente são todos de outros estados.

Parei na porta da minha sala, respirando fundo. Com a exceção do meu pai e da Taylor, tudo que eu ouvi nessa vida foi “isso não vai dar em nada!” ou “você vai morrer de fome, escolha outra coisa!” e até mesmo “é sério que você vai estudar quatro anos para passar o resto da vida esquentando a barriga no fogão?”... naquele momento, eu ia provar pra todo mundo que meu sonho não era estúpido e que cada dia de estudo valeria a pena!

Isso ou ia morrer como auxiliar de cozinha, o que vier primeiro.

Antes de eu entrar na sala, comecei a ouvir uma pequena discussão dentro da mesma e parei para escutar. Ei, quem não adora um barraco?

—… e não é problema meu se você é um bocó! — Voz misteriosa irritada disse.

—Ah, por favor! Ela deve estar me achando o cara mais imbecil do planeta! — Voz misteriosa levemente familiar replicou.

—Bem, se ela acha não está errada. E você deveria ser mais cuidadoso com seu celular, Cas. Essas coisas são caras, sabe. — Voz misteriosa irritada e meio divertida contrapôs. Espera, Cas?

—Stephen… essa é a primeira vez que alguém… você sabe o que aconteceu depois da Leila, né? Então. Essa menina... acho que ela pode ser algo mais, acho mesmo. — Voz misteriosa que agora eu tinha certeza que conhecia suplicou e, tal qual um furacão eu adentrei na sala.

E, como eu bem imaginava, Casey estava lá, diabolicamente lindo, debruçado sobre a mesa de um cara meio loiro, também extremamente gato. Sério, o que tem na água que esses caras bebem? O rapaz era um sósia do Matt Damon! (Um Matt Damon mais jovem e esguio).

—J..Juna? — Casey pareceu surpreso, mas ainda assim abriu um sorrisão quando me viu. O loiro, Stephen aparentemente, só revirou os olhos.

—Você não ligou. — Foi a única coisa que consegui dizer, porque sim, eu sou uma imbecil.

—Ele derrubou o celular dentro do vaso, depois de fazer coc… — Casey deu uma cotovelada em Stephen, mas eu entendi bem o sentido da frase. Ei, caras bonitos cagam, quem diria?

—Certo… hã… Bom te ver Casey. Eu não, hm, sabia que você ia estudar aqui também.

—Na verdade, eu estudo aqui há um ano, no prédio de exatas. A culinária para mim é meio que um hobby.

—O calouro da história sou eu. Prazer em finalmente te encontrar, Juna. Sou Stephen Lang, e espero que a gente se dê bem.— O loiro acenou, sorrindo. Era uma apresentação estranha, mas, hey, pelo menos ele tem educação.

—Errm, sou Juna Lovelace e também espero que a gente se dê bem. — Mais pessoas chegaram na sala e eu resolvi ir sentar (porque se você fica na frente da porta, bloqueando a passagem, as pessoas tendem a te empurrar, enquanto ofendem sua mãe), escolhi o lugar logo atrás de Stephen. Casey sorria para mim o tempo todo.

—Eu vou para minha sala, agora… Até mais Stephen e, Juna.. nós… nós vamos nos ver de novo, não é? — O olhar dele me suplicava.

—Claro, vamos sim. Talvez… depois da aula? — Propus.

—Sim, perfeito. Depois da aula, na cafeteria do campus! — Casey me respondeu e saiu, todo feliz. Pouco depois uma senhora mal encarada entrou na sala e eu me esforcei para, nas próximas quatro horas, esquecer o Moreno Bonitão.

—x-

—E, finalmente, teremos um estande na feira das profissões, no fim do semestre, o que constituirá em vinte e cinco por cento da nota final. E isso é tudo por hoje. — O moreno de meia idade acenou e saiu da sala. Eu suspirei aliviada. Tirando a cozinha industrial (AMO!), todas as informações do dia tinham fundido a minha cabeça. Pra quem acha que culinária é fácil, bem, se enganou feio. É química, química, matemática e substituir manteiga por margarina sem ninguém perceber.

Arrumei minhas coisas na bolsa e corri para encontrar o Casey. Não foi tão difícil encontrar a cafeteria bonitinha e meio hipster, mas, quando eu cheguei, ele já estava em uma das mesas. Bela forma de fazer um homem se sentir querido, Juna, sua anta!

—Oi, desculpe o atraso, eu meio que me perdi! — Comecei, sorrindo e me sentando a sua frente. Ele sorriu, exibindo as covinhas. Jesus, que cara lindo!

—Tudo bem, eu não esperei  tanto. Como foram as aulas? — Ele continuava sorrindo.

—Bem, eu acho, han, mais coisas do que eu imaginava e mais complicado também. E as suas? — Era esse tipo de conversa polida que íamos ter? Nada de “e aí, gata, vamos continuar onde paramos”?  

—Foi difícil me concentrar, agora que você está tão perto. Tantas curvas assim deixam um cara perdido, gata. — Oooh, é disso que eu estou falando! Flerte descarado e fofo! Hora de dizer uma coisa esperta e sexy!

—Eu… hã… o café daqui é bom? — Momento. Sorvete. Na. Testa.

—Sim, ele é bom, gracinha. Você é uma fofa, sabia? — Ele ainda sorria, dessa vez um sorriso caloroso, doce. Ótimo, vou ter uma relação do tipo “irmãzinha” com o cara que eu quero pegar.

A garçonete (uma hipster de cabelo verde água e maquiagem pin-up), tirou nossos pedidos (café americano pra ele e um bubble tea com pérolas de lichia pra mim, PORQUE EU SOU FRESCA), e, com uma piscadela para Casey (!!!), voltou para o balcão. Observei a ordinária passar o pedido para o barista. Meretriz.

—Alguma coisa errada, Ju? — Oh, nada Casey, exceto aquela vadia querendo morrer ali.

—Nada, tudo perfeito. Na mais perfeita paz. Absolutamente maravilhoso.

—Ah é? Pra mim pareceu que você estava secando a garçonete. Ela é bonitinha, mas não é pra tanto assim. — Aaaah, agora o idiota está tirando onda comigo? Ok, game on.

—Até parece. Com aquela bunda magricela? E aquele cabelo desbotado? Pff, por favor! — Casey ergueu uma sobrancelha, divertido.

—Que exigente. Acho que eu nunca vou estar em seus padrões irreais de beleza, então. — Ele deu uma fungada teatral.

—Calma, com um pouco de prática você chega lá! — Afirmei, me recostando na cadeira. Ele riu.

Percebi que eu gostava da risada dele. Gostava de como ele brincava, me chamava de gata…  Eu nunca tive vontade de ter um namorado, mas curtia sair sem compromisso, me divertir… Casey poderia ser a exceção. Ele realmente poderia ser O cara.

Meu cara.

A garçonete lambisgóia, chegou, serviu meu chá de gente fresca e o americano de Casey. Percebi um papelzinho no pires.

—Ela não deixou o telefone pra você, deixou?

—Oh não, aqui diz “diz pra essa mina estranha que da fruta que ela gosta eu passo longe”! — Acho que fiquei vermelha até a ponta dos dedos. Meio segundo depois, o panaca explode numa gargalhada. Ele desliza o papelzinho e eu vejo a sequência de nove números, seguida de um coraçãozinho.

—Que… oferecida. — Resmungo, tomando um gole do meu chá. Não consigo olhar nos olhos dele.

—Você só está com ciúmes, admita. — Ele se recosta, triunfante. Achei que estávamos no mesmo jogo, mas não, eu sequer era uma jogadora.

—Bem, você não é feio de doer. Parabéns! — Não estou pronta para admitir que ele é um gato lindo e sedoso e só pensei nele durante as últimas 48 horas.

—Será que todas as vizinhas da Patel são assim, espertinhas? — Ele pergunta e eu faço uma bela cara de bumbum.

—Não sou vizinha de Kate Patel. Minha amiga Taylor que é… acho que seria falta de educação fazer uma festança e não convidar uma amiga da família, essa frescura de gente endinheirada. — Dou de ombros, tentando fazer graça. A expressão no rosto de Casey é indecifrável. Ele parece quase… incomodado? Decepcionado?

—Ah… Certo.

—Você… é vizinho da Kate? — Pergunto.

—Não, não. Stephen é. Digamos que eu e você tenhamos muito em comum. — A piscada que ele me dá incomoda. A dois segundos eu estava achando esse o homem mais sexy do universo, agora… tem algo estranho no ar.

—Suponho que sejamos sim. Somos jovens, gostamos de cozinha, temos amigos loiros… Enfim, está ficando tarde, não é? Eu prometi jantar com meu pai hoje, preciso ir… Te vejo por aí, Casey! — Me levanto de supetão. Não sei o que há de errado, mas o fato de existir alguma coisa já me deixa alerta. Antes que eu possa ir, Casey segura o meu pulso.

Vamos mesmo nos ver de novo, certo? Você é única Juna, não quero te perder de vista de novo. — Os olhos pidões… Não consigo resistir.

—Claro que sim… me mande uma mensagem quando conseguir outro celular, ok? Beijoatémais! — Me desvencilho e saio correndo, e só no carro percebo que esqueci de pagar meu chá. O que há de errado comigo? Bem quando eu estou fazendo uma lista (cujos primeiros itens são 1-não ter peitos; 2-Não saber conversar; 3-ser virgem…. é uma lista bem longa) meu telefone toca. O identificador mostra o número da Taylor.

Boa tarde, Sumida! Já esqueceu de mim?

—Oi, acho que você se enganou moça, aqui não é do canil pra cadela ficar ligando!

Deve ser da fazenda, pra vaca atender! E aí, e o seu primeiro dia? — Coloco o telefone no viva-voz e dou partida. Vai ser uma explicação bem longa.

—Legal, o laboratório é excelente e eu tenho uma professora que acha que é o Gordon Ramsay. E eu reencontrei o Casey.

O gostoso da sexta? E deu um soco na boca dele por ele não ter te ligado? — Solto uma risada nervosa, enquanto dou seta.

—Aparentemente ele perdeu o telefone. Ele parece legal, só meio… sei lá. Um pouco estranho.

Estranho misterioso ou estranho estuprador?

—Acho que um pouco dos dois. É complicado. E o seu dia?

Ah… solitário. Achei que as pessoas aqui fossem mais… sei lá, amigáveis. Tolerantes. — O tom de Taylor me assusta. Não estou acostumada a ver minha amiga triste.

—Detalhes, Tay.

Acho que eu fui meio aberta demais. Fiz uma piada e a professora quase me expulsou da sala. Recebi um sermão gigante sobre levar a faculdade a sério.

—Isso é coisa de primeiro dia. Logo, logo vai ficar tudo bem. Você sabe que seu charme é irresistível, não é?

Obrigada, Juna. Senti muito sua falta hoje… Ei, tenho que ir ver uma cafeteria lindinha que eu vi na minha rua. Quem sabe eu encontro outro rato de cidade pequena, sexy e deslocado? Beijo, me manda mensagem, gata!

—Beijo, linda, tente não pegar uma Dst. Tchau! — Taylor desliga e, pelo resto do caminho de casa, eu esqueço Casey e me concentro em minha melhor amiga.

Taylor é divertida, bonita, doida, inteligente… não consigo imaginar alguém rindo dela, ferindo-a… Eu sempre prometi a mim mesma que cuidaria dela, olharia por ela, mas como se proteje alguém que está a três estados de distância, huh?

Estaciono na garagem, me sentindo deprimida.

Tento colocar um sorriso no rosto, mas, quando entro em casa, percebo que não é necessário. Na mesa tem uma caixa de pizza e um bilhete com a letra rústica de papai, dizendo que tem trabalho na oficina e volta mais tarde.

Sim, trabalho. Sei. Tenho certeza que esse trabalho tem um belo par de pernas e uma excelente comissão de frente. Agarro uma fatia (pepperoni) e me jogo nos sofá. Bom para o papai. Nunca fui do tipo de filha que acha que os pais devem voltar e blá, blá,blá.

Pelo contrário, o meu maior desejo é que meu pai arrume uma garota legal que o trate como ele merece, ao contrário da minha mãe, que se mandou pra Coréia, sem nem dizer adeus. Ela só começou a mandar cartas e a ligar a uns dois anos, mas não atendi nem li nada… Eu sei guardar rancor como ninguém.

Meu celular vibra, com a mensagem de um número desconhecido.

“Ei, gata, adivinha quem conseguiu um celular? Conheço um lugar com garçonetes bem lindas, que tal?”

Abro um pequeno sorriso, dando uma bela mordida na minha pizza. Casey pode ter agido estranho, mas deve ser coisa da minha cabeça. E Taylor não é a única se sentindo solitária…

“Bem vindo a era digital. E é melhor essas garçonetes serem bonitinhas mesmo!”.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler. Sabia que cada vez que você não comenta, um filhotinho de gato super fofo morre? Comente e salve os gatinhos!
(Se você não gosta de gatos, também é bem vindo para comentar, só saiba que eu serei bem falsa e te julgarei em silêncio)



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