A guardiã do gelo escrita por Kashinabi Chan


Capítulo 84
Duelos mortais - Parte 2 e o choque da realidade


Notas iniciais do capítulo

Hey Batatinhas Ambulantes o/

Pois bem, agora inicia o momento mais aguardado de toda a fic u.u espero que gosteeeem *3*

No capítulo de hoje - Natália volta à realidade o.o

Tenham uma boa leitura o/



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Retirei meus caninos da sua pele assim que o sangue começou a jorrar. Nisso, seu corpo já estava flácido ao atingir parte da plataforma. Para completar, empurrei seu corpo para que caísse na imensidão abaixo. Enfim havia conseguido conquistar a tão sonhada vingança contra Xander.

— Sabia que esse duelo seria incrível — disse Gilbert, claramente orgulhoso. — Que comece o próximo!

Franzi o cenho quando a plataforma da Melina se moveu e instintivamente olhei ao redor, percebendo que só haviam agora três Jogadores vivos: eu, Utae e ela. Ou seja, Melina era a última Jogadora da sua própria equipe. Abri um sorriso, já sentindo a vitória próxima das minhas mãos.

— Karysha versus Melina! — exclamou meu professor. — Kary, lembre-se que foi ela quem tentou te matar e veja bem só falta ela para que sua equipe ganhe. Melina, ela foi a garota que roubou tudo de você; a Conexão, a liderança, o Tanay...

Mesmo com todas as jogadas de Gilbert, Melina apenas me encarava com o olhar tristonho. Até que inesperadamente ela estende a mão e diz:

— Isso não tem que acabar assim, Kary. Você pretende mesmo se vingar de mim por aquilo?

Ela tá fazendo um jogo contigo, alguém pareceu murmurar na minha mente. Uma voz maligna deliciosa. Lembra que você utilizou essa mesma maneira pra poder convencer o Tanay a não te matar? Pois é, ela acha que você será burra o suficiente para se matar como ele fez, a cada palavra que eu ouvia na minha cabeça, mais minha expressão endurecia. Por fim eu dei um tapa na mão estendida de Melina.

— Acha mesmo que eu sou idiota de acreditar nas suas palavras? — digo friamente. — Está tentando me enganar pra conseguir a vitória.

Melina fez uma cara horrorizada.

— Por que eu faria isso?

— Cala a boca, Melina! — falei impaciente. — Eu acreditava que você era inocente até o dia que tentou me matar.

Sua expressão se entristece ainda mais e ela suspira.

— Se não quer acreditar em mim, tudo bem — sua voz embargou.

Por um segundo acabei sentindo pena, mas esse meu pensamento foi interrompido quando ela me deu as costas e abriu os braços.

— Vai em frente. Pode me matar.

Seu pedido me deixou surpresa.

— Estou falando sério. Se é algo tão importante pra você...

Fiquei alguns segundos surpresa, sem saber o que de fato responder. Então de maneira improvisada, faço uma pequena lâmina de gelo e me aproximo aos poucos dela.

— KARY! — ouvi Utae berrar. — KARY, POR FAVOR, NÃO MATA ELA!

Arqueei uma sobrancelha, não entendendo o motivo dele se importar tanto com uma pessoa que nem conhecia.

— Por favor... — disse ele e notei sua expressão melancólica.

Logo uma lembrança involuntária invade minha mente e logo começo a ligar alguns pontos. Me lembrava de uma vez ter questionado ao Utae sobre duas letras envoltas de um coração, talhada numa árvore. Não consegui esconder a surpresa do rosto ao começar a entender que possivelmente aquele "M" se referia à garota bem na minha frente.

Continuei olhando bem nos olhos de Utae apesar da distância e uma ponta de compaixão invadiu meu coração. Entretanto, voltei a olhar para Melina que se mantinha parada, ainda com os braços abertos, esperando o veredito. Eu queria tanto ganhar... Lutei tanto por este momento — além das pessoas que morreram por mim.

Mordisquei o lábio, sentindo aquela tentação nas minhas próprias mãos. Até mesmo Quione, uma deusa, havia morrido para que eu conseguisse vencer esse jogo. Foi quase uma missão impossível conseguir esse colar para enfim lutar contra Xander e desperdiçar tudo agora possivelmente seria a maior falta de consideração por todos que acreditavam em mim.

Respirando fundo, apertei mais o cabo da lâmina de gelo, tomando coragem.

— Desculpa, Utae — murmurei para mim mesma, caminhando mais na direção de Melina. — Mas eu quero e preciso vencer esse jogo.

Então cravo a lâmina no centro da tatuagem da filha de Psiquê, vendo sangue escorrer pelo local. Um gemido rouco escapa da sua boca e eu só tenho forças para lhe dar um empurrão, a derrubando direto para sua morte.

Fiquei observando a garota cair, parecendo que tudo ocorria em câmera lenta. Engoli em seco, ignorando a sensação de egoísmo que começava a subir pelo peito, querendo me me consumir aos poucos por dentro. Você fez o que era certo. Ganhou como deveria ganhar, pensei, tentando me convencer. Mas por que ainda sinto um vazio?

— Temos os vencedores! — Gilbert disse, animado. — Parabéns Karysha, filha de Quione e Utae, filho de Zeus. Vocês são os primeiros ganhadores da primeira versão de Stay Alive! Não podem imaginar o quanto estou orgulhoso.

Dei um sorriso amarelo, querendo ver a expressão de Utae. Seu rosto estava abalado e isso acabou fazendo sumir meu sorriso forçado. Era culpa minha. Possivelmente ele me odiaria para sempre agora.

— Nos vemos na festa de formatura, vencedores!

Com isso, senti uma coisa forte no peito, como se algo estivesse sugando meu coração. Caí de joelhos, de repente sentindo uma enorme falta de ar.

E por fim, toda minha visão escureceu quando atingi de cabeça a plataforma num desmaio.️

Acordei num susto. O coração batia acelerado no peito por ter aberto os olhos repentinamente. Pisquei diversas vezes até que minha visão se ajustou à baixa luminosidade do meu quarto. Fiquei diversos segundos sentada na cama, olhando pro nada, reordenando meus pensamentos bagunçados.

Ao olhar pras minhas mãos, percebo que havia voltado à pele morena. Instintivamente passei os dedos pelos cachos que enfeitavam minha cabeça agora. De fato tinha voltado a ser a boa e velha Natália.

O jogo terminou.

Decidi levantar da cama, ainda me acostumando com meu corpo humano sem todo o peso de uma armadura. Me olhei no espelho, vendo que ainda estava de pijama e uma expressão sonolenta no rosto. Bocejei e me espreguicei, querendo me lembrar como é que era voltar à realidade. Então levo um sobressalto quando minha mãe abre a porta apressada e liga a luz.

— Natália, tem quase meia-hora que tô te chamando! — exclama. — Anda logo, vai tomar um banho e se arrumar. Falta só umas duas horas pra festa de formatura!

Fiquei surpresa com o que ela disse. Peraí, só faltam duas horas? Mas eu podia jurar que quando eu entrei no jogo, ainda faltava uma semana para essa tal festa..., pensei por um momento. Logo me lembrei de um sonho em que Hécate mostrava como foi que eu passei por toda essa semana sem que meus pais desconfiassem que eu ainda estivesse dentro do jogo. Um feitiço. Um maldito feitiço.

Balancei a cabeça quando essa loucura surgiu na minha mente. Hécate não existia de verdade, não tinha como ela simplesmente me enfeitiçar vindo da minha imaginação. Isso não fazia sentido. Vai ver você tá ficando doidona, Nath. Talvez você só tenha cochilado horas antes e esteja achando que passou misteriosamente uma semana dormindo.

Olhei pro meu pulso, tendo a confirmação que parte dessa "loucura" era real. A pulseira de Gilbert ainda estava ali, porém, o botão estava cinza ao invés de verde.

Massageei as têmporas, chegando a conclusão de que tudo aquilo era complexo de mais pra mim. Suspirei alto e decidi pegar meu celular para ter uma última certeza de que não era minha mãe que estava ficando louca ao afirmar que faltavam poucas horas para festa.

Assim que o pego, me surpreendo ao ver que tinha algumas mensagens do John coincidentemente de poucos minutos atrás:

John: vai pra festa de formatura hoje?

John: se for, quer se encontrar comigo na entrada?

Encarei aquelas mensagens por diversos segundos. Sim, John era aquele garoto que seria até um amigo meu se não fosse o melhor amigo de Henrique. Decidi ignorar as mensagens, imaginando se não era o amigo tentando me pregar uma peça. Apesar do John ser um cara bacana comigo, não é uma possibilidade dele me enviar uma mensagem assim de repente.

Me fazendo levar outro susto, minha mãe entra no meu quarto com um pacote em mãos.

— Seu vestido acabou de chegar. E o que tá fazendo parada aí ainda? Vá se arrumar ou vai acabar se atrasando!

Quando ela fecha a porta eu ainda assim fico parada uns segundos, ponderando. Eu deveria mesmo ir naquela festa de formatura maldita? O bom seria que você poderia conhecer todos os Jogadores, inclusive Imma, Utae e Malek... E pedir desculpas ao Utae, é claro, por ter matado a Melina, a culpa me fez passar as mãos pelo rosto. Ainda me sentia mal por ter sido egoísta o suficiente para mata-la.

O lado ruim disso tudo é ter que passar horas com seus colegas babacas de turma, revirei os olhos. Seria mesmo uma desgraça. Mas bem, talvez se você ficar na companhia dos seus amigos do jogo, esses idiotas não te incomodem durante a festa, era uma opção que aos poucos eu estava optando por considerar.

Enfim a curiosidade venceu e eu acabei indo tomar banho, ansiosa para descobrir quem tinham sido aqueles que durante todo jogo haviam ficado comigo.

E sido meus amigos.️

Ao sair do carro da minha mãe, concluí que estava nervosa. Não estava preparada para encarar as pessoas da minha sala com "outros olhares". Respirei fundo, alisando o vestido. Era longo, completamente envolto num azul tiffany, rendado em todo o busto até chegar aos seios, onde a renda continuava, porém, com um tecido cetim por baixo para tapá-los. O resto da saia também possuía cetim, entretanto, estava coberto por organza do mesmo tom azulado.

Um salto pequeno bege aparecia timidamente vez ou outra por baixo do vestido e havia decidido deixar meu cabelo solto, alto e totalmente cacheado. O que o enfeitava não passava de uma presilha prateada na lateral. De maquiagem, apenas uma base e um delineador para não dizer que não fui maquiada.

Por fim veio o colar de floco de neve em meu pescoço e uma pequena bolsa do tom do vestido onde guardei meu celular para emergências. Tudo aquilo havia sido enviado por Gilbert — menos o celular —, como se ele quisesse que estivéssemos detalhadamente do jeito que queria. Me perguntava como diabos ele tinha acertado o tamanho de vestido que caberia em mim.

— Divirta-se — disse minha mãe e eu lhe dei um pequeno sorriso.

Ela partiu com o carro, me deixando sozinha, já conseguindo ouvir a música alta do lado de fora — e olha que eu nem tinha chegado no ginásio. Subi timidamente as escadas, segurando a saia do vestido para não acabar tropeçando.

— Pensei que não ia vir — a voz de John atrás de mim me assustou.

— Tava me esperando? — questionei por instinto.

— Não. Na verdade eu acabei de chegar. Estacionei o carro ali. — Meneia a cabeça pro outro lado da rua.

Obviamente eu devia estar tão absorta em meus pensamentos que nem me dei o trabalho de perceber o que acontecia ao meu redor. Então recuperei todo o meu "tempo" perdido nesse quesito ao notar o quanto ficava bem no terno preto com uma gravata azul bem claro. Logo notei o colar de gota d’água no se pescoço e fiquei um tempinho em choque.

— Imma?

O garoto franziu o cenho por um segundo até seus olhos atingirem o colar de floco de neve em meu pescoço. Ele pareceu tão surpreso quanto eu.

— Kary?

Não consegui evitar de abraça-lo assim que sua voz pediu uma confirmação. Como não consegui comparar ele antes. Claro, que outro melhor amigo eu poderia ter senão o próprio John?

— Não acredito que era você o tempo todo — digo em meio ao abraço.

— E você acha que eu acredito? Ah, cara, sabia que por dentro era uma garota incrível.

Soltei uma risadinha sem graça ao terminar o abraço.

— Vamos entrar? — sugeriu, estendendo seu braço.

Aceitei timidamente e logo entramos no colégio, seguindo calmamente pro ginásio. Um frio começou a preencher minha barriga e como se percebesse o quanto eu estava nervosa, ele disse:

— Preparada para conhecer Utae e Malek também?

— Não sei se tô muito preparada pra isso. — Mordisco meu lábio.

— Vai dar certo, só relaxa. — Ele piscou pra mim e entramos juntos.

Todos dançavam, animados com a música. Alguns bebiam ponches em seus cantos e outros se deliciavam na mesa cheia de petiscos. Algumas pessoas acabaram parando para nos olhar entrando. Isso me deixou um tanto constrangida. Não gostava de atrair atenção dessa maneira.

John me levou para a mesa de refeições e lá desenlaçamos nossos braços. Decidi pegar um salgadinho e um copo de ponche para bebericar.

— Ah, cara, que bom que veio. — ouvi Henrique cumprimentar John enquanto eu estava de costas, enfiando mais um salgadinho na boca. — E parece que a Quatro-Olhos não quis ficar de fora também.

Bufei. Não acreditava que tinha passado tanto tempo no maldito jogo para as coisas voltarem a serem como eram antes de tudo acontecer. Respirei fundo, decidindo invocar a "Kary" interior e deixei o copo delicadamente na mesa de refeições antes de me virar com um sorrisinho ironicamente doce.

— Não ia perder por nada nesse mundo. Babacas como você não incomodam minha vontade de curtir.

Cruzei os braços quando seu olhar se prendeu em mim — mais especificamente meu colar — e logo decidi conferir quem o idiota havia sido durante o jogo. Ao descobrir, uma expressão de surpresa tomou conta do meu rosto.

Que maravilha, ele era o Malek, o meu atual namorado no jogo.


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Notas finais do capítulo

Acho que muita gente já imaginava isso, né? u.u até porque, eu tinha que fazer as personalidades se encaixarem, então não poderia fazer o Malek ser ninguém mais senão o próprio Henrique u.u

No próximo capítulo - os personagens da vida real u.u

Até o próximo capítulo o/



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