Start Over escrita por MBS


Capítulo 1
Lembranças




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Ponto de Vista - Bernardo

 

Abigail, tá ai uma garota totalmente fora dos padrões que a sociedade preza como "perfeitos". Ela era baixinha, metida, cheia de si, que tinha resposta pra tudo, odiava ser duvidada e principalmente, odiava ser repreendida. No fim, ela se tornava o pior pesadelo de qualquer pessoa, ou o melhor sonho, dependia do quanto você conseguisse quebrar das barreiras dela. Mas mesmo assim não deixava de ser bonita da sua forma, com aquela carinha de anjo que poderia se transformar em um demônio a qualquer momento, inteligente, e cara, o quanto de inveja que eu tinha da inteligência dela. Como alguém assim poderia ter chamado minha atenção?

Mas quem sou eu?

Ah, eu sou só o babaca que vive infernizando a vida dela, o cara que faz parte do time de rugby e que também é um dos mais desejados do meu ano, um rostinho bonito que chamava atenção onde passava, mas também sou o cara que queria ter ela todos os dias nos meus braços só pra dizer o quão linda ela era, o quão inteligente, o quanto de orgulho que eu tinha dela ser exatamente assim, o quão forte eu sabia que ela conseguia ser, que aguentava qualquer coisa, mesmo que não fosse sua culpa, ela aguentava... Pena que eu era um idiota, sempre fazendo piadinhas de mau gosto com ela apenas para não perder meus amigos, se é que eles poderiam ser chamados disso.

— Terra chamando Bernardo – sinto um tapa na minha nuca, olho para o lado e vejo meu melhor amigo, Lucas, com uma cara não muito amigável assim. – Você tá onde cara?

— Tô aqui, não tá vendo? – respondi com grosseria levantando com rapidez da cadeira da biblioteca, fazendo com que vários rostos, inclusive ela, me olhasse.

Aqueles pequenos segundos fizeram uma corrente elétrica passar pelo meu corpo, mas notei suas bochechas levemente coradas seguidas de seu olhar de desdém, voltando à atenção para suas amigas que estavam na mesa.

— Aonde você vai? Temos que terminar o trabalho Bernardo! – Jonas falou segurando meu pulso. Ele era outro amigo meu, fazia parte do time assim como eu e Lucas.

— Querem saber? Perdi a vontade de ajudar vocês aqui. Me mandem por e-mail o trabalho que eu termino isso ai. Além do mais que eu já estou passado em literatura, diferente de vocês. – Falei pegando minhas coisas e saindo rapidamente do local.

Sei que meus amigos não mereciam meu mau humor, principalmente minha grosseria, é só que eu ficava explosivo e não sabia como agir quando ela estava por perto, porque eu sabia o quanto eu tinha sido um pé no saco pra ela em todos esses anos, o quanto eu tinha importunado a vida dela e quantas lágrimas eu a vi derrubar pelos xingamentos e idiotices que um dia eu proferi pra ela. Em resumo, eu era, era não, sou um completo idiota, merecia nunca ser feliz na vida, nunca ter Abby ao meu lado e podendo fazê-la feliz, ela merecia alguém que a fizesse sorrir todo dia, mas esse alguém eu sabia que nunca poderia ser eu.

Peguei as chaves do meu carro do bolso da jaqueta e abri-o com o controle, joguei a mochila para o banco de trás do mesmo e arranquei da frente da biblioteca do campus. Liguei o rádio do carro e coloquei o ultimo álbum que o Green Day havia lançado, Revolution Radio, por algum motivo, as músicas me representavam em algumas partes. Vaguei sem rumo com o carro, meu inconsciente me levou ao local aonde eu havia conhecido a garota que atormentava minha vida.

Desliguei o carro e fui em direção a um dos bancos daquela praça, que dava uma visão perfeita do parquinho que havia ali. Como era fim de tarde ainda havia vários pais brincando com seus filhos ali, alguns apenas passeando, outros fazendo piqueniques, alguns ainda só observando tudo, assim como eu estava fazendo. Havia também alguns casais jovens passeando como casais de idosos, que mesmo com o tempo aparente em suas fisionomias, transbordavam amor. Eu sentia inveja deles, sabia que no fundo eu não encontraria alguém pra me amar assim, a única pessoa que eu queria eu havia afastado.

Dei um longo suspiro e voltei a encarar as crianças brincando, dei um sorriso de canto lembrando alguns bons anos atrás quando minha mãe me trouxe aqui, após uma briga dela e do meu pai, eu sabia que ela só queria me tirar daquele caos que estava em casa mesmo ela negando que apenas queria curtir um momento com o filho.

Foi ai que eu vi ela, brincando com uma boneca na caixa de areia quando um menino, que depois descobri que era o irmão mais velho dela, pegou a boneca das suas mãos e arrancou a cabeça da boneca. Abby fechou os punhos, mas não disse uma palavra pro irmão, já ele, saiu rindo da irmã. Puxei a mão da minha mãe e disse que iria ir brincar com uma amiguinha, mesmo não a conhecendo, eu sabia que eu deveria ir lá ajuda-la.

Chegando na caixa de areia vi que Abby chorava mas sem emitir nenhum barulho. Sentei ao seu lado e ela virou o rosto em outra direção. Coloquei uma das minhas mãos sobre a dela, a mesma me encarou na hora com um olhar vermelho pelo choro e desconfiado, com a minha outra mão sequei suas lágrimas e disse que não deveria derramar nenhuma lágrima por um babaca. Ela sorriu pra mim e agradeceu, explicou que aquele era seu irmão mais velho e que estava acostumada a ele estragando as coisas que ela mais amava. Encarei-a triste e olhei para a boneca que estava jogada com a cabeça separada do corpo em frente a suas pernas. Peguei a boneca e com uma forcinha consegui arrumá-la. Nunca vi um sorriso tão grande e sincero como Abby me deu naquele momento, ela me abraçou e recebi um beijo na bochecha. Na hora fiquei vermelho e sorri pra ela falando que tinha feito o mínimo por ela. Logo a mãe dela a chamou, ela levantou e bateu em seu vestido vermelho para tirar a areia do mesmo e estendeu a mão sorrindo e se apresentando como Abigail, e estendi a mão retribuindo o sorriso, mas resolvi apenas dizer que eu era o garoto misterioso que havia ajudado ela.

Isso fazia tanto tempo, tenho certeza que Abby nunca descobriu que aquele garotinho era eu... quem sabe eu nunca vou ter a oportunidade de contar pra ela que eu era ele.


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