O primeiro baile da temporada significava reconhecimento, por isso ele não poderia faltar. Sebastian não conseguira falar com James. Seu irmão estava, certamente, enfurnado em alguma atividade cientifica, portanto se escondia da mãe, das mulheres, das movimentações sociais. Talvez, ele pensava, isso quisesse dizer que não havia garotas pelas quais ele se interessasse.  Nem mesmo a tal mencionada por Edward no café da manhã de dias atrás.

O salão na casa da família Dixon estava primorosamente ornamentado. Havia variedade de moças solteiras, porque donzelas era uma outra conversa, por todas as partes. Ele passou os olhos facilmente pelo salão. O que, com seus um metro e noventa, era uma tarefa simples.

Qual das garotas arrumadas com esmero seria aquela que seu irmão tão calorosamente falara?

Num grupo, duas ou três bonitinhas. Nada que lhe chamasse a atenção. Sua futura esposa precisava ser do tipo que atrai todos os olhares por onde passa, e aquelas estavam longe de ser assim.

Outro grupo. Nenhuma que lhe atraísse.

Mais um grupo.  Decepção! E o desespero começou a tomar conta dele. Será que Edward falara a sério? Será que realmente havia uma mulher pela qual valesse a pena largar a vida de solteiro e todas as suas comodidades?

Mais ao fundo, vislumbrou as mulheres solteiras. Algumas mais velhas, outras nem tanto. O que estava fazendo? Definitivamente aquele não era o local que uma jovem assediada ficaria. Mas, entre elas havia sim alguém que lhe chamou a atenção. É claro que não serviria para casar. Pois, apesar dos cabelos vibrantes, e do corpo esguio, ela não era bela o suficiente para que ele desistisse das outras. Entretanto, para uma noite, enquanto a mulher perfeita não surgia, aquela seria o par ideal.

Não titubeou, algo o levou em direção a ela. E enquanto se aproximava podia ver com mais clareza a pele levemente sardenta, o pescoço fino, os fios ruivos que escapavam do coque alto e pendiam ao redor de uma tez que lhe parecia sedosa e macia.

Ah, ele tinha olho clínico para uma pele gostosa de tocar. E definitivamente aquela era assim.

— Com licença... – disse ao se aproximar e percebeu o olhar atravessado e incomodado da solteirona com quem a moça falava.

A jovem ruiva se virou, o rosto também tinha sardas, os olhos eram grandes e expressivos. De um tom de verde, quase como o mar... era a definição correta para aquela cor. Olhos de mar. E ele amava o mar.

— Senhorita... – fez uma reverência educada.

Ela pareceu engasgar e a outra falou:

— Hannah... senhorita Hannah Larkin.

Sebastian arregalou os olhos, surpreendido e imediatamente ofereceu às duas seu sorriso mais sedutor.

— Filha de Sir Larkin? Oh, desculpe, ele é Barão agora não é? Grande amigo de papai. – falou ininterruptamente.

— Hannah, minha querida – a senhorita Moller segurou seu braço com delicadeza – Este é o segundo filho do Marquês de Ashworth. Sir Sebastian Evans.

Hannah acreditou que aquilo só poderia ser alguma brincadeira ou algo do gênero. O que o ladrão de corações queria com ela? Talvez, perguntar por sua irmã. E foi ai que ela se empertigou pronta para informar que a outra estava no salão ao lado, com seus admiradores. Ele que fosse até lá antes que não sobrasse um lugar perto para se sentar junto a Betina.

Porém, ele a surpreendeu ao perguntar:

— A senhorita Larkin estaria disponível para a próxima dança?

Disponível? Eu? Outro engasgo.

Ela olhou em volta rapidamente. Será que aquele homem estava mesmo falando com ela? E de repente sentiu um cutucão nas costas. Olhou firme para a senhorita Moller e percebeu que estivera em silêncio como uma idiota por tempo demais.

— Não... oh, desculpe, sim, estou...

— Ótimo! – ele concluiu sorrindo novamente. – Então, voltarei em breve para buscá-la. Assim que esta dança terminar.

Lentamente ele se afastou deixando para traz uma mulher e uma jovem embasbacadas. Nunca, em todos os seus vinte e um anos de vida Hannah se sentira tão perdida diante de alguém, como naquele momento.

Sir Sebastian era tudo o que lhe disseram e mais um pouco. Os olhos dele eram lindos. Cílios perfeitos que circundavam olhos de um azul escuro e perturbadores. Boca bem desenhada, um leve furo no queixo. Isso, sem mencionar o fato de que ele era alto, imponente e... muito atraente.

De repente se pegou sorrindo para si mesma.

A senhorita Moller, com quem conversava segundos antes, segurou seu braço com calma antes de falar:

— Ele é lindo. Um charme. Mas tome todo o cuidado do mundo com esse homem. Essa cota de charme tem servido apenas para desvirtuar mulheres desavisadas... – e com um sorriso  zombeteiro concluiu: - não que eu possa culpa-las por isso, já que – um longo suspiro foi ouvido – resistir a toda essa beleza não deve ser tarefa fácil. – e voltando-se para Hannah, reforçou: - Todo cuidado é pouco! Onde está sua mãe? Ela precisa saber que sir “Sebastian” Evans a convidou para dançar.

— Deixe mamãe onde está senhorita Moller... contarei a ela depois.

Secretamente Hannah ainda não acreditava que sir Sebastian Evans, o ladrão de corações, voltasse para realmente leva-la a dançar.

 Mas ele voltou. Não apenas voltou, como a levou para a dança no meio do salão. Hannah não sabia há quanto tempo não dançava com um homem que não fosse um primo ou um amigo de seu pai. E estava tão feliz com isso, que nem percebeu os vários olhares que recebeu.

Sir Sebastian era realmente deslumbrante. Ele a observava. Ele sorria. Ele falava com gentileza. Ele segurava suas mãos e parecia totalmente atento ao que ela tinha a dizer. Suas impressões sobre ele foram tão boas, que Hannah nem sabia se se incomodaria em virar uma mulher perdida nas mãos dele. Pois talvez essa fosse sua melhor chance de poder estar com um homem de verdade. Não com um velho babão ou com um nobre endividado que não a trataria como uma mulher deveria ser tratada.

Ela o observou novamente, detendo os olhos nos dele. Sim, sir Sebastian deveria saber exatamente como uma mulher deve ser tratada. Ou não teria a capacidade de roubar tantos corações.

Hannah Larkin era uma garota encantadora. Sebastian pensava enquanto cruzava por ela. O sorriso dela era amplo e atraente. Quase como de uma menina inocente. Ela tinha aroma de jasmim em flor. Que dificilmente combina com alguém. Mas, ele não acreditava que outra jovem, que não fosse tão diferente, tão única quanto aquela se adequaria tão bem ao aroma.

A música acabou. Ele a conduziu de volta ao local onde estivera até aquele momento. E inesperadamente não se afastou. Perguntou a quanto tempo estava na cidade. Como considerava que seria aquela temporada. Contou brevemente sobre seu desejo de permanecer todo aquele período ali e não fazer como nos anos anteriores, quando viajava. A conversa se encerrou quando o filho do Marquês viu a mãe do outro lado do salão.

— Foi um prazer conhecê-la e dançar com a senhorita. Espero que aproveite o restante do baile.

A voz firme desejou sem que seu dono afastasse o olhar do mar profundo a sua frente.

— Obrigada Sir Evans. – Hannah concluiu mais do que encantada.

Ele beijou sua mão sem desviar os olhos dos dela. E rapidamente se afastou. Hannah ficou parada, com o coração acelerado diante daquela inesperada e única aproximação masculina.

A marquesa esperava pelo filho enquanto balançava agitadamente o leque. Junto da mulher estava a esposa de seu irmão Artur. Cíntia.

— Sebastian! – Cintia se surpreendeu ao ver o cunhado. – Você por aqui? Me corrija se estiver errada, mas nesta época do ano não é quanto você simplesmente some?

Ele se aproximou e sedutoramente beijou a face da cunhada. Um hábito que sua mãe detestava que ele insistisse em manter, mas do qual não conseguira dissuadi-lo nunca.

— Pretendo ficar por aqui neste ano Cíntia... mamãe ainda não lhe contou meus planos.

A moça encarou a sogra.

— Claro que contou! Mas, não esperava que levasse seu intento a sério para estar presente no primeiro baile.

A marquesa não estava interessada naquela conversa boba e foi logo perguntando:

— Você estava com a senhorita Larkin? – será que realmente vira o filho a conversar animadamente com a menos atraente das filhas do Barão?

Ele olhou na direção da qual viera, Hannah estava de lado para ele, conversando com um grupo de cindo mulheres. Com certeza o assunto daquele pequeno colóquio era nada mais, nada menos do que ele próprio. Pensou sorrindo.

A pobre moça deveria estar sendo interrogada a seu respeito naquele instante.

— Já conheceu a irmã dela? – Cintia perguntou batendo com a mão no braço do cunhado.

Sem compreender o comentário. Sebastian se remexeu encarando a cunhada.

— O que quer dizer? Quem é a irmã dela?

Cintia parecia satisfeita em ser aquela que lhe daria a boa nova:

— Ah! A bela da estação. Na verdade é a bela da terceira estação consecutiva. – e encarando a sogra concluiu o comentário – Estávamos pensando se nesta temporada ela consegue se casar.

Um riso rápido escapou pelos lábios masculinos.

— Se ela é tão bela por que não está casada? – ele que não cairia naquela conversa.

— Por causa de Hannah. – a marquesa informou.

Novamente ele virou os olhos em direção a jovem ruiva.

— O que ela tem a ver com o fato da irmã não ter se casado?

— Bem, meu filho. A questão é que Hannah é a mais velha. E o Barão só aceitará que a filha mais nova se case depois que a mais velha se casar.

Ah, sim, ele compreendia. Mas considerava esses ajustes paternos para casar suas filhas extremamente chatos, e acreditava piamente que aquele não era o caso. Talvez Hannah até tivesse um bom dote. A jovem não era feia. Por que não estava casada?

Então sua mãe lhe mostrou a irmã.

— Veja, aquela é Betina, a irmã de Hannah.

E ele compreendeu tudo. Betina era aquele tipo de mulher que fazia seu pênis saltar dentro das calças. Exatamente a mulher que estava procurando. A que atraia todos os olhares para si. Aquela que o ocuparia tanto que ele não pensaria em traí-la com quem quer que fosse. Hannah, mesmo diferente e até atraente, não poderia fazer frente a outra em lugar algum do mundo.

Esquecendo a mãe e a cunhada, ele se dirigiu para a moça que estava rodeada de homens. Sebastian não tinha medo de concorrência. Sabia bem como lidar com ela.

Assim que esteve perto. Percebeu os olhos verdes perfeitos e sedutores se fixarem nos seus. Ela sabia que era bonita. Sabia que era linda. Sabia que os homens se encantavam com ela. Ele precisava ser convincente. Por isso, não se achegou a Betina. Foi em direção a mãe dela. Que não ficava atrás tanto em beleza quanto em elegância. Cumprimentou-a distraidamente, sem dar atenção à filha.

Estratégia é tudo em uma conquista. E se ele quisesse ser o primeiro na lista das Larkin. Precisava usar de todo o seu arquivo de estratégias bem elaboradas. Curiosa pela presença do ladrão de corações junto a sua mãe. Betina parou de prestar atenção aos outros pretendentes. E se aproximou da dupla.

— Minha filha... – a mãe disse com um risinho bobo assim que ela se aproximou – este é sir Evans. Filho do Marquês de Ashworth. Sir Sebastian, esta é minha filha mais moça, Betina.

— É um grande prazer conhece-la senhorita Larkin. – ele disse aceitando a mão da moça e imediatamente beijando.

Estava claro que ela caíra na rede. Não apenas ela, mas a mãe dela também. Então, ele poderia seguir com o plano. Convidando-a para dançar. Quando o sim ecoou firme em seus ouvidos, Sebastian soube que obtivera pleno sucesso.

Hannah conversava ainda com o grupo de mulheres quando vislumbrou Sebastian atravessando o salão carregando sua irmã pela mão. Ele sorria de forma sedutora e encantada. A sensação ruim de ter sido enganada a invadiu.

Por quê? Hannah se perguntou. Por que não percebera que ele estava apenas sendo gentil ou usando-a para fazer a mediação com a irmã e a mãe? Como se precisasse disso! Pensou incomodada, com a voz travada na garganta. Bastava se aproximar das duas, com todo aquele charme, ele jamais necessitaria dela para ajuda-lo a se aproximar de sua irmã.