Ladrão de Corações escrita por Lilissantana1


Capítulo 3
Capítulo 3 - O amigo


Notas iniciais do capítulo

Um plano bem elaborado.



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O baile seguia seu curso animado. Depois daquela primeira dança e da decepção causada por Sir Sebastian Evans,  Hannah passou o restante da noite sentada junto às mulheres mais velhas, ou parada ao lado da pista de dança por imposição materna, a espera de que alguém viesse convida-la a dançar.

De seu lado, como participante de um monólogo com a outra irmã Larkin, Sebastian tinha total e completa certeza de que encontrara a mulher de seus sonhos. A beleza de Betina era radiante. Seus cabelos loiros claros, os olhos verdes esmeralda, o corpo maravilhosamente bem formado. A pele linda e lisa como pêssego maduro.

O que mais ele poderia querer? Onde encontraria outro exemplar como aquele? Que com um simples olhar despertasse seus desejos? Certamente que nunca desejaria outra se concluísse com exatidão seus planos recém formulados de casar-se com ela.

Enquanto seus olhos vagavam pelo salão, ele viu Hannah sozinha do outro lado. Sim, ele sabia o que poderia querer a mais, pois, depois de poucos minutos de “conversa” com a caçula dos Larkin, o filho do Marquês confirmou a informação passada por sua mãe, de que sua escolhida só poderia se entregar a ele no dia em que a irmã já estivesse no mínimo comprometida com alguém.

Sua nova missão na vida era então conseguir esse santo ser, que faria o favor de cortejar a primogênita dos Larkin e assim liberar Betina para casar-se com ele. Enquanto a loira falava tranquila e distraidamente ao seu lado, Sebastian matutava sem demonstrar que não ouvia o que a moça falava, seus olhos estavam novamente atentos ao rosto dela, aos seus modos, aos seus sorrisos. Entretanto, a mente agitada de Evans continuava na irmã ruiva de sua escolhida. Quem? Quem entre os seus muitos amigos poderia fazer a corte a senhorita Hannah Larkin? Era claro que a pessoa não precisava casar-se com ela, a maioria de seus comparsas não pensava em se casar. Na verdade precisava ser alguém que nunca viera a cidade e que sumisse tão logo ele conseguisse colocar seu sobrenome na belíssima jovem loira.

Um sumiço? Fácil de resolver. Era só inventar uma doença séria, uma viagem inadiável, uma morte repentina, e pronto. Acabava-se qualquer ligação por mais intima que pudesse ser.

Mas, quem aceitaria cortejar Hannah? Ele a observou novamente. Quem quer que fosse, não faria um sacrifício assim tão grande. A garota era bonita, não tão bonita quanto a irmã, mas mesmo assim, aqueles cabelos ruivos, a pele sardenta, sem falar nos olhos verde mar, ou seria azul mar? a tornavam extremamente atraente. De uma forma diferente, quase exótica. Cruzou rapidamente o olhar pelo salão, não havia em todo o espaço uma única mulher que fosse tão “excepcional” quanto sua futura cunhada.

Ah! Ele lembrou. Havia um amigo que poderia ajudar. Assim que chegasse em casa, ainda aquela noite, lhe escreveria pedindo que viesse para ajuda-lo. Paul Wood lhe devia muitos favores, estava na hora de cobrar cada um deles.

— O senhor não acha? – ele ouviu de repente e atentou para os olhos verdes de sua acompanhante, tentando imaginar se aquela pergunta esperava por uma afirmativa ou por uma negativa.

Nenhum sinal pareceu escapar pelos belíssimos olhos. Ele disse por fim.

— Nem todos considerariam adequado, porém...

Betina sorriu se mostrando satisfeita. Sim, ele concordava com ela. Era claro que concordaria!

— Não esperava outra coisa do senhor.

Ele respondeu com outro sorriso ainda mais sedutor e atraente, produzindo um leve rubor nas faces muito brancas da moça. Aquela estava no papo. Só lhe faltava resolver um breve probleminha e pronto. Sua mãe pararia de importunar por uma nora.

*******************

 - Você não dançou com ninguém!

A mãe reclamou assim que elas se acomodaram na carruagem. Hannah, incomodada olhou para a rua, como se a conversa não fosse dirigida a ela.

O pai apertando a bengala sob as mãos encarou a esposa e falou:

— Soube que ela dançou com Sir Evans.

Os olhos azuis da esposa quase o devoraram.

— Está enganado Elton. Quem dançou com Sir Evans foi Betina. Na verdade eles dançaram mais de uma vez. E depois, ele a monopolizou o restante da noite. Mostrando claramente que suas intenções são sérias.

Hannah observou o pai de relance. Seus cabelos estavam ralando, mas ela podia ver a semelhança que havia entre eles. O mesmo tom avermelhado que recobria sua cabeça, estava presente no homem perto dela. E em tom provocante completou:

— Na verdade mamãe. Sir Evans dançou primeiramente comigo. Antes de dançar com Betina.

A dupla feminina encarou a ruiva como se ela estivesse dizendo alguma mentira. Hannah ia voltar a observar a rua quando ouviu a voz da mãe a justificar o acontecimento:

— Certamente ele queria informações sobre sua irmã.

Hannah se sentia tão satisfeita em desbancar as ideias da mãe que com um sorriso sarcástico explicou:

— Na verdade, durante todo o tempo em que conversamos, ele sequer mencionou o nome de Betina.

As duas irmãs se encararam. Betina apertou os lábios incomodada.

 - Vocês conversaram? – perguntou o pai satisfeito por sua filha ter tido mais do que uma simples dança com o jovem Evans.

— Sim, ele perguntou sobre o baile. Comentou que pretende permanecer na cidade para toda a temporada.

— O que mais ele disse? – Betina perguntou interessada se aproximando da irmã.

Hannah fez um breve suspense.

— Ah! Nossa conversa foi rápida, ele logo viu a mãe e se dirigiu a ela. Mas, você e ele conversaram a maior parte da noite, você poderia nos contar coisas sobre Sir Evans.

Betina voltou para o lugar. Batendo com a mão sobre os joelhos. Hannah era absolutamente impossível quando desejava ser. Mas, fato era que não lembrava de nada que o filho do Marquês tivesse dito. Lembrava de ter contado quase tudo sobre si mesma, mas, nada sabia a respeito dele.

************************

Sebastian chegou em casa de madrugada,  entregou o chapéu e a bengala ao porteiro. Depois seguiu para seu quarto pronto para o merecido descanso pós baile. A cama estava arrumada com esmero característico de seu criado pessoal. Mas, ele tinha uma missão muito importante para aquele momento. O sono que lentamente chegava poderia esperar um pouco.

Sentando-se à escrivaninha puxou uma folha e escreveu longamente ao amigo Paul, explicando sua decisão “definitiva” de se casar. Informando que até aquele momento os únicos que sabiam do fato se resumiam as pessoas que compõem sua família. E finalmente revelando o encontro especial com... como era mesmo o nome da moça? acabou colocando senhorita Larkin. Filha de um grande amigo de papai. O Barão Larkin. Que representava ninguém menos do que sua escolhida.

As qualidades de Betina foram salientadas. Sua beleza extraordinária. Seus modos. Sua postura ereta e elegante. Seu corpo sedutor. Seus belíssimos olhos verdes. E sua voz especialmente cativante. Depois de tudo isso dito. Paul não poderia pensar que ele, Sebastian, estava brincando em sua decisão de largar a vida de solteiro definitivamente. E só restaria ao amigo aceitar seu pedido e vir imediatamente passar um período em sua residência na intenção de ajuda-lo a realizar tal empreitada.

Como resposta ao pedido. Alguns dias depois, Sebastian recebeu a correspondência de Paul Wood. Onde o outro se mostrava surpreso com a decisão do amigo e também a confirmação de que em breve estaria chegando para auxiliar no que lhe fosse possível.

Assim que largou a carta com a confirmação sobre o criado mudo. Sebastian respirou aliviado. Ele dera uma folga à senhorita Larkin nos últimos dias, queria que ela ficasse em suspense, na expectativa de sua visita. Mas, Sebastian não a visitaria ainda naquele momento.

Havia um sarau literário para dentro de dois ou três dias, na residência dos Andersons, ele iria. Certamente que sua favorita também iria. E ele contava que Paul também estaria presente para começar a corte sobre a irmã mais velha de... droga que ele não conseguia lembrar o nome dela.

Mas, pensava Sebastian. Isso não tinha qualquer importância. Em breve ele não só lembraria sempre do nome dela como estaria usando-o constantemente. Chamando-a de minha senhorita...

********************

O sarau daquela noite seria mais uma oportunidade para encontrar novos pretendentes. Entretanto, o humor de Betina não parecia muito agradável naquela noite. Há dias que ela esperava receber o cartão do senhor Evans. Mas, ele não dera as caras como sua mãe esperava que o filho do Marquês fizesse.

Não a procurara para uma única visita! Não enviara uma cartinha que fosse. Um único poema. Uma simples frase. E ela acreditando que o cativara! Seus olhos caíram sobre Hannah. Tudo culpa dela. Se sua irmã se mostrasse mais atraente para o sexo masculino, ela não estaria naquela situação perturbadora. A espera de algo que nunca acontecia.

Vinte e um anos! Desse jeito acabaria solteirona!

A carruagem parou diante da residência dos Anderson. Aquele seria um evento mais íntimo. Não haveria tanta gente quanto no baile. O que queria dizer: menos chances para encontrar um provável noivo. E logo os lábios de Betina se esticaram em um bico de birra.

A primeira parte da noite seria a declamação de poemas e poesias. Havia cadeiras para a plateia. Havia instrumentos musicais para os acompanhantes. Havia uma mesa de guloseimas e outra de refrescos. E finalmente havia o pequeno mas muito bem ornado salão de baile, onde depois, se desenrolaria a dança e conversa.

Aquele era um período tão agradável! Pensava a baronesa assim que ingressava na sala. Tantas jovens. Tantos jovens. Enquanto cruzava entre os grupos de pessoas, via os olhos de todas se dirigirem para sua pequena Betina. E cruzou os dedos, esperando ver Sir Evans por lá. O jovem se mostrara tão interessado! Impossível que a filha caçula não o tivesse cativado.

E para seu deleite completo, lá estava, aprumado, lindo e radiante. Sir Sebastian Evans. Acompanhado da mãe e de outro rapaz, um desconhecido. Seria um parente? Os olhos de Charlot Larkin mediram os dois. Não havia semelhanças entre eles que fosse além da altura. O outro era um pouco mais magro. Seu cabelo era muito curto e preto. O rosto bonito como todo bom sedutor. Será que era italiano? Ela pensou desconfiada.

Lado a lado, os amigos observaram o trio ingressar na sala. Paul logo reconheceu a pretendente de seu amigo. Não havia como ser diferente. A beleza de Betina o atraiu como se ele fosse uma mosca e ela o mel.

— A ruiva é o seu alvo. – Sebastian falou baixo sem demonstrar qualquer emoção.

Paul observou a outra moça. Não podia acreditar que Sebastian o colocaria naquela presepada! Cortejar uma garota como aquela? Sem graça. Sem atrativos. Sem beleza. Os olhos castanhos mel se fixaram nos azuis do amigo.

— Como é mesmo o nome dela?

— Hannah. – o nome saiu surpreendentemente rápido dos lábios de Sebastian.

— E o nome de sua futura esposa?

Evans olhou para a mãe como que pedindo socorro. Por que ele não conseguia gravar aquele nome na memória do mesmo jeito que gravara a imagem da loira?

— Não sabe? – Paul perguntou em tom de brincadeira. – Sabe apenas o nome da irmã errada! Mau presságio. – sentenciou.

— Betina! – Sebastian soltou como quem cospe algo que está travado na garganta. Há dias que ele tentava memorizar o tal nome, sem sucesso.

— Então. Você quer que eu faça a corte para a ruiva Hannah enquanto você corteja Betina. Mas, você sabe que meu interesse nunca foi, nem nunca será casamento. O que farei para manter essa jovem entretida sem me comprometer?

Sebastian já pensara em tudo.

— Você vai oferecer a ela o que oferece a todas as garotas. Ela logo cairá aos seus pés. Depois, arranjará uma viagem qualquer, mas prometerá escrever. Nessa troca de correspondências, a relação de vocês se estreitará.

Diante da explicação Paul tratou de esclarecer:

— Sebastian! Eu mal escrevo para minha mãe! E você sabe o quanto ela me cobra isso.

— Sim, eu sei. Mas, quem vai manter correspondência com a garota sou eu. A manterei ocupada, se precisar, até me comprometerei em seu nome. Mas, essa relação terá um fim logo que eu consiga a mão de... de Betina. O Barão não terá como desfazer o acerto depois de anunciado publicamente.

Paul ainda mostrava dúvida quanto a possibilidade daquele plano dar certo.

— E como você vai se livrar do compromisso? Não pretendo ser obrigado a casar com essa jovem. Minhas dívidas com você não são assim tão grandes.

Sebastian riu debochado.

— Fique tranquilo! Antes que o pai dela vá em seu encalço, eu lhe arranjo uma doença contagiosa grave, uma morte ou uma viagem inesperada. Nada há que se preocupar.

Os olhos de Paul seguiram Betina enquanto a moça caminhava até as cadeiras. Ela era realmente linda. E havia muitos homens interessados nela. Era surpreendente que Sebastian estivesse tão tranquilo ali, conversando com ele. Enquanto que a mulher com quem pretendia se casar era assediada por outros representantes do sexo masculino.   


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Notas finais do capítulo

Não sei porque. Mas acho que esse plano não vai dar certo. BJ e muito obrigada às garotas que estão acompanhando. Tomara q vcs gostem do que pensei para esses dois.



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