- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 19
Dezenove


Notas iniciais do capítulo

Um cap curto, mas necessário. Quem tá preparado?



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Kendra estava satisfeita consigo mesma. Quando ela conhecera Maura Isles naquele hospital numa noite nublada e fria, ela sentira a adrenalina correr pelo seu corpo. Ela prometera colocar o sujeito que tinha causado tanto mal para aquela mulher atrás das grades. O mais rápido possível. Ela sabia que tinha um prazo determinado para aquilo - o governo não pode bancar por muito tempo casos longos; é considerado desperdício de dinheiro público. Por vezes os recursos se limitam antes das investigações acabarem. Se ela precisasse de um exame de DNA e o dinheiro destinado para o seu caso estivesse acabado, por exemplo, seria uma briga imensa para que conseguisse um tanto mais. Por isso ela agiu com cautela. Era assim que tinha aprendido a lidar com os casos: era política em relação aos recursos financeiros, ao tempo, à competência da equipe. Oh, e a mídia. Ela era quase uma diplomata. Quase. Escolhia a dedo as informações que sabia que lhe seria útil se viesse ao conhecimento do público, mas com um jogo de cintura conseguia convencer repórteres de que aquilo que estava fornecendo era elemento principal do caso, enquanto na verdade não era nada mais do que uma pequena peça do grande quebra-cabeça que se encontrava na sua sala constituído por fotos, linha do tempo, recibos e filmagens de cameras públicas - só para listar alguns.

Naquela manhã, quando Kendra bateu na porta do apartamento de Jane, ela se sentia realizada. Oh, ela era uma boa detetive. Uma das melhores. Ela poderia não ter sido a mais nova a ser promovida como detetive da divisão de vítimas especiais, como Rizzoli tinha sido para homicídios, mas isso era apenas um detalhe. Ela competia com Rizzoli em competência, sagacidade, paixão pelo trabalho. Na delegacia, no andar de Jane, era a morena que todos admiravam. No andar de Kendra, era ela.

A porta se abriu e Jane - pela primeira vez - a recebeu com um sorriso. Uma saudação silenciosa, um elogio nas entrelinhas. A morena não era lá muito de se expressar, então qualquer indicação de reconhecimento, qualquer sinal de que sentia alguma coisa contava algo. Kendra sorriu de volta para ela e murmurou um 'oi'. Logo em seguida ela viu Maura. Ela se surpreendeu em como a mulher tinha mudado desde a última vez que a vira. Ela ganhara peso, se movia graciosamente, os olhos estavam cheio de vida, e ainda que estivesse branca (Kendra culpou o sol fraco de inverno) ela estava um tanto mais corada do que antes e não apenas pálida como no dia em que a conhecera. Oh sim, e agora ela também sorria.

Kendra deveria dar os créditos para Jane. A princípio ela tinha achado uma ideia arriscada, ela chegou a acreditar que não daria certo. Rizzoli não era a pessoa mais delicada e paciente que ela conhecia. Mas que opção ela tinha? Colocar Maura em uma casa com uma presença masculina era pedir para acabar com sua sanidade mental. Deixá-la internada num hospital ou em uma casa de abrigo estava fora de questão. Permitir que ela voltasse para casa e ficasse sozinha... Kendra nem mesmo cogitara essa ideia. Maura tinha feito e a detetive a descartou imediatamente. Sem proteção, sem suporte. Sem acordo. Aquilo não era uma alternativa. E então alguém mencionara Rizzoli. Solteira, morava sozinha. Tinha passado por um trauma meses atrás, e todos na delegacia praticamente louvavam ela. Oh sim, Jane Rizzoli. A mais nova super star da homicídios - o que Jane não recohecia e não hesitava em mostrar o dedo do meio para provocações parecidas.

Jane tinha sido uma alternativa razoável. Kendra resolveu apostar nela, discursar sobre empatia quando a morena apareceu no seu andar reclamando da hóspede que chegara de surpresa. Ela tinha comprado o discurso e no meio do caminho acabou se importando realmente com Maura. Como aquilo funcionara, Kendra não tinha a mínima ideia. Ela só gostava de acreditar que seus instintos nunca falhavam. Agora Maura Isles estava ali, sorrindo delicamente para ela, esperando obviamente por tudo o que ela tinha a contar.

'Bem, vamos ao que interessa.' Kendra começou, sentando-se no sofá em frente à Maura e Jane. 'Nós fizemos a apreensão ontem a noite, quinze minutos antes de eu te ligar. Um guarda o avistou na estação de trem. Ele não tinha certeza se era mesmo o sujeito, não estava em horário de trabalho e não tinha nem mesmo uma arma. Ainda assim, ele decidiu pegar o mesmo trem para segui-lo, desceu na mesma estação, o seguiu até uma casa. De lá fez uma chamada para a delegacia mais próxima. Os outros policiais bateram na porta, e bem... o resto vocês imaginam.'

'De quem era a casa?' Jane perguntou.

'Da mãe, mas é já é falecida. A casa ainda está no nome dela, mas a fazenda no nome dele.' Kendra informou.

Jane riu com desprezo e se encostou no encosto do sofá.

Maura piscou os olhos vagarosamente e esfregou uma mão na outra, nervosa. 'Ele já está preso, certo?'

'Sim, Maura. Você agora está completamente segura. Eu inclusive já removi a guarda daqui. Não há mais necessidade.' Kendra sorriu gentilmente para ela e se inclinou um pouquinho para frente. 'Ele vai pagar por tudo que lhe fez, Maura. Sequestro, agressão física, cárcere privado. Isso vai dar uns bons anos de cadeia para ele.'

'Em dobro.' Jane disse, lembrando que era um crime continuado por ter se repetido com Kimberly.

'Oh.' Maura murmurou.

'Arrume um bom advogado e faça-o cavar mais, Maura. Jogue tudo o que você puder contra esse animal.' Jane disse sem nem ao menos tentar esconder a raiva que sentia.

'Eu concordo com ela, apesar de que não colocaria as palavras assim.' Kendra lançou um olhar, censurando a atitude de Jane. 'Maura, julgamentos são sempre cansativos, estressantes. Se posso aconselhar agora, diria para que você se preparasse emocionalmente. É desgastante, ainda mais quando o foco está em você.'

'Kendra, nós vamos tomar as medidas certas quanto o tempo chegar, ok? Acho que ela já tem muito na cabeça por hora.' Agora era a vez de Jane repreendê-la um pouco. Deus, Maura precisava de tempo para elaborar uma coisa de cada vez.

'Certo, eu só quis te alertar. Enfim... Agora que você não corre mais perigo, você também é livre para voltar para sua casa, retomar sua vida. Eu vejo que você está progredindo bem, Maura, e eu fico feliz por isso.'

'Eu... Obrigada.' A loira murmurou, lançou um olhar para Jane e abaixou os olhos para o colo.

'Bem, acho que eu cobri tudo o que precisava dizer. Maura, acredito que não nos veremos por um tempo agora, mas nos encontraremos na corte. Vou deixar mais um cartão meu com você, caso você precise me telefonar. E quanto à você, Rizzoli, acredito que te vejo no trabalho amanhã?'

Jane respirou fundo e ponderou a resposta. 'Pode ser que sim.' Ela ofereceu um sorriso e se levantou. 'Obrigada por ter vindo, Kendra.'

'Não por isso.' Ela devolveu, se levantou e apertou a mão de Jane. Virou-se então para a loira e apertou sua mão também. 'Maura, foi um prazer te conhecer, só lamento que tenha sido sob essas circunstâncias.'

'Obrigada, Kendra. O prazer foi meu. E obrigada por tudo.' Ela ofereceu um sorriso educado e quando soltou a mão da detetive se colocou ao lado de Jane.

'Bem, vejo vocês por aí.' Kendra acenou com a mão, passou pela porta e fechou-a atrás de si.

Maura e Jane trocaram um olhar especulativo. Qual delas se atreveriam a falar primeiro sobre o que viria a seguir? De como planejariam essa transição para Maura? De quando ela voltaria para própria casa? Quem se atreveria ceomeçar a dizer adeus, então? 

Por minutos as duas apenas se olharam. Consideraram. Hesitaram. Havia alguma coisa sobre a idéia de se despedir que não caía bem naquela parte da estrada que tinham chegado.


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