Como cães e gatos escrita por kelly pimentel


Capítulo 12
Seguindo em frente




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—Fábio! – Luiza grita. Retiro os fones de ouvido irritado e encaro minha irmã. – Tá na hora da aula, me explica como é que você decide que jogar videogame seria uma boa ideia em vez de terminar de se arrumar?

—Não me enche! – Digo levantando. Desligo a TV e vou pro quarto vestir a farda. Luiza me persegue, ponho a camisa, pego minha mochila e saio. – Pronto, podemos ir!

— A mamãe sai mais cedo com a Joana um dia e você em vez de se arrumar fica jogando? É por isso que ela não para de tratar a gente feito criança. – Luiza afirma.

—Você vai ficar falando o caminho inteiro? – Pergunto trancando o portão.

—E ainda fica chateado? Era só o que faltava, eu juro que...

—Luiza! – Explodo interrompendo-a. - Você pode me deixar em paz, um pouco? Só um pouco, eu realmente não estou com paciência pra essa discussão no momento.

—Não precisa ser rude! – Ela devolve irritada. Respiro fundo e coloco meu fone de ouvido. Não trocamos mais nenhuma palavra até chegarmos na escola.

—Como está a Manu? – Isabela pergunta pra Luiza quando nos aproximamos.

—Tá bem, a perna no gesso, mas bem. Vai ficar de molho por um tempo porque o médico sugeriu e o pai dela achou melhor, mas deve estar de volta na próxima semana.

—Podíamos combinar pra levar assunto pra ela, um por dia. – Carla sugere. – Eu tenho aula de dança nas terças e quintas, mas acho que podemos nos organizar. Eu, você, Isa, Bruna e Fábio.

—Não contem comigo. – Digo me afastando, cruzo a quadra e vou em direção ao MOFO, aproveito que naquele horário o local está quase sempre vazio, já que parte do terceiro ano mudou para a noite.

—Você está bem?  - Uma voz pergunta assim que me sento, levanto a cabeça e encontro Bruna, seus cabelos vermelhos soltos e um sorriso provocativo no rosto.

—Melhor impossível. – Respondo sendo irônico.

—Posso ficar aqui um pouco? Com você?

—Eu queria ficar sozinho. – Digo, mas ela me ignora e senta do meu lado.

—Ficar sozinho nunca é boa opção quando se está chateado. Quer me contar o problema? Eu provavelmente não vou poder ajudar, mas falar sempre ajuda.

—Não. – Digo sorrindo. Acho graça da honestidade da garota. – Eu não sei como conversar com alguém que eu mal conheço pode ser bom.

—Você pode pensar em mim como uma psicóloga ou uma advogada, e eu respeitarei a cláusula que pede fidelidade entre cliente e profissional.

—E o que me garante que você vai mesmo respeitar essa cláusula? – Questiono. Bruna morde o lábio, seus olhos castanhos me encaram curiosos.

—Já sei! Eu vou te contar algo sobre mim e você me conta o que está te aborrecendo. Vou te contar algo que ninguém sabe.

—Ok! – Digo achando-a genuinamente interessante. Ela respira fundo e me olha sorrindo

—Vamos lá... – ela começa. – Eu... eu acho que isso não foi uma boa ideia. –Bruna afirma parecendo constrangida, a encorajo a continuar. – Eu tenho uma queda enorme por você. – Ela diz colocando a mão no rosto. Levemente, seguro na mão dela e espero que ela me olhe de volta, assim que ela faz eu sinto que devo dizer algo.

—Eu tenho que ser honesto, certo? – Ela afirma a cabeça positivamente. – A garota que eu gosto me deu um fora. E é isso que está me incomodando.

—Ela é uma idiota e você não deveria gostar dela. – Bruna diz. Dou um sorriso, não por concordar com ela, mas pelo que sei que devo dizer em seguida.

—Eu sou um idiota e você não deveria estar interessada em mim. – Afirmo. Bruna sorri e me beija, sou pego de surpresa, mas acabo correspondendo. Assim que nossas bocas se separam sei que aquilo é um erro, mas talvez seja a melhor forma de tentar esquecer Manuela. Me viro e fico com uma perna de cada lado do banco de madeira, Bruna faz o mesmo e se aproxima de mim, voltamos a nos beijar, continuamos até que o sinal toca.

—Você quer fazer alguma coisa mais tarde? – Bruna pergunta.

—Eu até quero. – Digo me recompondo. – Mas antes disso, eu quero que você pense se quer mesmo isso, se quer ficar com um cara que gosta de outra garota.

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Estou sentada na cama, isso é basicamente tudo que tenho feito nos últimos dois dias. Tio Caio está ao meu lado me ouvindo reclamar sobre como meu pai não parou em casa mesmo com a minha situação.

—Tudo bem que eu não estou morrendo, mas eu mal posso andar e estou em casa totalmente sozinha. – Afirmo.

—Eu estou com você. – Meu tio diz com um sorriso no canto da boca, é isso que ele faz quando estar tentando me levar a sério e não consegue.

—Mas você não é o meu pai Tio Caio, infelizmente. Ele que deveria se importar. Um dia desses você se casa e eu fico no escanteio.

—Você nunca vai ficar no escanteio Manuela. – Ele afirma.

—Eu sei. – Respondo. -  E eu queria que você arranjasse uma mulher legal pra ser minha tia, você merece ser feliz mais que ninguém.

—Não mais que você. – Tio Caio responde. – E, talvez, eu já tenha encontrado essa mulher bacana.

—Quem é? – Pergunto animada, mas antes que meu tipo possa me responder a campainha toca e ele levanta para atender. Em pouco tempo ele volta com Luiza, Bruna, Carla e Isabela.

—Você tem visitas. E eu tenho voltar na Forma, mas passo aqui mais tarde, ok? Trago jantar. – Ele afirma piscando para mim.

—E sobremesa? – Questiono.

—Claro. Se precisar de mim é só ligar e eu venho correndo.

—Obrigada Tio Caio. - Meu tio se aproxima e beija o topo da minha cabeça, como sempre faz, em seguida, se despede das meninas.

—A Carla não consegue dizer uma palavra na presença do seu tio. – Bruna diz sorrindo. 

 -Não é verdade. – Carla retruca. – É só que ele é bonito de uma forma desconcertante. – Ela afirma, ambas rimos.

—É totalmente verdade. – Luiza diz - Mas não viemos aqui pra falar do seu tio, como você está?

—Bem melhor. A perna ainda doí um pouco, mas estou louca pra melhorar, acho que estou até mesmo com saudades da escola.

—Nós trouxemos as atividades pra você ir acompanhando. – Isabela afirma.

—Algum trabalho? – Questiono.

—Só o de Educação Física, o Belotto quer que pesquisemos sobre uma série de esportes e depois façamos apresentações, mas ele ainda vai dividir os grupos. – Carla conta.

—Agora me contem sobre vocês. Luiza, como foi com o Lucas naquele dia?

—Mais ou menos. Ele ainda tá caído pela sua irmã e foi honesto sobre isso, mas também disse que quer se esforçar pra esquecer dela, o que me deu esperanças. Nós vamos sair juntos mais tarde.

—Continue na operação. – Afirmo sorrindo.

—Bom, eu acho que vale a pena Luiza. Eu mesma estou investindo em alguém numa situação semelhante.- Bruna diz com um sorriso.

—E eu posso saber quem é? – Luiza questiona.

—Eu não sei se você vai querer saber. – Ela diz, meu peito congela. Devo estar ficando maluca, é claro que ela não vai dizer Fábio.

—Você também está a fim do Lucas? – Carla pergunta.

—Não sua boba! Eu estou me referindo ao Fábio. – Assim que o nome dele sai da boca de Bruna eu entro em um estado de transe, apenas consigo acompanhar os comentários e questionamentos que vão sendo feitos, mas não falo nada. Não posso.

—Meu irmão? Você está interessada no meu irmão? -  Luiza pergunta.

—Não sei qual a surpresa, eu sempre disse que acho ele um gato...

—Mas eu achei que fosse só por brincadeira. – Luiza afirma. - Espere um minuto, e ele está gostando de outra garota?

—Foi o que ele disse quando nos beijamos. – Bruna pontua suspirando.

—Vocês se beijaram? – Carla questiona. – Quando?

—Hoje cedo. Ele estava chateado com alguma coisa, mas nós conversamos e bem, o Fábio parece fechado, mas na verdade é bem bacana. – Eu sei, penso. Observo a expressão no seu rosto, ela parece alegre, parece  - e pensar nisso me deixa apavorada – apaixonada. - Enfim... no meio da conversa acabamos nos beijando. – Bruna conta. – Mas ele deixou claro que estava tentando esquecer de alguém e disse que não queria me usar para isso, achei muito fofo da parte dele. Luiza, você sabe quem é essa garota?

—Não faço a menor ideia. Eu notei que havia algo acontecendo, mas ele não quis falar sobre isso. – Luiza comenta.

—Você acha que é aquela ex-namorada da antiga escola? -Bruna pergunta.

—De forma alguma. Se o Fábio voltar com aquela menina eu mesma vou matá-lo.

—O que houve de tão ruim? – Carla procura saber.

—Não é uma história minha pra que eu possa contar, sinto muito. – Luiza diz.

—Sua perna tá incomodando? – Isabela me pergunta, quando não respondo ela se justifica. – Você tá com uma cara estranha.

—Ah.. sim, tá doendo um pouco. –Digo. -E eu estou cansada, devem ser os remédios.

As meninas ainda demoram um pouco, assim que elas saem eu sinto uma vontade enorme de chorar, mas não choro. Não iria me permitir chorar. Decido que aquilo deixa tudo muito claro, facilitando minha decisão, se o Fábio gostasse mesmo de mim ele não estaria beijando outra garota tão rápido.

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Estou sentando na sala estudando junto com Luiza, percebo que ela está me encarando vez ou outra, ela para e me olha, como se quisesse me dizer algo, mas acaba desistindo.

—Como foi seu encontro com o Lucas? – Pergunto.

—Porque eu te contaria alguma coisa? – Luiza diz. Olho para o modo como ela me encara, com certa impetuosidade.

—Tudo bem. – Digo sem entender muito bem. – Não quer me contar não conta.

—Não é isso Fábio. É que você... Quando você ia me contar sobre você e a Bruna? – Ela questiona arqueando as sobrancelhas.

—Eu deveria ter imaginado que ela comentaria. – Afirmo. – Mas você precisa entender que não há nada pra contar. É diferente, você estava sofrendo pelo Lucas e eu queria saber se você tá bem, não saber especificidades sobre vocês dois.

—É, eu não sei nem por que estou reclamando, você também nunca falava nada sobre a Larissa, só quando tudo ficou muito ferrado é que você se abriu.

—Totalmente diferente. -Passo a mão na cabeça.

—É. É mesmo diferente, e sabe qual é a grande diferença? Ela é minha amiga. Quando ela contou, na frente das meninas, eu fiquei lá com cara de tacho sem acreditar.

—Que meninas? – Pergunto.

—Nós estávamos na casa da Manuela e... – Somos interrompidos pelo barulho da porta sendo aberta.

—Boa noite meus amores. - Minha mãe diz. - Olha que bonitinhos Joana, estudando sem eu ter que mandar. - Joana sorri.

—São mesmo uns anjos. – Ela afirma ainda parecendo cabisbaixa com todo o lance com o pai e as irmãs. – Eu vou tomar banho e te já te ajudo com o jantar. – Joana afirma. Minha mãe vai para a cozinha.

—Enfim, você deveria ter me contando. – Luiza diz num tom baixo. – Acha que pode se tornar algo mais?

—Não sei.

—Ela disse que você estava interessado em outra garota. Que garota é essa?

—Ninguém que importe no momento. – Digo.

— Fábio, eu gosto da Bruna, ela é descolada, inteligente, divertida. Tenta não acabar com as minhas amizades, tá?

—Tudo bem. – Digo fechando o livro e me levantando com ele na mão. – Eu vou pro quarto esperar o jantar.

—Ah, Fábio, meu filho, o seu Ricardo me pediu para te agradecer por ter levado o material pra Manuela. Ela ficou muito contente de saber que vocês estão se dando bem, e eu também. – Tento não olhar pra Luiza, apenas digo “ok” e sigo para o quarto, me deito na cama e fico encarando o teto, mas não demora e Luiza parece batendo a porta.

—Manuela? – Ela pergunta. – Me diz que estou delirando.

—Você está delirando. – Falo me sentando na cama.

—Não, claro que não estou. Me dê uma explicação para visitar a Manu sem contar a ninguém? Claro que você gosta dela e faz todo sentido. O jeito que você ficou quando ela foi atropelada, meu Deus, e ela também gosta de você, bem que eu estranhei a cara dela quando a Bruna falou de você. – Minha irmã começa a falar mais lato.

—Luiza, fala baixo. – Peço. – Senta aqui. – Indico a cama. Luiza senta e me encara, os braços cruzados e uma expressão severa.

—Ok, eu me interessei pela Manuela, mas passou. – Falo.

— Desde quando isso estava rolando? E o que aconteceu?

—Faz algum tempo. E aconteceu que a Manuela não quer nada comigo. – Digo.

—O que você fez de errado?

—Nada Luiza. – Afirmo. – Presta atenção, a Manuela não gosta de mim. Nós decidimos que é isso, e eu estou seguindo em frente.

—Mas tinha que ser com a Bruna?

—Não. E eu não queria que tivesse acontecido, mas aconteceu. Não pensei que a Manuela fosse ficar sabendo.

—Você nunca pensa sobre nada, pensa?

—Mais do que parece. – Digo. – Agora, prometa que você não vai contar nada disso para ninguém. Pela Manu.

—Prometo. Você gostava dela?

—Era só capricho. – Minto. – Quando você quer ter exatamente o que não pode ter. – Luiza não parece convencida, mas ainda assim ela concorda em não contar nada.

—Luiza! – Joana diz batendo na porta. Luiza se levanta e abre. – O Lucas tá ai e sua mãe não parece nada alegre com a ideia. –Luiza se olha no espelho e pergunta se está bem, recomendo que ela solte o cabelo, Joana afirma que ela está ótima. – Você tá bem tranquilo com esse possível namoro, normalmente irmão não são ciumentos? – Joana questiona.

—Devem ser. -Digo. -Talvez quando se tornar um namoro eu comece a ser. – Minha afirmação faz Joana sorrir. - Joana, posso te perguntar uma coisa?

—Claro Fábio.

—A Manuela te mandou alguma mensagem no dia do acidente?

—Não. O Ricardo falou sobre isso, mas não tinha mensagem nenhuma da Manu no meu telefone e eu nunca teria deixado ela lá...

—Eu sei. – Afirmo. – É só que isso é pouco estranho você não acha? A Bárbara diz a você que a Manuela desmarcou, a Manuela diz que mandou mensagem, mas você não recebeu.

—Aonde você quer chegar com isso Fábio?

—Na resposta mais óbvia. Você não acha que tem dedo da Bárbara nisso.

—Eu a confrontei sobre me dizer que a Manu cancelou, mas eu deveria ter ligado e não acreditado na palavra dela.

—Você deixou seu telefone à toa naquele dia?

—Não. Quer dizer, teve um problema com a rede de vôlei e eu tive que verificar, acho que meu telefone ficou lá na sala nesse momento porque eu lembro que precisei ligar para o fornecedor e tive deixar pra ligar da sala porque só tinha o número na agenda do celular.

—E a Barbara estava com você?

—Não. Eu estava com a Carla. – Ela afirma. – Mas porque a Bárbara faria isso?

—Pra te afastar da irmã. Joana, você deveria tentar conversar com a Manuela.

—Eu fui proibida de falar com ela.

—Ninguém pode proibir duas pessoas de conversarem, principalmente irmãs. Tenta falar com o Caio, ele parece gostar tanto de você.

—Fábio, será que você podia deixar essa história de Bárbara tentando sabotar as coisas só entre nós dois?

—Claro. – Concordo. – Mas porquê?

—É só que eu não quero acusar ela de nada. No final eu sei que todos vão ficar contra mim e eu realmente não preciso de mais esse problema.

—Tudo bem. Mas conversa com a Manuela. Explica que nunca recebeu a mensagem. Eu acho que você não deveria desistir dela.

—Eu vou tentar. Obrigada Fábio.


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