Bilhete para o mundo escrita por slytherina


Capítulo 3
Twitter




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O episódio 'Joe Doido' foi ao ar um mês depois. Jared assistiu em seu apartamento sozinho, enquanto comia pizza e bebia cerveja. Tamoh estava em Londres gravando uma participação em 'Dr Who'. Ele ligara algumas vezes mas admitiu que não ligaria mais, pois o custo era alto. Apesar de Joe Doido ser um personagem muito simples e previsível, Jared havia posto um tantinho de esquisitice e humor nele, o que o tornara mais humano, e o episódio mais simpático.

Após o show, ele pegou o celular e entrou no twitter. É claro, ele tinha uma conta: @sugarcube, que era o apelido que seu namorado lhe havia posto. Ao procurar na hashtag 'Supernatural', encontrou uma avalanche de postagens sobre o episódio que havia ido ao ar. Frases como 'Joe Doido é sexy', e 'Ship Dean/Joe é tudo de bom' eram uma constante.

"Caraca! Essas garotas são doidas. Nem houve clima romântico no enredo." Jared riu com seus botões.

As postagens eram de aceitação e aprovação, o que o emocionou. Ele leu cada um dos posts, e inclusive abriu links para blogs, onde algumas garotas faziam uma análise detalhada sobre a psique do personagem, e outras contavam sobre o encontro consigo no set de filmagem. Ele foi descrito como humilde e engraçado. Jared até tentou se proteger atrás de seu sarcasmo, mas seus olhos se encheram de água. Tudo esse interesse era muito gratificante. Seu lado mais racional o alertou que isso era passageiro, e que depois de algum tempo seria esquecido.

Envergonhado por ser um animal sentimental, ele desligou o celular e voltou pra TV. Zapeou um pouco e assistiu uma velha versão de "Romeu e Julieta", tão mal feito, que ele riu nas cenas dramáticas. Chutou a caixa da pizza e algumas latas de cerveja. Jogou-se no sofá e dormiu ali mesmo. Seu dormitório era um lugar muito solitário sem Tamoh por perto. Ele queria não pensar muito a respeito, mas dependia de seu namorado. Não financeiramente. Ok, só um pouquinho, mas sua maior dependência era emocional. Ele sempre precisou estar preso a alguém. Nem que fosse só para conversar, sem ter envolvimento íntimo. Ele não sabia viver sozinho.

Nos dias seguintes ficou em casa e espreitou o twitter. Procurava por hashtags, sem seguir ninguém. Tinha medo de ser descoberto e ridicularizado. É que ele se sentia ridículo, estalqueando fãs e os outros atores do show. Quando já tinha lido tudo, procurava seguir com sua vida: ligava pro agente, atrás de trabalho, e pro seu patrão em Vegas. Ligou pra Tamoh uma vez, mas o namorado disse que estava ocupado. Ele pediu desculpas e desligou, prometendo a si mesmo nunca mais bancar o namorado grudento e dependente. O que ele era de certa maneira, mas se controlava para não ser.

Na próxima vez que entrou no Twitter, Jared descobriu que tinha o próprio fã-clube: 'as maluquetes'. Ele riu sozinho e por pouco não postou um emoji de riso. Oh, não! Sem querer ele o fez. Tentou deletar o post, e ao não conseguir, foi até a configuração da conta e tentou torná-la privada. Sucesso! Só que ao voltar para a página principal, percebeu que já tinha 500 novas seguidoras.

"Como elas são rápidas!" Pensou. E agora? O que aconteceria? Resolveu ler seus posts pra ver se havia algo comprometedor. Nada. Tamoh nunca usava o twitter, embora ambos seguissem um ao outro. Mesmo assim. Jared sentia calafrios só de pensar em ter sua intimidade exposta na mídia. Sem saber o que fazer ele desligou o celular.

Passou um tempo desconectado e foi fazer fotos de publicidade. Tinha que vestir casacões e botas de cano alto, embora seu cabelo tenha sido penteado como o de Justin Bieber. Ligaram o ar condicionado no frio máximo, para compensar o calor de LA, mesmo assim Jared estava suado sob tanta roupa. Após as fotos ele ficou só de camiseta e bermudão, e assim foi pro seu apartamento.

"Sobre novos trabalhos, nós mandaremos avisos pelo Twitter. Ok?" O produtor das fotos falou para um suarento Jared.

"Twitter? Por que ninguém mais usa telefone?" Jared pensou com seus botões.

Aquilo lhe deu idéias para um sketch. Ele anotou no bloco de notas do smartphone. A seguir voltou pra casa. Mais tarde naquele mesmo dia, entrou no Twitter. Sua conta agora era privada, mas as garotas acharam um meio de espalhar notícias sobre ele, a partir de antigos posts. Ele ficou chocado, pensando seriamente em deletar sua conta. Largou o celular e tratou de ocupar a mente com outra coisa. Ligou a filmadora e gravou algumas piadas. Era seu método preferido para se preparar para shows de comédia stand up. Depois assistiria as gravações e faria acertos na sua performance.

No dia seguinte de cabeça leve, entrou no Twitter, e ao ver a reação das fãs, mudou de idéia quanto a deletar a conta. Elas pareciam gostar muito de suas postagens, e comentavam sobre sua personalidade a partir dos posts.

"Loucas!" Ele pensou, sentindo-se um pouco amedrontado por ser alvo de toda aquela atenção.

Percebeu que se alguém não soubesse lidar bem com aquilo poderia ter uma crise de pânico. E entre todos aqueles fãs deveria haver algum com um parafuso a menos na cabeça: instável emocionalmente e obcecado por um personagem ou um ator, que ele nem mesmo conhecia pessoalmente. O Twitter era o campo perfeito para stalkers.

 


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