A guardiã do gelo escrita por Kashinabi Chan


Capítulo 81
Quase que você matou a gente, Malek!


Notas iniciais do capítulo

Hey Batatinhas Ambulantes o/

Adivinhem quem retornou? Isso mesmo: eu u.u então né, nem vou falar muito porque eu sei que vocês estão ansiosos para a continuação da maratona u.u

No capítulo de hoje - uma esfinge furiosa o.o

Tenham uma boa leitura o/



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A Esfinge não passava de uma mulher-leão alada. Seus dentes afiados se abriam num sorriso — naquele instante eu me perguntei o motivo dos monstros sempre adorarem sorrir, principalmente para mim. Ela não era feita de blocos de areia como no Egito, mas de pele dourada de leão. Seus cabelos platinados caíam pelas suas costas felinas e o seu rabo de cobra descansava ao seu lado, coberta pela asa de águia.

Os olhos castanhos famintos percorreram sobre mim e Malek. Saliva escorreu no canto da sua boca antes dela dizer:

— Decifra-me ou devoro-te.

Abri um pequeno sorriso, convencida de que seria fácil. O enigma era sempre o mesmo, então era só relaxar, dar a resposta correta e poderíamos passar numa boa.

— Diga seu enigma — pedi.

— "Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?".

Quando abri a boca para responder, Malek se antecipou e respondeu mais rápido:

— Macaco!

O sorriso cheio de dentes da Esfinge se alargou e ela soltou uma gargalhada, certa da nossa derrota. Senti uma enorme vontade de estrangular eu mesma o Malek por ter nos condenado tão rápido.

— Boa tentativa, filho de Héstia, mas parece que você errou — não havia compaixão em nenhuma das suas palavras.

A Esfinge se levantou e deu passos na nossa direção. Reagimos ao dar passos recuando. Continuamos assim até estarmos perto do Kame. As Sirenes nos observavam com divertimento, achando graça de sermos presas fáceis da Esfinge.

Cutuquei meu dragão, esperando acordá-lo. A Esfinge soltou uma risada.

— O que está fazendo? Quer Ládon os mate? Garanto que eu sou muito mais gentil e rápida do que ele.

Ignorei os comentários dela e continuei mexendo no Kame. Não tínhamos como enfrenta-la, ainda mais eu que tinha sido proibida de usar os poderes Elementais. Maldito Éolo.

— Vocês têm sorte dele ter sono pesado. Não iam gostar de serem devorados por ele.

Ela lambeu os lábios e voltou a mostrar os dentes para nós. Cutuquei Ládon mais forte, porém ele não acordava e isso começou a me deixar desesperada. A Esfinge se aproximou mais de nós, vendo que estávamos tecnicamente encurralados.

Tenho um plano, decidi invadir os sentimentos do Malek. Quando a Esfinge estiver prestes a nos atacar, a gente pula pro outro lado do Kame. Ela possivelmente vai acertá-lo e só assim ele deve acordar, sugeri, esperando receber alguma resposta.

Tá, mas ele é muito grande pra gente simplesmente "saltar pro outro lado", a resposta veio segundos depois. A Esfinge já tinha se aproximado mais. É por isso que vamos subir nele primeiro. Ela com certeza vai achar graça da gente tentando escapar. Por favor faça uma cara assustada que a convença.

Pra que fazer uma cara pra convencê-la quando temos a sua maravilhosa persuasão pra dar conta do recado?, tive que conter um sorriso com sua resposta. Olhei pra ele e assenti, indicando que já poderíamos pôr o plano em ação. Após dar uma empurrada no Kame como uma última tentativa de acordá-lo, dei um impulso para subir nele, embora o mesmo fosse bem grande — e um pouco alto demais pra mim.

Enquanto eu fazia minha pequena escalada para chegar ao dorso de Kame, a Esfinge ria, parecendo se divertir conosco.

— São as presas mais divertidas que terei o prazer de devorar.

Novamente ignorei seu comentário e já montada no Kame, mostrei a língua pra ela, fazendo uma careta para a mesma.

— É mesmo? Então quero ver se vai conseguir nos alcançar aqui em cima — a desafiei.

— Tá debochando de mim, mortal? É óbvio que consigo alcançar vocês.

Aquela coisa deu um pulo na nossa direção e nisso eu me deixei cair para o lado oposto, esperando que meu plano desse certo. Uma careta de dor preencheu meu rosto quando atingi o chão de lado, mas assim que a Esfinge pousou com força no Kame, o mesmo acordou de imediato e começou a se remexer, querendo que o monstro saísse de cima dele.

Malek me puxou mais pra trás pois ambos eram grandes e poderíamos acabar sendo esmagados sem querer se ficássemos próximos demais. Kame rugiu e abriu as asas. A Esfinge, ao perceber que havia acordado o dragão, saiu de cima do mesmo e ele lhe mostrou os dentes, claramente bravo por ter sido tirado de seu sono.

Ela não teve nem tempo de pedir misericórdia. O dragão a abocanhou com ódio, chegando a ter prazer em destruir a Esfinge. Chegava a ser irônico ver aquela cena. A devoradora sendo devorada. Alguns poucos minutos se passaram até ele deixar a Esfinge em pó dourado e voltar a se deitar na grama.

Acariciei sua cabeça e ele pareceu apreciar o gesto. Quando sua respiração desacelerou, soube que havia pegado no sono outra vez. Ele agora merecia o dobro do descanso por ternos trazido até aqui e ter nos salvado da Esfinge. Respirei fundo, saindo de trás dele e voltando a ficar de frente para o Jardim de Hera.

Olhei para o lado, vendo Kameel com o sorriso encantador. Balancei a cabeça. As malditas Sirenes ainda estavam querendo me devorar. Senti as mãos de Malek envolverem meu pulso e logo caminhamos para nos aproximar mais do portão dourado. Engoli em seco e o toquei hesitantemente, querendo saber se mais alguma coisa iria aparecer.

Nada acontece. Apenas uma fraca descarga elétrica arrepiou fracamente os pelinhos do meu braço, mas nada que merecesse muito o meu alerta. Empurrei o portão ao notar que estava aberto e entramos. Tudo era tão nobre e bonito do lado de dentro que até o ar que usávamos pra respirar parecia diferente.

Garotas — eram três — passaram correndo por nós, como se estivessem alheias à nossa presença. Olhei pro horizonte, tendo a sensação de que o pôr-do-sol nem sequer havia se mexido, então lembro que elas praticamente faziam referência ao mesmo, por isso é óbvio que morem num pôr-do-sol eterno.

Todas tinham peles morenas e cabelos cacheados soltos, voando com a brisa enquanto corriam, divertindo-se. Uma delas, aproximou-se de nós, numa expressão questionadora, afinal, éramos os intrusos. Seu vestido era branco, lembrando as antigas vestimentas gregas com um cinto de ouro dando destaque no tecido. Seus pés esmagavam gramas lindamente verdes enquanto seus braços e pescoço estavam enfeitados de correntes, anéis e pulseiras dourados.

— Aretusa. — Ela fez mesura, se apresentando. — Quem são vocês?

Malek e eu trocamos olhares.

— Karysha. — Levo a mão ao peito, indicando ser eu. — Malek. — Apontei pro filho de Héstia.

Acabei fazendo uma mesura para ela também e Malek seguiu meus passos.

— O que vieram fazer em nosso jardim?

— Bem... precisamos de uma maçã de ouro pro nosso dragão. Ele está bem velho e consequentemente lento. Só que a gente precisa chegar o mais rápido possível na pedra Elemental da Terra.

— Dragão? — A moça olhou por cima do meu ombro curiosamente. — Você está falando daquele? Ládon? Céus, onde você o encontrou?

Ela parecia encantada ao vê-lo. Caminhou em nossa direção, dando uma leve empurrada no meu ombro e no de Malek para que pudesse ver ele melhor. Um sorriso preencheu seu rosto e ela decidiu voltar a falar conosco depois de longos segundos o admirando:

— Obrigada por encontrarem ele. Estávamos todas preocupadas. Podem levar sim uma maçã de nossa deusa Hera. Ele é o protetor das maçãs. Graças aos deuses estamos protegidas de novo.

Aretusa assumiu à frente e nos guiou calmamente pelo jardim, levando-nos até a famosa árvore. Vendo ela mais de perto, percebi que as maçãs brilhavam por conta própria e não por causa do pôr-do-sol alaranjado.

Delicadamente ela puxou uma maçã do galho, fazendo algumas folhas prateadas caírem. Por fim Aretusa estendeu o fruto encantado pra mim e eu o peguei. Era mais pesado do que eu esperava, entretanto, entre os dedos eu conseguia sentir o poder que emanava. O poder da juventude eterna.

— Agora me levem até ele. Nunca estive tão ansiosa pra ver aquele dragão de novo — diz a Hespéride, claramente animada.

Não demorou muito até chegarmos onde o dragão dormia. Ela acariciou sua cabeça e sussurrou algo pra ele até que Kame abriu os olhos e passou a encará-la.

— Bem-vindo de volta, Ládon! — exclamou e apontou pra árvore. — Vem, vamos pro Jardim.

O dragão continuou a encarando por alguns segundos. Então seus olhos encontraram os meus e ele bufou, levantando-se. Alguns sons saíram da sua boca enquanto ele caminhava com a Hespéride ao seu lado. Porém, ele para ao meu lado e se deita novamente, como se agora pedisse o meu afago.

Aretusa pareceu não entender.

— Ei, Ládon. A árvore está lá, esperando por você. Vamos!

Kame bufou em resposta. Aretusa suspirou.

— Ele não quer ir — diz a Hespéride, frustrada. — Acho que se apegou a vocês.

Foi nesse momento que me dividi em duas por dentro. Uma parte me vangloriava por conseguir o dragão todinho pra mim e a outra parte ficava triste pela Hespéride. Ela parecia gostar do seu "bichinho" de estimação. Levei um tempinho para respondê-la:

— Olha, só precisamos que ele nos leve até a pedra Elemental. Depois disso acho que conseguimos nos virar. Então o farei voltar para cá. Para vocês.

Os olhos castanhos da garotas parecem sorrir junto com sua boca.

— Fariam isso mesmo por nós? Puxa, muito obrigada!

Logo estou sendo envolvida no abraço. A garota também puxa Malek e nós damos um curto abraço coletivo. No fim dele, ela saltita e beija a couraça do dragão.

— Ei, como vocês conseguem viajar neles sem uma montaria? — Ela solta uma risadinha ao fim da pergunta. — Vou dar outra ajudinha. — Aretusa nos dá uma piscadela antes de gritar: — Irmãs! Tragam nossa montaria aqui!

Uns minutinhos se passaram até que seis donzelas parecidíssimas com Aretusa trouxeram uma montaria de couro com diversos detalhes em ouro. Havia sete lugares disponíveis naquela montaria especial. Elas deviam gostar bastante de viajarem juntas.

Levou mais uns minutinhos até conseguirem ajeitar a montaria no dragão. Então as seis se viraram para nós e ao mandar de Aretusa, uma a uma fizeram mesura, apresentando seus respectivos nomes: Hespéria, Hespéris, Egéria, Clete, Ciparissa e Cinosura. Eu e Malek também nos apresentamos da mesma forma e agradecemos por terem arrumado Ládon.

Elas acenaram antes de voltar ao lindo Jardim de Hera. Segundos depois eu estava acariciando Ládon para que acordasse e lhe dando o fruto dourado. Ele o come sem reclamar como se já estivesse habituado àquilo. Um brilho dourado o envolve assim que ele fecha os olhos e rapidamente sua pele ganha uma tonalidade mais clara, suas asas parecem ser fortalecidas e quando ele abre a boca para rugir, percebo que até seus dentes pareciam ter rejuvenescido.

Seus olhos se abre novamente e sons saem da sua boca. Provavelmente ele estava pedindo para que subíssemos na montaria. Obedecemos e no segundo seguinte ele se lançou no céu. Me surpreendi o quanto ele havia ficado mais rápido agora que estava mais jovem. Soltei uma risadinha quando ele começou a cursar o caminho na direção da pedra Elemental. Tinha dado certo. Kame estava mais veloz do que nunca.

E agora tínhamos apenas mais um objetivo: capturar a última pedra Elemental.


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Notas finais do capítulo

Será que eles vão conseguir capturar a última pedra Elemental? o.o comecem a torcer aí u.u

No próximo capítulo - os últimos seis Jogadores o.o

Até o próximo capítulo o/



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