Cokei. escrita por Bakuch


Capítulo 4
Capítulo IV




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CAPÍTULO IV
Descobertas sobre alguém nem tão distante.

Cokei. Natan Cokei. Fonema simples e agradável "Côquei".
  Decidi que seria melhor se eu notificasse os alunos com as menores notas. Comecei por Leonor, uma garota simples e dedicada, mas que por simples falta de atenção nas coisas importantes, acaba tendo dificuldades imensas.
  "Leonor, peço que compareça durente minhas aulas de reforço obrigatórias na Quarta-Feira, das 14h até as 16h, visto que a sua nota é uma das menores da turma.
Atenciosamente, Professor Abel R. Connor."
  Escrevi um bilhete para alguns alunos, maioria, quatro deles. Leonor, Alice e Macsuel. Grampeei o bilhete escrito à mão junto da prova, e esperei a reação de desânimo de todos eles.
  Alice é uma garota loira de olhos azuis, uma das minhas piores melhores alunas, assim como Macsuel, acredito que tenho muitos alunos que não se valorizam, não exploram o próprio potencial e realmente não ligam pra algo fora da sua vida pessoal e social. O eu clássico do segundo ano.
  Houve apenas um aluno que precisei notificar pessoalmente, Cokei.
  Natan Cokei é um dos meus alunos favoritos no quesito personalidade, apesar de ser meu pior aluno, acredito que ele é um dos poucos alunos que não são influenciados facilmente, o que torna difícil colocar uma ideia diferente demais das dele em sua exagerada e deprimente cabeça.
  Com suas blusas sempre brancas com uma mancha aqui e ali e a garrafa térmica preta sempre cheia com chá, café ou chocolate quente, eu vejo em Cokei o alguém que eu quis ser durante pouco tempo de minha vida.
  -Senhor Cokei, preciso falar com você, venha até minha mesa para buscar seu teste.
  Acredito que ele me odeie, pelo simples fato de que nunca quis deixar muito claro meu fascínio sobre o ser incrível que ele poderia ser se não fosse tão irritante.
  - Professor.
  Ele me cumprimentou, de forma um tanto tímida, com o cabelo castanho curto que já precisava de um corte, com os olhos negros baixos e com as sardas salientes em seu rosto.
  - O senhor está satisfeito com a sua nota nessa prova?
   - Não, professor.
  Era a resposta que eu esperava.
  - Pois bem, eu pretendo começar a dar umas aulas de reforço obrigatórias na Quarta-feira, das 14h até as 16h, conto com a sua presença lá.
  Pude ver em seu rosto a clássica face de uma irônica frustação.
  - Perdão professor, mas eu realmente acredito que eu possa ocupar meu tempo com algo um pouco mais interessante que história. Veja bem, prometo uma nota maior no próximo teste, assim o senhor não precisa se preocupar comigo, sabe?
  Eu ri, irônico. Reação mais que compreensível.
  - Claro, sim, sei. Acontece que não estou fazendo isso apenas pelo senhor, Natan. Sua nota particularmente não me importa, se o senhor quiser continuar sendo ignorante na minha matéria eu acredito que o problema seja seu, porém você deve aceitar a ajuda quando ela vem até você. Por isso eu vou intensificar as coisas, - Elevei a voz- ou você comparece ao reforço, ou eu diminuo a sua nota de uma maneira que você só vai conseguir recuperar nos seus melhores sonhos.
  - Muito gentil da sua parte me obrigar a fazer algo que eu não me sinto confortável em fazer. Realmente professor, obrigado pela incrível oportunidade de estragar minha quarta-feira.
  - O senhor está se sentindo no clima de assinar uma ocorrência por desrespeito?      - Não professor, perdão pela atitude grosseira.
  Ri levemente, foi incrível o modo como seu rosto ficou vermelho de raiva.
  - Tudo bem, você ainda vai me agradecer algum dia.
  Natan se colocou para longe, guardando o material e avançando até a saída. Ao mesmo tempo, eu decidi esclarecer e confirmar poucas coisas com Luca, e passei repidamente ao lado de Cokei em direção ao Cândea. Notei Cokei respirar fundo e fazer uma cara de desgosto após ver a minha figura novamente.
  - Cândea, convidei as senhoritas Duarte e Solarte e os senhores Andrey e Cokei para comparecer às aulas de reforço. Vou dar início às aulas amanhã, tudo bem para você?
  Ele fez um sinal de aceitação com a cabeça.
  - Claro, sim, tudo ótimo, vai ser um prazer lhe ajudar.
  - Tudo bem, lhe vejo amanhã.
  - Tudo bem.
  Depois disso voltei para a sala fui até o Estacionamento, geralmente permaneço na escola durante o horário do almoço. Porém eu havia esquecido meu pendrive com o planejamento da aula para o segundo ano.
Não demorou muito para que o meu cabelo ficasse molhado com as gotas de chuva e foi aí que eu me deparei com a figura de Cokei, apressado embaixo da chuva guardando uma porção de livros na mochila.
  - Cokei, Cokei!
  Ele não se preocupou em se virar para ver quem era, acredito que ele realmente não tenha reconhecido minha voz.
  -Quantas vezes eu terei que dizer que meu nome é Natan, e não gosto que me chamem de Cokei? Se eu quisesse ser chamado assim eu mudaria meu nome para Cokei Cokei. Mas adivinhe? Não mudei, justamente porque tenho esperança que vocês do secundário deixem de ser uns otários!
 Eu simplesmente não consegui conter minha surpresa, nem a minha vontade de vontade de rir da situação, se eu fosse um pouco mais ofendido eu poderia simplesmente tornar a vida dele um inferno.
 Ele corou e baixou a cabeça assim que viu que falava comigo.
 -Perdão professor, não queria falar desse jeito com o senhor, mas é porque agora está chovendo, meu humor vai de ruim até pior e eu só causo problemas. Vou ir andando e perdão novamente!
 -Espere!
Coloquei a mão em seu ombro.
 -O que foi?
 -Eu ia lhe oferecer carona, já andei debaixo da chuva durante muito tempo nessa vida. Você mora no caminho do meu apartamento, eu não vou me importar se você quiser.
Não era difícil de saber qual o caminho da casa dele, de vez em quando, quando saio pra dar uma volta no final de semana eu consigo ver ele passando perto do meu prédio em direção à uma padaria pequena, mas com clima agradável. Por fim, decidi que não faria mal algum ajudá-lo.
—Não precisa se preocupar, eu vou ir apé.
 A chuva começou a engrossar, e com isso, o desespero de Cokei também aumentou.
 -Última oferta.
 -Tá bem, eu vou com o senhor.

Entrei no carro e ele me acompanhou.
—Pode me dizer onde o senhor mora?
Já o vi andando de apé até casa uma porção de vezes, mas nunca realmente vi onde ele mora de fato.
—Não moro longe daqui, segunda à esquerda e terceira à direita, depois disso eu sigo sozinho.
—Tudo bem.
O clima estava ficando mais pesado conforme o silêncio pairava sobre nós, o trânsito estava intenso por conta da chuva, e ficamos presos em um dos diversos semáforos espalhados pela cidade.
Pude notar que ele se sentia desconfortável, mas mesmo assim ele decidiu dizer algo.
— Ei, professor.
— Nós não estamos na escola, pode me chamar de Abel.
Ele se encolheu num ato de nervosismo.
— Tudo bem, mas eu prefiro chamar de professor.
— Se é melhor pra você.
Ele fez uma cara confusa.
— Qual é a sua?
— Oi?
Não entendi o que ele realmente quis dizer, olhei surpreso para o lado enquanto o sinal ficava verde e os carros se movimentavam lentamente.
— É, o senhor me odeia na escola, e aí do nada resolve me dar carona, e aparecer com essa intimidade? Sem falar que o senhor fica com esse sorrisinho de canto o tempo todo. Eu realmente não consigo te entender. Queria te pedir desculpas pelo ocorrido de antes, mas o senhor parece se divertir com tudo isso.
Eu ri novamente.
— Sabe Cokei...
Ele me interrompeu.
— Natan.
— Eu não ligo pro jeito que você gosta de ser chamado, já que não quer fingir intimidade e acha minha gentileza incoveniente, pra mim você é Cokei.
Ele suspirou de raiva.
— Quer saber? Você pode me largar por aqui, sério, eu sinto que sou um grande incômodo pro senhor. Não me importo com a chuva.
— Ah garoto... - Suspirei fundo - As coisas não são assim. Vou te deixar em casa e você me agradece mais tarde.
Ele deu uma risada irônica.
— Hah! Você estaria me fazendo um grande favor me mantendo fora de casa. Isso só prova que o senhor não sabe nada sobre mim.
Ele virou o seu rosto para janela e apoiou-o em sua mão.
Estacionei o carro.
Ele fez uma cara de surpresa e não demorou para que disesse algo sobre a minha ação.
— O que você ACHA que está fazendo?
— Você disse que eu não sei muito sobre você, Natan. Meu papel como professor também é conhecer meus alunos.
— Isso é um absurdo! Eu não vou ficar nem mais um segundo aqui dentro com o senhor.
— Natan.
Durante dois segundos me senti fora de mim, elevei a voz segurando o seu braço enquanto ele tentava inutilmente abrir a porta do carro.
— O senhor não pode fazer isso!
Suspirei e contei até 10, numa tentativa de me acalmar.
— Tem razão, não posso. - Esfreguei meus olhos em sinal de cansaço - Perdão por isso. Mas sei que você precisa de alguém pra conversar. Eu também precisei na sua idade. Sei que nós não somos amigos mas eu espero que você possa contar comigo, sabe? Enfim, desculpe por isso. Acho que estamos quites agora.
A chuva começou a engrossar ainda mais e Natan me deixou sem resposta.
— Vou te deixar em casa.
— Não, espera.
Eu senti a mão dele tocar meu ombro.
— Eu não gosto de ir pra casa porque apesar de gentil, minha mãe vive cansada por conta do trabalho, meu padrasto não fala muito comigo e eu me sinto deslocado. Só é difícil me abrir com alguém dessa maneira. Espero que entenda.
E de fato, eu entendia.


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