Seren escrita por Karina A de Souza


Capítulo 8
Rei Sem Reino


Notas iniciais do capítulo

Olá, voltei.



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Tive uma péssima noite de sono. Não conseguia parar de pensar nas coisas que haviam acontecido. Loki não estava morto. Odin... Onde ele estava? Eu não podia fazer nada contra Loki, ou Thor e Jane poderiam sair feridos.

O que eu ia fazer? Não podia ficar parada e assistir o deus da trapaça fazer o que queria. Era errado. Mas... Se denunciado por isso, ele poderia morrer.

Naquela manhã, acordei com alguém tocando meu cabelo. Me sentei num pulo, ficando longe de suposto intruso. Loki.

—Bom dia a você também, querida esposa. –Zombou.

—Não me toque. Ou perderá as duas mãos. –Fiquei de pé, puxando um roupão para cobrir o vestido de dormir. –Não pode continuar com essa brincadeira.

—Que brincadeira?

—Você sabe muito bem. Esse teatrinho. Sabe que morrerá caso seja descoberto, não sabe?

—Os únicos que sabem disso, são eu e você. Se me entregar, será culpada pela minha morte. –Assenti.

—Mas se eu ficar calada, serei sua cúmplice. Não posso aceitar fazer parte disso.

—Pare de se preocupar com isso. –Ficou de pé, pegando duas taças. –Será que é uma boa atriz?–Forcei um sorriso.

—Sim, eu sou. Então deve se perguntar se estou mesmo ao seu lado. –Entregou uma taça.

—Um brinde ao nosso reinado, que será longo.

—Aproveite enquanto pode. Mentiras sempre são descobertas. –Olhei para o conteúdo na minha taça, meu sorriso desapareceu lentamente. –Não colocou veneno aqui, colocou?

—E matar minha esposa, antes de consumar o casamento?

—Ah, vá para os braços de Hela. –Larguei a taça e me afastei, ficando furiosa. –Não vou compactuar com suas mentiras.

—Bom, hoje mesmo mandarei um pequeno exército para me trazer Thor e a adorável Jane. O que acha disso?

—Por favor... Não os machuque. –Diversão sumiu do rosto dele.

—Seren, você mesma dizia que eu deveria ser rei. Deve entender que o que estou fazendo é o certo.

—Sempre achei mesmo que deveria ser rei, mas na base de mentiras, de trapaças...

—Odin me enganou todos esses anos. O trono de Asgard deveria ser meu.

—Eu sei disso, mas não assim! Eu podia convencer Odin. E depois... Depois que Thor desistiu... Você poderia ser rei.

—Ele a nomearia antes de sequer pensar em mim.

—Não. Entre você e eu, ele o escolheria.

—Como pode ter tanta certeza?-Desviei o olhar, um pouco chateada.

—Por que eu sou mulher. Por isso.

***

—A senhora não irá tomar café com o Pai-de-Todos?-Idga perguntou, penteando meu cabelo. Eu normalmente fazia isso sozinha, mas não tinha ânimo algum. Precisava pensar numa saída, e logo.

—O que disse?

—Perguntei se a senhora não irá tomar café com o rei.

—Ah... Não. –Quanto menos tempo perto de Loki, melhor. Eu estava furiosa com seu plano, e confusa... Sobre o beijo e os supostos sentimentos dele por mim.

—Quer que eu traga aqui sua refeição?

—Estou sem fome. Idga, pode pedir a algum dos outros servos para manda um recado à Heimdall?

—Receio que não será possível, senhora. –Olhei para ela, completamente confusa.

—E por que não?

—O Guardião não está na Bifrost. –Ergui uma sobrancelha.

—Ele nunca sai de lá, Idga. Onde Heimdall poderia estar?

—Ele foi preso... Por alta traição.

—Como é?-Fiquei de pé. –Lo... Odin prendeu Heimdall?-Assentiu. –Eu... Isso não ficará assim. –Fui para a porta.

—Senhora, não pode sair sem sua coroa. –Suspirei, deixando que Idga a ajeitasse na minha cabeça. Era leve, mas parecia muito pesada no momento. –O soberano disse que a senhora devia usar o tempo todo.

—Obrigada.

Então agarrei as saias do vestido e comecei a correr. Uma rainha não faz esse tipo de coisa, eu sei, mas eu não era uma rainha. Meu marido não era o rei.

“Você não é a rainha, Seren. Por que aquele não é o rei.” Pelos deuses... Aquela mulher sabia de tudo! Mas quem era ela? Como ela poderia saber? Eu devia falar dela à Loki? Não, melhor não. Talvez ela acabasse sendo uma aliada, caso revelasse à verdade a todos.

Entrei na Sala do Trono, como um verdadeiro furacão. Estava furiosa, e isso podia prejudicar certo deus.

—Com licença, Pai-de-Todos, mas eu receio que precisamos ter uma conversa em particular. –Fez um gesto com a mão, mandando os guardas presentes saírem.

—Estava correndo? Por que não pode se portar como uma rainha?

—Eu não sou uma rainha. Mas não é sobre isso que precisamos falar.

—Então diga.

—Você prendeu Heimdall! Por alta traição! Ele será enforcado!

—Está bem ciente das nossas leis, isso é muito bom.

—Loki, não brinque comigo. –Outro gesto com as mãos, uma luz esverdeada pareceu varrer toda sala, então o deus da trapaça se despiu da aparência de Odin. –Alguém pode acabar vendo-o.

—Não, ninguém verá nada, nem escutará nada, com o feitiço que lancei aqui. –Dei de ombros. –Seren, Heimdall desobedeceu seu rei, permitindo sua saída de Asgard.

—Ele não desrespeitou rei nenhum. Atualmente, nem príncipe você é. –Fechou a cara.

—Por que tem que me desafiar?

—Por que eu quero. –Sorri. –Não vai me manter calada por muito tempo.

—Eu não vou?-Deu alguns passos na minha direção. Me obriguei a permanecer onde estava. –E seu precioso Thor? E Jane Foster? Quer ser a responsável pela morte deles?-Não, eu não queria. Mas eu não podia sentar e esperar Loki fazer o que queria.

—O que fez com Odin?

—De novo insistindo nisso?

—Loki, talvez não se lembre, mas eu não sou a mesma Seren que abaixava a cabeça e deixava você fazer o que queria. –Deu um passo para frente. Se desse mais um, acabaríamos nos tocando. –Pode achar que vai me controlar, mas não vai. Vou usar todos os dias da minha vida para pensar uma forma de parar você. Mesmo que prenda, mesmo que mate. Eu não me importo. Eu o amo, irmão...

—E não sou seu irmão! Jamais repita isso!

—Talvez não me veja como sua irmã, mas eu o vejo como meu irmão. –Será? Depois de tudo... E do beijo, Loki ainda era meu irmão?

—Está cometendo um erro, Seren.

—Você também. Pena que não vê isso. Com essa atitude desesperada de subir ao trono, estragou suas outras chances. Se Odin voltar...

—Odin não voltará.

—Você o matou? Matou o nos... O meu pai? Já perdi Frigga... Não quero perder mais ninguém. O que fez com ele?-Desviou o olhar por alguns segundos. Minha mente começou a trabalhar cada vez mais rápido. Talvez gritar com ele e desafiá-lo não adiantasse... Mas havia outros caminhos. –Loki? Matou Odin? É isso?

—Não. Eu não o matei.

—Então onde ele está? Está ferido?

—Quanto menos souber, melhor. Não quero que a vejam como cúmplice caso...

—Já sou cúmplice. Sei de tudo e não o entreguei.

—Isso não importa agora. Não irão me descobrir.

—Solte Heimdall.

—O que?

—Solte Heimdall. –Suspirei. –Por favor.

—Não ganho nada soltando o Guardião. –Pense, Seren, pense.

—Ganhará uma rainha obediente. Se soltar Heimdall. Caso contrário... Eu serei rebelde e desrespeitosa.

—Tudo bem, eu o soltarei. Mas como sei que não tentará fugir novamente? Que garantia eu tenho?

—Tem a minha palavra. –Cruzou os braços. –Sou confiável. Aliás, não sou eu quem ganhou o título de deus da trapaça, da mentira...

—Certo. O Guardião será solto ainda hoje...

Agora.

—Agora. Ele será solto agora. –Me obriguei a sorrir.

—Obrigada. –Então me virei e saí.

***

Talvez eu devesse reavaliar meu modo de lidar com Loki. Gritar não resolvia nada. Ele tinha que pensar que eu estava ao lado dele. O perigo era que eu poderia acreditar que realmente estava ao lado dele. Não queria que ele fosse preso, ou morto... Ou qualquer outra coisa.

Se houvesse uma saída... De entregar Loki e garantir que ele ficaria bem... Aí eu não hesitaria. Faria o que deveria fazer.

E... Ele era um bom rei. Asgard estava mais próspera e poderosa do que nunca. Loki era ainda melhor que Odin no comando. Muito melhor do que Thor seria caso não tivesse desistido do trono.

—A senhora está bem?-Idga perguntou, parecendo realmente preocupada. –Nos últimos dias tem estado tão calada, e mal sai de seus aposentos. Há algo de errado?

—Não, eu... Estou bem. –Agitei a água da banheira. Queria apenas deslizar e me afogar nela.

—Tem certeza? Nem treina mais... Estamos preocupados.

—São apenas... Preocupações bobas.

—Envolvem o rei?-Olhei para ela, que cuidava do vestido para o jantar. –Desculpe a indiscrição. Mas... Pude perceber que não queria se casar com ele. Imagino que não esteja feliz por causa disso.

—Leu meus pensamentos. Mas não pode dizer a ninguém.

—Jamais. A senhora sabe que sou de confiança. O soberano fez algo?

—Não é o que está pensamento, Idga. O casamento sequer foi consumado. –Não que não houve tentativas, de Loki, mas não permiti que algo acontecesse.  –Eu apenas queria estar em outro lugar. Ou até mesmo ter outra vida. Se Heimdall não corresse riscos... Eu tentaria fugir. Mas passar pela Bifrost é impossível.

—Eu não sei se deveria dizer isso, mas... –Se aproximou, abaixando o tom de voz. –A Bifrost não é o único modo de sair de Asgard. Há outras passagens, algumas escondidas em montanhas. Não sei se todas funcionam de verdade, e onde podem levar... Mas parece que há uma capaz de levar à Midgard.

—Onde exatamente fica essa entrada?

—A senhora se arriscaria?

—É claro que sim. –Alcancei a toalha e saí da banheira. –Acha que pode me fazer um mapa? Estou saindo de Asgard essa noite.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo...
"-Os corvos de Odin. Eles me levaram até lá.
—Os corvos? Eles desapareceram após eu assumir o trono.
—Então eles sabem que você não é Odin. Curioso, não tentaram matá-lo. –Cruzou os braços. –Eles são fiéis ao verdadeiro Rei de Asgard.
—Eu sou o rei agora.
—Não por muito tempo."
...
"-Desculpe...
—Não, é... Uma bela forma de dizer adeus.
—Eu vou voltar. Talvez possa conseguir outra bela forma de dizer “olá”. –Sorri, as lágrimas queimando para sair.
—Volte para mim, então, e eu pensarei no seu caso."
E aí, o que estão achando?
Até o próximo! ♥



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