- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 29
Vinte e nove




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Jane tinha acordado num universo paralelo. Era a única explicação que ela conseguia encontrar dentro da primeira hora do dia que tinha passado ali, na casa de Maura. Essa que, aliás, parecia bem diferente da Maura doce, casual e relaxada que ela conhecia. Aquela Maura, aquela bem ali, parada na sua frente era uma versão que meio que assustava Jane.

Em salto alto, vestido de uma grife - que Jane nem se atrevia a pronunciar porque sabia que não falaria corretamente - maquiagem impecável, cabelo perfeitamente escovado e caindo em ondas pelo ombro, postura rígida e correta. Aquela Maura, Jane imaginava, quando caminhava determinada dentro dos corredores do hospital era imparável. Como chefe do hospital, apenas a julgar pela sua postura, ela deveria ser implacável - rígida, direta, mandona. Jane se perguntou se toda aquela confiança vinha de brinde com o vestido. Ela fez um barulho com a boca e resmungou para si mesma, 'eu preciso de um desses.'

'Precisa do que?' Maura se virou para ela, passou o prato com o seu café da manhã. Que diabos era aquilo? Um omelete com folhas?

'Seu vestido, eu quero dizer.' Ela ignorou a comida no prato e apontou para Maura. 'Ele te deixa bem... Bonita. E Intimidadora, se posso dizer.' Ela murmurou a última parte, torcendo nariz enquanto cutucava as folhas com o garfo. Será que Maura tinha esquecido de que ela não era um coelho?

'Eu não posso receber meus pais usando moletom, Jane. Minha mãe é uma artista e com um gosto afiado por moda.' Maura suspirou e se sentou na mesa junto à ela. 'Ela me daria um sermão de uma hora se me visse usando nada menos do que isso.' Ela murmurou, parecendo um tanto infeliz.

Só então passara na cabeça de Jane que toda aquela maquiagem, aparência, postura... fosse auto-preservação. Auto-defesa. Maura se vestia daquele jeito porque queria colocar uma barreira entre ela e as pessoas - e a aparência fazia seu trabalho ali. Se ninguém chegasse perto demais dela, ninguém descobriria quem ela realmente era: doce, frágil, carente de afeição e humanamente imperfeita. A morena suspirou e segurou sua mão do outro lado da mesa.

'Maura, seus pais devem te amar pelo que você é, não pelo modo como se arruma ou se veste.' Ela ofereceu um sorriso, mas a loira pareceu estar em conflito. Ela recolheu a mão de volta, colocou-a no colo e abaixou a cabeça.

'Minha família... Você não entende, Jane. É complicado.' Ela mumurou.

Jane franziu o cenho, sentindo de repente o ar gelado em volta de si. 'Você me disse isso algumas vezes, Maur, mas nunca me contou o por quê.'

Maura mordeu o lábio inferior, levantou os olhos para ela. 'Eu sou adotada. Isso nunca fez diferença, não é isso. Eu sou a filha deles, eles são meus pais.' Ela esclareceu rapidamente. 'E acho que o problema pode ser esse. Eles me... sufocam com tanta demanda. Só que eu sou diferente deles, Jane. Eu nunca me senti conectada à eles, às suas expectativas.' Ela balançou a cabeça e suspirou mais uma vez. 'Você vai entender melhor quando eles chegarem aqui. Veja com seus próprios olhos, tire suas conclusões. Eu prefiro não gastar energia com isso agora.'

Assunto delicado, certo, Jane pensou enquanto concordava com a cabeça. Ela notou que só o fato de ter que falar deles perturbava a loira, ela parecia até mesmo cansada agora. A morena achou melhor não pressionar e comeu silenciosamente o omelete estilo café-da-manhã-para-coelhos. Não era tão ruim, afinal de contas, mas ela jamais admitiria isso para Maura porque ela não queria correr o risco de perder o café preto e forte com um pedaço de bolo ou donought para aquela comida saudável. Ela deu mais uma olhada para Maura e suspirou. Aquilo era tão estranho. Ela podia sentir a tensão crescendo mais e mais entre elas - Maura porque estava indiscutivelmente ansiosa pela visita dos país, e não de um jeito bom, e ela mesma porque não sabia como lidar com aquilo. Sobre esse aspecto da vida da loira, Jane não sabia quase nada. O único fato que ela sabia, na verdade, é que eles eram ricos. Podres de rico. Mas isso por si só não dizia muito a respeito da personalidade deles. Agora Maura insistia que a relação que eles tinham era complicada. Ela via a loira se debater silenciosamente em pensamento enquanto tentava comer o café da manhã que preparara e que, aparentemente, não lhe interessava muito.

Aquilo era, também, assustador. Ela tentou afastar o pensamento bem lá no fundo da mente, colocá-lo numa jaula e cobrí-lo com panos de modo que não escapasse, não fosse nem visto. Mas era impossível ignorá-lo, ele continuava fazendo barulho.

Quanto poder e influência eles tinham na vida de Maura? Quão frágil ou forte Maura era para poder lidar com eles? O que o envolvimento deles, agora, significaria na relação delas? Além desses pensamentos, conhecendo esse outro lado da loira - sim, intimidante, com traços de indepência sentimental e afetiva, indiferente às pessoas quando lhe fosse conveniente - ela temia que um dia, de repente, Maura reproduzisse esse padrão de comportamento com ela. E se aquela parede que ela construíra para afastar outras pessoas, afastasse Jane também? Era difícil de imaginar, quase ridículo pensar que aquela doce Maura que se encolhia no seu colo durante a noite fosse se afastar dela por alguma razão que fosse. Não depois de tudo o que passaram, de qualquer forma.

Jane sorriu docemente para ela, mas ela não sabia, honestamente, como ajudá-la com aquele tipo de ansiedade. De qualquer forma, elas não tiveram que esperar muito tempo. Uma hora mais tarde a campainha da porta soou alto pela casa silenciosa, e Maura se levantou do sofá com visível hesitação. Jane lançou um olhar para ela e também se levantou.

O que eu faço? Os olhos da morena diziam, mas Maura tão pouco sabia. Ela suspirou e caminhou até a porta, esfregou as mãos no vestido para reparar rugas que nem existiam, arrumou o cabelo, respirou fundo e a abriu.

'Olá, Maura.' A voz da mulher cortou o ar. Jane ouviu uma mistura de alívio e julgamento ali. E tudo aquilo apenas com duas palavras ditas.

'Maura.' E então a voz do pai. Mais serena e receptiva do que a da mulher.

Eles trocaram um abraço rápido, um beijo no rosto. Maura indicou para que entrassem e fechou a porta atrás de si. Jane se sentiu pelada quando os olhos da mãe de Maura passaram sobre ela, como se pudesse desvendá-la em um segundo - todos os seus pecados e erros expostos.

Puta merda, nem mesmo Kendra consegue me olhar assim, ela pensou.

'Mãe, pai, essa é Jane. Jane, Constance e Arthur Isles.' Maura fez a devida apresentação. Quando seus olhos se encontraram com o da morena, eles gritavam tire-me daqui, mas nessa altura o que Jane poderia fazer senão apertar mãos e abrir um sorriso educado?

'É um prazer conhecê-los.' Ela disse não muito honestamente. Se parte dela queria matar por fim a curiosidade de saber e entender de onde Maura tinha vindo, outra parte, essa mais recente, não conseguia negar que eles eram de fato... excêntricos, e que ela se sentia dseconfortável ali.

'Eu posso servir algo para vocês? Chá? Café?' Maura perguntou, mas Constance balançou a cabeça.

'Obrigada, Maura. Nós acabamos de tomar café da manhã.' Foi o pai quem disse.

Maura se sentou primeiro no sofá, seguida por Jane e só depois por Constance e Arthur. A morena olhava para cada um dos três, se perguntando que tipo de formalidade era aquela. Eles sabiam que a filha tinha sido sequestrada pelo período de um mês, sofrido abusos e... Não mostravam nenhum tipo de afeição? Ela se perguntou se aquilo era auto-controle - sua mãe certamente estaria gritando seus agradecimentos e a abraçando e lhe beijando ferozmente - ou então, se faltava nos dois entendimento de como demonstrar o quanto se importavam com Maura. Ou, quem sabe, eles não se importavam. Ela mordeu a parte de dentro da bochecha e lançou os olhos para Constance quando ela falou.

'Eu estou desapontada por ter sabido o que aconteceu com você por um conhecido, Maura. Eu estou feliz que você esteja bem, mas você deve imaginar como pareci nos olhos de outras pessoas por não saber primeiramente sobre sua situação.'

Jane franziu o cenho. Maura tinha beirado o risco de estar morta e a mãe dela estava preocupada com a imagem que ela refletia por não saber antes de mais ninguém? Ela se remexeu no sofá, se arrastou um pouco mais perto de Maura.

'Eu apenas não quis causar preocupação desnecessária. Foi apenas uma tormenta, algo que já terminou e que com um pouco de sorte logo será esquecida.' Ela respondeu prontamente, embora sua voz parecesse insegura.

'Uma tormenta?' Constance disparou. 'Quando o nome Isles é acompanhado por seguestro em um jornal, Maura, você não pode definir isso como apenas uma tormenta. Nossa família está em choque, foi um ataque a todos nós.' Sua voz falhou no final, mas era mais do que um nó na garganta de lamento. Poderia ser uma mistura da futilidade em querer manter o nome da família longe de assuntos tão mundanos como os policiais - pelo menos foi o que Jane achou.

'Como isso aconteceu, Maura?' Arthur perguntou, parecendo bem mais paciente do que a mulher.

A loira deu de ombros, cruzou as mãos na frente do corpo. 'Eu estava caminhando de volta para casa, de volta depois de um dia de trabalho no hospital que eu costumava trabalhar. Ele me surpreendeu por trás, tapou minha boca com um pano ensopado de formol.'

'Oh!' Constance arfou. 'Você não estava dirigindo por qual razão? E você disse costumava trabalhar?'

'Eu resignei o cargo de chefe do hospital. E sim, eu estava andando para casa, me excercitando pelo bem da minha saúde.' Ela respondeu clinicamente.

Jane se sentia perdida. Muito perdida. Ela não entendia porque Maura continuava despejando tanta informação como se fosse um robô. Não havia nenhum sentimento envolvido nas falas, era como se ela tivesse decorado cada linha e estivesse dizendo todas em voz alta, afim de se certificar de que poderia lembrá-las para mais tarde. E Constance e Arthur... Era como se estivessem lidando com negócios, e não com o bem-estar e saúde da loira.

'Bem, considerando a alta estima que você tinha pelo seu cargo no hospital, imagino que há uma chance de você considerar retornar para França, agora.' Constance sugeriu. Oh, não. Aquilo não era apenas uma sugestão. Era como se ela já tivesse planejado toda a mudança e só estivesse adiantando Maura a fazê-la.

'Não.' A loira respondeu. 'Eu não tenho intenção nenhuma de retornar à França. Eu construí minha vida aqui, é onde quero ficar.' A última parte veio com determinação, mas Constance também sabia insistir.

'Você não pode estar falando sério, Maura. Você viveu boa parte de tua vida em Paris. Você ainda pode excercer sua profissão lá, se isso te agrada, mas é claro que você não precisa sequer trabalhar. Eu não te eduquei para ser submissa, nem mesmo uma social light que gasta seu tempo de maneira desfrutosa, mas você poderia usar seus talentos de tantas formas.' Ela ofereceu.

'Eu agradeço sua preocupação, mas não posso deixar Boston no momento.' Maura disse educadamente, como se nega uma oferta simples.

'O que você tem a considerar?' Constance cruzou as pernas e as mãos, apoiando-as nos joelhos. A postura corporal de quem analisa seriamente uma situação.

Maura suspirou e dessa vez, pela primeira vez, foi Jane quem se manifestou, não aguentando mais aquela cena absurda.

'Maura precisa depor na corte. O testemunho dela é indispensável para a condenação do homem que a sequestrou.' Ela informou. Não exatamente, mas Constance parecia não entender muito do processo criminal, então resolveu ignorar esse pequeno detalhe que era referente ao que tinha acontecido com a loira.

'Além disso?' Ela pressionou.

Maura dessa vez deixou-se mostrar um tanto irritada. 'Além disso, meu relacionamento com Jane. Como eu mencionei antes, construí minha vida em Boston. Se analisando pela perspectiva profissional eu, por agora, não tenho ao que me apegar aqui, como você mesma colocou, pela emocional não poderia ser mais diferente. Eu não pretendo morar mais do que duas milhas de distância de Jane. Sendo assim, deixar Boston não está nos meus planos.'

A morena se pegou sorrindo para o casal, não só por orgulho, mas desafiando-os a discordarem de Maura.

'Oh, eu entendo.' Constance disse apenas.

Jane sabia que ela não aprovava. A mulher não tinha mostrado reação nenhuma, mas ela imaginou que fosse exatamente assim que as pessoas tão ricas e educadas se comportassem dianta do que lhes causava desconforto. Eles eram educados demais para manifestar desaprovação, descontentamento. Pelo menos na frente de outras pessoas. Aquela família era tão ferrada. Pra caralho. Eles começaram de novo a trocar algumas palavras, mas nesse ponto Jane não conseguia tirar os olhos de Maura. Ela parecia tão pequena e cansada. Vez ou outra, ela lançava olhares para Jane, os quais a morena sempre oferecia um pequeno sorriso e menear de cabeça. Um apoio silencioso. Quando Constance começou a falar como em pouco tempo o nome da família viraria atração nos jornais por causa do sequestro e não pelas doações milionárias, exposições de arte, levantamento de fundos, Jane não resistiu a necessidade de segurar a mão da loira entre as suas. Deus, ela queria apenas colocá-la dentro de seus braços e beijá-la várias vezes, e dizer que aquelas pessoas eram tão inacreditavelmente alheias à realidade. Eles sabiam de como Maura tinha sido machucada? Eles sabiam das noites não dormidas, dos medos, dos ataques de pânico? Eles sabiam das pequenas vitórias? De como a loira teve que, provavelmente, se esforçar para se deixar ser abraçadas por eles, mesmo eles sendo seus pais? Eles sequer imaginavam que ela tinha aversão em ser tocada, e que eles deveriam estar celebrando o fato de que ela se propôs a abraçá-los mesmo assim?

Foda-se essa gente. Ela pensou com raiva. Que eles se explodam. Eles não mereciam Maura. Eles não mereciam seu sorriso meigo, sua prestatividade, sua ternura. Agora que Jane os conhecia - ainda que não profundamente - ela era capaz de entender por que Maura tinha sido assim; de certo ela colocava um espaço entre ela e as outras pessoas porque nunca aprendera a confiar emocionalmente em ninguém. Se nem os pais foram capazes de oferecer afeto, que mais seria? Só que como qualquer ser humano, ela precisava daquilo, e Jane agradeceu silenciosamente por a loira ter ido parar na sua casa; arruinada demais para negar qualquer necessidade, assustada demais para deixar alguém se aproximar, tinha sido quase um milagre a mulher ter-se abrido para Jane. Se ela tivesse ido para qualquer outro lugar, quem sabe, ela estaria completamente destruída agora.

'Ei, você quer que eu arrume um jeito de tirar você daqui?' Jane perguntou baixinho para ela. Elas estavam agora na cozinha, Maura tinha achado a desculpa de oferecer-lhes chá bem adequada para o momento - ela precisava respirar um pouco. Jane afastou a mão de suas costas quando sentiu a outra se tensionar.

'Por mais que eu aprecie sua preocupação e carinho, eu preciso fazer isso por mim mesma.' Ela suspirou. Quando seus olhos se encontraram com Jane, eles carregavam um pedido de desculpas em antecedência. 'Você se importa se eu conversar a sós com eles a partir de agora?'

Era a vez de Jane suspirar, agora. 'Não, Maur. Mas me mande um sinal se eles te perturbarem demais, ok?' Ela se inclinou e beijou a bochecha da outra. Quando se afastou a loira tinha os olhos fechados, os dentes apertados. O que ela estava fazendo? Tentando não chorar? 'É, sério, Maur. Se você -'

'Não.' Ela cortou Jane. 'Se você fizer isso agora, eu não vou conseguir...' Ela deixou a frase morrer, visivelmente abalada.

Jane não levou à mal o pedido dela, mas precisou dizer várias vezes para si mesma que aquela não era sua casa, que não seria nada legal expulsá-los aos gritos de lá. Bem, seria divertidíssimo, mas certamente Maura não concordaria com essa definição de diversão. Ela não tocou-a de novo, apenas serviu-se de uma cerveja e observou de longe enquanto os três conversavam. Vinte minutos, Jane pensava. Vinte minutos e ela arrumaria uma desculpa para tirá-las dali. No fim das contas, eles anunciaram que deveriam partir logo. Maura lançou um olhar para ela do outro lado da sala e Jane sabia que deveria se aproximar - desde quando mesmo elas começaram a conversar por olhares?

Um tanto quanto seca - a morena não fez a menor questão de ser simpática dessa vez - ela apertou a mão do casal e cruzou os braços, esperando por Maura que os acompanhara até a porta. Ela já não se importava em querer abrir uma brecha para conhecê-los melhor; se antes fora educada por consideração à Maura, depois de vê-los tratando-a com um tanto de indiferença, Jane não iria fingir simpatia ou se esforçar à recebê-los de bom grado. Ela não queria criticá-los para Maura. Quer dizer, qual era o ponto? Seria redundante dizer que eles eram egocêntricos, mesquinhos. Ela observou quando Maura tirou os saltos, colocando-os cuidadosamente ao chão. Ela se ergueu de novo, abraçou o próprio corpo e olhou para Jane.

'Acho que isso esclareceu muita coisa.' Jane murmurou para ela.

A menor balançou a cabeça em sim. Ela parecia tão abatida. Jane esticou o braço para frente e resolveu perguntar antes de agir. 'Você quer um abraço?'

Maura se debateu apenas por um segundo, mas então concordou com a cabeça. Aquilo não poderia ser bom, e quando Jane apertou-a nos braços ela nem se surpreendeu ao descobrir que Maura estava chorando silenciosamente. Ela acariciou gentilmente as costas da outra, beijou sua cabeça. Não se aguentou e teve que dizer. 'Eu não acredito que eles cruzaram o oceano para isso.' Maura estalou a língua, suspirou. 'Você não precisa deles, Maur.'

'Eu sei.' Ela murmurou enquanto se afastava. Limpou os olhos e balançou a cabeça. 'Obrigada por ter ficado aqui comigo. Eu sei que isso foi torturante.'

'Não por isso.' Ela sorriu e acariciou os braços dela. Sentou-se no sofá e puxou Maura gentilmente para se sentar ao seu lado, abraçando sua cintura em seguida. 'Me diz algo que podemos fazer para te deixar mais feliz. O que você quiser.'

A loira pareceu ponderar as opções. Ela estreitou os olhos e depois sorriu para Jane. 'Nós podemos ir ao museu.'

'Ou nós podemos ficar em casa, na cama, abraçadas.' Jane sugeriu, abrindo um sorriso brincalhão.

'Ou nós podemos comprar vestidos. Eu preciso de roupas novas.' Maura fez outra oferta.

'Museu, aí vamos nós.' Ela disse rapidamente, fazendo Maura rir.

A loira plantou um beijo no seu ombro e depois encostou a bochecha ali. 'Meu pai quer se encontrar comigo no jantar. Apenas nós dois. Ele é mais... flexível do que minha mãe.'

Jane levantou as sobrancelhas em surpresa. O homem mal tinha falado durante aquela visita, um pedido de jantar com Maura, a sós, era inesperado, no mínimo.

'Você está confortável em ir sozinha? Apenas vocês dois? Quer dizer, eu posso levar você e te buscar. É só que eu não quero que você fique ainda mais chateada.' Jane ofereceu, preocupada.

Maura meneou a cabeça em sim. 'Ele é outra pessoa quando não está acompanhado da minha mãe.'

'Ele é do tipo... pau mandado?' Jane riu e abraçou-a com um pouquinho mais de força.

'Não. É mais do tipo eu-trai-minha-mulher-e-minha-única-filha-descobriu-e-agora-faço-de-tudo-para-me-redimir.' Ela riu do absurdo e estalou a língua. 'Ah, Jane. Minha família é um caos.'

'Deus. Ganha da minha no drama.' A morena riu junto com Maura e logo elas entenderam que era mais fácil ridicularizar os dramas familiares do que se lamentar por eles. E por falar nisso, ela também precisou mencionar. 'Eles não pareceram muito felizes em saber que nós estamos juntas.'

'Oh. Eles não estão. Mas não porque você é mulher - eles não tem problema com isso.' Maura esclareceu.

'É claro que não, eles são europeus. Nenhum deles tem.' Ela riu com descaso.

'É só que eles acham que eu deveria me casar com alguém do circulo de amizade deles.' Ela explicou, dando de ombros. 'Não vai acontecer.'

'Não mesmo.' Jane concordou, beijando sua bochecha. 'Porque você está perdidamente apaixonada por mim.' Ela disse e deitou Maura no sofá, continuou falando entre risadas acompanhadas das de Maura. 'Pelo meu charme e beleza, e poder de persuasão.' Ela disse com a voz, grave. Levantou uma sobrancelha e estreitou os olhos. 'Não é mesmo?'

'Exatamente.' Maura disse e riu em seguida, e toda vez que ela ria daquele jeito os olhos dela se estreitavam um pouquinho, as covinhas apareciam e ela ficava tão linda assim. Jane achava adorável. Os sorrisos nunca pareciam durar o suficiente porque toda vez que eles estavam prestes a morrer, Jane se lamentava internamente por não poder estudá-los eternamente.

'Ok, vamos combinar algo. Você janta com teu pai hoje e depois me encontra no Dirty Robber.'

Maura franziu o cenho. 'Dirty Robber?'

'É um pub que nós, policiais, sempre nos encontramos depois do turno.' Ela assistiu enquanto Maura mordeu o lábio inferior, incerta. 'Eu prometo que você vai gostar.'

'Eu não sei, Jane. Todos vão ficar me olhando, e eu não -'

'Claro que todo mundo vai ficar te olhando, Maura. E sabe o que eles vão estar pensando? Isso: puta merda como a Rizzoli é uma sortuda do caralho.' Ela esperou que Maura fosse lhe castigar pelos palavrões, mas em vez disse a loira riu.

'Você é um pouco exagerada.' Ela suspirou e inclinou a cabeça para o lado. 'Eu posso ir lá.'

'Você deve saber que o lugar não passou na última inspeção feita pelo departamento de saúde, só que você já disse que ia, então não pode mudar de idéia.' A morena brincou e riu divertida quando Maura olhou escandalizada para ela. Ela beijou seus lábios - aquela mulher era tão adorável— e adicionou, 'é brincadeira.'

A loira revirou os olhos e riu baxinho. Jane beijou seus lábios demoradamente. Ela esperava que no final do dia, depois de se encontrarem no pub, Maura se sentisse um pouco melhor. Embora a loira estivesse rindo vez ou outra, na verdade ela ainda estava abatida e desanimada, e era difícil para Jane vê-la assim, principalmente pelo fato de que a causa daquilo tudo era sua família - pessoas que deveriam apoiá-la e fazê-la se sentir melhor. Bem, dane-se. Se eles não poderiam oferecer amor para ela, Jane poderia. E ela tinha que admitir que estava fazendo um trabalho tão bom em manter Maura feliz. Se fosse pensar em retrospectiva, ela precisava admitir também que a própria Maura retribuía aquele amor, felicidade. A Jane do antes e do depois de Maura eram pessoas diferentes. Bem, ela ainda era mandona e rabugenta em uma divisão balanceada nos dias da semana, mas não completamente rabugenta como antes. Ela riu baixinho consigo mesmo enquanto estudava o rosto delicado da outra.

'O que é?' Maura apertou suas mãos nas costas dela.

'Nada. É só um tanto engraçado como você diz que eu sou responsável pela sua melhora, mas você não tem noção do quanto você melhorou em mim.' Ela sorriu docemente e acariciou sua bochecha.

'Eu acho que nós somos duas pessoas diferentes do que éramos antes, então?'

'Aham. E, ah! Antes que eu me esqueça! Agora que já conheço teus pais, posso dizer: eu vou sempre estar aqui.' Ela sorriu e beijou os lábios também sorridentes da loira.

'Em cima de mim, assim? Porque você precisa saber, você não é tão leve quanto pensa.' Ela brincou. Jane abriu bem a boca e riu alto.

'Maura Isles! Quem anda te ensinando piadas assim?'

'Uma mau-caráter que conheci por aí.' Ela brincou de novo e Jane riu mais uma vez.


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