Bem, a mãe de Pepe havia ensinado a ele que quando uma pessoa diz que eles vão entrar dentro de um livro mágico para resolver uma missão de paz e impedir que o mundo humano seja destruído, você deveria achar essa pessoa louca. Ele escutou toda a conversa entre Martina e Mercedes, e acabou descobrindo que as duas tinham um parafuso a menos. Pepe começou a rir.

⁃ Espere, espere, espere! -Suspirou e prosseguiu: - Estão me dizendo que por ordem de um cara, que MORA dentro de um livro mágico, eu vou ter que pular dentro desse livro e... Prender monstros?

Mercedes gargalhou.

⁃ Eu me lembro de quando descobri que era uma fada. Eu era tipo o Pepe! Ser filha do irmão do Guardião não é uma coisa legal.
⁃ Se você é uma fada... -Pepe perguntou. - O que a Martina é?

As duas se entreolharam. Como se tivessem acabado de concluir que contar a verdadeira identidade era algo simples. Deram de ombros e Martina respondeu:

⁃ Sou uma auxiliar.
⁃ Ahã. -Ele esperou alguma das duas completar a frase, mas ficaram em silêncio. - É só isso?
⁃ Sim, por quê?
⁃ Você é uma auxiliar do quê? Para quê? Por quê?
⁃ Eu ajudo heróis e personagens do livro.
⁃ E...?
⁃ E que eu ajudo heróis e personagens do livro. -Repetiu.
⁃ Ela também faz donuts.
⁃ Meus donuts são muito bons. -Martina garantiu.
⁃ Você ajuda heróis fazendo donuts?
⁃ Ah, isso também...

Pepe negou com a cabeça decepcionado.

⁃ Uma fada, uma auxiliar, e um zé-ninguém dentro de um livro mágico com glitter, à procura de monstros para caçar... Que aventura! -Pepe riu com o nariz- Isso é ridículo!

Dessa vez, Mercedes se sentiu ainda pior do que das outras vezes. Foi como se tivesse sentido uma facada no peito. Ela caiu de joelhos.

⁃ FILHA! -Alguém atrás deles disse. Eles estavam mais uma vez na diretoria. Esperando Sr. Wilson, Charlie, chegar. Ele estava logo atrás deles. Charlie voou até a filha com suas asas delicadas.

Pepe não se aguentou e teve um ataque de risos.

⁃ Você... V-você... Ha, ha, ha, ha..., você é...

Charlie ajudou a filha a se levantar e olhou para Pepe com cara de poucos amigos. Estreitou os olhos.

⁃ Você é um repugnante, Barroso.
⁃ Nossa, Charlie! Magoei! Você também tem uma varinha? -Ele secou as lágrimas, de tanto rir.
⁃ Muito engraçado, Barroso. Ser uma fada exige muito mais responsabilidade, caso você não saiba. Somos nós quem damos equilíbrio ao livro.
⁃ É, já escutei isso. Posso ver sua varinha agora?
⁃ Só quando eu transformar você em pedra. Não vai demorar muito se continuar com as piadas idiotas.

Ele se calou. Mercedes sentia uma dor muito forte. Ela chegou a desmaiar, e por causa de Pepe.

⁃ Pai... -Sua voz se tornou falha.
⁃ Mas eu nem disse nada tão horrível. -Pepe se sentia culpado. - Foi só uma brincadeira.
⁃ Às vezes, essas brincadeiras machucam muito, Pepe. -Disse o Sr. Wilson quando se acalmou. - Ela está muito fraca.

Martina deu um passo à frente.

⁃ Senhor Wilson... Dominguez nos mandou para uma missão.
⁃ Dominguez? O que há agora?
⁃ Eu não entendi direito... Mas monstros estão soltos por toda a mansão.
⁃ Você já não os havia prendido em 1958?
⁃ Sim. Mas alguns deles evoluíram... Sabem a senha do cadeado.

O diretor-fada tirou os óculos e esfregou os olhos.

⁃ Eu tenho que abrir o portal, não é?
⁃ Sim...
⁃ Quem são os escolhidos da vez?

Martina pareceu com medo de responder.

⁃ Martina, quem Dominguez escolheu para serem os heróis?
⁃ Pepe Barroso.

Charlie arregalou os olhos.

⁃ Você está brincando, não está?
⁃ Não. Pepe foi escolhido. Eu confirmei umas três vezes.
⁃ Eu fui escolhido para ser um herói? -Ele olhou para a auxiliar. - O QUÊ?

Charlie pigarreou e colocou os óculos de volta.

⁃ Pepe não me parece qualificado para ser um herói.
⁃ Dominguez sabe o que faz, Sr. Wilson. Se o escolheu, foi por uma razão... Embora não saibamos quais são suas qualidades ainda.

Charlie olhou para Pepe de cima a baixo. Com desgosto.

⁃ O que você faz?

O garoto, aparentemente, não entendeu a pergunta. Piscou e olhou para Martina como um "Traduz?".

⁃ Barroso, seus poderes. Quais são?
⁃ Po... deres?

O diretor respirou fundo impaciente.

⁃ Dominguez só pode estar brincando. -Olhou novamente para o garoto. - Escute, Humanoide, seja lá o que você for prender, eu quero que você pegue a Rosa Negra. Minha filha não pode morrer. Ela é a responsável pela prisão dos monstros. Se você a deixar...
⁃ Rosa Negra?

Sr. Wilson voou até Martina e a fitou com muita raiva.

⁃ Você não disse nada a ele?
⁃ Me desculpe, eu não posso... Pepe ainda não entrou na mansão.
⁃ E como você quer que eu abra o portal mágico para um provável mortal?

Ele começou a gritar coisas em uma língua totalmente estranha. Logo Martina entrou na discussão, retrucando ainda mais alto, naquela língua. Ela foi ficando vermelha até fazer, literalmente, puff. Pepe arregalou os olhos.

⁃ Ela explodiu. Você... A matou, Charlie?
⁃ Ela não está morta. Ela entrou no livro. Você é o próximo. Siga-me, rapaz.
⁃ Tudo bem... Mas eu vou ter que explodir também? Porque se for assim eu não quero!

Ele foi até a porta do banheiro. Onde, obviamente, era para estar um banheiro. Mas não estava. Assim que o diretor abriu a porta, Pepe viu um corredor enorme, tão grande quanto o closet da Casa dos Sonhos da Barbie. Tinham infinitas prateleiras, onde haviam milhares de livros como os que Pepe havia visto na biblioteca quando abriu o Livro dos Sonhos.

⁃ Uau.

O diretor-fada pegou sua varinha e pediu o Livro dos Sonhos, que magicamente apareceu nas mãos do garoto. Pepe o entregou.

⁃ O que você viu quando abriu o livro, garoto?
⁃ Martina me disse que era um gigante, mas...
⁃ Abra.

Pela cara dele, não algo engraçado.

⁃ Mas, Sr. Wilson...
⁃ Abra o livro, Barroso.

E assim o fez. Pepe abriu o livro lentamente, como se o gigante fosse sair de lá. Antes de ver qualquer coisa, Charlie tocou sua varinha no livro, que foi contornado por um brilho extremamente forte. Seu vestuário também mudou. Estava com um smoking vermelho-vivo e calças sociais brancas, com um leve toque de dourado. Seus sapatos, antes pretos, agora estavam tão coloridos e chamativos que quase cegavam. Seu cabelo estava totalmente bagunçado. Ele usava uma camisa preta de bolinhas brancas. Não era a roupa mais discreta do mundo. Se fosse confundido com um palhaço na rua, com certeza teria muitos motivos. Pepe tentou formular uma pergunta ou um comentário inteligente, do tipo: "A verdadeira magia vem de dentro de nós", mas a única coisa que saiu foi:

⁃ Suas calças sempre ficam douradas quando você faz mágica?
⁃ Não, hoje eu estou com esperanças.
⁃ Ãh?
⁃ Coloque o livro no chão.
⁃ Por que...
⁃ Ande, não temos muito tempo!
⁃ Ãh, Okay...

O garoto colocou o Livro dos Sonhos no chão e esperou o próximo comando.

⁃ O que tenho que fazer agora?
⁃ Pule.
⁃ Pular? -Pepe começou a saltitar no chão, esperando que alguma coisa extraordinária acontecesse. Sr. Wilson gargalhou.
⁃ Pule EM CIMA do livro, Barroso.
⁃ Mas vai estragar.
⁃ Confie em mim.

Ele sorriu, confiante. Pepe o observou por um bom tempo, desconfiado. Tomou impulso e pulou em cima do livro. Foi o maior susto que ele havia tomado: assim que pulou, não havia mais chão. Parecia que ele tinha caído em um buraco sem fundo. Pepe deu o grito mais alto que já havia dado. Gritou totalmente desesperado e quando finalmente parou, não foi porque ele quis, mas porque Pepe tinha desmaiado. Pepe havia acabado de entrar dentro do Livro dos Sonhos.