Start Over escrita por MBS


Capítulo 34
Palavras nunca são demais




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DE: Bernardo Granemann

PARA: Abigail Carstairs-Montgomery

ASSUNTO: Desculpas

09.22.2018

Eu não sei exatamente por onde começar este e-mail, sei apenas que o que eu fiz foi pressão demais comparado ao que eu poderia fazer naquele momento, porém eu não poderia te deixar ir embora, então o que eu quero dizer primeiramente é Desculpas, desculpas principalmente por te colocar em uma situação totalmente desnecessária para aquele momento.

Claro que dói imaginar que você está a quilômetros de distância, dói imaginar que provavelmente eu te perdi ou te afastei pra caralho com aquela burrada, e eu entendo se não quiser continuar com um relacionamento, neste caso agora à distância, mas eu imaginei meses antes do acidente em como fazer o pedido de casamento pra você Abby, e eu fiz ele totalmente ao contrário do que eu imaginava, era pra ser uma coisa especial e apenas nossa, e eu fiz de maneira impulsiva e sem nada de jeito.

Eu tentei te mandar mensagens no celular e notei que o mesmo não recebia mais elas, então fiz ao método antigo, via e-mail, não mandei carta por não saber seu endereço e estar com vergonha o suficiente da sua família pra pedir pra qualquer um deles qual era ele.

Além disso, eu estava antes do meu acidente planejando uma viagem pra gente, as passagens provavelmente se perderam, mas eu sabia do seu gosto por esquiar, então essa era a sua surpresa de aniversário na época, além disso eu pensava em te contar durante a viagem que eu era o Anônimo que te mandava mensagens, e foi por lá que eu acabei descobrindo o quanto você na época estava precisando de ajuda.

Bem, acho que agora eu preciso rezar para você voltar a falar comigo.

Eu te amo loirinha, e espero que me desculpe.

Com amor,

Bernardo.

 ***

Ponto de Vista Abigail:

Eu fiquei um bom tempo encarando meu e-mail, eu não sabia o que responder para Bernardo, esse e-mail acabou com qualquer ódio que eu senti em um primeiro momento sobre o pedido de casamento sem pé nem cabeça que ele havia me feito, eu entendia o ponto que ele queria me mostrar, custava ter sido antes pelo menos? Não que eu ficasse convencida a ficar naquela cidade, até porque ainda estou convencida que eu preciso me curar, porém seria um bom motivo para eu repensar em voltar logo.

Mesmo que meu coração estivesse aquecido sobre o que Bernardo me admitiu, eu li e reli cada palavra minuciosamente.

Antes de qualquer coisa impensada eu busquei ajuda da minha nova terapeuta, ela me fez diversas orientações e questionamentos sobre como eu me sentia sobre aquilo, entretanto a única coisa que estava sentindo naquele momento era um “Eu não sei” gigantesco querendo sair da minha boca.

Eu conversei com Bianca sobre isso em uma vídeo chamada, eu sabia que Guilherme estava perto dela pois escutava os seus resmungos ao fundo, ela me fez pensar em mim, deixou claro que não bastava eu amar uma pessoa se eu não me amava mais ou estava destruída. Eu não tinha nada novo para oferecer naquele momento a não ser muitos caquinhos.

Quando Hugo ficou sabendo e leu o e-mail me pediu primeiro explicações sobre o que Bernardo queria dizer em alguns pontos no e-mail, e eu expliquei calmamente para ele, agradecendo mentalmente ter trocado de número para ninguém me ver online e me chamar colocando “mais pressão” sobre responder por Bernardo. Hugo concordou inicialmente com o que Bianca havia me dito, mesmo que no fim do seu discurso ele ter dito que eu deveria fazer o que eu achava que era certo.

Nessa manhã acordei decidida a responder o e-mail. Hugo estava desfilando pelo apartamento sem camisa, indo em direção à cozinha para fazer algum café da manhã para nós dois, já que enquanto ele estivesse aqui ele ficaria em meu apartamento.

Sentei no sofá e fiquei um bom tempo encarando a tela do notebook com o e-mail aberto para responder Bernardo, até o momento em que comecei a digitar, não sabia se minhas palavras seriam claras, mas expressavam o que eu estava sentindo.

***

DE: Abigail Carstairs-Montgomery

PARA: Bernardo Granemann

ASSUNTO: Re: Desculpas

09.30.2018

Oi, desculpas pela demora de resposta, é que eu não estou habituada com o e-mail e ual, isso é basicamente o que meu cérebro conseguiu entender em uma lida rápida sobre seu e-mail.

Após mais um bom tempo lendo e relendo ele eu ainda não sei exatamente o que eu quero dizer sobre tudo isso, é só o que eu queria que você entendesse é que era difícil pra mim continuar ali com tudo o que aconteceu, como eu tinha explicado enquanto você estava “desmemoriado” é que o caso seria que eu não conseguiria ficar mais naquela cidade e me curar ao mesmo tempo. (Desculpa pelo apelido, sei que pode gerar alguma zoação).

Enfim, eu entendo, mas eu preciso de um tempo, de tudo. Você neste momento provavelmente me perdeu, e eu não queria que fosse assim, mas eu estou fodida por inteiro, diga-se emocionalmente, psicologicamente e fisicamente, o suficiente por umas três vidas nesse momento. Então me desculpe, por tudo, mas isso é necessário.

Eu amo você, sei que não é pouco e talvez dure muito tempo ainda, mas eu preciso voltar a me amar primeiro, preciso pensar em mim e tentar juntar o que eu ainda tenho para poder talvez no futuro voltar a oferecer algo para alguém, e eu não sei se continuarei sendo a mesma Abby de hoje, tudo me mudou e eu estou buscando ainda quem eu quero ser.

Espero que você siga seus sonhos, que tudo dê certo em sua vida, eu sempre vou desejar e querer que você conquiste o mundo, mesmo que eu não esteja ao seu lado. Me desculpe por ser injusta e talvez não conseguir expressar o que eu queria realmente dizer, não queria te ferir ou te machucar... algumas mudanças são necessárias, mesmo que machuquem. Eu preciso de um tempo. Não quero que crie esperanças, mas quando eu me sentir melhor eu volto a te responder...

Com carinho e um enorme pedido de desculpas...

Abby Carstairs-Montgomery.

***

Respirei fundo e fechei o notebook após o e-mail ser enviado. Caminhei até a cozinha e vi que Hugo estava de costas para a porta de entrada dela, caminhei lentamente até ele e o abracei por trás.

Senti as lágrimas vindo aos meus olhos, senti ele segurando firmemente minhas mãos e não questionando nada, esse era o lado bom dos Cortez, eles respeitavam o silêncio. Após algum tempo, respirei fundo e decidi que eu deveria explicar o porquê da necessidade de carinho naquele momento.

— Eu pedi pra terminar... mandei o e-mail dizendo que eu precisava disso pra me reencontrar antes de tentar oferecer algo para qualquer pessoa. Pedi também para ele respeitar o espaço que eu estava pedindo – Continuei falando ainda abraçada às costas de Hugo, sabia que ele estava escutando com atenção cada palavra minha, assim como eu sabia que ele não tinha tentado me abraçar de volta mais por medo que eu tivesse como reação um ataque de pânico – O caso é que eu preciso voltar a amar a pessoa que eu posso estar me tornando daqui em diante.

— Isso é bom – Hugo disse após algum tempo – Eu acho que é o certo você se curar primeiro, não pensando em alguém em seu futuro, mas em si mesma. Você é uma pessoa ótima Abby, mesmo que o que tenha acontecido com você talvez te deixe insegura sobre isso... acredite em si mesma, eu sei que você pode conquistar o mundo se quiser com a força que você tem, além de que você sabe que tem vários Cortez pra te ajudar se você precisar.

Eu estava sorrindo com o que ele falou, fui até a sua frente e passei meus braços por seus ombros, ficando levemente na ponta dos pés, encaixando meu rosto na curvatura do seu pescoço. Senti seus braços passando ao meu redor sem medo naquele momento. O arrepio que passou por minha coluna me fez sentir um calor confortável por todo o meu corpo.

— Obrigada por isso – Continuei abraçada por mais algum tempo aproveitando aquele momento.

***

Meus anos seguintes foram assim, a cumplicidade entre mim e Hugo foi só aumentando, tanto que ele virou meu vizinho, no caso ele morava 3 andares abaixo do meu, mesmo assim ainda era o mesmo prédio.

Alguns meses após o e-mail que enviei para Bernardo eu voltei a procura-lo, eu não poderia me enganar dizendo que não sentia saudades dele, ou de conversar com ele, tanto que as vídeo chamadas algumas vezes se fizeram necessária, e mesmo que ele não visse, eu ainda usava a minha aliança quando a falta dele se fazia cada vez mais presente.

Seu sorriso ainda continuava o mesmo, mas agora os cabelos estavam um pouco mais compridos, com os cachos mais definidos.

— O que foi? – ele disse enquanto tomava um generoso gole de coca-cola.

Eu não havia notado que estava encarando-o por tempo suficiente para causar estranheza naquele vídeo.

— Hm, nada, tava lembrando que não dei água para a Mel ainda hoje.

Mel era minha Cocker, presente de Guilherme e Bianca no meu primeiro ano da faculdade. Segundo eles era pra me fazer companhia e pra ter um pedacinho deles ali comigo. Bernardo apenas assentiu para mim fazendo sinal para ir, peguei o tablet e fiz com que ele me acompanhasse no caminho. Soltei na bancada, fazendo com que a capinha deixasse inclinado para minha imagem ainda aparecer. Fui até os potes de Mel e peguei o de água, levando-o até a pia da cozinha e abrindo a torneira.

— Então, como estão as coisas aí? – pedi ainda de costas para ele, soltando o pote novamente no chão e me apoiando na bancada.

— De boa, nada novo, a não ser os projetos que estou fazendo...

— Aé?! Apenas para faculdade?

— Também, mas acabei de ser contratado em uma empresa especializada, os caras gostaram do que fiz e estão “patenteando” meus projetos.

— Isso é ótimo Bernardo, quero dizer, eu to muito orgulhosa de você, sempre soube que você iria conseguir chegar onde sempre quis. – Notei que suas bochechas coraram e seu sorriso se ampliou. Ficamos algum tempo sem dizer nada, apenas nos encarando.

— Você não pode fazer isso comigo Abby – Ele disse, seu tom de voz havia mudado e eu sabia exatamente o que aquilo significava.

— Fazer o que? – Entrei no jogo me fazendo de desentendida. Bernardo respirou fundo e mexeu nos cabelos me encarando com um sorriso sacana de canto de boca.

— Você me deixa louco Abigail.

— É meu bom – disse por fim sorrindo marota. – Bem, agora eu tenho que ir. Tenho ainda que levar a Mel para passear e depois ir pro treino.

— Treino?

— É, meus novos encantos... quem sabe qualquer dia desses eu te conte. Se cuida Be, depois a gente se fala.

— Se cuida você baixinha, tenta não se perder no caminho de volta.

— haha, muito engraçado você.

— Ei, eu te amo – quando ele disse as três palavrinhas mágicas pareceu que meu coração deu um giro de 360º dentro de meu peito.

— Eu também Be.

Dei um aceno e encerrei a ligação.

— Você sabe que não presta iludir o pobre menino, não é? – Lola disse escorada no batente da porta com Hugo ao seu lado. Coloquei a mão no peito pelo pequeno susto.

— Primeiramente como você tá aqui? E segundo não tem como eu iludir se ele tem meu coração com ele meu amor. – Pisquei para ela e fiquei encarando esperando a sua explicação.

— Ele abriu para mim – disse apontando para Hugo – Estava a um bom tempo na sua porta em um dilema de abrir ou não, então bem, roubei a chave e aqui estamos nós. Acabei sorrindo e indo cumprimentá-la.

— Em minha defesa eu sabia que era o seu horário de conversar com o Bernardo, então não quis atrapalhar. – Hugo falou abraçando meus ombros e beijando o topo de minha cabeça.

— Mano, você viu o sorriso dela? Tá explicado agora, entendi agora que ela não tem coração porque o guri ali tá com ele.

No fim, e após um bom tempo de conversa com os dois, acabei que não fui levar Mel para passear, dando a missão para Hugo e conseguindo apenas despachar os dois quando eu fui para o treino.

A conversa de hoje com Bernardo, mesmo me deixando com coração acelerado, precisava ser extravasada em meu treino, e eu não via a hora de ver a cara dele quando eu voltasse.


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