Rise escrita por Lua Chan


Capítulo 16
Olá, 1940




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— Como assim, senhorita? - Fiz a pergunta que todos desejavam que fosse respondida. Pearl limpou uma lágrima de seus olhos, forçando uma aparência corajosa e inabalável.

— Os etéreos e os acólitos destruirão essa mansão daqui a alguns minutos. - Declarou, olhando para Richard. Provavelmente o garoto fez umas estimativas das nossas chances. Tinha que admitir, sabia que o lugar não duraria muito tempo, nem foi preciso ver as probabilidades do menino.

— Mas somos fortes! Podemos lutar contra as bestas. - Jasmine gritou, como sempre, mantendo a postura de guerreira. Sua peculiaridade era a imagem de sua personalidade. Ela tinha a habilidade de sobrevivência, portanto tinha conhecimento de muitas técnicas de luta.

— Sei o quão importante esse lar foi para suas vidas, mas tomar riscos não está mais como uma opção para nós. - Pearl fitou o portão pela última vez, percebi que ela escolhia um tom de voz acolhedor para acalmar as crianças - Quero que vocês saiam daqui.

Vários suspiros foram expulsos de cada boca, era inacreditável!

— Senhorita, mesmo que a escutássemos, seria impossível sair daqui com vida. - Marie lembrou, sua voz falhava de vez em quando -Nosso envelhecimento seria acelerado e seríamos reduzidos a pó!

—Isso não é verdade. Não completamente -Srta. Jay continuou, todos ficaram atônitos. Um silêncio apavorante tomou conta do local, até ela se pronunciar novamente -Meu relógio... ele tem um mecanismo capaz de não só parar o tempo, como também, desativar fendas. Cada Ymbryne tem um, por precaução, mas nem todas preferem usá-lo.

— Como assim desativar? - Pedi, minha cabeça latejando por causa dos barulhos vindos de fora da casa.

— Receio que a senhorita queira dizer que seu relógio é uma espécie de transfigurador biológico. - Todos olharam para Richard, que acabara de falar, cheios de dúvidas. Mais, até, do que antes. Ele notou - Bem, em outras palavras, o relógio deve servir como uma bateria para a fenda. Se escolher a opção de desativá-la...

—... irá destruí-la para sempre. -Conclui, a dor aumentando com cada palavra. Pearl olhou para o chão, envergonhada - Não pode fazer isso, senhorita! Onde ficaríamos?

— É! E o que aconteceria com você?

— Calma, meus pequenos! - Sua voz ecoou pelo quarto, ao mesmo tempo que ouvimos um estrondo - Não temos outra escolha, queridos, preciso salvar suas vidas. Tenho uma grande amiga em outra fenda, uma ave peregrina, chamada Alma LeFay Peregrine. Quero que vão para seu orfanato, em 1940. Esse portal os levará até ele.

Fitamos as barras de ferro azuladas, imaginando o que uma pequenina porta faria de grandioso por nós. Suspirei, era doloroso olhar para minha mentora agora, mas o fiz...

... porque seria a última vez que o faria.

— Andem logo, é um lugar extremamente perigoso, por isso, quero que fiquem de mãos dadas. - Pearl falou, enquanto beijava a cabeça de cada um. De seu rosto macio saiam lágrimas de dor. Cedi aos beijos...

...porque seria a última vez que ela nos beijaria.

Fui o último da fila. Não me senti tão especial, pelo contrário. Ser o último me fez sentir raiva, pois sou horrível em despedidas. Os meninos e as meninas estavam longe, não ouviram a conversa.

— Enoch - A senhorita segurou firmemente meu rosto, acomodando suas gélidas mãos em minhas bochechas quentes e magras -, quero que cuide deles por mim, sim?

— C-claro. - Inspirei fundo para não chorar. É rude dizer que isso seria humilhante?

— Guie meus filhotes para o caminho certo e não importa o que aconteça: não solte as mãos deles. O portal tem uma forte força magnética, ele pode facilmente atrair seus corpos para um buraco negro e então... - Hesitou, tossindo de maneira desajeitada - bem, vamos torcer para que isso não aconteça.

 - Sim. - Disse, simplesmente. Abracei minha mentora, mesmo sem ter vintade de soltá-la, mas o fiz...

...porque seria a última vez que o faria.

— Adeus, crianças. Tomem cuidado. - A ave avisou baixinho, soprando um beijo para todos.

Ordenei que as crianças dessem as mãos, assim como Jay nos pediu. Aproximei-me de Marie, que abraçava o irmão com força e necessidade e pedi para trocar de lugar comigo por um instante.

— Passaremos por isso juntos, pessoal. Somos sobreviventes. Conseguiremos seguir nossos caminhos. - Finalizei, encarando cada um. Seus olhares me faziam sentir um aconchego inexplicável. Era como se estivesse olhando para minha própria família. Como se eu estivesse em casa.

Olhamos uma última vez para Pearl von Jayne, ela acenou carinhosamente. Abri o portão azulado e deixei que os mais novos passassem primeiro, depois, os mais velhos até chegar em mim. Pearl fechou o portão e sussurrou um "boa sorte", antes de partirmos.

Um forte feixe de luz penetrou nos meus olhos, que ardiam intensamente. Me preocupei com os outros, será que ainda estavam de mãos dadas?

A sensação não demorou muito tempo. Em pouquíssimos segundos, fomos atirados em um gramado úmido e esverdeado. Demorei para recuperar os movimentos, muito mais ainda para recuperar a vista.

— Anne? Grace? George? Onde estão vocês? - Meu coração falhou, não vi muitas das crianças por perto. Apenas eu, Jasmine, Caleb, Marie e Richard estávamos deitados no campo.

— Eles se foram, Enoch. - Jas respondeu num tom de indiferença - Eu pude ver quando soltaram as mãos, mas não consegui impedí-los.

Me senti fracassado, já falhei com a primeira missão de Jay. Mais de um terço das crianças foram sugadas pelo portal. Muitas delas.

— Onde estamos? - Caleb pediu, alisando o topo de sua cabeça. Havia uma casa bem na nossa frente e uma mulher não tão velha repousava numa cadeira de balanço na frente dela. Ela fumava com gosto um cachimbo e segurava um relógio dourado.

— Crianças. - Cumprimentou, espiando o relógio - Bem na hora. Senhorita Peregrine, é uma honra conhecê-los.

— Em casa... estamos em casa. - Sussurrei, ainda como resposta à pergunta de Caleb.

A ave pediu que entrássemos em sua casa. Dissemos nossos respectivos nomes e falamos sobre o que aconteceu em nossa antiga fenda, sem revelar nossas peculiaridades ainda.

— Sinto muito pela sua perda, crianças. Pearl era uma pessoa incrível, sempre será lembrada como uma guerreira. - Alma fitou seu cachimbo, Marie lutava para não tossir, seria indelicado.

De repente, seu relógio despertou, o ponteiro menor apontando para o número 5 e o maior, para o 6.

— Oh! - Exclamou, batendo as unhas contra o vidro do objeto - Hora do jantar!

Continua...


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Notas finais do capítulo

Hello, pessoas! Bom, não sei quando será a próxima atualização, mas pretendo, como perceberam no "Continua...", continuar o próximo capítulo com o jantar/apresentações. Bjos e até.



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