A guardiã do gelo escrita por Kashinabi Chan


Capítulo 85
(In) felizmente descobri quem são eles na vida real


Notas iniciais do capítulo

Hey Batatinhas Ambulantes o/

Sei que talvez possa ser difícil de acreditar, mas esse é o PENÚLTIMO capítulo da fic T-T siiiim o fim está mais perto do que vocês imaginam ;-; é muuuito triste ter que dizer isso, mas né... T-T

No capítulo de hoje - os personagens da vida real u.u

Tenham uma boa leitura o/



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Sim, era isso mesmo que estava no pescoço dele: um colar de fogo. Ele também usava terno, só que com uma gravata vermelha. O garoto à minha frente ainda me avaliava, parecendo em choque tanto quanto eu.

— Isso só pode ser brincadeira... — disse para si mesmo, desviando o olhar de mim.

— Algum problema, Malek?

— Tem sim. O fato de que eu fiquei com você. — Ele fez uma careta enojada. — Não sei como diabos eu pude sequer gostar de você.

— E você acha que eu to contente por ter te dado uma chance de me namorar? — soei ironicamente irritada. — Fiz a maior besteira da minha vida em beijar você.

— E eu a de te salvar.

Aquilo me atingiu mais fundo do que eu gostaria. Apressada, peguei meu copo de ponche na mesa e joguei na sua cara.

— Cansei de perder o meu tempo com você — rosnei.

Então lhe dei as costas e antes que eu pudesse me afastar, alguém segura meu pulso e percebo ser John quando olho pra trás de soslaio.

— Nos falamos depois — digo. — Pode ir passar um tempo com ele.

 

Puxo meu pulso pra mim e me afasto dos dois a passos largos. Passo as mãos pelo rosto quando já estou longe o suficiente e suspiro fundo, sentindo arrependimento crescendo no meu peito. Eu não devia ter vindo nessa maldita festa, pensei, procurando um lugar com o olhar pra poder ficar sozinha. Pensei... que as coisas podiam ter sido diferentes depois de ter sido alguém diferente, mas parece que nada mudou. Tudo continua a mesma porcaria.

— Ei Nath — uma voz feminina me acordou dos meus pensamentos. — Não sabia que ia te encontrar por aqui.

Clara Amberly. A garota pálida havia passado maquiagem para esconder as sardas das maçãs do rosto, entretanto, tinha acentuado as ondulações do cabelo, transformando-os em lindos cachos fartos, apesar dos curtos fios. No dia do anúncio do jogo, ela havia devolvido meu livro de Química.

— É eu... fiz a besteira de vir — respondi num sorriso amarelo.

— Besteira? Que nada. Se não tivesse vindo, não ia descobrir quem sou. — A garota me deu as costas propositalmente e logo notei o corte do vestido nas suas costas, dando visibilidade a um lindo desenho de asas de borboleta.

Seu vestido era rosa-bebê, com uma purpurina tímida destacando alguns pontos do tecido. Ao virar de volta para me encarar, junto os pontos e chego a conclusão de que Melina estava bem na minha frente.

— Pelos céus... — digo surpresa e não consigo evitar de abraça-la. — Desculpa, Melina. Desculpa por ter matado você daquela forma. Eu estava tão obcecada em ganhar...

— Tudo bem, Kary. — Ela soltou uma risadinha. — Alguém precisava se sacrificar e você merecia ganhar mais do que eu.

— Eu fiquei tão mal depois daquilo...

— Pode ficar tranquila. Não estou brava com você. Nem Utae.

Quando ela mencionou o filho de Zeus, encerrei o abraço apressadamente.

— Ele veio?

— Veio. — A garota sorriu. Seu jeitinho de fato lembrava a própria Melina. — É o Robb, sua boba. Vai ir lá ver ele.

Assenti e a garota se foi. Procurei apressada com o olhar pelo garoto ao qual ela falara. Já tinha achado o Imma e o Malek. Agora faltava apenas Utae.

— E aí? Quanto tempo você sobreviveu no jogo? — tive uma enorme vontade de ignorar a voz debochada.

Samuel Bianchini — minha noite de fato não parecia a das melhores. Depois de Henrique, ele era o cara mais chato de toda a turma. Implicava comigo tanto quanto o outro e muitas vezes, ambos chegavam a se juntar pra tirar sarro de mim.

— Mais do que você, com certeza — digo e enfim o encaro.

Pareci levar outro tapa na cara quando ele pareceu tão surpreso quanto Henrique anteriormente ao ver meu colar. Assim que vejo o seu, tenho vontade de vomitar. O loiro não era ninguém mais, ninguém menos do que o próprio Kameel, aquele que passei o jogo inteiro tentando vingar sua morte.

— A vida tá de brincadeira comigo — murmurei.

— Tá, eu não sei como foi que aquilo aconteceu. — Ele passou uma mão na nuca.

Eu com certeza era a mais constrangida de nós dois. Mesmo assim, decidi encará-lo e dizer:

— Então você tem um lado sensível que eu não sabia?

Soube que peguei ele em cheio quando desviou o olhar. Poderia até arriscar a pensar que ele estava com as bochechas vermelhas de vergonha.

— Aquilo foi só um jogo, tá legal? Só um jogo.

— Está com vergonha de admitir de que no fundo não passa de um garoto romântico? Só lembrando de que eu fui sua namorada por um bom tempo.

— Só um jogo! — exclamou ele alto, como se não quisesse me ouvir. — Foi só um maldito jogo!

Logo ele me deu as costas, parecendo murmurar a frase para si mesmo várias vezes. Soltei uma risadinha. Embora tenha me mostrado fraca pro Henrique, ficava contente em saber que não tinha acontecido o mesmo com Samuel. As vezes era bom invocar a Kary interior.

Voltei a procurar por Utae e cheguei a conclusão de que nunca o acharia parada. Decidi me enfiar no meio das pessoas. Aquela conversa com Samuel havia dado uma total renovada na minha confiança e no meu ego.

Não foi difícil achar aquela cabeleira ruiva no meio das pessoas. Toquei seu ombro, vendo ele ocupado conversando com uma garota que não possuía colar, mas pelo corte do seu vestido, percebi que se tratava de Olivia. A tatuagem no formato de onda a denunciava.

Ela deu um sorrisinho desafiador ao notar meu colar e logo Robb virou na minha direção.

— Ah, Nath, oi — disse casualmente.

Acabei abraçando ele logo de cara.

— E aí, Utae? Sabe quem sou eu?

— Bem, eu acabei de falar com a Melina, então... Kary?

Soltei uma risadinha antes de dizer:

— Eu mesma, irmãozinho.

Robb me apertou mais no abraço, como se estivesse realmente contente em me ver.

— Desculpe por ter matado a Melina, tá? — digo assim que o abraço termina.

Um pequeno sorriso surge nos lábios do ruivo.

— Relaxa. Você lutou muito pra chegar lá, merecia ganhar.

Não consegui deixar de sorrir e de sentir um alívio no peito. Era bom saber que apesar de tudo, ele não tinha ficado com raiva de mim por aquilo.

— Atenção alunos — Gilbert chama por nós no palco. — Eu gostaria de agradecer a todos vocês por terem participado do meu projeto. Só tenho a dizer que meu experimento foi um sucesso e que eu tô orgulhoso de cada um de vocês. Entretanto, para aqueles que não sabem, tivemos sim uma equipe campeã. É por isso que eu gostaria de chamar toda a equipe B aqui no palco. Ou seja, todos aqueles que possuem colares!

Dei um sorrisinho pro Robb e ele confirmou com a cabeça, começando a me puxar para o palco. Logo éramos os primeiros a subir, seguido do resto da nossa equipe. Tinha colares que eu nem sequer havia visto pelo jogo, mas enfim, havia ganhado pra todos eles.

— E aqui estão nossos dois únicos sobreviventes. Natália e Robert, por favor, fiquem mais à frente para que os outros possam ver vocês.

Quem me puxou mais pra frente foi Robb. Dali do palco, pelas expressões de alguns, já pude identificar alguns Jogadores que estiveram comigo. Vetle, Odd, Olivia, Quant... Dava para identifica-los pois me faziam lembrar de como se comportavam durante o jogo.

— Pra quem talvez não sabe, aqui nós temos Karysha, a filha de Quione e Utaemon, o filho de Zeus — anunciou o professor.

Por educação, bateram palmas em comemoração. Me forcei a sorrir, sentindo o nervosismo enrolar meu estômago. Logo nos é permitido voltar pra junto de nossa equipe e juntos, damos um agradecimento final ao nos abaixamos. Enfim podemos sair do palco e Robb parece contente.

 — Valeu por ter ganhado pela gente — falou ele.

Dei um sorriso como resposta.

— Você viu que o Malek é o Henrique, né?

Soltei um suspiro quando me lembrou daquilo.

— Sim. Até batemos um papo muito amigável — soei um tanto irônica.

— Eu sinto muito. — Havia um pouco de pena no seu olhar.

— Fica tranquilo. Da nossa equipe, os mais legais sempre foram eu, você e o Imma. — Pisquei pra ele, divertida.

Robb achou graça.

— Cadê o Imma? Vamos aproveitar essa festa!

— Boa pergunta. Deve tá com o Malek. — Suspirei.

O ruivo continuou me puxando pela multidão até que eu acabei esbarrando num garoto que resmunga pois acabo derrubando seu ponche — e como eu deveria esperar, esse ponche acerta parte do meu vestido. Solto um xingamento e Robb para de me puxar ao perceber que eu tinha parado de andar.

— Olha, Kary, eu sei que somos irmãos, mas isso não te dá o direito de derrubar minha bebida.

Franzo o cenho ao ouvir o garoto falar daquela forma comigo e ele precisa virar de costas pra mim para que eu visse a tatuagem de floco de neve na sua nuca. Acabo lhe dando um sorrisinho enquanto ele volta a me encarar.

— Que bom que conseguiu ganhar, garota. Sabia que estava dando um tiro certeiro.

— Ah, mesmo se lutássemos, aposto que perderia pra mim — debochei de brincadeira.

Ele riu. Yago Thompson. Ele não implicava comigo na sala de aula. Pelo contrário, pedia ajuda em algumas coisinhas, então meio que era bacana comigo, assim como o John. Entretanto, não tínhamos de fato uma amizade. Nunca chegou a me defender do Henrique por exemplo.

Robb não parecia compreender nosso nível de intimidade.

— Tanay, esse é o Utae. Utae, esse é o Tanay. — Apontei pra ambos enquanto dizia seus respectivos nomes.

— Peraí, então você foi o cara que matou Malek? — questionou o ruivo.

— É. E faria de novo agora que eu sei que ele é o Henrique.

Acabei soltando uma risada pois concordava. Até queria que ele tivesse feito aquilo de novo, só que na vida real. Acenei pro Tanay quando Robb continuou a me puxar. Ainda procurávamos por Imma.

Como eu havia previsto, ele conversava animadamente com Henrique e mais umas duas garotas. Uma usava colar e a outra deveria estar de tatuagem. A do colar tinha pingente de espada e logo soube que se tratava de Benigna. Pisquei pra ela, tocando meu colar e a mesma me deu um sorriso. Era Isabela Petterson, uma encrenqueira. Deveria ter imaginado antes que ela era Benigna pois a personalidade de ambas se encaixavam.

— Winter, veio perturbar a minha paz de novo? — reclamou Henrique.

— Tá incomodado? Pode ir embora, eu deixo — respondi friamente.

 

— Eu que não vou sair daqui. Aliás, por que diabos você veio nessa festa? Aqui não é seu lugar.

— Eu vim porque caso não tenha entendido ainda, seu bocó, fui eu que ganhei a droga desse jogo sozinha.

— Sozinha, tem certeza? Pois não teria ganhado porcaria nenhuma se não fosse por mim.

— Tá, tá, tá, parem vocês dois — disse John. — Isso aqui é uma festa, não um ringue de luta. Troquem farpas depois.

— É, é. Ficaram se pegando no jogo e agora tão de birra — comentou Robb.

— É uma coisa que eu to me arrependendo até agora — resmungou Henrique.

Revirei os olhos e dei as costas pra todo mundo.

— Quer saber, não sou obrigada a aguentar isso. Divirtam-se aí com ele.

Aquela havia sido a gota d’água. Eu já deveria ter ligado os pontos e sacado que o babaca do Malek era o Henrique. Me odiava por ter beijado ele naquele momento de emoção quando me salvou heroicamente.

Passo apressada por entre as pessoas se divertindo até esbarrar em outra pessoa. Ignorei isso, mas essa mesma pessoa segurou meu pulso e eu suspirei alto. Quase xinguei ao ver que se tratava do Arthur Hollister. O terceiro babaca da minha sala que fez uma aposta de beijar todas as garotas da sala. Ele teria conseguido ganhar essa aposta facilmente se não fosse por minha causa.

— O que você quer Hollister? — digo, claramente emburrada. — Veio encher minha paciência em plena festa?

Ele colocou um meio-sorriso no rosto.

— Primeiramente queria te dar os parabéns por ter vencido. Nossa luta foi bem interessante.

Fiquei pensativa, querendo descobrir de quem se tratava. Ele não estava com o colar no pescoço, o que indicava que pertencia a equipe A. Puxando um pouco a manga do terno, vejo no seu antebraço uma tatuagem de caveira e não consigo esconder a surpresa no rosto. Xander estava bem na minha frente com um sorriso idiota na cara.

— Que foi? — disse, provavelmente achando graça do meu espanto.

— Sei lá, é meio bizarro saber que você foi um dos Jogadores mais inteligentes do jogo — digo, ainda surpresa.

O garoto riu.

— Eu sei jogar videogame, tá? Foi quase a mesma coisa. — Deu de ombros. — Agora bem que você poderia reproduzir aquela mordida no meu pescoço.

Tive que revirar os olhos.

— Eu não vou te morder de novo. — Suspirei. — Agora me solta.

Ele soltou meu pulso.

— Qual é, talvez é a última vez que você está me vendo.

— Vou agradecer eternamente se for mesmo a última vez.

E com isso, lhe dou as costas também, querendo esfriar a cabeça. Nas últimas horas havia recebido informações demais. Era fácil e complicado ao mesmo tempo associar cada Jogador a uma pessoa da vida real. Na verdade, o mais difícil de aceitar era Malek. O babaca do Henrique não mudara em nada, nem mesmo depois do grande tempo que passamos juntos — eca, e carinhoso ainda por cima.

Quando vejo já estou fora do ginásio, caminhando pelos corredores do meu colégio até estar fora do mesmo. Logo uma vontade de ir para casa bateu no peito. Já tinha feito tudo o que havia planejado fazer: conhecer os personagens na vida real.

Do lado de fora, perto da porta de saída, pego meu celular na minha bolsinha e disco o número da minha mãe. Enquanto estou esperando ela atender, alguém usa a porta de entrada para sair e me surpreendo quando vejo John bem ali.

— O que quer? — questionei, ainda com o telefone no ouvido.

— Conversar com você. É que você saiu de repente.

— Pensei que quisesse passar um tempo maior com seu amigo.

— Caramba, Natália, você não entendeu ainda, né?

— O quê? — questionei um tanto impaciente.

John suspirou e passou as mãos pelo rosto, como se se preparasse para o que fosse dizer.

— Eu gosto de você, tá legal? É tão difícil assim perceber isso?

— E... você só veio me dizer isso agora?

— Pensei que estivesse óbvio!

— Esqueceu quem eu sou, Imma?

— Eu não sou o Imma! Eu sou o John. E estou dizendo que gosto de você — ele enfatizou a última frase.

— Tá bom, eu já entendi — digo na defensiva.

Obviamente eu não sabia direito como reagir numa situação como aquela. Me sentia como no dia em que Kameel havia feito o mesmo. Não sabia o que pensar, muito menos o que responder. Nunca tinha parado e raciocinado que ele por algum acaso tinha uma queda por mim.

— Eu devo tá soando como um idiota, só pode — murmurou para si.

Abri um pequeno sorriso, lembrando que Kameel havia ficado igualmente constrangido.

— Não tá — garanto. — É só que eu não sou muito boa em reagir sobre essas coisas. — Dou um sorriso sem graça.

— Tudo bem, eu... devia ter sido mais direto antes.

Achei graça do que disse.

— Sabe, se eu não tivesse sido a Kary, acho que eu não teria coragem para fazer certas coisas.

Arrisco um passo na sua direção. Ele me encara.

— Como...?

— Como isso.

Nisso, um tanto tímida, encosto nossos lábios num beijo.


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Notas finais do capítulo

Pelo menos um final fofinho pra deixar vocês felizes antes do final real da fic :3

No próximo capítulo - a conversa estranha de Gilbert x.x

Até o próximo capítulo o/



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