Como cães e gatos escrita por kelly pimentel


Capítulo 11
Porque você gosta de mim Fábio?




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Saio para colocar o lixo do lado de fora e noto um carro estacionado na frente da minha casa, percebo que é minha mãe dentro dele e que ela está acompanhada do Tio da Manuela. Deixo a sacola no canto do muro e bato no vidro do carro. Quando eles baixam o vidro, Caio tem um sorriso de constrangimento, já minha mãe parece ter visto um fantasma.

—Vocês não querem conversar num lugar mais iluminado? Mais espaçoso? – Pergunto de forma firme.

—Fábio, meu filho, não é nada disso que tu tá pensando não. O Caio me deu uma carona porque, a Manuela sofreu um acidente e...

—A Manuela sofreu um acidente? – Pergunto. Tudo parece sumir ao redor. – O que aconteceu? Ela tá bem?

—Ela tá bem sim rapaz. – Caio responde. – Quebrou a perna, bateu a cabeça de leve, mas tá bem. A Manuela é forte.

—Como foi isso? – Questiono.

—Ela estava lá naquele parque dos skates, o skate escorregou do pé, ela correu atrás e acabou sendo atropelada. – Ele afirma.

Minha mãe se despede de Caio e desce do carro, ele acena pra mim e vai embora.

—Fábio, dá pra você ficar quieto? – Minha mãe diz. Percebo que estou andando aflito pela calçada. –Eu não estou namorando com o Caio, ok? Você não precisa se preocupar.

Tenho vontade de rir, talvez seja o nervosismo agindo. Não sei muito bem como agir, aquele sentimento é totalmente novo, é como se estivessem socando meu estomago repetidamente, eu tento respirar e sinto como se não fosse possível.

—Ela não estava com a Joana? – Questiono. – Ela disse que ia almoçar com a Joana quando saímos da escola.

—Nem me fala disso. – Ela afirma abrindo passando do portão, faço o mesmo e entramos em casa. – Mas a Joana disse que a Bárbara falou que a Manu não poderia ir e eu nem sei mais...

—Você viu a Manuela? – Pergunto. – Ela tá mesmo bem?

—Não a vi, ela ainda está no hospital. Precisa ficar em observação porque bateu a cabeça.

Entramos em casa e minha mãe conta a história pra Luiza, o tempo todo dona Tânia me olha de forma suspeita, imagino que ela esteja se perguntando porque não estou contando sobre o que vi entre ela e Caio, mas realmente não consigo me importar com nada além de Manuela. Estamos terminando de jantar quando Joana chega e eu a encho de perguntas. Joana conta o que aconteceu, o modo como Bárbara disse que Manuela não poderia encontra-la, e o incidente que houve na academia e impediu que ela fosse até o encontro de Manu.

—Eu nunca deixaria a Manu lá sozinha Tânia, você precisa acreditar em mim.

—Mas por que razão ela faria isso Joana? - Minha mãe questiona.

— Eu acredito em você. – Digo. Então me levanto e abraço Joana.

—Obrigada Fábio. – Joana diz com seu sorriso doce. Eu me afasto em direção ao quarto.

—Fábio, tira o prato da mesa. – Luiza grita.

Só consigo ouvir minha mãe dizendo. “Deixe o seu irmão, eu vou tirar todos os pratos hoje, mas só hoje”. Deito na minha cama e começo a escrever uma mensagem pra Manuela, apago todas às vezes. Afinal de contas, o que eu poderia dizer? Que eu estava me sentido culpado por ter  largado ela sozinha naquela praça? Que eu queria estar perto dela agora? Que eu mal conseguia pensar direito?

—O que houve com você? – Luiza pergunta entrando no quarto. Me falo de desentendido e ela insiste. – Abraçando a Joana, fazendo todas aquelas perguntas.

—Eu estava preocupado com ela. Sei como é importante pra ela se aproximar das irmãs.

—Fábio, eu não sou idiota, não é a primeira vez que você age estranho quando o assunto é a Manuela.

—Não viaja. – Digo. – Claro que eu fiquei preocupado, ela é insuportável mas nem por isso eu desejo algum mal pra ela. – Afirmo tentando parecer convincente, até que percebo o que pode fazer com que minha irmã largue do meu pé. – Sabe o que eu vi lá fora mais cedo? A mamãe e o Caio no carro dele, eu acho que tem algo rolando entre os dois.

—Não brinca! – Luiza diz.

—Não estou brincando.

—E o que você acha disso? Deles juntos? – Minha irmã questiona.

—Eu acho que a nossa mãe ficou sozinha por tempo demais e que ela merece alguém bacana.

—E você acha que o Caio é esse cara? Porque eu achei que a mamãe estivesse interessada lá no chefe dela.

—Eu espero que não! – Digo pensando em Manuela. -O que eu quero dizer é que essa é uma decisão pra nossa mãe tomar, mas que se houvesse uma votação eu votaria no Caio. – Afirmo e Luiza sorri. – Mas porque você acha que ela está escondendo da gente?

—Talvez ela esteja com medo de como vamos reagir. – Luiza responde. – Acho que nós dois precisamos ajudar pra que ela se sinta pronta pra ficar com alguém, já tá mais que na hora.

(...)

No dia seguinte, ouço Luiza e suas amigas combinarem de visitar Manuela.

—Não quer ir com a gente Fábio? – Bruna pergunta.

—Não, mas digam que lhe desejo melhoras. – Afirmo. Então tenho uma ideia. – De que horas vocês vão mesmo?

—Depois da aula de dança da Carla. – Bruna avisa. – Se mudar de ideia é só aparecer aqui na escola lá pelas três horas, vamos nos reunir aqui.

—Vou pensar nisso. – Digo piscando para ela, em seguida me levanto e volto para a sala mesmo antes do fim do intervalo.

Assim que a aula termina eu aviso a Luiza que tenho algo pra resolver com Thiago e me mando. Sou anunciado pelo porteiro e liberado, assim que bato na porta o homem alto e encorpado me encara.

—Boa tarde seu Ricardo.

—Boa tarde Fábio, o porteiro disse que um amigo da escola estava trazendo material pra Manoela, mas eu não poderia imaginar que fosse você.

—Ela é minha dupla em todos os trabalhos de História, punição pelas nossas brigas. – Respondo.

—Ok, você pode entrar. O quarto da Manu é o primeiro da esquerda, você só bate antes de entrar. Eu estou de saída para a Forma. Só, por favor, não demore muito porque a Manuela precisa descansar.

—Pode deixar. – Digo.

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Estou deitada na cama quando alguém bate na porta, suponho que seja meu pai e grito um “pode entrar”, mas quando a porta se abre eu sou pega totalmente de surpresa. Fábio entra no meu quarto com um sorriso penoso.

—Fabio, o que você tá fazendo aqui?

—Eu disse ao seu pai que vim trazer o material da escola, mas na verdade eu só queria muito te ver. – Ele afirma. Estou um pouco desconcertada e um silêncio constrangedor domina o quarto, até que Fábio resolve falar algo. – Não vai me convidar pra sentar?

—Claro. – Respondo apontando a cadeira da minha escrivaninha, mas Fábio ignora a sugestão e senta na minha cama, de frente para mim.

—Você está bem? – Pergunta. Noto um pouco de dor na sua expressão.

—Eu vou ficar, foi só um susto. – Respondo, mas ele continua sério. – O que houve? Você foi atropelado? – Pergunto tentando melhorar o clima.

—Você lembra da primeira vez que nos vimos? – Fábio questiona, lembro da cena: ele e Luiza entrando na sala de aula, atrasados no primeiro dia. Luiza sorriu. Fábio derrubou meu caderno. Eu fiquei muito irritada. – Eu derrubei seu caderno. – Ele diz.

—E eu fiquei uma fera.

—Mas sabe porque eu derrubei seu caderno?

—Por que você não tem noção de espaço?

—Não. – Ele responde finalmente perdendo o ar de seriedade. Fábio passa a mão no meu rosto – Por que eu te achei maravilhosa e perdi os sentidos. Claro que depois do modo como você me tratou eu tentei mudar de ideia. O que eu estou tentando te dizer é que... eu... eu nunca me senti assim antes, por garota alguma. Eu penso tanto em você que acho que estou ficando maluco.

—Você é maluco, isso sim. – Digo. Eu acabei de ser atropelada Fábio, minha vida está um caos. Meu pai fez um escândalo, a Bárbara fez um escândalo, a Juliana, todos acham que eu não deveria nunca mais me aproximar da Joana. Nem eu mesma sei se ainda quero me aproximar dela. Todos ficam gritando dia e noite nessa casa e até agora eu não sei direito o que aconteceu ontem, eu mandei mensagem pra Joana e ela nem ao menos respondeu para dizer que não poderia aparecer. -Digo irritada. – Ah, e meu pai tá ai na sala e você entra no meu quarto pra me dizer isso?

—Me desculpe. – Ele diz passando a mão no rosto. -  Eu tinha prometido que não iria te dizer como me sinto, mas quando soube do acidente... Manuela... – Fábio novamente coloca sua mão em meu rosto, mas dessa vez eu seguro seu pulso pronta pra afastá-lo quando julgar necessário. – Eu gosto de você. 

—Porque? – Pergunto. – Porque você gosta de mim Fábio?

—Sério? – Ela pergunta. – Bom, porque você é inteligente, divertida, marrenta; porque você sorri pouco mais tem o sorriso mais bonito que eu já vi, e porque toda vez que você e eu estamos no mesmo ambiente eu tenho que me esforçar infernalmente pra não esquecer todo o resto do universo e só pensar em você. – Fábio se aproxima cuidadosamente e deposita um pequeno beijo no canto da minha boca, depois repete o gesto se aproximando mais dos meus lábios.

—Fábio, meu pai tá ai fora.

—Na verdade ele saiu. – Fábio afirma.

—E me deixou sozinha com você? – Questiono.

—Ele me conhece, não é como se eu fosse um total estranho. Porque ele teria medo? Mas não mude de assunto. Apenas me diga como você se sente, eu já disse que se você disser não eu te deixo em paz, eu não vou ficar insistindo, eu nem sou de ficar insistindo Manuela, mas você...

—Fábio, a minha vida tá uma bagunça.

—Você já disse isso, e continua me beijando o tempo todo. – Ele fala com um sorriso cínico. Me esforço pra me manter firme.

—Ok, você quer que eu diga que não quero certo? Ótimo. Fábio, eu não quero me envolver com você. Você é presunçoso, irritante, antipático e até mesmo maldoso com as pessoas. E sim, talvez eu goste um pouco de você, mas eu não vou ficar com um cara como você. – Afirmo. – Eu tenho princípios.

Fábio não diz nada, ele apenas fica de pé e me encara por um tempo, como se estivesse sondando a possibilidade de uma mudança, mesmo assim eu não volto atrás, “não vou voltar” digo a mim mesma. “Eu não vou me permitir gostar do Fábio”. Ele acena a cabeça positivamente, e então dá as costas e vai embora.


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