Pepe acordou com respingos em seu rosto. Podia ouvir risadinhas irritantes nitidamente. Tentou focar o olhar, porém isso só funcionou depois de um bom tempo. Ele olhou para a direção de onde ouviu as risadinhas e viu várias luzes pequenas cor-de-rosa, e algumas azuis. Elas voavam e faziam desenhos no céu. O dia estava lindo, claro e fresco. Havia felicidade por toda a parte. Parecia um enorme bosque feliz. No lago, garotas metade peixe, metade garotas, saltitavam, faziam manobras e nados sincronizados, e davam mais risadinhas. Pepe tinha visto sereias. Olhou confuso para o lugar. E começou a pensar no que provavelmente havia acontecido e a tirar suas próprias conclusões.

⁃ Eu... Morri? -Ele se levantou e esfregou os olhos. Não se lembrava de como foi parar ali. Se levantou e olhou em volta: é, ou ele tinha morrido, ou estava na Terra do Nunca.

As risadinhas foram até ele, com sorrisos de orelha a orelha. Emitiam um brilho tão forte, que ele chegou a se afastar.

⁃ Não se assuste, Mortal. Nós não vamos machucar você! -Uma das criaturinhas disse.
⁃ Você é uma fada. -Adivinhou, dizendo aquilo em um tom de ironia. - Onde está o Peter Pan? Eu preciso ver o Capitão Gancho? Ele sequestrou a amiga de vocês?

A fadinha riu. Sua voz era ainda mais irritante do que a de Mercedes.

⁃ Mortais... 
⁃ Pensava que eu era um Humanoide.

Ele sentiu mais respingos em suas pernas. Olhou para o lado e viu que as sereias ainda estavam rindo.

⁃ O que é tão engraçado? -Olhou para baixo e viu que não estava de calças. Estava na verdade mostrando sua cueca dos Ursinhos Carinhosos - Ah, meu Deus! Onde minhas roupas foram parar? 
⁃ De onde você veio, Humanoide-Mortal? 
⁃ Ah... Califórnia, mas... 
⁃ O que é Califórnia? 
⁃ Você é de que século? Acho que... 
⁃ XVIII. E você? Parece ser bem recente.

Pepe olhou para seus pés: também não estava usando sapatos. Tentou se acalmar. Porém sabia que qualquer coisa que dissesse feriria as fadas. Por isso, foi direto ao ponto:

⁃ Onde eu estou?
⁃ Bem-vindo ao Livro dos Sonhos, Mortal! "Onde seus maiores sonhos se tornarão seus piores pesadelos!"

⁃ O Livro dos Sonhos... Você quer dizer que... Eu estou dentro de um livr...
⁃ Você está dentro da mansão! Precisa pegar seu crachá de visitante. - Uma voz atrás dele falou.

Aquela era a garota mais bonita que Pepe já tinha visto, sério. Seus cabelos eram ruivos. Ela tinha um sorriso tão branco e lindo que Pepe ficou de queixo caído. Tinha uma beleza totalmente natural, nada nela era muito extraordinário, porém quando a olhava por inteiro, tudo era incrível e totalmente lindo. De uma forma natural.

⁃ Que gata...

Ela sorriu.

⁃ Obrigada, Humanoide. Agora você precisa ir para a Biblioteca dos Escritores. Casa 6, dois quilômetros à direita. Obrigada por embarcar nessa aventura conosco!

Ela fez puff, também. Tudo naquele lugar explodia?

⁃ Uma história de amor que jamais existirá. -Se lamentou.

As fadas não estavam mais lá, as sereias tinham sumido. De repente Pepe começou a duvidar de que estava sonhando. Ele ouviu um estrondo. O chão tremeu. O coração dele começou a bater mais forte. E, como reflexo, ele se escondeu atrás de uma árvore. Mais estrondos vieram seguidamente. Tum... Tum... Tum... Olhou pela frecha do buraco da árvore e viu um pé enorme. Muito enorme. Extremamente enorme mesmo! E, para um pé tão grande, o dono do pé até que usava um tênis bem estiloso. Olhando para cima, não conseguiu ver um rosto. O cara era grande e alto de mais para isso. Seu rosto ultrapassava as nuvens. Isso provavelmente seria algum tipo de record mundial. Em mais estrondos, o grandalhão caminhou no sentido leste e sumiu, deixando enormes pegadas no chão. O que provavelmente faria com que fósseis de pegadas de dinossauros fossem fichinhas, em comparação àqueles pés monstruosos. Os olhos de Pepe estavam quase saltando para fora das órbitas.

Saiu de trás da árvore e ficou parado, olhando para a provável Terra do Nunca, onde ele entrou apenas de cueca, após pular em um livro mágico, com a ajuda de um diretor-fada com asas cor-de-rosa, onde havia acabado de ver sereias olhando para seu abdômen e um gigante usando tênis Nike. Logo de cara, Pepe viu o quanto aquilo era uma loucura! E se tudo fosse um sonho? Ele queria gritar e dar tapas em si mesmo, porém isso não o ajudaria em nada já que ele estava de certa forma preso naquele local ou sonho.

Estava morrendo de fome. Pepe precisava encontrar Martina também. E pegar um crachá de visitante. Para depois capturar monstros feiosos e sair de dentro do livro. Tudo aquilo já era exaustivo só de pensar... Caminhou sem rumo pela floresta, perdido, sem calças, camisa e sapatos. Até que viu um grupo ao longe. Pareciam felizes e sem nada mais importante para fazer do que ajudar um garoto de dezessete anos a encontrar uma biblioteca. Correu até eles e sorriu.

⁃ Ei, vocês podem me ajudar? Eu... Sou meio novo aqui e...

Eram duas garotas. Uma loira de olhos claros, e outra ruiva, com sardinhas e um sorriso perfeito.

⁃ Caraca, nesse lugar só tem gata? -Deixou escapar.

Infelizmente, Pepe não tinha reparado nos caras que estavam atrás delas. Não pareciam felizes com os elogios. Era melhor não mexer com eles. Ele pigarreou e prosseguiu:

⁃ É... Onde fica a... Ãh... biblioteca?

O grupo todo riu. Como se Pepe fosse uma piada. A garota loira foi a primeira a se manifestar:

⁃ Mortais... Sempre tão bobinhos... -Ela deu uma risada debochada e olhou para a garota ruiva. Elas pareciam estar insultando Pepe com o olhar. 
⁃ Ahn... O que você é? -O garoto perguntou.
⁃ Eu vou dizer o que eu não sou: uma mortal idiota. Você não deveria estar aqui, Humanoide. Esse lugar não é para você. 
⁃ Ah, eu concordo plenamente! Eu não sei como vim parar aqui... E também não quero saber o motivo para estar sem calças, isso é tão humilhante quanto ser congelado pela filha do irmão do Guardião... Enfim, eu...

A ruiva desmanchou o sorriso. Ela parecia confusa e, ao mesmo tempo, assustada. Deu um passo para trás e agarrou um dos caras que havia feito cara feia para Pepe, como forma de proteção.

⁃ Filha do irmão do Guardião? -Sua voz estava totalmente trêmula. Aquele olhar desafiador tinha sumido. - Você quer dizer... M-mercedes?
⁃ Sim, por quê? 
⁃ Estamos em perigo. - O cara abraçado com a garota ruiva disse com uma voz tão fina quanto a consciência de Pepe. Ou talvez ainda mais. Isso provavelmente feriu seu jeito másculo. - Ela só age quando algo ruim acontece. POR QUE VEIO AQUI MORTAL?
⁃ Eu não sei... Eu não entendi nada...
⁃ Não nos obrigue a matar você, querido. - A loira disse calmamente. Com um sorrisinho falso que chegava a dar nojo. - Você sabe o porquê de estar aqui... Está mentindo... Eu sinto cheiro de medo.

Os olhos azuis dela foram começando a escurecer. Até ficarem em um vermelho assustador. Toda a beleza da garota foi se perdendo. Pepe deu dois passos para trás automaticamente. Como experiência por ver garotas explodirem e fadas mudarem o visual, ele achou que deveria considerar aquilo como algo ruim e perigoso. Olhou em volta e conclui: ele estava perdido. Não tinha como se defender, ele não tinha nem poderes. E seja lá o que aquele grupo fosse, com certeza eram mais fortes do que um adolescente estranho e magrelo, sem calças. Como forma de defesa, e única alternativa, Pepe deu uma risadinha e falou:

⁃ É... V-vocês não vão me machucar ou alguma coisa assim, né? Quer dizer, eu vim em paz e por engano. Vamos ficar de boa aí, cara! 
⁃ Nós sentimos o extinto de um mortal, Humanoide. -A loira foi ficando cada vez mais pálida. Em alguns segundos, ela ficou com a aparência de alguém em um filme de terror. - Mortais só vêm aqui para fazer alguma missãozinha especial. Me diga: o que você veio fazer aqui? 
⁃ Eu nã...

A garota se irritou. Ela partiu para cima dele, o atacando. Ela voou até ele e o derrubou no chão. Pepe gritou loucamente, protegendo seu rosto da baba tóxica que aquela garota cuspiu. Ela o arranhou nos ombros descobertos, sem camisa. O que causou um machucado que era considerado BEM feio para qualquer um. Pepe berrou muito alto, se contorcendo de dor, pelo que aquelas garras enormes haviam feito.

⁃ POR QUE MERCEDES O CHAMOU PARA UMA MISSÃO?
⁃ AI, MEU OMBRO, SUA ESTRANHA! -Ele apertou os olhos, fazendo uma careta. - A GAROTA-FADA SÓ ME DISSE QUE OS MONSTROS ESTÃO SOLTOS E QUE ELES PRECISAM SER PRESOS! É TUDO O QUE EU SEI, SÓ POR FAVOR, NÃO BABA NO MEU OMBRO DE NOVO!

A loira sibilou e, quando tentou atacar de novo, ela foi atingida. Seus olhos se arregalaram, como se tivesse sido atingida por uma faca. Começou a sumir, foi fazendo o mesmo puff de Martina aos poucos, em câmera lenta. Pepe olhou da direção em que viu ela ser atingida, sua direita, e viu um cara de capuz com uma varinha nas mãos. A garota já havia sumido por completo e Pepe se levantou, com muita dificuldade por conta da dor.

⁃ UOU.... Eu.. Acabei de ver o Harry Potter na Terra do Nunca, dentro de um livro mágico que matou uma garota de um filme de terror? ADRENALINA NAS VEIAS, ha, ha! ADOREI ESSE LUGAR, apesar de quase ter morrido!

Pepe sorriu. Quando foi dar outro passo para agradecer o cara por salvar a vida dele e dizer que ele era apaixonado pela Hermione, e que queria conhecê-la, o cara do capuz também sumiu.

⁃ Mas o quê...?

Ele sentiu uma mão em seu ombro bom, e uma voz atrás de si dizendo:

⁃ Falando sozinho, Barroso? -Depois da risada, o garoto olhou para trás e viu Martina.
⁃ Isso tudo é... Uma loucura! Cara, eu acabei de ver o Harry Potter! 
⁃ Harry Potter? -Ela repetiu.
⁃ É! Você não viu um cara de capuz ali? Ele sumiu, mas...
⁃ Eu vi toda a sua briguinha com os informantes de Giselle. Você precisa muito...
⁃ Quem é Giselle?

A auxiliar suspirou. De repente, lembranças ruins vieram em sua mente.

⁃ Ela... É uma Pantera Negra. É inimiga mortal de qualquer pessoa que siga as orientações de Dominguez, o Guardião do livro. 
⁃ Uma pantera inimiga de um guardião? -Repetiu. 
⁃ Sim, ela fora do livro é uma mulher normal, mas dentro da mansão, pode se transformar em qualquer coisa que quiser. Tudo o que ela quer, é roubar o lugar de Dominguez e refazer seu fim como personagem. É a pior inimiga que alguém pode ter, ela sempre tenta trazer mais monstros para o livro. E muitos heróis já foram mortos tentando prendê-la. Nunca conseguiram por alguma razão.

Martina apontou para o grupo que havia fugido.

⁃ Aquele grupinho que acabou de te atacar, vai dizer a ela que novos heróis estão aqui, e ela vai fazer de tudo para você ficar do lado dela. Eu, como auxiliar, vou treinar você, e te instruir para que você exerça sua função como personagem de herói daqui. E você, como protagonista do livro, vai fazer o que eu mandar você fazer, para cumprir sua missão. Eu não ajudo só heróis, eu os torno heróis. Meu trabalho aqui é bem importante você querendo ou não, então antes de você fazer alguma piadinha comigo, saiba que eu levo isso aqui muito a sério. E, tudo o que você fizer, pode mudar todo o fim deste livro. Então é melhor você também levar tudo isso a sério, porque senão, a Lei das Auxiliares me permite que eu SOQUE A SUA CARA ATÉ VOCÊ FAZER O CERTO, entendeu, Barroso?

Pepe engoliu em seco. Martina o assustou ainda mais.

⁃ Entendi... Mas, agora que eu estou dentro do livro, você pode me explicar o que está acontecendo?
⁃ Não antes de pegar seu crachá de visitante. Precisamos ir à Biblioteca dos Escritores, vamos!

Ela o puxou pela mão, e Martina começou a voar. O que fez Pepe gritar muito. Em questão de alguns segundos, eles já estavam em frente à Biblioteca.