Sem Necessidade de Mega Sagas. escrita por Abraxas


Capítulo 7
Capítulo 7: Sem necessidade de guerras civis.


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior, os nossos heróis foram ao seio da estação da Polícia Galáctica para resgatar o corpo da pirata espacial Ryoko da terrível caçadora de recompensas, Nagi, em um bizarro leilão, e todos enfrentaram um antigo rival da cientista Washu, o estranho Dr. Clay. Durante a fuga, a nave Yagami foi parar nos confins do Universo e uma área desconhecida dos mapas do Império de Jurai.



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                Na imensidão do Cosmo, uma mulher de cabelos longos e escuros contempla as estrelas. Os seus olhos estão úmidos, como estivessem prontos para uma cascata salgada e triste, os seus sentimentos são confusos, mas intensos.

                Atrás dela, outra mulher aproxima-se e toca o seu ombro como um sinal de apoio. Uma voz delicada sai dos seus lábios:

                -            Eu também gosto de olhar as estrelas e principalmente quando estou sozinha.

                A de cabelos escuros vira-se bruscamente e vê uma garota de cabelos roxos, com um corte engraçado e vestindo uma espécie de quimono de cores delicadas. O seu porte orgulhoso e altivo denuncia que se tratava de uma pessoa da alta nobreza.

                -            Saudações, princesa Ayeka. Pensei que estava em seu quarto dormindo com sua irmã.

                -            Sempre tive dificuldade de dormir em viagens espaciais, exceto quando estou sedada. Nunca gostei de viajar no espaço... Apesar de perseguir a Ryoko por todos os limites do Império, nunca gostei de viajar. Gostava da idéia de ficar em meu planeta e reinar, até conhecer o Tenchi e todas vocês. Aí tudo mudou.

                A princesa abaixou a cabeça.

               -             Nunca pensei que teria amigos não nobres. Achava que todos existam para me servir. Mas me enganei... O que acha disso, Kiyone?

               A policial a olha. No fundo de seu coração, a mulher não gostava da herdeira de Jurai, mas depois de tantos percalços os sentimentos mudam.

               -             Há coisas que não consigo entender... Por que fui tão má com todos vocês naquele mundo que criei? Sempre fui tão ética!

               -             Talvez seja porque somos, em essência, humanos. - diz a princesa. Tivemos histórias, origens e mundos diferentes, mas temos sentimentos parecidos. Acho que o nosso sentimento só desenvolve através do sofrimento e o raciocínio através dos problemas. Somos solidários em nossas dificuldades.

               Surpresa com o aparente amadurecimento da princesa, a policial pergunta a nobre:

               -             Por que está me dizendo isso?

               Com um olhar solidário, diz com determinação:

              -              Porque sei exatamente o que está sentindo. Afinal, foste tão ética em toda sua vida e em seu sonho foi má e eu que sempre odiei uma pessoa e no final acabei me apaixonando por ela.

              -              Princesa! - diz chocada. Você... Oh!

              -              Agora entende o porquê que implico com ela. Sou uma princesa e tenho obrigações e responsabilidades, não posso simplesmente dar asas aos meus desejos e impulsos. Amo o Tenchi, mas também tenho... Sonhos... Não posso, entende? E ela é tão liberada...

              -              Deus! - exclama a policial. Por que está contando essas coisas para mim? Sabe que não gosto tanto assim de você. Quem garante que vou usar isso contra ti?

              -              A sua ética! Sei que não vai usar essa "informação" contra mim.           

É uma policial e como tal tem o objetivo de nos proteger. E como passou por um conflito ético, acho que tem a capacidade de entender o que estou passando. Afinal, poderá compreender que também tenho a capacidade de te entender.

              Nesse momento, as mulheres se abraçam e choram unidas. Pela primeira vez...

              Em outro setor da nave, a maior cientista do Universo, a arrogante Washu, passa por seu inferno astral. Tudo está dando errado. Primeiro a fuga e seu plano improvisado, agora, a descobre que sua inteligência tem seus limites. Não dá para transformar uma "carroça" num carro de corrida. Todos começam a deixar de acreditar nos seus incríveis talentos e questionam a sua "genialidade". A ruiva começa sentir os sintomas do estresse excessivo e suas mãos começam a tremer, mas o seu orgulho não a deixa em paz.

              Sua luta interna é terrível e chega a atrapalhar o seu raciocínio.

              De repente, uma voz infantil a chama na chamada "sala de máquinas":

              -              Professora Washu? Trouxe um lanche, achei que estava com fome...

              Uma raiva imensa quase a devora, mas se a demostrar estará mostrando fraqueza e isso é inadmissível. Ela é a maior cientista do Universo e é superior aos esses seres sem cérebro.

              -              Pode deixar ali na mesa. - diz com frieza.

              -              O que está fazendo? - pergunta ingenuamente Sasami.

              A pergunta maldita. Típicas de seres inferiores e de suas casacas vazam que dizem chamar de cérebros. Ela pensa responder que está tentando descobrir um meio de fazer garotinhas xeretas como combustível, mas pelas mesmas razões acima, responde:

             -               Um meio de saímos daqui.

             A pequena princesa diz à cientista:

             -              Sei que vai conseguir. Você é a melhor que conheço. E mesmo que não consiga, ainda será a melhor. - e sai da sala.

             As palavras da criança tocaram fundo no coração da cientista e uma lágrima escorre em seu rosto, mas continua trabalhando com afinco.

             Em outra parte da nave, Tenchi pratica o Kendô da elite de Jurai e lembra-se das palavras de seu avô:

             "Tenchi, tenha cuidado com os seus sentimentos, pois o poder maligno o tentará através deles. A sua habilidade é útil para as forças das Trevas, afinal és jovem e é facilmente iludido pelas forças dos Auto-centrados."

             "Auto-centrados?" - pergunta o jovem.

             "Sim. O poder Anti-Jurai é um poder dividido, mas ligado em uma única fonte. Todos que os a usam têm a ilusão que é senhor desse poder, porém, na realidade, é escravo dela. Kagato acha que todos devem ser servos dela e inclusive ele mesmo, mas espera que, sendo um sacerdote desse poder, possa ser o senhor do Universo. Tolo! O poder Anti-Jurai é a entropia pura e nada mais deseja é o fim do próprio Universo!"

             "O que devo fazer quando enfrenta-lo?"

             "Pense no próprio Universo que lhe dará tudo que precisa e cuidado com a ilusão que o poder vai te dar. Sinto que o Auto-centrado irá tentará testa-lo naquilo que você jamais imaginaria. Tenha cuidado."

             As palavras ecoam em sua mente. "Tenha cuidado." Porém o jovem não se sentiu tão intimidado, afinal, tenho o poder de Jurai e está ao meu lado. Sempre os bons vencem, não é assim? Continua a treinar com a espada...

             Ryoko dorme.

             Os seus sonhos são conturbados. Ela se vê correndo, criança, de um grupo de malfeitores quando um homem a salvou deles. Agradecida, a menina abraça o homem e quando vê o seu rosto, revela o rosto do seu amado Tenchi. Porém, uma aura negra o envolve e o tira dela. Sozinha, grita e transforma em sua versão adulta. Num piscar de olhos, começa a voar em direção da névoa negra e percebe que não está sozinha. As suas amigas voam juntas, ao seu lado, Ayeka, Sasami, Washu, Kiyone e Mihoshi e suas inimigas Nagi e Yugui, para sua surpresa. Todos juntos contra a sombra e são facilmente derrotados. Quando hálito frio da Morte chega lentamente em seu rosto da pirata, ela acorda.

             Depois não consegue dormir mais...

             Mihoshi boceja.

             O seu cabelo loiro em desalinho e seus olhos remelentos mostram que dormiu profundamente. Por instinto, procura a sua parceira e descobre que não está dormindo ao seu lado. Tonta, levanta bruscamente e chama a sua amiga, mas perde o equilíbrio e cai. E acaba dormindo novamente.

             Na residência do Clã Masaki, o pai do Tenchi, Nobuyuki, procura relaxar vendo a TV e bebendo Saquê. Sua tentativa de buscar tranqüilidade para seu coração é em vão devido a saudade e preocupação. Sem sucesso, o arquiteto desliga a TV e sai da sala.

             No jardim, os pássaros cantam nos galhos das árvores, mas o homem de óculos espanta as aves que seus galhos devido a sua presença. Alheio a isso, Nobuyuki vai até o templo, no caminho encontra uma dupla de "toras de madeira".

             -              Asaka e Kamidake! - cumprimenta. O que estão fazendo próximo do lago?

             Os robôs da princesa Ayeka respondem de sua maneira cortês ao pai de Tenchi.

             -              Como vai, senhor? - diz Asaka. É um lindo dia.

             -              Estamos tentado ativar o computador da nave da princesa. - responde Kamidake. Se conseguirmos fazer isto, estaremos um meio muito mais rápido de encontrar, através das árvores sagradas de Jurai, as princesas e seus amigos.

             O arquiteto tem uma sensação estranha, nunca na sua vida pensaria em conversar com robôs e mais ainda serem amigos de dois deles. Os seus pensamentos são interrompidos por uma voz bastante conhecida, a do seu sogro.

             -              O que faz aqui próximo do lago, filho?

             -              Saudade do meu filho e das meninas, pai.

             -              Tenho a mesma sensação, mas tenho mais ainda fé que todos voltarão.

             -              Devia ter ido com eles! - diz convicto Nobuyuki.

             Com sua serenidade característica, Katsuhiro diz ao seu genro.

             -              O que faria? Tudo tem um propósito, até a nossa aparente impotência. Será que realmente poderíamos ajudar, ou atrapalharíamos? Será que somos mais úteis em nosso lar do que na imensidão do espaço? Filho, temos a obrigação de esperar os acontecimentos e deixar que coisas moverem por elas mesmas.

             Cansado, Nobuyuki abraça o sogro.

             Os robôs comentam entre si.

             -              Os humanos são muitos emotivos!

             -              Vamos logo, Asaka! Quero achar logo as princesas!

            Cruzando o espaço sideral, uma certa nave de uma certa caçadora de recompensas faz o que é melhor, caçar.

            -               Ryoko... Não adianta fugir, sempre vou encontra-la. Os nossos destinos estão entrelaçados. Vamos, Ken-ohki! À constelação ACRZ - 903456 ( A nossa conhecida constelação do Cruzeiro do Sul.) em toda velocidade. E enquanto você, querida Ryo-ohki, teremos muito a conversar. - e ri.

            Depois que Nagi diz essas palavras, uma lágrima escorre dos olhos da pequena Cabbit.

            Vagando sem rumo, a Yagami espera o conserto de suas peças para deslocar no espaço infinito. Tal função designada à Washu que depois de muito esforço dá o seu diagnostico sobre a situação da nave.

            -               Bem... - pigarra a cientista. Sei que não é a primeira vez que conserto esta nave, mas instalei um aparelho de fuga experimental e estava além das capacidades da mesma. Por isso, o seu motor e escudo protetor atingiram o seu limite. Por causa desse esforço a nave não poderá viajar em velocidades superiores a da Luz. Resumo, só vamos voltar daqui há uns setenta anos, a menos que tivemos um certo mineral que existe em certos mundos que possuem 3,79% de Urânio na atmosfera. E temos sorte que existe este mundo nesta constelação.

            Todos os membros da tripulação olham à cientista com total indiferença.

            -               Como vamos pegar este mineral? - pergunta com ironia Ryoko. Com pás e picaretas?

            Percebendo o descaso da pirata, a cientista responde:

            -               Um robô irá buscar o mineral nesse planeta, pois é impossível irmos fisicamente. A gravidade lá é tão grande que o Ar pesa algumas toneladas. Antes que possam perguntar como vou trazer um mineral pesadíssimo para esta nave, direi que preciso de apenas algumas gramas, claro que é o eqüivalente em nossa gravidade, para sintetizar o mineral. Creio que isso deva demorar, por isso vamos uma das Luas desse planeta que tem uma atmosfera parecida com a nossa e como também a gravidade. Já mandei uma sonda para lá e concluiu que podemos respirar tranqüilamente sem qualquer risco de sermos contaminados por microrganismos alienígenas. Afinal, o meu comprimido Universal é umas das minhas maiores invenções. - e ri.

            Todos olham uns para os outros. Tenchi temendo o pior pergunta a cientista:

            -              Nessa Lua existem formas de vida inteligentes?

            Com sua típica arrogância, responde:

            -              Não vamos demorar muito naquele planeta. Lá, não há forma de inteligência como a nossa. Devem estar na idade da pedra ou similar, por isso vamos ficar longe de qualquer grupo tribal ou colonial. Óbvio que vou pedir que todos não entrem em contato com essa "espécie".

            A Yagame cruza o espaço em direção do tal planeta. Depois de alguns dias, vinte dias para ser preciso, a nave chega à órbita do imenso corpo sideral. A sonda é lançada e em poucas horas entra na atmosfera e nossos heróis vão à Lua recomendada pela cientista.

            No visor, todos vêem uma esfera violeta e com nuvens rosas, é um satélite muito bonito. Entrando na atmosfera, a nave desliza de uma forma delicada e sutil, todos vêem a beleza daquelas nuvens de algodão doce rosada sob a Luz de um Sol branco que, aos poucos, se torna avermelhado.

            -              Que lindo! - exclama Sasami.

            -              Ô, Washu! Tem certeza que esta atmosfera pode-se respirar? Não gosto desse tom vermelho no ar. - Ryoko comenta preocupada.

            -              Absoluta! Essa cor é causada por um gás congelado que envolve todo o planeta que tem a mesma função do ozônio no planeta Terra. - responde a cientista. É produzido por microrganismos que vivem nesta altura, podem ficar tranqüilos. Já escolhi o local de pouso, é naquela ilha imensa na sua esquerda.

            Os nossos heróis olham a ilha. A tal ilha é realmente grande e estranhamente plana. Quando chegam mais perto, percebem que não há vegetação só uma espécie de limo roxo e rasteiro.

             -             Tô com mau pressentimento! - comenta Kiyone. No continente há árvores e nessa ilha não tem nada.

             -             Que isso, Kiyone! Não confia na Washu? - diz Mihoshi.

             -             Não é isso! Nós não conhecemos a fauna desse mundo e geralmente, na Natureza, nada é o que parece.           

             Delicadamente, a Yagami pousa na ilha de limo roxo e nada acontece. Os minutos passam e nada... Precavida, Washu veste uma roupa de isolamento e sai da nave.

             No lado de fora, a cientista observa que foi um pouso perfeito e sendo cuidadosa pega um pouco do tal limo. Ela nota que são pequenas esferas agrupadas por líquido parecido com o do mar e que composto de água, mas com uma coloração violeta.

             -             Vou analisar este limo e o mar para ver se é seguro nos expor na atmosfera. - diz no comunicador. Porém, até agora, acho esta ilha segura. Vou entrar...

             Neste momento, a pequena ruiva percebe que não consegue andar e com um terrível esforço dá um passo e vê que a sola está colada no chão fazendo aquele efeito de queijo derretido. Percebendo a tolice que cometeu a cientista faz a única sensata que pode fazer...

             -              Socorro!!! - grita. Tira-me daqui!!!

             Rapidamente, Ryoko teleporta-se para fora da nave e flutuando pega a pequena ruiva. E faz o caminho inverso, deixando a cientista envergonhada.

             -              Desculpa, pessoal. - diz de cabeça baixa. Fui precipitada. Isto não é uma ilha e uma arma de guerra...

             Surpresos, exclamam:

             -              Arma de guerra?!   

             -              Isso mesmo. As esferas que peguei são metálicas e são ligadas por um produto químico que em contato com a água provoca uma reação que causa aderência e impede o movimento de qualquer coisa que toque nele.

             -              Quem garante é que não seja um ser vivo? - pergunta Kiyone.

             -              E quantos seres vivos têm símbolos idênticos de baixo relevo? - e mostra as pequenas esferas com o símbolo parecido com um oito.

             Creio que não é preciso dizer que foi difícil sair com a nave da "ilha".

             Em uma clareira na floresta, a Yagami pousa tranqüilamente, apesar de não ter mais o trem de pouso. Depois de uma exaustiva investigação no terreno, todos saem da nave. Sem roupas protetoras, os nossos heróis respiram o ar deste estranho mundo violeta e comentam que:

             -              Estou com uma voz de taquara rachada. - comenta a pirata com  aprovação de todos.

             -              É devido o Hélio na atmosfera, vocês acabam costumando... - responde Washu. Vou pegar a ferramentas.

             -              Posso te ajudar, Washu? - pergunta Mihoshi.

             -              Sim! Sabe aquela árvore ali?   

             -              Aquela com muitas folhas?

             -              Essa mesmo! Contem todas elas, depois meça a sua altura, escreva um relatório sobre ela e me dê. Certo? - e sorri. Estará me ajudando muito!

             A loira faz um sinal de positivo e vai em direção de sua tarefa.

             Em seguida, a sua parceira vai ao encontro da cientista e pergunta:

             -              Por que não deu a folha escrita nos dois lados "vire"?

             -              Porque iria acabar cansando, Kiyone. Vou trabalhar, aproveite a estada neste mundo exótico. - parte.

             A policial observa o céu violeta e a floresta fechada. Os belos seus olhos azuis vêem os seus companheiros fazendo suas tarefas como num acampamento e nem percebem que estão perdidos em outro mundo no meio do nada. Com sua delicada mão, coça o ombro esquerdo e caminha em direção do grupo.

             -             Pessoal, quem gostaria de ir comigo para conhecer o local de nosso pouso?

             Ayeka e Ryoko dizem que não, pois é óbvio que as duas querem ficar de olho uma na outra. Tenchi se oferece, mas as duas "malas" não o deixam partir. Sobra apenas a pequena Sasami, que está triste de saudade pela perda da sua querida Ryo-ohki, por isso aceita a missão proposta pela policial.

             Antes das duas partirem, Mihoshi chora, porque queria sair com sua parceira, mas tem uma tarefa importante e não pode parar.

             A pequena princesa Sasami permanece de cabeça baixa e policiais tentas animam-la um pouco:

             -             Já notou que a voz ridícula está a sua irmã? Já imaginou se ela começar a rir?

             A pequena princesa comenta com a cabeça abaixada:

             -             Ela é ridícula mesmo sem essa voz... Você também está ridícula com essa voz...

             Percebendo que cometeu uma gafe, a policial tenta outra estratégia:

             -             Está com saudade da Ryo-ohki?

             A resposta é acento positivo com a cabeça.

             -             Nós vamos achá-la. A estação orbital da Polícia Galáctica não é local muito grande e confio na doutora Washu. Nós todos vamos sair desse mundo estranho no meio do nada.

             De súbito, a pequena princesa olha à policial e diz:

             -             Você tem um namorado, Kiyone?

             A pergunta foi como uma seta certeira no coração da policial. Ela não esperava uma pergunta tão direta e num momento tão delicado de sua vida, mas esta é uma pergunta que tem que ser respondida.

             -             No momento, não.

             -             Alguma vez já tive?

             As suas memórias a deslocam para uma época que teve que escolher entre a sua carreira e seu amor. E percebeu que cometeu um grande erro...

             -             Gostava de alguém... Mas fui egoísta. Na minha vida foi voltada somente para a minha carreira e não para uma vida amorosa. Na verdade só tive uma paixão, a farda da Polícia Galáctica.

             -             Como imaginei. Você é uma mulher infeliz. Por isso que não gosta de minha irmã, como sendo uma romântica e sonhadora e teve tudo que você não pôde ter. Sabe também que ela é uma inútil e fútil que pode ser dar o luxo de sonhar com o que te foi privado.          

             -             Eu não tenho inveja de sua irmã! - diz indignada.

             -             Eu não disse que você tem inveja dela. Estou dizendo que você escolheu o seu destino, já a minha irmã, não. Ayeka se deixa levar pelos seus sentimentos, porque nunca precisou lutar por eles, já você...

             Kiyone lembra que conversou a princesa Ayeka na nave. Agora entende o porquê de ela confessar os seus sentimentos e desejos mais íntimos, pois quem mais lutou contra eles que ela mesma.

             -             A minha irmã não é uma lésbica, Kiyone! - diz com frieza. Quero que saiba disso, ela só não está conseguindo entender direito os seus sentimentos em relação à Ryoko. Só isso.

             Aterrorizada, a policial percebe que a pequena princesa escutou a sua conversa com Ayeka.

             -             Olha, Sasami... O que a princesa Ayeka disse é uma metáfora. Ela queria trocar experiências comigo, pois todos nós fomos expostos em nossos desejos mais secretos e é difícil aceitar o que nos foi imposto. O que a Yugui fez foi terrível e aposto que não tinha consciência do que fez em nossas vidas. Somos apenas humanos e onde fomos atacados foi um local muito vulnerável. Jamais pensaria que sua irmã...

            Com um olhar de ódio, Sasami diz à policial:

             -             Droga! Depois do que aconteceu nunca mais seremos como éramos antes! O poder Anti-Jurai nos venceu antes mesmo de lutarmos com ele. Ao aceitar os desejos negros como nossos perdemos a nossa pureza e nossa ligação com o poder Jurai. O poder negro usou a Yugui para este fim e conseguiu o que queria. Pôr a culpa em nossos corações!

            Nesse momento, Kiyone percebe que não estava conversando com a Sasami, mas sim, a entidade Tsumani.       

            -              O que devemos fazer para vencê-lo?

            Antes que a criança pudesse responder, um barulho intenso e muito alto interrompe a conversa. Um ruído metálico e agudo como fosse uma frigideira ralando em uma pedra.

            -              O que está acontecendo? - pergunta Kiyone.

            Subitamente, uma esfera com patas de aranha é vista pelas duas mulheres que, instintivamente, recuam. A policial saca a sua arma e aponta para a coisa.

            A esfera tem uma reação no mínimo curiosa. Do corpo do objeto metálico, saem duas pequenas bolas de energia azulada e se aproxima lentamente das duas mulheres.

            Surpresas e curiosas, as duas olham as pequenas bolas de energia azulada e transparente e quando a policial resolve tocar na energia uma voz ordena que não a toque. A mulher olha na direção da voz e vê uma figura conhecida.

            -              Conheço você. Não é uma das servas...?

            Um gesto da conhecida da policial afasta as esferas energéticas e lança um raio de energia que despedaça a esfera em mil pedaços.

            -              Tens muita sorte, policial Kiyone. Se não tivesse passando por aqui, certamente seriam capturadas ou destruídas por eles.

            O olhar de ódio da policial reflete os seus sentimentos e aponta a arma para um novo alvo.

            -              Tsugaru! Sua bruxa maldita!

            -              Kiyone, querida... Sabe muito bem que sua arma não vai me deter. Deveria estar me agradecida por ajudá-la.

            -              Onde está a desgraçada da Yugui?!

            Com o seu ar colegial, Tsugaru olha a policial de forma debochada e com os seus braços cruzados e a mão esquerda apoiada ao queixo diz à policial:

            -              Puxa! Quanto ódio no coração... Não está agradecida por conhecer os seus sonhos e até onde iria se os realizasse?

            Um tiro foi a resposta. Sasami grita devido o susto, mas nada faz com a serva da criança mutante.

            -              Como estamos sensíveis hoje? - debocha. Que tal crescer um pouco e conversamos...

            -              Sobre o que, desgraçada?

            -              Por exemplo, o porquê de minha ajuda se minha mestra tentou destruí-los e também o que são aquelas maquinas esféricas?

            Na nave de nossos heróis, todos fazem suas tarefas alheias o que acontece com a policial e a pequena princesa, mas uma voz interrompe a rotina todos ali.

            -              Ora... Ora... Vejo que a minha pirata favorita está neste satélite que Universo pequeno. - comenta.

            Apesar da voz modificada pelo hélio, Ryoko reconhece o dono dela.

            -               Hotsuma! - diz surpresa a pirata. Perigo, pessoal! Yugui está aqui! - voa em direção do homem.

            -               Vim em paz, Ryoko.

            -               Isto pouco me interessa! Morra, maldito!

            Um gesto do homem faz do ataque da pirata numa ação inútil. Em seguida, imobiliza a mulher com uma chave de braço.

            -               Acho que você não cresceu muito, querida. - diz carinhosamente.

            -               Vou mostrar o que cresceu, seu desgraçado! - e tenta se soltar em vão.

            Ao ver a cena, Tenchi empunha a sua espada de Luz e vai em direção do homem loiro.

            -               Largue ela, Hotsuma! - diz o rapaz.

            -               A minha mestra quer conversar com todos vocês. Acho que é muito importante... Creio que o seu mundo esteja em perigo.

            -               A sua mestra foi uma ameaça em meu mundo. Acha mesmo que vou acreditar que Yugui queria salvar o nosso mundo?

            -               Depois que minha mestra os colocou em hibernação, ela poderia dominar o seu mundo, mas não o fez. Por que será?

            Tenchi não responde.

            -               Acho que temos que conversar... - diz Hotsuma e seguida solta a pirata.

            Horas mais tarde, os nossos heróis entram numa espécie de castelo feito de um material desconhecido, mas tinha aparência de argila, porém, com a consistência do aço. Árvores imensas e suas incríveis raízes estavam entrelaçados nas paredes do tal castelo dando uma aparência de uma montanha arborizada.

            No seu interior, todos vêem a beleza de estatuas de madeira, mas, na realidade, são árvores esculpidas e moldadas. Um tapete de grama colorida tendo mosaicos geométricos dando a impressão que são flores bizarras. Colunas entrelaçadas feito de raízes das árvores que cressem em torno do castelo. Uma beleza estranha, mas impressionante.

            Num imenso salão, os nossos heróis vêem um trono feito de uma árvore gigantesca e sentado nela uma velha conhecida; mas a sua figura não corresponde as suas lembranças. Uma mulher alta e loira, como aquelas modelos de alta costura, (creio que não seja necessário dizer que ela é magra) apesar do seu porte altivo e de beleza exótica denunciam quem seja...

            -              Yugui?! - pergunta Sasami intrigada. É você?

            A magra loira levanta-se de seu trono e responde:

            -              Sou sim, Sasami. - responde em seu modo característico. Fico feliz que esteja em meu palácio. Sou a imperatriz deste mundo, como deveria ser no seu, porém fico feliz por não ter sido.

            Os nossos heróis a olham com curiosidade. Será que o tempo passou tão rápido que se passaram vinte anos? Afinal, na última vez que a viram, tinha dez anos e seus poderes os aprisionaram no mundo de sonhos. Será que Washu conseguiu se superar e além de estar perdidos no Espaço estão perdidos no Tempo? Com certeza, todos vão perguntar para cientista assim que retornarem a nave, isto é, se voltarem...

            Um silêncio tenso corta o salão, mas é quebrado pela voz da pirata que percebe que a mesma e não é mais aquela ridícula voz de pato.

            -              Não gosto do hélio. - diz a mulher. Me dá a impressão que sou uma idiota. Creio que queriam saber o porquê de estarem aqui? Bem, serei breve, na minha conquista do meu império não tive dificuldade de ser senhora deste mundo, mas, após a realização dos meus planos, o meu planeta foi invadido por uma raça robótica que chamamos de Al Quedam, provindos de um quadrante distante daqui. Os seus objetivos são os mesmos de qualquer império em expansão, por isso, conto com a ajuda de vocês.

            Surpresos com a proposta da loira, Ryoko diz, em nome de todos, o que acha da proposta a mulher:

            -              Engraçado... Pede a nossa ajuda, mas quando fizemos a mesma oferta você nos aprisionou no mundo de sonhos, em agradecimento. Não acha que há uma incoerência?

            Com um sorriso cínico, Yugui responde à pirata:

            -              Sou uma Deusa! Tenho caprichos, mas não sou burra. Não conto com a colaboração de vocês, porém conto com o apoio. Basta não interferir em minha guerra que terão a Paz necessária para deixarem este mundo. Acho uma proposta justa.

            Todos se unem em um circulo e discutem sobre a proposta da sua inimiga.

            Minutos depois, dão a resposta:

            -              Nossa intenção é deixar este mundo, apesar de ter pena do povo que é oprimido por você. - diz Ryoko. Espero que sua derrota seja breve e cruel.

            Sorrindo, Yugui responde para Ryoko:

            -              A minha derrota seria a ruína do seu mundo, querida. Afinal, é certo que jamais voltaria a seu mundo, mesmo que seja para expandir o meu império, pois sempre saberei que estarão lá. Mas se os robôs irem lá, não creio que terão o mesmo respeito.

            Em silêncio desde sua pergunta inicial, Sasami pergunta a Yugui:

            -              Onde está a nossa amizade? Será que a sua e a nossa mágoa superou o Amor que sentimos uma pela outra?

            Com os seus olhos frios, a imperatriz deste mundo responde a garota:

            -              A amizade existe enquanto há confiança, mas sem ela, não há sentimento que resista, Sasami. Gosto de você, apesar de tudo, se assim não fosse certamente deixaria o robô leva-la. A minha proposta é um pedido de desculpas de minha traição, mas a partir do momento que deixarem este mundo não haverá qualquer vinculo entre nós. Partam! - ordena. A visão de suas imagens me causa um profundo mal estar.

            Em silêncio, os nossos heróis saem do salão real, deixando a imperatriz Yugui absorva em seus pensamentos.

            "Será que serei capaz de manter essa farsa por muito tempo?"

            Ao retornar a nave, os nossos heróis encontram a Mihoshi ainda contando as folhas da árvore, como tinha ordenado Washu. Porém, a cientista esperava o retorno de todos.

            -              Então, pessoal? Como foi conversar com a Yugui?

            Surpresos, eles perguntam:

            -              Como você sabe que fomos...

            -              Eu não sou maior cientista do Universo a toa. - gaba-se. Além do mais, lembre-se que tenho um aparelho que os localiza em qualquer ponto deste planeta. Isso não importa! Tenho boas notícias. A nave está consertada e poderemos partir deste mundo. Garanto que estaremos em casa em poucos dias.

            Um silêncio toma conta de todos.

            -              O que foi, pessoal? Não entenderam? Nós podemos voltar para casa! - exclama a cientista. Se o problema é a Ryo-ohki, poderemos procurá-la mais tarde, todavia não estamos mais perdidos na imensidão do Cosmo.

            -              O problema é que vimos a Yugui vinte anos mais velha. - diz Ryoko. Não sabemos se naquela fuga saltamos também no Tempo...

            Uma risada debochada da ruiva causa certo constrangimento em todos.

            -              Não se preocupem. A Yagami está programada para retornarmos exatamente na mesma época que partimos. Para o seu pai e avô, Tenchi, a nossa viagem será de alguns dias. Fique tranqüilo.

            O silêncio continua.

            -              Gente... O que foi?

            -              Será que não é óbvio, Washu? - exclama Kiyone. A Yugui realizou o seu intento em outro mundo e uma população foi escravizada por ela. Não podíamos dete-la, pois estávamos em estado de hibernação.

            -              Espere aí! Vocês não querem que nós a detemos aqui agora?

            Silêncio continua.

            -              Estão loucos! A Yugui controla este mundo, se tentar lutar com ela agora estaremos quebrando a promessa que vocês tiveram. Talvez nunca mais sairemos daqui...

            -              Acho que você que não entendeu, Washu. - diz Ayeka. A Yugui é de responsabilidade do império de Jurai e tudo que fizer no Universo é culpa nossa, pois ela estava sobre nossa proteção. Se um povo foi oprimido, temos o dever de libertá-lo.

            -              Isso é loucura! - exclama a cientista. Isto é um preço muito alto que vamos pagar!

            -              Acho que não temos escolha... - diz Tenchi empunhando o seu sabre de Luz.

            No castelo da imperatriz Yugui, uma esfera de Luz emite imagens da decisão do grupo e causa um comentário a mulher.

            -              Sabia que tomariam essa decisão! São altruístas demais! Basta falar de um povo oprimido que os tolos vão tentar salva-los, mesmo não sabendo quem seja. Como você previu, meu amado!

            Uma voz masculina responde e uma mão toca o ombro da loira.

            -              O nosso Mestre os estudou por muitos anos. ELE os conhece mais que eles mesmos... - nesse momento o homem a agarra e beijo apaixonado acontece sobre a Luz do globo. Eu prometo, minha amada, o Universo será nosso basta servi-lo bem...

            -              Vou segui-lo como o sigo, Kagato! - e Yugui o beija.

           Em outro lugar do Cosmo, no interior de uma imensa nave um homem baixo e gordo ativa inúmeros aparelhos. Excitado, pula de um lado para outro, auxiliado por seu robô, executa o seu plano. O seu nome é Clay. Mais conhecido como Dr. Clay, o rival da Washu.

           -               Então, Zero? O boneco está pronto?

           -               O andróide de sua rival está ligada aos aparelhos.

           -               Sabe... Eu quase não acredito que vou trazer a minha amada Lady Tokimi para este mundo usando uma invenção da maldita Washu. Doce ironia! - e o gordo ri.

           O homem ativa o comando principal e começa a transferencia de consciência. Luzes e ruídos surgem em toda a nave. O corpo usado por Ryoko começa a brilhar e tremer. Em sua cabeça começa a crescer os cabelos e que se revela longo e escuro. Suas curvas femininas começam a se definir.

           Em seguida, o aparelho cessa as suas atividades, um silêncio corta a nave e o cientista corre em direção de sua criação. O andróide levanta-se e sorri para o seu criador.

           -               Então, Lady Tokimi? O que achou do seu novo corpo?

           A mulher sorridente diz ao seu criador:

           -               Não podia ser melhor... - um brilho medonho surge nos seus olhos negros.

                                            Fim do capítulo sete.           


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, começa a traçar a reta final desta incrível saga de nossos heróis e os planos das forças do Mal tomam forma. Será que seguidores da força de Jurai conseguirão deter as terríveis ações maléficas dos vilões e inimigos do império? Não perca as respostas em:

Sem necessidade de mentiras escabrosas.



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