Parada Inespearda escrita por juremmão


Capítulo 4
Sinceramente, ficando louca.




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Quando acordou depois de uma noite mal dormida, suas costas arrebentadas desejavam apenas a sua cama king size e seus lençóis brancos de seda. Regina pensava apenas no quanto queria que o dia terminasse logo, no entanto mal havia amanhecido e ainda teria longas horas pela frente. 

Caminhando pela calçada, o sol queimava sua pele oliva quando encontrou o policial ruivo, que parece ser o único da cidade, já que o vê constantemente pelas ruas. 

 

— Bom dia, doutora Mills. Espero que tenha tido uma noite confortável. 

— Você não imagina o quanto - responde a morena com seu mau humor matinal.

— Onde estão todos? A cidade parece estar vazia hoje. - diz intrigada ao notar que não há mais ninguém pelas ruas.

— Ah! Hoje é domingo, é dia de café da manhã no salão comunitário. Estou indo pra lá. Vamos, senhorita Mills, não vai querer se atrasar e perder as panquecas da Granny. 

 

O salão não era realmente um salão, havia várias mesas e cadeiras no gramado bem cortado ao redor de uma capela pequena, parecia que todas as pessoas que habitavam aquela cidade estavam reunidas ali. Logo avistou David, o médico estava a uma distância considerável, então apenas acenou pro mesmo e logo foi retribuída da mesma forma. Passou em frente à mesa farta de comida e rapidamente sentiu seu estomago dar sinal de vida, a morena pegou a pequena fila que se formava perto da mesa, ainda junto com o tal policial Hopper ao seu lado. 

 

— É assim toda semana? – pergunta quebrando o silêncio. 

— É, nós nos reunimos toda semana, é uma tradição... e se alguém está com alguma dificuldade, tentamos garantir que volte para casa com comida – a última frase saiu como um sussurro - Ótimas panquecas, não é? 

— Não sei ainda... 

— Como foram as visitas ontem? – o doutor chega perguntando e Regina é tomada pela surpresa. 

— Ah! Incomuns – diz apenas. 

— A senhora Granny pediu pra orar com ela? 

— Sim, pediu. 

— Venha andar comigo, pode ser? – pergunta pegando-a pelo braço e fazendo com que a moça o acompanhe. Ela revira os olhos pela a atitude do homem mas revolve ceder. Ele então a direcionou para o jardim, onde os dois vão acenando para algumas pessoas a medida em que vão caminhando, vez ou outra Regina solta um "bom dia", não por vontade própria, mas pela educação que lhe fora dada pela sua matriarca. 

— Queria dizer que minha vocação é o chamado, é o de servir os outros. Medicina é meu passa tempo, é parte de como atendo ao meu chamado. Mas não é somente isso, eu cuido dos corpos mas também cuido dos corações e das almas... 

— O conselho médico aprova isso? – ela o interrompe com uma de suas perguntas irônicas. 

— Cara doutora, gostaria de desafiar a sua experiência e conhecimento por um instante, se não se importar. 

— Tá, tudo bem – fala depois de um tempo o olhando de baixo. O homem era mais alto que ela alguns centímetros. 

— Com todo respeito, mas acredito que aceitar um paciente em nossos cuidados, cuidar dos sintomas para que alivie a sua dor desnecessária, e colocar sua vida até o máximo possível é incrível – Regina o olhava atentamente – Mas o ver triste, solitário e com medo da morte, é como se não tivéssemos alcançado todo o nosso potencial – A morena permanece o olhando, ninguém nunca a havia lhe falado palavras parecidas, aquilo realmente a tocou – Então pense nisso – Ela finalizou e saiu, deixando Regina sozinha. A morena logo viu Emma se aproximando com dois pratos cheios de comida.

— Oi, achei que estivesse com fome – fala assim que chega ao lado de Regina. 

— Eu estou sim – Regina achou aquela atitude de Emma estranha, porém preferiu não falar nada. 

— Ah, eu sinto muito por não ter dito que sinto muito quando você disse “sinto muito” –  juntou as sobrancelhas e fez uma careta pela explicação que dera, na sua cabeça parecia ser mais fácil de entender. 

— É muito sinto muito, senhorita Swan – Emma soltou uma respiração pesada – Trégua? – a morena resolveu arriscar. 

— É, trégua – falou por fim. 

 

Foram caminhando entre as mesas, e de longe avistaram Ruby e Henry em uma mesa afastada do resto do pessoal. Decidiram sentir em um lugar perto o bastante para que Henry desse conta da presença da morena, e não demorou muito para que o menino a olhasse e o sorriso brotasse em ambos os lábios. Regina acenou para Ruby e foi retribuída, estavam sentadas uma de frente para outra. 

 

— Conversou um pouco com o doutor, não foi? 

— Até que a conversa não foi demorada – fala ajeitando o guardanapo no colo. 

— Quando estamos aqui ele acaba pregando um pouco para as pessoas, mesmo quando ele não quer, acho que você foi uma – dá um riso contido. 

— Agora você está falando como o doutor – diz e começa a comer o que a loira preparou pra ela. 

— Entenderei como um elogio – arqueia as sobrancelhas e pisca um olho. 

Um silêncio perturbador se instalou. Regina fica olhando aquela mulher a sua frente e se perguntando por que ela estaria fazendo aquilo, sentia-se invadida pela conversa que teve com o doutor a pouco e agora estava ali, com Emma, como se fossem amigas. Ela não queria aquilo, não queria formar laços naquela cidade, sua estadia era passageira não pretendia mais voltar quando por fim terminasse sua sentença. Mas por que se sentira tão em casa naquela cidade, no meio daquelas pessoas que não conhecia? Eram muitas perguntas que a rodeava, mas por agora decidiu apenas balançar a cabeça espantando qualquer pensamento. Decidiu então quebrar o silêncio que se formou ali. 

— Sabe, acredito que... Ah... Eu não sei direito no que acredito. 

— Está tudo bem, funciona assim. Quando você descobrir não tenha medo de aceitar não importando quão estranho e diferente pode ser. 

— Não tenho medo do diferente, vejo o diferente o tempo todo com meus pacientes e me adapto para poder salvar suas vidas – e novamente o silêncio se instala, só que dessa vez não é constrangedor e sim agradável. 

— Isso é bom – Emma fala depois de um tempo – É bom que você já tenho descoberto um pouco sobre a vida de todo mundo e tenha se adaptado a isso, eu só... Não me entenda errado, só acho se precisa pegar essa sabedoria e olhar melhor pra própria vida. 

 

Regina não compreendeu muito bem o que Emma quis dizer com aquilo, ou o seu lado racional simplesmente não quis entender aquilo. Ficaram se encarando por segundos que pareciam minutos ou horas, o olhar de Emma sempre hipnotizava a morena, ainda que ela quisesse desviar, parecia que os olhos esverdeados a prendia, e não tinha forças para se soltar. Quando isso acontecia a loira parecia estudar todo o rosto da morena, e o mesmo frio no estômago que sentiu na noite passada estava presente agora, não entendia como Emma fazia para que isso acontecesse. 

Passaram a comer em silencio, ocasionalmente pegavam-se olhando uma para outra, e quando isso acontecia, o sorriso nos lábios de ambas aparecia automático sem ao menos se darem conta. 

 

— Você deve se achar muito esperta – fala retornando o assunto de antes. 

— Sou igual a qualquer moça caipira – diz olhando pro lado e vê Henry as olhando, pisca pro garoto que ri do jeito da loira – Não é mesmo rapazinho? 

De repente o sorriso amarelo do menino some e dá lugar a uma expressão de dor, ele ligeiramente olha pro lado a procura de Ruby. 

— Henry eu disse para comer devagar – fala o repreendendo. 

Mas o menino continua com a mesma expressão, agora com a mão na garganta como se estivesse com falta de ar. 

—Henry? Henry? – Ruby começava a se desesperar – Ele parou de respirar, ele não estar respirando. Henry? – grita chamando a atenção de algumas pessoas junto com a de Emma e Regina, que comiam tranquilamente – Ele está engasgado. Alguém por favor. – grita. 

Regina rapidamente se levanta, joga o guardanapo que havia em seu colo em cima da mesa, e vai em direção a Henry que a essa altura já está quase desmaiando. Quando chega no garoto, ela o observa e vê que o menino não está realmente engasgado. Alguém chega e tenta o levantar, mas Regina detém a pessoa. 

— Para! – grita para a pessoa, ainda analisando o rosto pálido de Henry – Traga o garoto comigo – Emma prontamente o pega nos braços e segue os passos de Regina. 

— O que está fazendo? Cadê o doutor? – a morena de olhos esverdeados grita em desespero, olha ao redor a fim de encontrar David  mas não obtém sucesso. 

— Não temos tempo, ele está sufocando, vem comigo, agora. 

— Está tudo bem – Emma tenta tranquilizar Ruby em vão. 

— Eu vou chamar o doutor – o policial Hopper que estava por perto grita saindo em busca de David. 

Do salão comunitário até a delegacia não era tão longe, mas este se tornou o caminho mais longo da vida de Emma, ela que estava com Henry nos braços, vendo garoto sufocar, clamando por uma ajuda. Isso a fez apressar os passos quase tropeçando pelo caminho. Regina ia mais a frente já com as chaves na mão e Ruby logo atrás de Emma rezando aos céus que nada acontece ao menino. Enfim chegaram na delegacia, logo Regina pede para que Emma deite o garoto na cama improvisada, a morena revira sua bolsa atrás de algo e finalmente encontra, era uma caneta com epinefrina. Pega o objeto e tira a tampa, manda as duas se afastarem, se senta na cama ao lado de Henry já desacordado, e rapidamente injeta a caneta na coxa do menino, esperando ansiosa para que o efeito surgisse logo, são segundos angustiante para as três mulheres ali presente. Felizmente Henry da sinal abrindo os olhos e respirando fundo atrás de ar para seus pulmões. Regina, que ainda estava sentada ao lado do menino, fecha os olhos em agradecimento. Ruby está aninhando o menino nos seus braços o mimando. David chega junto com o policial ruivo, respirando pesado, constatando que havia corrido para chegar ali. 

 

— Ele está bem, não está doutora? – Ruby pergunta. 

— Ele vai ficar bem. 

— O que era aquilo? – Emma com sua curiosidade pergunta se referindo a caneta na mão de Regina. 

— Uma epipen – a morena fala se levantando – Uma caneta com epinefrina. 

— Adrenalina artificial, que aumenta a pressão sanguínea para combater a perda de pressão  – David é quem responde agora –Isso foi causado por uma reação alérgica – David passa a examinar Henry. 

— Sou alérgica à abelhas, foi a primeira coisa que pensei, vi o vermelho no pescoço dele e os olhos contaram o resto. 

— Que eu saiba ele nunca foi picado – Ruby pontua. 

— É melhor o Henry andar sempre com uma caneta dessas com ele. Vou mostrar como se usa antes de ir embora. 

— Ainda bem que estava aqui – Emma fala. 

— Coincidência. 

— Não existem coincidências – David diz olhando Ruby abraçada ao Henry na cama pequena. 

— Engraçado eu ouvir isso de quem me sentenciou a ficar aqui – o encara e o mesmo o retribui, mas nada mais foi dito.

Regina vai em direção a mesa onde jogou suas coisas enquanto procurava a caneta e Emma a segue. Emma tinha esperanças de que Regina voltasse ao salão comunitário. 

— Então, você vai voltar? – pergunta a observando arrumar aquela pequena bagunça em cima da mesa. 

— Eu acho que não, vou ver se consigo ligar para Robin. 

— Quem é Robin? – solta com sua curiosidade. 

— Meu noivo, Emma – enfim olha para a loira que está parada com as mãos nos bolsos traseiro da calça justa que vestia. 

— Ah! – foi pega de surpresa, não sabia que Regina era noiva, e isso foi como um baque certeiro em seu estômago – Tudo bem então, vou indo, nos vemos por ai. Até mais, senhorita Mills – sai sem ao menos olhar pra trás. 

Regina termina de arrumar a pequena bagunça que formara ali e sai com o celular em mãos para telefonar para Robin, falar sobre o que aconteceu a pouco. Caminhou até a esquina em busca de um sinal para o celular, e finalmente discou o número de Robin. 

Alô— ele atende sem ao menos ver quem era. 

Você não vai acreditar no que aconteceu— fala empolgada – Acabei de salva a vida de um menino. 

— Mas você não faz isso todo dia em Boston?— prende o riso. 

Eu faço, mas dessa vez foi muito diferente sabe. 

— Por que? 

— Eu não sei, eu estava no salão comunitário e... 

Salão comunitário? Desde quando você anda nesses lugares? 

— Se eu não for, eu não como— silêncio – Como estão as coisas?— Regina muda de assunto. 

Ótimas, mas queria que você estivesse aqui, sabe quanto a gente perde dos pacientes que você não está tratando? 

— Eu nem imagino— faz uma careta com desdém. 

Não se preocupe, querida, seus novos pacientes estão ansiosos para te conhecer. Eu preciso ir, te amo— e desliga sem esperar uma resposta da morena. 

Eu também...— tira o celular do ouvido – Droga! 

— Hoje foi um grande dia pra você – ouve alguém falando atrás de dela e se vira para dar de cara com David. 

— Acho que foi sim – diz depois de um tempo o encarando. 

— O restaurante abre as duas aos domingos, eu posso pagar um café? 

— Estou na sua cidade – vira-se e sai pela rua o deixando sozinho naquela calçada. 

David fica observando-a se afastar, vários pensamentos desconexos veio a sua cabeça, balançando a mesma afim de espantar os pensamentos. 

 

*** 

 

— Sabe, poderia ser sua também – diz pondo a xicara que estava em suas mãos na mesa. Regina o olha confusa, mas depois de um tempo entende do que ele está falando e o encara. 

— Acho que não, além disso, a cidade já tem um médico. 

— Não por muito tempo. 

— Está de mudança? – David acena negativo com a cabeça. 

— Andei pensando muito e lembrei que ninguém viverá para sempre aqui na terra, e para satisfazer seu ceticismo profissional e o chefe da oncologia da universidade – eles ficaram se encarando e só então Regina entende. 

— Que tipo? 

— Não importa. 

— Conheço médicos que pesquisam tratamentos com ondas de rádio, terapias com doses de vitaminas... 

— Meu diagnostico está abaixo de doze por cento – fala juntando as mãos em cima da mesa – Isso se fosse encontrado a tempo, o meu não foi. 

— Existem maneiras... 

— Não ficarei meus últimos dias na terra em uma cama de hospital esperando algum tratamento revolucionário que pode não acontecer, não quando posso ir pescar. 

— Por que está me contando isso? 

— Para que talvez pense em ficar, e eu para saber que meus pacientes estarão em boas mãos depois que eu partir. 

— Agradeço por ter me contando, mas falta pouco para eu ir embora. logo estarei com meu carro obedecendo as leis rodoviárias, é claro. Vou voltar pra minha vida. 

— Se precisa voltar pra sua vida, quem está lá enquanto está aqui? – pergunta arqueando as sobrancelhas – Talvez tenha encontrado uma nova forma de viver essa vida preciosa bem aqui. Posso te chamar de Regina? 

— Fique a vontade... 

— Regina, cidades pequenas precisam de médicos, quando os perdem a cidade começa a morrer, as pessoas vão embora, começam aos poucos e depois cada vez mais. Vivi o suficiente para ver isso dezenas de vezes, e não quero que isso aconteça aqui em Storybrook. 

— Eu sinto muito – dessa vez ela realmente sentia, por algum motivo as palavras de David a fizera sentir. 

— Me prometa que irá pensar – espera uma resposta que não vem – Por favor – suplica – Não conte a ninguém o que conversamos aqui hoje. Dizem que não a segredos em cidades pequenas, mas consegui manter este, até agora. 

— Não direi uma palavra – dá um sorriso sincero – Prometo. 

— Que bom – ele olha o relógio de pulso dele e dá um pulo – Preciso voltar, hoje terei uma boa pesca. Foi um prazer, doutora Mills, e pense no que lhe falei, ate mais. 

— Até doutor. 

Regina fica ali, sentada sozinha, absorvendo tudo que o homem mais velho acabara de lhe contar, não entende a atitude do mais velho de não tratar a doença, mesmo que tivesse poucas chances, viveria alguns bons meses. 

 

***

 

Já de noite, na cama improvisada na delegacia, não conseguia tirar as palavras de David de sua cabeça, quando fechava os olhos às palavras dele simplesmente apareciam em sua cabeça junto com os fleches do ocorrido com Henry. O pior de tudo aquilo era a sensação de lar que aquela cidade dava a ela, as pessoas, tudo. E agora junto com as palavras de David, inquietude e agonia faziam parte dela, não sabia o que estava se passando consigo mesma, e isso era desesperador. Não viu mais Emma no resto do dia, e sim, ela sentiu falta das esmeraldas esverdeadas lhe estudando a cada frase dita, dos cabelos que voavam e teimavam em permanecer no rosto, ou das mãos sempre nos bolso de sua calça justa de lavagem escura. Chegou à conclusão de que carência junto com insônia eram bons amigos quando se tratava dela, vários pensamentos rondavam sua cabeça, mas sempre voltava a lembrar das palavras de David junto com imagens de Emma. Sinceramente estava ficando louca, tinha que sair o mais rápido daquela cidade.

 


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